AOS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Quem é esse que se arrisca na proteção, ergue andaimes,
amassa cimento, vara pregos, traça paginação de pisos e
paredes, faz massa, coloca reboco, assenta revestimentos,
faz dilatação, talha mármore, madeira, granito, cria vãos
pra janelas e portas, mas sua vida é cheia de humilhação?

Quem é esse que tem mãos calejadas, músculos talhados
pela areia e argamassa, tosse pulmonar vinda do cimento
que regaça e depois do serviço operado é logo esquecido,
impedido de entrar nos locais onde seu suor deixou marca?

Quem é esse que se levanta quando a garoa da madrugada
inda chora e, enquanto o patrão dorme na sua cama macia,
seus frágeis ossos já balanceiam no lotação com dezenas de
outros irmãos, rumo a uma vida de desesperança, numa luta
inglória e ilusiva, tentando apenas subsistir dia após dia?

Quem é esse que de segunda a sábado a marmita carrega
entupida de macarrão e depois de muitas horas de labuta
come a malnutrida dieta de operário braçal e, mesmo sem
energia para continuar no trabalho, precisa seguir, quer se
sinta bem ou mal, quer chova, troveje, vente ou faça sol?

Quem é esse que de tanto ocultar a dor, passa a não mais
acreditar em patrão ou amigo; desconfia de qualquer coisa
que se mexe; até da velha e surrada gaiola da obra que nas
paredes se eleva; e caminha com um pé na frente e o outro
atrás, achando que no frigir dos ovos gente é tudo igual?

Ele é o oleiro da vida, o artista filho da Terra que dá forma
ao que toca, vida ao que talha, suspende mansões e choças,
maternidades e cemitérios. É o ontem e o hoje, o eterno e o
agora. Ele é o essencial e valioso artífice da construção civil.
Criativas são as ideias, braços e mãos desse hábil operário.

Constrói casas, ruas, muros, pontes, estradas, e prédios que
minguados erguem-se do chão e depois, miraculosamente,
quase atingem o céu, desafiando os mestres da engenharia,
pois, muitas vezes, não traz consigo um pingo de instrução.

Ele é um democrata nato! Levanta sem distinção a morada
dos bons e dos maus, dos arrogantes e dos humildes, ainda
que a sua família, desprovida de conforto, prossiga em seu
barraquinho inacabado, bem coladinho ao seio do chão.

Ele será eterno! Viverá pra sempre nas coisas que constrói.
Em tudo que levanta fica gravada sua marca. Ainda que as
novas gerações não saibam seu nome, continuará na Terra
como os escravos que suspenderam as pirâmides do Egito.
Essas ainda permanecem, mas há muito se foram os faraós.

Pouca chance teve pra lidar com os livros da vida, mas leva
dentro de si o dom divino daquele que aprende apenas com
o sopro de Deus. Os diplomados só lhe ministram as regras,
é ele, entretanto, quem bota a mão na massa, com seu saber
empírico, nascido só da observância e da experimentação.

Ele é o filho amado da mãe Terra. Todos os dias a acaricia
com as mãos, inda que bruscas, suadas e repletas de calos.
Gosta de tocar a terra, pois um dia se unirá a ela que irá se
lembrar dele — seu filho, caboclo singelo, sem estudo, mas
que dela jamais sentiu vergonha — e ela lhe ofertará, como
agradecimento, um naco de seu torrão para que seus ossos
nela adormeçam eternamente, achegados ao seu coração.

2 comentaram em “AOS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

  1. Sandra Avelar Pires

    Lu
    Maravilhosa dissertação sobre a vida desses operários. Parabéns pelo dom da escrita! E que Deus a abençoe e ilumine!

    Responder

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