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Autoria de Lu Dias Carvalho
O primeiro elemento da construção foi o ritmo. O segundo, a vasta superfície azul (alusão ao Mediterrâneo nos meses de agosto). O terceiro foi o verde-escuro (dos pinheiros contra o céu azul). Partindo desses elementos, os personagens poderiam ser vermelhos, para obter uma concordância luminosa. (Matisse)
O que mais me interessa não é a natureza-morta ou a paisagem: é a figura… Os meus modelos são figuras humanas e não simplesmente figurantes de um interior. São o tema principal de meu trabalho… As suas formas não são perfeitas, mas são sempre expressivas. (Matisse)
Esta composição monumental intitulada A Dança, juntamente com outra de nome “Música”, foi encomendada a Matisse pelo colecionador russo Sergei Schukin que tinha predileção pela pintura francesa moderna. Da sua coleção faziam parte obras de Claude Monet, Auguste Renoir, Edgard Degas, Camille Pissarro, Paul Cézanne e em especial Paul Gauguin, de quem detinha 16 obras. Ao conhecer o trabalho de Matisse em 1906 no Salão dos Independentes, Sergei acabou comprando inúmeras obras do artista, sendo o quadro A Dança adquirido em 1910.
Inicialmente Sergei Schukin não gostou do fato de os dançarinos estarem nus, exigindo que fossem vestidos, a que se opôs o pintor. Mas ao receber um esboço em aquarela, o comprador ficou satisfeito com o que viu. Quando esta pintura foi exibida no Salão de Outono de 1910 recebeu críticas ferinas. Um crítico chegou a mencionar que o artista era demente, o que fez com que a encomenda fosse cancelada, deixando Matisse arrasado, contudo, ao refletir por alguns dias, Shchukin resolveu ficar com a obra.
Supõe-se que a ideia do artista, ao criar esta composição, tenha nascido ao observar pescadores e camponeses realizando uma dança de roda (sardana) numa praia do sul da França. O desenho é muito simples e contém apenas três elementos básicos: dançarinos, uma vastidão vazia de verde e outra de azul. No quadro a cor é o elemento principal da linguagem plástica. O azul representa o céu, o verde as colinas e o vermelho os corpos, cujos braços dão origem a um ritmo ondulado por toda a tela.
Não há limites traçados entre os campos de cores azul e verde, como comprova os pés de alguns dos bailarinos que se encontram nos dois campos de cores. O artista tomou como inspiração na escolha das cores desta obra as miniaturas persas e as cerâmicas do século XIII em que verdes, vermelhos e azuis puros foram usados em suas superfícies ornamentais. Um campo verde e azul recebe as figuras pintadas em vermelho, cuja anatomia simplificada, pintada em marrom avermelhado, amplifica o impacto da composição.
São cinco os personagens da composição, todos de mãos dadas, dispostos em um círculo oval inclinado para a direita e que não se fecha totalmente, pois alguns deles não possuem as mãos unidas, embora se mostrem bem encostadas umas nas outras. O grupo parece dançar num movimento frenético que sugere o sentido dos ponteiros de um relógio. Os corpos retorcidos repassam a sensação de uma grande energia contida neles.
O ritmo é o responsável pela união dos corpos, enquanto esses são transportados através dos movimentos da dança como em êxtase, adquirindo cada figura uma postura diferente, mas una no conjunto. Há um pequeno espaço entre duas figuras, espaço esse que é fechado com a curvatura do personagem para a frente, na tentativa de alcançar a mão do companheiro que, por sua vez, faz o mesmo ao inclinar o corpo para trás e esticar a mão que se soltara. O pequeno espaço que permanece entre os dois é fechado pelo observador. Em razão da velocidade rítmica os rostos estão ocultos, excetuando o de um dos bailarinos, o que vem a se transformar no rosto de todos eles, ou seja, como se todos tivessem o mesmíssimo rosto.
Os críticos do Salão de Outono ridicularizaram a obra, denominando-a de “cacofonia demoníaca”, mas se trata de uma das principais obras do catálogo do pintor, vista hoje em inúmeras reproduções, ornamentando casas e escritórios. Além de propagar força, dinamismo e movimento, a composição A Dança coloca em evidência a liberdade e a alegria de viver.
Ficha técnica
Ano: 19091910
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 260 x 391 cm
Localização: Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia
Fontes de pesquisa
Matisse/ Taschen
Matisse/ Abril Coleções
Matisse/ Coleção Folha
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
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