Amigos e amigas
Eu estive oito meses com alguém e, através de amigos psicólogos e outros que foram diagnosticados com algo parecido, consegui reconhecer que meu então companheiro tem transtorno bipolar. Antes dele eu namorei e cheguei a me casar com uma pessoa que tem a síndrome de Asperger. Não é fácil conviver com quem tem bipolaridade e não tem conhecimento sobre o assunto, negando a existência do transtorno. O meu ex-companheiro pelo menos assume indiretamente a sua condição de bipolar. Num dia ele me tratava bem, noutro não. Eu só queria que aceitasse ir ao psiquiatra. Mas nem teste de Covid para entrar num restaurante ele aceita fazer. Só tomou a vacina porque queria viajar. Caso contrário não teria tomado. Como veem, nem toda guerra é nossa. A gente precisa compreender isto e seguir em frente. Antes desses relacionamentos, namorei por cinco meses um sociopata.
Imagino a vontade que muitas pessoas têm de proteger o companheiro ou companheira, principalmente quando sabe que a família não se importa tanto quanto deveria, ou ao aprofundar mais na infância da pessoa e ficar com o coração despedaçado, pois vê falta de amor, de princípios e de cuidados. Eu não consegui salvar nenhum dos meus companheiros. Todos me fizeram muito mal. E a negação por parte deles foi maior que as minhas forças positivas. Eu tive que escolher: ou me afundava tentando salvá-los, ou vivia e deixava a minha mãe idosa viver em paz, sem chorar e sofrer, vendo sua filha desmoronar todos os dias.
Minha melhor amiga foi diagnosticada com bipolaridade e esquizofrenia. Ela sempre teve o controle de tudo. Porém, houve um gatilho depressivo que a levou à lona. Depois de semanas se excluindo de tudo e de todos, do nada ela teve um surto. Tentou se suicidar, jogando-se de uma janela, mas os bombeiros salvaram-na e levaram-na para a psiquiatria. Hoje, dois anos após o surto, ela se encontra melhor, mas não pode ficar um único dia sem medicação.
Muitas pessoas tomam medicamentos durante anos e depois tentam nos fazer acreditar que já não mais precisam deles. Querem aliados para fazer a coisa errada. Basta alguém dizer “É verdade, você já está bem, pare mesmo de tomar!”, que as inconsequentes param. E o transtorno acaba piorando ainda mais. Eu tenho uma amiga que tem TOC. Desenvolveu tal transtorno por fuga, em razão de um trauma ocasionado por um acidente de carro.
É difícil conviver com todos aqueles que não levam o tratamento a sério. Quando saí de perto daquelas pessoas às quais me referi acima, eu me senti meio covarde. Achei que as estava abandonando. Mas eu não aguentava mais conviver com elas. Estava sofrendo muito. Abdiquei da minha felicidade e engoli muito sapo. O tempo passou e não alcancei muito dos meus objetivos, por não ter aberto mão de namoros e amizades problemáticos. Uma coisa é certa, essas pessoas não se preocupam conosco nem 10% do que nós nos preocupamos com elas. É impossível conviver com alguém que não reconhece que está doente e busca tratar a sua bipolaridade.
Hoje eu moro em uma casa com duas pessoas. E meu colega de quarto é hipocondríaco e sofre de ansiedade. É extremamente perturbador. Como eu já detectei seu problema, não vou perder meu tempo tentando conviver com ele. Vou morar em um outro lugar. Simples assim! E assim eu vou tentando controlar as coisas. Existirão outras lutas, amigos e amigas, mas essas nem sempre serão as nossas.
O narcisismo, as manipulações e a inconstância por parte de quem não aceita tratamento estão a nos matar todos os dias. O sofrimento é amigo de tumores malignos. Há muitas formas de amar. Podemos torcer pelo bem da pessoa, e ainda assim nos afastar dela pelo nosso próprio bem e pelo bem dela própria. Isto é uma forma de amor. E se ela nos ama, vai querer que estejamos bem e irá entender o nosso afastamento. Cuidem-se todos vocês. Uma hora ou outra a gente vai ser feliz. Sejamos gratos por sairmos vivos desse tipo de relacionamentos.
Ilustração: Mulher Jovem na Praia, 1896, Edvard Munch
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Fiona
Gostei muito do seu sincero depoimento. Parabéns pela franqueza. Irá ajudar muitas pessoas. Espero que encontre pessoas melhores.
Fiona, querida!
Meu segundo casamento foi com um sociopata, quase 8 anos de inferno. Saí despedaça e fui me cuidar. Já fazia terapia e precisei de consulta com psiquiatra e antidepressivo. Após 2 anos da separação namorei um narcisista por 6 meses. Os dois recusavam tratamento, não admitiam que tinham problemas. Terminei meu tratamento, tive alta do psiquiatra, da terapia, e segui minha vida em paz! As pessoas só mudam e só buscam ajuda quando realmente querem! Você está certíssima em se afastar de quem nega a própria realidade! Nossa saúde mental e nosso amor próprio vem sempre em primeiro lugar. Não me prejudico mais, nem sinto culpa em me afastar de quem não quer nenhum tipo de ajuda nesse sentido. Desejo o melhor, e sigo grata por ter essa consciência e respeito por mim. Olhe sempre pra dentro de você, exerça a gratidão na sua vida e assim atrairá pessoas boas!
Desejo tudo de melhor pra ti e muitas boas vibrações!
Fiona
Não sou especialista no assunto, mas me parece que você está precisando de uma mudança radical de vida: de companheiro, de moradia e quem sabe até de cidade. Desejo-lhe tudo de bom.
Fiona
Quero cumprimentá-la por este depoimento tão sensível e generoso que, sem dúvida alguma, irá ajudar muitas pessoas com problemas semelhantes aos seus.
Você aborda uma questão muito importante: ficar ou se afastar de uma pessoa com doença mental, mas que não leva o tratamento a sério e pior, que se recusa a seguir o tratamento. Compreendo perfeitamente quando expõe:
“Eu não consegui salvar nenhum dos meus companheiros. Todos me fizeram muito mal. E a negação por parte deles foi maior que as minhas forças positivas. Eu tive que escolher: ou me afundava tentando salvá-los, ou vivia e deixava a minha mãe idosa viver em paz, sem chorar e sofrer, vendo sua filha desmoronar todos os dias.”
Não resta dúvida de que a opção mais sábia foi escolher viver a sua própria vida, libertando-se do sofrimento e deixando de impingi-lo à sua mãe. Num outro parágrafo você escreveu:
“Quando saí de perto daquelas pessoas às quais me referi acima, eu me senti meio covarde. Achei que as estava abandonando. Mas eu não aguentava mais conviver com elas.”
Tal pensamento é muito comum àqueles que têm que optar por se afastar de pessoas, como as descritas por você. Nosso corpo possui limites. Não somos infalíveis. O afastamento em tais situações é extremamente necessário, pois diz respeito à nossa própria vida. Indivíduos com doenças mentais, sejam lá quais forem, que se negam a tratar, põem em risco a vida daqueles que os rodeiam, principalmente os mais próximos (companheiro ou companheira). Quero fechar com uma grande verdade repassada por você:
“O narcisismo, as manipulações e a inconstância por parte de quem não aceita tratamento estão a nos matar todos os dias.”
Os negacionistas não têm consciência de que a negação deles põe em risco a vida daqueles que os rodeiam. Não há outra saída, senão deixá-los entregues à própria ignorância. Estou com você!
Abraços,
Lu