NOITE ESTRELADA (Aula nº 89 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Com frequência penso que a noite é mais viva e mais rica em cores do que durante o dia. Eu confesso não saber a razão, mas olhar as estrelas sempre me faz sonhar. Saio noite afora para pintar estrelas. (Van Gogh) (Van Gogh)

Neste quadro, quase síntese cósmica de toda uma busca humana e pictórica de Van Gogh, é como se astros, mundo, terra e céu girassem numa trepidante atmosfera, sob cuja proteção pintou um povoado que, a julgar por seu campanário, recorda mais os de sua meninice na Holanda do que as aldeias provençais. (Laura García Sánchez)

A noite esteve muito presente nas telas de Van Gogh, nos seus últimos anos de vida, como se ele buscasse algo além das estrelas. Anteriormente a esta tela fantástica, o artista pintou Terraço de Café na Praça do Fórum e também Noite Estrelada sobre o Ródano (ambos presentes no blog), tendo a noite como tema. O pintor tinha uma maneira peculiar de retratar a noite. Para superar o escuro, usava várias velas acesas na aba de seu chapéu, enquanto pintava, apesar do perigo de queimar-se.

Quando produziu Noite Estrelada, Van Gogh encontrava-se no sanatório, por vontade própria, há quase um mês. Durante um ano permaneceu no local, existindo contínuas oscilações em sua saúde.  Apesar de muitas vezes aparentar tranquilidade e ternura em suas cartas ao irmão Theo, o artista convivia com profundas crises de depressão.  A tela em ora em estudo é o resultado do agravamento de seu estado mental desequilibrado. O pintor estava à época com 37 anos de idade.

Van Gogh, ao optar por ficar num sanatório, ganhou regalias que não eram dispensadas aos outros companheiros do lugar. Era-lhe permitido deixar o lugar para pintar sempre que quisesse. A princípio contentou-se com o ambiente em volta do sanatório, depois foi ganhando coragem e aventurando-se por lugares mais distantes. Gostava de observar o mundo do lado de fora, assim como a forma grotesca da vegetação e das rochas, de modo que as representava distorcidas e desfiguradas, tal e qual elas se mostravam. No entanto, o quadro intitulado Noite Estrelada foi pintado recorrendo à memória e à imaginação, antes de ganhar confiança e superar o distanciamento entre o mundo exterior e o sanatório.

Esta tela, segundo analistas da obra de Van Gogh, demonstra uma energia nunca vista em outra obra do pintor e possivelmente em toda a história da pintura. Karl Jaspers, filósofo e psiquiatra alemão, no seu estudo sobre Van Gogh, assim analisa: Os objetos, como coisas individuais, desaparecem para se converter em redemoinhos.

A olharmos para a tela Noite Estrelada, temos a sensação de que o pintor observava tudo de um ponto no alto, mas ele já não quer dizer nada, no sentido de perpetuar o que vê. É levado apenas a exprimir o que sente, ou o que se passa em sua alma conturbada. Seu incandescente e sinuoso cipreste parece querer atingir o céu, enquanto a lua explode-se em esplendor. À direita está um agrupamento de oliveiras, formando uma densa nuvem. As estrelas também ganham a posição de sóis. A cidadezinha parece insignificante lá embaixo, com um pouco de luz aqui e acolá. Apesar de frágil, só o pináculo da torre da igreja parece desafiar o céu. As aspirais de luz traduzem toda a energia do quadro, como se quisessem abraçar ou expulsar tudo que delas se aproximam.

Noite Estrelada é uma das mais belas visões já criadas do céu noturno. A estrutura da pintura é dinâmica, ondulada. O céu parece em movimento e a lua e as estrelas espalham seu brilho em forte amarelo. Se olharmos a pintura com intensidade, somos levados a sentir os movimentos que dela emanam, pois tudo ali parece ganhar vida. Alguns estudiosos veem nesses traços luminosos a representação da nossa Via Láctea.

Van Gogh entregava-se por inteiro a tudo que fazia, de forma que a força de sua compulsão criadora não era capaz de conter-se dentro de moldes preestabelecidos. Ao contrário, vergava-se à sua vontade. Dentro dele, como em Noite Estrelada, tudo era movimento e agitação. É possível sentir esse turbilhão que não se acalmava nunca, através de seus traços desinquietos e exasperados, acompanhando as marcas deixadas por seus pinceis e espátulas, apesar do tempo que nos separa dele.

Ficha técnica:
Data: 1889
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 73 x 92 cm
Localização: Metropolitan Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos

Fontes de pesquisa:
Mestres da Pintura/ Editora Abril
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Van Gogh/ Editora Taschen
Van Gogh/ Girassol
Para Entender a Arte/ Maria Carla Prette

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DAR UMA BANANA

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Autoria de Lu Dias Carvalhomac123

Minha comadre Sá Quelemença, também conhecida por “Quelemença das Bananas”, é birutinha por essa fruta maravilhosa, consumida em quase todo o mundo, sendo a mais comum para os brasileiros, cujo país é o 4º no mundo em exportação de bananas.

Não há sábado em que Sá Quelemença não volte da feira com duas a três pencas em suas sacolas, sejam elas de banana-nanica, banana-da-terra, banana-prata, banana-maçã ou banana-ouro. Para cada tipo ela alega uma serventia: é laxante, prende o intestino, ajuda na digestão, é doce, é perfumada… E por aí vai. O mais engraçado é que a distinta senhora tanto come a laxante como aquela que diz prender o intestino. Se perguntada sobre o desacerto,  responde na bucha que é para equilibrar os intestinos. Se acabam suas bananas, a mulher não se acanha em bater na porta de quem quer que seja à procura das amarelinhas.

E foi por essa paixão pelas bananas que eu me espantei, quando a minha comadre entrou porta adentro em minha casa, no maior chororô, dizendo que seu seu vizinho Zé Carneiro havia lhe dado uma banana. Acabamos travando um esdrúxulo diálogo:

– O Zé Carneiro me desrespeitou, dando-me uma banana! Buááá! – disse-me ela.

– Mas mulher, todo mundo lhe dá bananas, pois sabe que você gosta exageradamente delas. O que há de mal nisso? Deveria estar agradecida ao bom homem. – disse-lhe eu.

– Mas a banana dele é de outro tipo! Buáááá! – exclamou ela.

– Fale logo, criatura, que tipo de banana era essa, pois eu nunca vi você enjeitar  banana alguma. Ela era prata, nanica, maçã, ouro ou terra? – indaguei eu.

Não! Não era nenhuma dessas! Buáááá! – respondeu-me ela aumentado o choro.

– A senhora vem agora me dizer que não mais aceita bananas? Qual era, então, minha comadre, a banana que lhe foi oferecida? – questionei surpresa.

– É a de braço! Buáááá! – respondeu-me minha comadre.

Mulher, confesso que desse tipo eu nunca vi e nem ouvi falar, mas dizem que existem mais de 500 tipos de bananas no mundo, desde uma pequenina que pesa cerca de 50 gramas até a grandona com um quilo – continuei explanando

– Ela não é de comer! Buáááá! – choramingou minha comadre.

– Meu Deus do Céu! Para que serve essa tal banana de braço? – continuei indagando.

– Só é usada para destratar – falou ela já nervosa.

– A senhora quis dizer “descascar”? – voltei a questionar.

Não! Buáááá! Ele fez foi assim, ó! – disse ela me mostrando o braço.

Confesso que não pude conter a gargalhada. Para consertar, eu lhe aconselhei:

Faça um doce de banana bem gostoso e leve para o Zé Carneiro, pois irá ficar vermelho de vergonha do que fez com a senhora – aconselhei eu.

Comadre Sá Quelemença gostou da minha sugestão. Sorriu e saiu às pressas para botar em execução o plano engendrado por mim.

O gesto descrito por Sá Quelemença é tido como vulgar, desrespeitoso e obsceno. Possui conotação fálica. É comum em países como Portugal, Espanha, Itália, Brasil e em toda a América Latina. Segundo o Prof. Menegotto, “O gesto e suas denominações nasceram em Portugal, com o nome de ‘manguito’, numa alusão a ‘fazer as armas de Santo Antônio’ ou, então, as armas da Ordem Terceira de São Francisco em cujo brasão figuravam dois braços cruzados. Acredita-se que esse gesto ofensivo e vulgar seja bem anterior à sua denominação. E somente no Brasil recebera o acréscimo da fruta, com flagrante conotação fálica. Possui o mesmo significado que o dedo médio mostrado“.

Prof. Menegotto®

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BIPOLARIDADE – AFASTAR-SE NÃO É COVARDIA

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Autoria de Fiona Lemos

Amigos e amigas

 Eu estive oito meses com alguém e, através de amigos psicólogos e outros que foram diagnosticados com algo parecido, consegui reconhecer que meu então companheiro tem transtorno bipolar. Antes dele eu namorei e cheguei a me casar com uma pessoa que tem a síndrome de Asperger. Não é fácil conviver com quem tem bipolaridade e não tem conhecimento sobre o assunto, negando a existência do transtorno. O meu ex-companheiro pelo menos assume indiretamente a sua condição de bipolar. Num dia ele me tratava bem, noutro não. Eu só queria que aceitasse ir ao psiquiatra. Mas nem teste de Covid para entrar num restaurante ele aceita fazer. Só tomou a vacina porque queria viajar. Caso contrário não teria tomado. Como veem, nem toda guerra é nossa. A gente precisa compreender isto e seguir em frente. Antes desses relacionamentos, namorei por cinco meses um sociopata.

Imagino a vontade que muitas pessoas têm de proteger o companheiro ou companheira, principalmente quando sabe que a família não se importa tanto quanto deveria, ou ao aprofundar mais na infância da pessoa e ficar com o coração despedaçado, pois vê falta de amor, de princípios e de cuidados. Eu não consegui salvar nenhum dos meus companheiros. Todos me fizeram muito mal. E a negação por parte deles foi maior que as minhas forças positivas. Eu tive que escolher: ou me afundava tentando salvá-los, ou vivia e deixava a minha mãe idosa viver em paz, sem chorar e sofrer, vendo sua filha desmoronar todos os dias.

Minha melhor amiga foi diagnosticada com bipolaridade e esquizofrenia. Ela sempre teve o controle de tudo. Porém, houve um gatilho depressivo que a levou à lona. Depois de semanas se excluindo de tudo e de todos, do nada ela teve um surto. Tentou se suicidar, jogando-se de uma janela, mas os bombeiros salvaram-na e levaram-na para a psiquiatria. Hoje, dois anos após o surto, ela se encontra melhor, mas não pode ficar um único dia sem medicação.

Muitas pessoas tomam medicamentos durante anos e depois tentam nos fazer acreditar que já não mais precisam deles. Querem aliados para fazer a coisa errada. Basta alguém dizer “É verdade, você já está bem, pare mesmo de tomar!”, que as inconsequentes param. E o transtorno acaba piorando ainda mais. Eu tenho uma amiga que tem TOC. Desenvolveu tal transtorno por fuga, em razão de um trauma ocasionado por um acidente de carro.

É difícil conviver com todos aqueles que não levam o tratamento a sério. Quando saí de perto daquelas pessoas às quais me referi acima, eu me senti meio covarde. Achei que as estava abandonando. Mas eu não aguentava mais conviver com elas. Estava sofrendo muito. Abdiquei da minha felicidade e engoli muito sapo. O tempo passou e não alcancei muito dos meus objetivos, por não ter aberto mão de namoros e amizades problemáticos. Uma coisa é certa, essas pessoas não se preocupam conosco nem 10% do que nós nos preocupamos com elas. É impossível conviver com alguém que não reconhece que está doente e busca tratar a sua bipolaridade.

Hoje eu moro em uma casa com duas pessoas. E meu colega de quarto é hipocondríaco e sofre de ansiedade. É extremamente perturbador. Como eu já detectei seu problema, não vou perder meu tempo tentando conviver com ele. Vou morar em um outro lugar. Simples assim! E assim eu vou tentando controlar as coisas. Existirão outras lutas, amigos e amigas, mas essas nem sempre serão as nossas.

O narcisismo, as manipulações e a inconstância por parte de quem não aceita tratamento estão a nos matar todos os dias. O sofrimento é amigo de tumores malignos. Há muitas formas de amar. Podemos torcer pelo bem da pessoa, e ainda assim nos afastar dela pelo nosso próprio bem e pelo bem dela própria. Isto é uma forma de amor. E se ela nos ama, vai querer que estejamos bem e irá entender o nosso afastamento. Cuidem-se todos vocês. Uma hora ou outra a gente vai ser feliz. Sejamos gratos por sairmos vivos desse tipo de relacionamentos.

Ilustração: Mulher Jovem na Praia, 1896, Edvard Munch

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OS COMEDORES DE BATATA (Aula nº 89 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quis dedicar-me conscientemente a expressar a ideia de que essa gente que, sob essa luz, come suas batatas com as mãos, também trabalhou a terra. Meu quadro exalta o trabalho manual e o alimento que eles mesmos ganharam tão honestamente. Por isso, não desejo que ninguém o considere belo nem bom. (Van Gogh)

Por favor, peço que me envie o que você encontrar de figura nos meus desenhos antigos; eu pretendo refazer o quadro dos camponeses na mesa, com efeito à luz de lâmpada. Aquela tela deve agora ser preta, talvez eu consiga refazê-la de memória. (Carta de Van Gogh a seu irmão Theo)

A composição denominada Os Comedores de Batata é uma obra-prima do pintor holandês Vincent van Gogh, feita sob influência do realismo do pintor Millet. Ela se encontra entre as 50 mais famosas pinturas do mundo. O pintor fecha com ela a sua primeira fase, conhecida como sua fase holandesa de pintura. Sobre os personagens presentes na obra, assim se expressou o artista: Rostos ásperos e lisos, de cabeça baixa e lábios grossos, não afilados, mas cheios e semelhantes aos das pinturas de Millet. E numa carta à sua irmã Guillemina, ao falar sobre sua obra, ele diz: O que eu penso sobre o meu próprio trabalho é que a pintura dos camponeses comendo batatas, que eu fiz em Nuenen, é afinal a melhor coisa que já fiz.

Antes de concluir sua famosa tela, Van Gogh pintou cerca de 50 rostos de camponeses, como se fizesse rascunhos para chegar a essa maravilhosa pintura, portadora de grande intensidade dramática. O artista repassa para o observador a penúria em que vivem os camponeses, assim como a melancolia e a desesperança que carregam. Comprometido com a vida dos pobres, esta obra é um manifesto contra as desigualdades sociais, fato que muito machucava o pintor.

Van Gogh gostava de retratar as pessoas do campo, as mulheres em seus afazeres diários e a natureza. Não lhe agradava a sociedade burguesa e o seu pedantismo. O artista devotava uma grande paixão aos camponeses e trabalhadores, principalmente pelos valores morais e religiosos que carregavam. Amava-lhes a nobreza da simplicidade, mesmo diante da vida difícil que levavam. E achava que o mundo rural em que viviam, era menos corrupto do que o da cidade. Preferia a essência de tal realidade para pintar seus quadros. Tanto é que uma de suas obras-primas é a tela intitulada Os Comedores de Batata, onde expõe com destreza e alma uma complexa composição de figuras. Nela, ele domina com maestria os tons escuros.

Os Comedores de Batata é uma pequena tela em que se encontram retratados cinco camponeses em torno de uma mesa tosca de madeira, de formato quadrad. São quatro mulheres e um homem. Eles fazem uma frugal refeição, fruto da pobreza em que vivem. Vê-se que o local é extremamente simples, alumiado por uma fraca luz de lampião, centrada no meio do grupo, clareando os personagens. As figuras estão vestidas com roupas austeras, levando a supor que se encontram no inverno. Um velho relógio de corda marca as horas na parede à esquerda. O pintor retrata o grupo da forma mais real possível, com seus traços grosseiros, mãos maltratadas e certa desesperança no rosto. Os tons escuros são realçados pela luminosidade do lampião.

A camponesa à direita serve quatro canecas de café de cevada e malte, enquanto a mulher à sua direita, com a sua caneca na mão, aguarda sua vez. No canto inferior direito da tela está outra chaleira, provavelmente sobre o fogão, do qual se vê apenas uma pequena parte. As batatas quentes levantando fumaça são servidas numa mesma vasilha para todo o grupo.

Na obra de Van Gogh chamam a atenção:

  • as vigas à mostra iluminadas pelo lampião;
  • as duas janelas ao fundo com formatos diferentes e a porta à esquerda;
  • a coluna à direita que divide parte do ambiente;
  • a moldura e um relógio de corda pendurados na parede;
  • os vasilhames pendurados acima da mulher à direita;
  • a grande vasilha com batatas ainda quentes e as mãos ossudas das figuras;
  • as cadeiras rústicas.

Embora a composição Os Comedores de Batata não tenha sido um sucesso em sua época, nem mesmo chegando a ser exibida no Salão, conforme pedido do artista, atualmente é tida como uma das obras-primas de Van Gogh, colocada no mais alto patamar pela comunidade artística, sendo vista tal e qual o pintor queria que fosse.

Ficha técnica
Ano: 1885
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 82 x 114 cm
Localização: Amsterdã, Holanda

Fontes de pesquisa
Van Gogh/ Coleção Folha
Van Gogh/ Girassol
http://www.vangoghgallery.com/painting/potatoindex.html
http://www.vggallery.com/visitors/004.htm

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PACIÊNCIA À BEÇA

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Autoria de Lu Dias Carvalho lixo1

À medida que a população das grandes cidades brasileiras cresce desordenadamente, maiores são os problemas enfrentados por seus moradores. Dentre eles está o transporte público que vem sendo um Deus nos acuda, um salve-se quem puder. Não consigo entender como um país tão grande como o nosso pode se dar ao luxo de não possuir trens e metrôs em grande quantidade. É preciso ter paciência à beça para não pirar em meio ao caos do trânsito das metrópoles, onde andar a pé, sempre que possível, tornou-se a melhor solução. Países continentais jamais podem abrir mão dos trens e metrôs, sob o risco de sua população ter que comer o pão que o diabo amassou. No mínimo deve haver alguma maracutaia com as empresas de ônibus.

Esquecendo, enquanto é possível, a loucura do trânsito, passei a matutar sobre a expressão “paciência à beça”, que não diz respeito a uma paciência pequenina qualquer, mas a uma gigantesca, imensurável, colossal e babilônica paciência. Trocando em miúdos, é uma conformação para ser humano algum botar defeito. É a paciência de Jó, a resignação extrema, é o engolir sapo, o não se importar com o tranco.

Contam as fontes pesquisadas que a expressão “à beça” tem sua origem na rica argumentação do jurista alagoano Gumercindo de Araújo Bessa que, quando debatia, deixava os presentes de queixo caído, tamanha era a sua sabença. Numa discussão com Rui Barbosa – na disputa pela emancipação do então território do Acre – ele deu um show de erudição e conhecimento jurídico, deixando muita gente embasbacada. Tornou-se muito admirado por sua oratória. Dizem que certa vez um político, ao elogiar um colega por sua brilhante atuação, disse-lhe:

– O senhor tem argumentos à Bessa!

O tal colega estava sendo comparado com o jurista Gumercindo Bessa. Mas o tempo que em tudo mete o bedelho, encarregou-se de retirar a inicial do nome (Gumercindo) e os dois “esses” foram transformados em “ç”. De modo que “à beça” significa: em grande quantidade, fartamente, excessivamente…

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RUE DES MOULINS – (Aula nº 89 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Ele escolhe pessoas notoriamente vulgares: salões de bailes com decorações miseráveis, corpos de mulheres cansadas ou sem nenhuma graciosidade – não para mostrar-lhes a feiura, mas para descobrir-lhes o frescor que outro olho qualquer não perceberia. Em resumo, Lautrec mostra o contrário daquilo que representa. E é exatamente essa procura pela pureza, essa sua necessidade do absoluto que o levam a buscar uma inspiração cada vez mais distante da sociedade aristocrática e culta, na qual ele nasceu. (Geneviève Dortu)

Henri-Mari-Raimond de Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi o primeiro filho do conde Alphonse de Toulouse-Lautrec e da condessa Adèle Tapié de Celeyran, primos em primeiro grau, família abastada e ilustre. Henri cresceu num ambiente requintado. Desde pequeno mostrava interesse pelo desenho, trazendo os primeiros indícios do que se tornaria no futuro. Quando tinha nove anos de idade sua família mudou-se para Paris, onde foi matriculado numa das mais importantes instituições europeias.

Apesar de vir de uma família importante, Lautrec passou a detestar a vida burguesa com suas pompas e preconceitos. Adorava os bordéis, onde retratava prostitutas, das quais se tornava amigo, o teatro e o circo. Passou a ser convidado para desenhar o programa de inúmeros espetáculos do mundo teatral, onde se tornou uma figura conhecida e amada. Publicou um álbum de litografias. Ele foi grandemente influenciado pela arte de Edgar Degas. Tornou-se alcoólatra, perdendo aos poucos a firmeza de seu traço.

A composição intitulada Rue des Moulins é uma obra do artista francês que, além de boêmio e de ter grande fascinação pelas prostitutas, gostava de retratar a vida dos bordéis parisienses de Montmartre. O artista era um aristocrata excêntrico e inconformado com a hipocrisia moralista. Tornou-se um frequentador contumaz do Moulin de la Gallete, retratando seus frequentadores e posteriormente do Moulin Rouge, casa luxuosa de espetáculos, inaugurada em 1889, onde se reuniam pessoas das mais diferentes classes.

A cena acima, criada pelo artista, retrata a vida de duas prostitutas num bordel de Paris, na Rue des Moulins, local em que o artista viveu durante certo tempo. Ele não as mostra com sensualidade, deboche ou preconceito, mas com total imparcialidade, meramente como seres humanos. As duas mulheres ocupam o centro da tela, perfiladas – uma atrás da outra.

As duas personagens assim se encontram – despidas da cintura para baixo –, porque irão fazer o exame médico obrigatório, que tem por finalidade detectar doenças sexualmente transmissíveis. Naquela época, os bordéis parisienses passavam por inspeções policiais e tais exames eram rotineiros. Tinham como objetivo proteger a clientela sobretudo contra a sífilis, doença infecciosa e contagiosa, transmitida principalmente através do contato sexual. O próprio artista foi vitimado por essa doença.

As duas meretrizes encontram-se seminuas, segurando a vestimenta recolhida na parte superior. Elas usam grandes meias pretas que descem a partir dos joelhos. A primeira, à direita, tem os cabelos ruivos, tendo sido muitas vezes retratada pelo artista em várias de suas obras. A segunda, um pouco mais alta, tem os cabelos loiros. À esquerda são vistos o vulto de um homem, usando um casaco escuro, de costas para o observador, e a cabeça de uma mulher, postada de frente, entre o vulto e a meretriz de cabelos ruivos, misturando-se com seus cabelos.

A memória de Lautrec somente foi reabilitada 21 anos depois de sua morte,  quando sua arte recebeu o devido respeito, após a abertura do museu Toulouse-Lautrec, em 1922, na cidade de Albi,  onde nasceu. A obra do artista, exercida apenas durante 20 anos, corresponde a 737 telas, 275 aquarelas, 369 litografias (incluindo cartazes) e cerca de 5.000 desenhos.

Curiosidade:
Seu papel é interpretado por John Leguizamo no filme Moulin Rouge.

Ficha técnica
Ano: 1894
Técnica: papelão montado sobre madeira
Dimensões: 83 x 61 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.sartle.com/artwork/the-medical-inspection-henri-de-toulouse-lautrec

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