OS PROVÉRBIOS E AS CULTURAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quase todos os mesmos provérbios ou semelhantes, ainda que com palavras diferentes, encontram-se em todas as nações; e a razão é que os provérbios nascem da experiência, ou seja, da observação das coisas, as quais são as mesmas ou semelhantes em todos os lugares. (Francesco Guicciardini)

Todas as máximas têm máximas opostas. Os provérbios deveriam andar aos pares, cada um representando uma faceta da vida. (W. Matthews)

Parece-me, Sancho, que não há ditado que não seja verdadeiro, porque todos são observações retiradas da própria experiência, a Mãe de todas as Ciências. (Cervantes)

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares. É interessante notar como os provérbios foram difundidos através dos tempos: na forma oral, na forma escrita, no espaço local, no espaço nacional e no espaço internacional.

O provérbio apareceu bem antes da história da escrita, sendo transmitido, ao longo dos séculos, através das tradições orais dos mais diferentes povos. A sua existência é tão remota que exemplos de sua existência datam de 2600-2550 a.C. O romancista, dramaturgo e poeta espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) dizia que os provérbios são frases curtas extraídas da longa experiência. Certo dito holandês de que os provérbios são os filhos da experiência cotidiana corrobora com Cervantes. O idioma ioruba dá ainda uma abrangência maior ao adágio ao exprimir que os provérbios são os cavalos da fala. Portanto, não causa surpresa o fato de estarem presentes em todas as culturas.

Segundo pesquisas, o humanista Erasmo de Rotterdam foi um dos mais conhecidos colecionadores de provérbios. E ele, por sua vez, diz que Aristóteles foi o primeiro a  entregar-se a tal tarefa. O filósofo levava sempre um caderno consigo, no qual recolhia os ditos populares. Já mais próximos de nós, Shakespeare e Cervantes também tinham grande admiração pelos provérbios, como mostram suas obras.

Os provérbios expressam, com poucas palavras, conhecimentos adquiridos pela sabedoria popular ao longo dos tempos, através da observação. Eles devem ser analisados sempre dentro de um contexto, para que sejam mais bem compreendidos, pois possuem um uso instantâneo em ocasiões propícias. Trazem em si diversas funções: solucionar um mal-entendido; dar conselhos; ensinar regras para se viver; pôr um ponto final numa discussão; usar de ironia; dar prosseguimento a um diálogo; ou dizer uma verdade que o emissor não quer dizer diretamente ao receptor, mas deseja levá-lo à reflexão.

Num provérbio pode estar embutido:

  • um conselho: Em vez de dar o peixe, ensine a pescar;
  • um aviso ou previsão: Quem não ouve conselho, ouve coitado;
  • uma observação: Em boca fechada, não entra mosca;
  • uma afirmação abstrata: A união faz a força;
  • uma experiência concreta: Quem planta e cria, tem alegria.

Nos tempos atuais não resta dúvida de que a importância dos provérbios foi reduzida nas culturas onde predomina a escrita, mas eles ainda persistem com força. Estão na Bíblia, no Corão, no Talmude, nos Vedas, nos textos poéticos, políticos ou religiosos. Nas culturas orais os provérbios encontram-se nas citações dos chefes e anciãos que citam seus ancestrais como seus representantes. Eles sempre se iniciam com as palavras: “Como diziam nossos antecipados…”. Essas pessoas são respeitadas e admiradas pelo vasto conhecimento de provérbios que detêm, sabendo utilizá-los no momento necessário.

É fantástica a capacidade que os provérbios populares possuem ao condensar numa pequena frase uma grande dose de sabedoria popular. A universalidade das mensagens que muitos desses provérbios encerram é outra característica interessante. É possível encontrá-los, com o mesmo sentido, nas mais diferentes culturas e línguas, o que torna muito difícil conhecer a origem de cada um deles. Os provérbios demonstram o quanto as culturas em todo o mundo possuem em comum, embora exista a ideia de que são as diferenças que as concebem.

É fato que os provérbios também contradizem entre si, pois, assim como a vida é cheia de contradições, eles não poderiam omitir a dualidade. O emissor faz uso desse ou daquele provérbio de acordo com o contexto em que se encontra inserido num determinado momento. São as circunstâncias as responsáveis pela escolha do provérbio, de modo que cada um puxa brasa para a sua sardinha. A exemplo de: “Deus ajuda quem cedo madruga” / “Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”.

Fontes de pesquisa:
Provérbios e Ditos Populares/ Pe. Paschoal Rangel
A Sabedoria Condensada dos Provérbios/ Nelson Carlos
Nunca se Case com uma Mulher de Pés Grandes/ Mineke Schipper

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O BOM E O RUIM DA VARIANTE ÔMICRON

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Autoria de Leandro Demori*

Sim, estamos na 3º onda!

A variante ômicron dominou o mundo e isso é uma péssima e uma ótima notícia. Eu não sou infectologista, mas fiquem tranquilos, as informações abaixo foram tiradas de dois excelentes podcasts que ouvi na madrugada de ontem: o da revista Slate e o do jornal The New York Times (ambos em inglês). Abaixo, de modo bastante objetivo, está tudo o que eles trouxeram sobre a nova mutação da covid-19 (com referências extra).

A variante ômicron já dominou o planeta, sendo que no Brasil o vírus vem se espalhando rapidamente. Por aqui, 6 em cada 10 infectados pegaram essa variante. O restante foi contaminado pela variante delta, a bambambã até poucas semanas atrás.

Estamos vivendo uma terceira onda no Brasil e talvez ela seja a pior de todas em número de contaminados. Essa onda ainda não aparece na imprensa, porque o Ministério da Saúde resolveu sofrer um ataque hacker que causou um apagão de dados. Mesmo assim, a média móvel aumentou 639%

Essa terceira onda chega em um momento em que nosso psicológico já foi para o espaço – estávamos contando com o fim aparente da fase aguda da pandemia para reatar os laços sociais e a vida lá fora. Portanto, essa é a péssima notícia. A vida normal vai ter que esperar.

Os sintomas da ômicron aparecem, em geral, no terceiro dia de contaminação. Os da delta apareciam no quinto dia. A nova variante, a princípio, também desaparece mais cedo.

A ômicron pode ser um dos vírus de mais rápida propagação da história. Uma fonte ouvida pelo El País fez um cálculo comparando a nova variante com o vírus do sarampo, um dos mais contagiosos do planeta. A conclusão: num cenário de ausência de vacinação, um caso de sarampo daria origem a outros 15 casos em apenas 12 dias. Já um caso de ômicron daria origem a 216 casos no mesmo período. Mas isso pode ser bom…

A variante ômicron é menos agressiva que a delta, seus efeitos são mais brandos e, sobretudo, ela tende e não atacar com violência os pulmões, concentrando-se muito mais no nariz. A possibilidade de parar em uma UTI e ser entubado cai muito, assim como a de morrer pela doença.

E o melhor de tudo: a ômicron parece proteger contra a delta, o que significa que a nova variante vai engolir a antiga e virar o vírus dominante no mundo. Muitos cientistas têm esperança de que o fim da pandemia aconteça por isso e com + vacinação.

Por fim, as vacinas estão segurando a onda. Com duas doses da Pfizer, a chance de você parar em um hospital é reduzida entre 60% e 70%. Com três doses é partir para o abraço (mas com o uso da máscara!). Cuidem-se!

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*Editor-Executivo do Jornal “The Intercept Brasil”

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O ALMOÇO DOS REMADORES (Aula nº 84 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho 

Estou em Chatou. Comecei a pintar um quadro de remadores que me tentava havia muito tempo. De vez em quando é preciso buscar coisas que estejam acima das próprias forças. (Renoir)

Tenho conhecido pintores que não fizeram nada de útil, porque se dedicaram a seduzir as mulheres em vez de pintá-las. (Renoir)

Renoir foi um dos principais integrantes do Impressionismo, sendo sua composição O Almoço dos Remadores a sua última grande obra no estilo, antes de buscar novos caminhos na pintura, como veremos mais adiante. Na composição o pintor retrata um almoço num dia de feriado, no terraço do restaurante francês La Fournaise, nas margens do rio Sena em Chatou, num dia quente de verão. A maioria dos modelos ali presentes são seus amigos e clientes habituais do lugar, todos muito jovens. Este quadro tornou-se uma das mais importantes criações do movimento impressionista.

Embora haja quatorze figuras na cena, são os dois barqueiros o eixo central da composição, não só pela robustez de seus corpos musculosos, como pelo tipo de roupa que usam, contrastando com os demais. Eles, ao contrário dos outros, usam camisetas brancas, deixando braços e pescoço nus. À época a moral burguesa exigia que todo o corpo estivesse coberto, sendo que os braços nus dos atletas poderiam trazer constrangimento às mulheres, o que não parece ocorrer com as da composição.

Todas as cinco garotas presentes na mesa usam chapéus, pois esses eram à época o símbolo da respeitabilidade e de status social. As mais pobres têm os chapéus adornados de flores e fitas, decorados por elas mesmas. Ao fundo uma mulher, ricamente vestida com seu casaco de pele e usando luvas, tapa os ouvidos para não escutar os elogios dos dois fãs ao seu lado.

O terraço está fechado por uma balaustrada. Finas estruturas de metal suportam o toldo de listras vermelhas que o cobre. Uma garota apoia-se despreocupadamente na balaustrada, enquanto ouve atentamente o personagem à sua frente. No parapeito também se encosta um dos barqueiros, numa atitude de ausência, parecendo mirar ao longe. Alguns personagens estão assentados ao redor de duas mesas, enquanto outros encontram-se ao fundo, no lado esquerdo da composição. Uma moça (futura esposa de Renoir) tem um cãozinho nos braços que traz suas patinhas traseiras sobre a mesa.

Ao fundo, entre as ramagens e na parte superior esquerda da composição, algumas embarcações podem ser vislumbradas, deslizando sobre as águas do rio Sena. Observando os objetos nas mesas, é possível concluir que o almoço está chegando ao fim, ou seja, os remadores e seus amigos acabam de comer.

Renoir mostra aqui sua perícia em pintar naturezas-mortas, ao representar os restos da refeição. Sobre a toalha branca da mesa em primeiro plano encontram-se um guardanapo amassado, uma fruteira, um pequeno barril de conhaque, garrafas de vinho semi-cheias e diversos tipos de copos: os grandes para o vinho tinto, os altos para o café, os pequenos para conhaques e licores.

Ficha técnica
Ano: 1880-1881
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 130 x 173 cm
Localização: The Phillips Collection, Washington, EUA

Fontes de pesquisa
Renoir/ Coleção Folhas
Renoir/ Coleção Girassol
Renoir/ Abril Coleções
Los Secretos de las Obras de Arte/ Editora Taschen

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BAILE NO MOINHO DA GALLETE (Aula nº 84 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

É difícil entender por que este quadro provocou uma tempestade de indignação e escárnio. Percebemos sem dificuldade que a aparente superficialidade nada tem a ver com desleixo, mas é, pelo contrário, o resultado de um grande talento artístico. Se Renoir tivesse pintado todos os detalhes, o quadro teria um aspecto enfadonho e sem vida. (E. H. Gombrich)

Levou algum tempo até o público descobrir que, para apreciar um quadro impressionista, deve recuar alguns metros e desfrutar o milagre de ver essas manchas intrigantes súbito se organizarem e ganharem vida diante dos olhos. (E. H. Gombrich)

Os artistas da época do Impressionismo estavam sempre presentes nos bailes realizados no ex-moinho, situado na colina de Montmartre em Paris, a uma hora de caminhada do centro da cidade, onde se reuniam costureiras e trabalhadores em seus dias de folga, em busca de modelos para suas pinturas ou aventuras passageiras. Havia muitas garotas pobres ali que cobravam muito pouco para posar. Renoir retrata nesta composição um baile no local, onde os personagens são os seus amigos, garotas e operários que estão pousando para ele.

Baile no Moinho da Gallete é uma das mais conhecidas e admiradas pinturas de Renoir, tida como a mais bela do século XIX e uma das obras-primas do Impressionismo. Nela o pintor faz um uso excepcional do espaço, trazendo uma fantástica ideia de multidão, através da superposição de rostos. Também dá vida a uma festiva combinação de cores brilhantes, trazendo o efeito da luz do sol sobre os alegres participantes. Raios de sol atravessam as folhas das árvores frondosas, iluminando pessoas e ambiente, o que nos traz a certeza de que ainda era dia (os bailes ali começavam às 15h e acabavam às 23h). Os postes brancos com lampiões dão uma beleza singular à cena.

O local, antes de Renoir, tinha trinta moinhos de vento funcionando. E “galette” — dá nome aos moinhos — era um tipo de pastel liso feito de farinha moída, servido ali. Os dois moinhos que sobraram pertenceram à família Debray, sendo um deles transformado em uma construção isolada, ao lado da qual foi aberto um local de dança. Tratava-se de um barracão já bem arruinado, ornamentado com vime e pintado de verde. Ao lado havia um jardim com muitas árvores, onde uma orquestrava tocava polcas, valsas, cancan, etc. Cobrava-se uma quantia insignificante para se frequentar os bailes.

O clima da composição é festivo, mostrando casais dançando, jovens conversando em suas mesas, pessoas de pé observando o movimento, algumas assentadas em bancos, outras próximas à orquestra e outras no pátio do local. O pintor francês organizou sua composição da seguinte maneira:

1- dois círculos, sendo um mais fechado, no lado direito em volta da mesa, e o outro mais aberto, à esquerda em volta da mulher de vestido cor de rosa e seu par;
2- uma pirâmide: as três figuras do primeiro plano formam uma pirâmide;
3- linhas verticais formadas por pessoas de pé, pares dançantes, suporte dos lampiões, etc;
4- linhas horizontais formadas pelos postes dos lampiões, pela construção de madeira pintada de branco, etc.

O quadro parece ter vida própria, tamanha é a vibração, que repassa ao observador, como se tudo fosse movimento. Como se trata de uma obra impressionista em que não há preocupação com os contornos e detalhes, a composição parece que ainda está por terminar, pois apenas algumas cabeças das figuras, no primeiro plano, trazem detalhes, ainda que de maneira não convencional.  À medida que vão se afastando do primeiro plano, as figuras vão se tornando cada vez mais fugidias, desmanchando-se ao sol e no ar.

É interessante notar que o pintor corta parte das figuras nas margens direita e esquerda, para repassar a ideia de continuidade, ou seja, a de que ele captara com seus pincéis apenas parte do ambiente onde se realiza o baile. É também um meio para dar mais naturalidade à cena, de modo a passar a impressão de que os personagens não estão pousando para ele e que tudo acontece naturalmente.

Os personagens ao redor das mesas formam o primeiro plano da composição. A moça do vaporoso vestido listrado, assentada num banco de frente para um rapaz assentado numa cadeira e de costas para o observador, tem os cabelos e parte do rosto coberto pelas sombras, enquanto o sol reflete sobre sua boca e queixo. A modelo tinha 16 anos na época. A mulher de vestido cor de rosa e seu par ganharam um destaque especial no quadro, podendo ser visualizados por inteiro, isolados dos demais casais dançantes. Tem-se a sensação de que o par dança sobre nuvens. No centro da parte esquerda da tela é possível flagrar um casal em clima de flerte. O homem descansa o braço esquerdo no tronco da árvore, inclina-se para a frente, cortejando a moça vestida de azul, recostada na árvore bem à sua frente.

Crianças também estão presentes na composição, o que dá à cena um certo ar de pureza. No canto inferior esquerdo da pintura, uma garotinha de cabelos loiros com fita conversa com uma moça. Ambas estão assentadas num banco. Na verdade, à noite, quando se acendiam as lamparinas, para ali vinham delinquentes e prostitutas com seus cafetões, acontecendo muitos brigas ou navalhadas. Durante a parte da tarde, ao contrário do que acontecia à noite, as mulheres eram obrigadas a se comporem com um chapéu em sinal da respeitabilidade. Quanto menos roupa uma garota usasse, mais duvidosa era a sua reputação, mas muitas garotas na composição de Renoir são vistas sem chapéu. Todos os homens são vistos usando chapéu no Moulin de la Galette, mesmo quando estavam dançando, pois uma pessoa educada devia deixar o chapéu na cabeça (Como mudam os tempos!). Alguns usavam um chapéu de palha de verão, outros um chapéu preto de feltro. Grenadine era a bebida mais usada. Tratava-se de um xarope de Granada, com água.

Renoir usou pinceladas cintilantes para unir as personagens do baile, sem se preocupar com a clareza das formas. Talentoso, o artista nutria indiferença por qualquer tipo de intelectualismo.

Dados técnicos
Data: 1876
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 131 x 175 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de Pesquisa
istória da Arte/ E. H. Gombrich
Renoir/ Abril Coleções
Renoir/ Coleção Folha
Renoir/ Coleção Girassol
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

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PAPOULAS DE ARGENTEUIL (Aula nº 83 D)

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Autoria de Lu Dias Carvalho     O tema é insignificante para mim; o que quero reproduzir é o que há entre mim e o tema. (Monet)

Claude-Oscar Monet (1840–1926) nasceu em Paris, mas viveu a sua infância e adolescência em Le Havre, cidade portuária francesa, para onde seus pais se mudaram, crescendo ele num ambiente burguês. Na sua casa apenas sua mãe, Louise, mostrava interesse pela pintura. O pai, Adolphe, não aceitava as inclinações do filho por tal arte, de modo que o relacionamento entre os dois começou a gerar conflitos. E piorou ainda mais, quando o filho deixou a escola, pouco tempo antes de concluir os estudos. Monet veio a transformar-se numa das mais importantes personagens do Impressionismo.

A composição Papoulas de Argenteuil é uma obra do pintor que apresenta vários aspectos do Impressionismo, como as pinceladas rápidas, o efeito da atmosfera na paisagem, o uso de cores complementares baseadas no vermelho, azul e amarelo. A paisagem é pintada exatamente como o artista enxerga-a, sem nenhuma preocupação com os detalhes, apenas sugere as diversas texturas e formas das figuras, flores, folhagens, gramíneas e nuvens. Monet, para dar vida às suas papoulas, pinta-as com pinceladas leves de vermelho puro. Uma linha diagonal estrutura a composição.

Em primeiro plano estão uma mulher, possivelmente a mãe, e uma criança (provavelmente Camille, esposa do pintor, e seu filho Jean), ambos levemente pintados. Ela veste um vestido cinza com xale preto e carrega uma sombrinha azul, jogada para trás. A criança, vestindo branco, leva nas mãos um ramalhete de papoulas. Mais distante, no topo da colina, uma segunda mulher, vestida de preto, desce pelo campo de papoulas, seguindo na mesma direção da primeira. Ao seu lado está uma segunda criança. Pela vestimenta das figuras é possível deduzir que se encontram próximas a uma cidade, não se tratando de camponeses.

A paisagem ao fundo possui uma ala de árvores, tendo no meio uma construção branca de telhado avermelhado. À frente estende-se um campo de vegetação alta. À esquerda predomina o vermelho das papoulas em meio ao campo verde e às flores amarelas. À direita predomina o verde azulado em meio a um nevoeiro. O céu azul está carregado de nuvens brancas. Provavelmente o sol tenha se escondido, o que levou a primeira mulher a baixar a sombrinha.

Em sua pintura Monet, assim como os demais pintores impressionistas, dava à arte da pintura uma nova visão, expressa tanto na técnica quanto na temática. Era como se a cena tivesse sido captada por um rápido olhar, sem se ater aos detalhes. Aqui, o observador desvia sua atenção das figuras para se concentrar no efeito visual das tulipas vermelhas.

Ficha técnica
Ano: 1873
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 50 x 65 cm
Localização: Museu d’Orsay, Paris, França

Fontes de Pesquisa:
História da arte no ocidente/ Editora Rideel
http://www.visual-arts-cork.com/paintings-analysis/poppy-field-monet.htm

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O TANQUE DAS NINFEIAS (Aula nº 83 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho   

Estas paisagens refletidas tornaram-se para mim uma obrigação que ultrapassa as minhas forças que são as de um velhote. Mas mesmo assim, eu quero chegar ao ponto de reproduzir aquilo que sinto. E espero que estes esforços sejam coroados de êxito. (Monet)

É na água, entre as flores, todo o céu que se filtra, todo o ar que se joga através das árvores, todos os motivos das horas, todos os matizes das horas, todas as graciosas imagens da natureza circundante. (Gustave Geoffreoy)

Sou muito difícil comigo mesmo, mas é preferível isso a apresentar coisas de valor mediano. (…) Nada me impede, ao contrário, de conservar meu zelo e minha confiança para realizar obras ainda melhores. (Monet)

A casa de Giverny foi a última morada de Monet. Após comprá-la, assim como os terrenos próximos, criou no local, com a ajuda de seu jardineiro-chefe japonês, um exótico jardim com lírios, álamos, céspedes, bambus, salgueiros e uma variedade de plantas aquáticas. O que mais fascinou o artista foi o grande lago com ninfeias (ou nenúfares) vindas do Japão. Havia um jardineiro só para cuidar de suas plantas exóticas que exigiam uma temperatura mais quente. Paixão à qual o artista se dedicou por mais de meio século de vida. Chegou a produzir cerca de 250 quadros individuais com suas exóticas flores.

O jardim foi cuidadosamente criado, segundo as ideias de Monet, de modo que as formas e as cores das plantas se transformassem numa obra-prima. Monet mergulhou fundo no seu universo pictórico em busca de contrastes que seu olhar captava através da luz. A cada repetição acrescentava um novo efeito à sua pintura, captado através do acasalamento entre a luz e as cores.

A ponte de madeira em arco, construída em estilo japonês, foi colocada sobre a lagoa de ninfeias como uma passarela que ligava um lado ao outro. Acima dela, a vegetação é densa, destacando-se os salgueiros chorões. Abaixo da ponte está a água, quase que inteiramente tomada pelas folhas e flores das majestosas ninfeias. Como não se vê o céu, o olhar do observador é direcionado para a superfície da água.

Ao contrário de outros quadros que o pintor viria a pintar sobre o tema, é possível ver na parte superior de O Tanque das Ninfeias, composição também conhecida como A Ponte Japonesa, as copas suntuosas das árvores. Posteriormente os quadros sobre ninfeias limitaram-se à superfície da água e às flores, sob diferentes perspectivas, vistas de bem perto. Quadros de paisagens sem horizontes eram uma inovação na pintura. Os reflexos possibilitavam abrir mão do horizonte, responsável por estruturar o espaço.

Cerca de cinco meses após a morte do pintor, oito composições, somando 22 enormes painéis sobre ninfeias, passaram a decorar dois salões ovais de Orangerie, no Jardim das Tulherias em Paris. O local foi chamado pelo pintor André Masson de “a Capela Sistina do Impressionismo”. Monet gastou 12 anos de sua vida em tais composições.

Na primeira sala, dedicada às ninfeias, encontram-se os painéis: Sol Poente, As Nuvens, Manhã e Reflexos Verdes. Na segunda, dedicada às ninfeias e aos salgueiros estão os painéis: Reflexo das Árvores, A Manhã dos Salgueiros e Os Dois Salgueiros. É surpreendente como o artista conseguiu trabalhar com o mesmo tema durante tantos anos. Cada quadro trazia algo novo, quer no cultivo dos matizes quer na captação da luminosidade.

Nos seus últimos anos de vida, Monet não gostava de sair de sua casa. Isolava-se em seu jardim aquático com suas inúmeras plantas, dentre elas as suas amadas ninfeias. Ao contrário do que muitos podem pensar, o artista não era um pintor de flores, ou seja, o seu interesse não se encontrava na pintura dessas maravilhas. O que de fato ele procurava era o resultado do conjunto: água, flores e luz e outros motivos.

Os pintores surrealistas viram na série Ninfeias um prelúdio da abstração lírica de Wasily Kandisky, grande expoente do expressionismo abstrato, e de Kasimir Malevich que confessou ter recebido a influência de Monet e da série sobre Ninfeias em sua criação artística.

Ficha técnica:
Ano: 1899
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 89 x 93 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen
Monet/ Editora Girassol

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