Autoria de Lu Dias Carvalho
Os cavaleiros participavam de torneios sangrentos e outras demonstrações de proeza viril, edulcoradas por palavras como “honra”, “cavalheirismo”, “glória” e “galanteria”; essas façanhas fizeram as gerações posteriores esquecer que eles eram saqueadores carniceiros. (Steven Pinker)
Se uma dama viaja em companhia de um cavaleiro e outro cavaleiro puder ganhá-la em batalha, o vencedor pode dispor da dama ou da donzela do modo que desejar, sem incorrer em vergonha ou culpa. (Lancelot)
Normalmente, as pessoas carregam uma imagem muito romântica dos cavaleiros medievais. O próprio dicionário Aurélio assim define: “Cavaleiro que, na Idade Média, sozinho ou em companhia de seus pares, corria terras em busca de aventuras, a fim de defender os fracos, lutar pela Igreja, pela justiça, desagravar damas e donzelas, etc.”. A verdade fica por conta do “et cetera”, pois os fatos não eram bem assim, conforme relatos do escritor canadense Steven Pinker em seu livro “Os Anjos Bons da Natureza Humana”. Possivelmente essa contradição deva-se à distância temporal em que viveram tais cavaleiros (século VI) e à escrita de suas história (entre os séculos XI e XIII), tempo de sobra para enfeitar a realidade dos acontecimentos.
Os cavaleiros medievais eram homens extremamente violentos, que não poupavam nem mesmo mulheres e crianças em suas lutas. Usavam diversas formas de tortura para dar cabo aos vencidos: rachavam crânios, esmagavam corpos com os cascos de seus cavalos, decapitavam, esquartejavam, queimavam, catapultavam, escaldavam, raptavam, matavam até mesmo os cavalos dos vencidos. Apesar disso, eles passaram para a história como “cavalheiros” que nutriam grande respeito pelas damas. Porém, um cavaleiro, ao cortejar uma princesa, como sinal de seu amor, tanto poderia prometer-lhe estuprar uma mulher de imensa beleza, quanto enviar-lhe as cabeças dos cavaleiros derrotados por ele numa competição. A proteção às damas, de que tanto se falou tempos depois, tinha apenas o intuito de impedir que elas fossem raptadas por outros cavaleiros.
Esses tais cavaleiros eram vistos também como ligados à defesa da Igreja. Mostravam seus valores religiosos carregando enormes correntes com um crucifixo ao pescoço, falavam sobre a tortura eterna e descreviam os santos martirizados. Mesmo nos jogos de entretimento, eles eram extremamente cruéis, como podemos ver através de dois exemplos citados pela historiadora Barbara Tuchman: “Os jogadores, com as mãos atadas às costas, competiam para matar a cabeçadas um gato amarrado num poste, correndo o risco de ter as faces rasgadas ou os olhos arrancados pelas garras do animal desesperado.” e “Um porco preso num grande cercado era caçado por homens com porretes, sob as gargalhadas dos espectadores, enquanto fugia guinchando dos golpes até ser morto por pancadas.”.
Segundo Steven Pinker, os cavaleiros da Europa feudal agiam como os chefes militares, com poderes de vida e morte sobre seus subalternos. O rei era visto apenas como o mais importante dos nobres, não possuía exército permanente, exercendo pouco controle sobre seus domínios. Em contrapartida, os feudos eram controlados por barões, cavaleiros e nobres, tendo os camponeses, que moravam em suas terras, além de serem responsáveis pela colheita, também responder pelo serviço militar, ou seja, defender o feudo e atacar outros, a mando do senhor feudal.
Nota: ilustrações retiradas de www.pinterest.com e de it.aliexpress.com
Sugestão de leitura: Um espelho distante: O terrível século XIV/ Barbara Tuchman
Fonte de pesquisa
Os anjos bons da nossa natureza/ Steven Pinker/ Editora Companhia das Letras
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