Arquivo da categoria: Janelas pro Mundo

Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

ÁFRICA – CONVERSANDO COM UM TUAREGUE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Caros leitores, o jornalista catalão, Victor M. Amela, fez uma belíssima reportagem com o tuaregue Moussa Ag Assarid, que estuda Administração na Universidade de Montpellier, no sul da França. Não vou reproduzi-la na íntegra, porque vocês poderão encontrá-la muito facilmente na internet. Mas vou colher as principais informações contidas e colocá-las numa ordem que dê maior compreensão ao texto.

Nós, tuaregues, não portamos documentos ou conhecemos a própria idade. Não abrimos mão do turbante fino de algodão que nos cobre o rosto e nos possibilita ver e respirar através dele na imensidão do deserto. Somos chamados de homens azuis, porque o fino tecido do turbante índigo, mesclado com outros pigmentos naturais, ao desbotar, solta uma tinta azul que adere à pele, deixando-a com tons azulados. O azul, para os tuaregues, é a cor do mundo. É a cor dominante: a do céu e a do teto da nossa casa.

Nós somos um povo antigo do deserto, solitário e orgulhoso, que vive à própria sorte. Somos chamados de os Senhores do Deserto, única raça capaz de viver no infernal Saara. Usamos o alfabeto “tifinagh”. Somos calculados em cerca de três milhões e, apesar de todas as mudanças, a maioria permanece nômade, pastoreando seus rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino feito de infinito e silêncio. Mas a população diminui. “É preciso que um povo desapareça para que percebamos que ele existia!” denunciou certa vez um sábio. Eu luto para preservar o meu povo.

O mundo dos tuaregues é o deserto imenso e silencioso, onde se pode ouvir o bater do próprio coração, quando se está sozinho. Não existe melhor lugar para quem deseja encontrar a si mesmo. Conservo com nitidez as recordações de minha infância: acordo com o sol. Perto de mim estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós as conduzimos onde existem água e grama… Assim fez meu bisavô, meu avô e meu pai… e eu. No mundo não havia nada, além disso, e eu era muito feliz assim!

As cabras nos dão leite e carne e são levadas, ali e acolá, em busca de pasto. Aos sete anos já é permitido à criança afastar-se do acampamento para aprender coisas que lhe serão importantes no deserto: farejar o ar, escutar, apurar a vista, orientar-se pelo sol e estrelas. E a se deixar ser conduzido pelo camelo. Caso se perca, o animal o levará aonde há água. Lá tudo é simples e profundo. Existem poucas coisas no deserto e cada uma delas possui grande valor. Lá, cada pequena coisa proporciona felicidade. Cada roçar é valioso. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos, de estarmos juntos! Lá ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já é.

Na cidade existem cartazes de mulheres nuas. Por que essa falta de respeito para com a mulher? Na cidade também existem torneiras de onde escorre a água. Que abundância e que desperdício, capazes de fazer um tuaregue chorar. A água para um tuaregue é sagrada. Até então, todos os dias da minha vida tinham sido dedicados à procura d’água. Até hoje, quando vejo as fontes e chafarizes decorativos que existem aqui, sinto uma dor imensa dentro de mim. Porque no começo dos anos 90 houve uma grande seca, os animais morreram, nós adoecemos… Eu tinha uns doze anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim. Contava-me histórias e ensinou-me a contá-las bem. Ensinou-me a ser eu mesmo.

Convenci meu pai a me deixar frequentar a escola. Todos os dias eu caminhava quinze quilômetros para chegar até ela. Até que um professor arrumou uma cama para eu dormir, e uma senhora me dava comida quando eu passava em frente à sua casa. Entendi: era minha mãe que me ajudava.

Minha paixão pelos estudos nasceu dois anos antes, quando o rally Paris-Dakar passou pelo nosso acampamento, e caiu um livro da mochila de uma jornalista. Eu o apanhei e devolvi a ela. Mas ela me deu o livro de presente e disse que ele se chamava “O Pequeno Príncipe”. Naquele instante prometi a mim mesmo que um dia seria capaz de lê-lo… Foi assim que consegui uma bolsa para estudar na França.

 Do que mais tenho saudade é do leite de camela. E do fogo de madeira. E de caminhar descalço sobre a areia tépida. E das estrelas: lá, nós as admiramos todas as noites. Cada estrela é diferente da outra, como cada cabra é diversa da outra. Aqui, à noite, vocês ficam vendo televisão.

A insatisfação é a pior coisa que existe aqui. Vocês têm tudo, mas nada lhes é suficiente. Vivem se queixando. Na França passam a vida queixando-se. Vocês se acorrentam por toda a vida a um banco por causa de um empréstimo, e existe essa ânsia de possuir, essa correria, essa pressa. No deserto não existem engarrafamentos, sabe por quê? Porque lá ninguém quer passar à frente de ninguém!

Você me pergunta qual é o momento de maior felicidade no meu deserto. Digo-lhe que ele se repete a cada dia, duas horas antes do pôr-do-sol: o calor diminui e o frio da noite ainda não chegou. Homens e animais retornam lentamente ao acampamento e seus perfis aparecem como recortes contra o céu que se tinge de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde… É fascinante! Esse é um momento mágico. Entramos todos na tenda e fervemos a água para o chá. Sentados, em silêncio, escutamos o barulho da água que ferve. A calma toma conta de nós. As batidas do coração entram no mesmo compasso dos gluglus da fervura.
Que paz! Aqui vocês têm o relógio; lá, nós temos o tempo.

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ÁFRICA – AS MULHERES NA CULTURA SOMALI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O território, que hoje constitui a Somália, era repartido entre ingleses e italianos. Mas em 1960, os colonizadores partiram, houve a unificação das duas partes e nasceu um país independente. Poucos anos depois, a corrupção e a luta entre os clãs esfacelaram o país que hoje é um dos mais pobres do continente africano, além de carregar uma cultura que torna mais difícil ainda a unidade entre as diversas etnias.

Absurdamente, as crianças somalis precisam saber de cor toda a genealogia de seu clã. Embora os filhos pertençam ao clã do pai, é importante conhecerem a linhagem da mãe. Nas guerras civis, o clã a que pertence o indivíduo pode significar vida ou morte. A linhagem funciona como uma espécie de casta que é rigorosamente respeitada. Quando dois somalis encontram-se, passam a desfiar toda a genealogia. Se descobrirem que tiveram um antepassado em comum, mesmo que na nona geração, sentem-se ligados como primos. Eles passam a se ajudar mutuamente.  Existem clãs superiores e aqueles considerados inferiores, que precisam se afastar para dar passagem aos outros. Na Somália, os indivíduos que pertencem ao clã sab, são tratados como párias (como os dalits indianos). A intolerância é escancarada. As características físicas e os laços de sangue são levados a extremos, sendo responsáveis pelas guerras civis.

Na Somália, a educação das meninas é toda voltada para a honra. Elas devem ser fortes, espertas e desconfiadas e, sobretudo, acatar as normas do clã. A desconfiança, ensinam os mais velhos, impede que elas sejam roubadas ou possam se perder. Pois quem perde a virgindade mancha não apenas a própria honra, mas a do pai, dos tios, dos irmãos e dos primos. Ao desonrar pai, mãe ou irmão, a mulher estará desonrando toda a sua estirpe. O castigo é a morte por apedrejamento ou ser enterrada viva.  Algumas garotas têm a sorte de apenas serem banidas do contato com a família, sendo repudiada por todos.

Antes de escolher uma esposa, o homem primeiro escolhe o pai da noiva, que deve ter boa reputação dentro do clã. Da moça é exigido que seja jovem, perfeita fisicamente, pura, forte e trabalhadora.  A sogra é responsável por inspecionar sua virgindade. A vida da garota fica nas mãos da futura sogra que não possui nenhum conhecimento sobre a anatomia do hímen. Muitas vezes ela é virgem e é julgada como se não fosse, dado o desconhecimento da mãe do noivo. E sua vida vira um verdadeiro inferno, quando não é morta por membros da família, pela desonra acarretada.

Um casamento não pode ser efetuado sem a presença de um guardião da moça: pai ou irmão. E, na falta desses, atua o parente masculino mais próximo do lado paterno. O casamento consanguíneo na Somália e em parte do Oriente Próximo e da África é o mais desejado pelos pais, pois conserva o patrimônio da família, faz crescer os clãs e os conflitos são logo resolvidos com facilidade. O que também acarreta vários problemas na descendência, em razão dos laços de consanguinidade.

Uma boa esposa tem que ser uma baari, ou seja, uma escrava devotadíssima, que honra a família do marido e a alimenta sem questionar e nem se queixar. Nunca chora ou faz qualquer exigência. É forte no serviço e traz a cabeça sempre baixa. Mesmo que o marido seja cruel, estuprando-a ou espancando-a, ela deve abaixar os olhos e ocultar as lágrimas. Deve dizer para si mesma que Deus é justo e onisciente e vai recompensá-la no além. De modo que todos ficarão conhecendo a sua paciência e força e haverão de cumprimentar seu pai e sua mãe pela maravilhosa educação que lhe deram. Também estará honrando seus irmãos, tios e primos. Pois uma mulher deve falar com orgulho sobre a sua submissão para outras famílias, de modo que a família do marido possa apreciar a sua obediência e vir a gostar dela.

A mutilação dos órgãos genitais é um dos maiores absurdos encontrados na cultura somali. Vejam o artigo: ÁFRICA – A ABLAÇÃO DA GENITÁLIA FEMININA

Fontes de Pesquisa:
Reconciliação (Benezir Bhuto)
Infiel (Ayaan Hirsi Ali)
Nove Partes do Desejo (Geraldine Brooks)

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AFEGANISTÃO – O CASAMENTO NO PAÍS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É triste ver como em certas culturas a mulher (muitas vezes ainda uma criança) continua sob o jugo machista da sociedade em vigor, tratada como escrava e sem nenhum direito de opinião. Vimos isso na Índia com o hinduísmo e agora no Afeganistão com o islamismo. Fato que se repete nos demais países islâmicos.

A primeira esposa de um afegão é escolhida a dedos pela sogra, que leva em conta seus dotes físicos, morais e pecuniários. Os outros casamentos ficam por conta da escolha do próprio filho (o homem pode ter outras esposas). O primeiro casamento é especial, talvez pelo fato de que a primeira esposa carregue a maior responsabilidade pela família do marido.

É a mãe do noivo quem faz o pedido de casamento aos pais da futura nora. Embora esses fiquem felizes com o possível casamento da filha, a tradição reza que devem sempre responder “não” ao pedido. A negação significa que a escolhida é muito preciosa e que eles não querem que ela deixe a família. Tudo é um faz de conta, para que o dote seja o mais generoso possível.

Ao contrário do que vimos na cultura hindu, em que os pais da noiva são os responsáveis pelo pagamento do dote à família do noivo, entre os afegãos quem recebe tal pagamento é a família da nubente. Mas, tanto ali como acolá, a futura esposa não é consultada em nada. A transação comercial é realizada entre os pais do futuro casal.

Nos tempos em que o Taleban governava o país, as famílias procuravam casar suas filhas o mais depressa possível, pois a milícia costumava raptar jovens solteiras, para que se casassem com seus homens. Mesmo sendo impedidas de saírem às ruas, para não serem vistas, os talibãs eram informados de que essa ou aquela família tinha uma filha bonita. Invadiam as casas e roubavam as garotas.

Embora as mulheres afegãs, na sua imensa maioria, andem pelas ruas em trajes escuros e desmazelados, no dia do noivado ou do casamento devem se apresentar maravilhosas, com muita pintura, penteado chamativo e vestimenta colorida e cheia de pedrarias. O visual, que parece aos olhos ocidentais, exagerado e chamativo, em Cabul significa virgindade.

Antes da festa de noivado, outra é celebrada para comemorar o acordo feito entre as duas famílias, marcando o fim das negociações. É quando a sogra pendura um colar de ouro no pescoço da futura nora e as futuras cunhadas e tias colocam-lhe anéis nos dedos, deixando-a cheia de ouro (casamento entre famílias ricas).

Os afegãos tradicionais não gostam de pelos no corpo. Consideram-nos nojentos e horrorosos. Gostam do corpo suave e liso. De forma que a noiva precisa fazer uma limpeza corporal completa, deixando apenas os cabelos e os cílios. Todo o resto é raspado. As afegãs pobres, que não podem fazer uso dos serviços de um salão de beleza, ou as que são extremamente tímidas, para permitir que lhes removam os pelos pubianos, fazem o serviço em casa. Algumas chegam a arrancar os pelos com as mãos ou com chicletes.

Qualquer que seja o método usado, a depilação corporal é aterrorizante. Quase toda mulher sabe disso, assim como os demais simpatizantes da feminilidade. No caso afegão, o consolo é que o noivo também passa pelo mesmo ritual, removendo todos os pelos corporais. Mas, apenas lhe raspam o corpo, ao contrário da mulher que tem os pelos arrancados na raiz.

As mulheres afegãs não possuem vida social, de modo que as festas de noivado e casamento transformam-se em grandes acontecimentos. Mesmo os cinemas são proibidos a elas. De modo que tais eventos são feitos com esmero, sem a preocupação de economizar nada, como se quisessem compensá-las pela vida de reclusão. Muitas famílias ajuntam dinheiro ou fazem muitas dívidas para tal fim.

Nas festas de noivado e de casamento, homens e mulheres ficam segregados em compartimentos diferentes. Quando a família tem posses, a festa acontece em andares diferentes, com duas bandas tocando. Quando não é rica, o salão é dividido em dois por uma cortina. Há músicas o tempo todo. As danças são sensuais, tanto do lado masculino quanto do feminino. Depois a comida é servida abundantemente. A regra é que cada convidado coma dez vezes mais que o seu normal. Não há utensílios, de modo que todos comem com as mãos. Quando as vasilhas de comida são retiradas da mesa, os convidados começam a ir embora.

As fotos de casamento são tiradas com as irmãs do noivo, segurando o Alcorão acima da cabeça da noiva. Procuram imitar as estrelas dos filmes de Bollywood, que todo mundo adora no Paquistão, apesar da rivalidade com a Índia.

A futura esposa (e sua família) deve permanecer triste durante todas as cerimônias relacionadas ao casamento, mostrando-se descontente com esse, pelo fato de ter de trocar a casa dos pais pela casa da família do marido. Sua tristeza funciona como um sinal de respeito pela família que irá deixar. Portanto, quem se esbalda na festa é o noivo e sua gente.

A cerimônia de consumação é o próximo evento da agenda matrimonial do casal. Vão para um quarto, enquanto as famílias e convidados ficam esperando que o marido entregue um lenço branco manchado com sangue, que comprovará a virgindade da esposa. Caso isso não aconteça, ela é entregue de volta a sua família e o casamento é anulado, debaixo de muita humilhação.

Após o casamento, marido e sogra, muitas vezes, mostram-se verdadeiros tiranos. A esposa passa a ser uma empregada da casa, fazendo todos os serviços, enquanto o marido trabalha e se diverte na companhia de outros homens. Para que um homem se divorcie de sua esposa no Afeganistão, só precisa dizer três vezes, diante de testemunhas “Eu me divorcio de você”. Num divórcio afegão, a causa da separação é sempre atribuída à mulher. Ou ela é má cozinheira, ou é desobediente, ou não era virgem. E, nada pode ser pior para uma mulher do que ser abandonada pelo marido. Uma mulher divorciada é tratada como “puta”, não merecendo o respeito das pessoas. Jamais poderia ser uma primeira esposa de outro homem.

As mulheres, em países como o Afeganistão, continuam não fazendo parte das decisões políticas e sociais. O que é uma pena, pois muito poderiam contribuir para o crescimento do país.

Nota: Imagem copiada de http://focalfixa.wordpress.com/2011/12/16/

Fonte de pesquisa:
O Salão de Beleza de Cabul/ Deborah Rodriguez/ Editora Campus

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AFEGANISTÃO – AS MULHERES NA CULTURA AFEGÃ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Elas precisam que o resto do mundo olhe para elas. (Deborah Rodriguez)

Assim que o regime Taleban assumiu o controle do país, no rol de coisas proibidas estavam a música, a dança, as figuras representando pessoas ou quaisquer outros seres vivos, as pipas e os sapatos brancos. Com a expulsão dos talibãs, muitas das proibições impostas por eles foram excluídas, mas as mulheres continuaram sendo severamente vigiadas e punidas, por qualquer deslize tido como inaceitável dentro sociedade afegã.

Apesar das burcas, as afegãs sempre foram muito vaidosas com seus cabelos e maquiagem. As madeixas longas são cultivadas por elas, que procuram imitar as heroínas dos filmes de Bollywood. Muitos maridos não permitem que suas mulheres cortem-nas. Nenhum homem pode entrar em um dos salões de beleza afegãos, que ainda continuam marginalizados. As mulheres temem a reação dos partidários do antigo regime que não aceitam a visão de uma mulher com a cabeça descoberta.

Pelo fato de os homens não poderem entrar nos salões, esses representam um bom negócio para as cabeleireiras, pois eles não podem controlar o dinheiro ganho por elas e nem lhes dar ordens em seus negócios. Em geral, os serviços feitos pelas mulheres no país restringem a tecer tapetes, vender ovos, trabalhar em hospedarias e em alfaiatarias. Mas, nesses casos, os negócios são administrados pelo pai, ou irmão, ou marido ou até por um parente mais afastado.

A maquiagem das mulheres é extremamente pesada, ocupando o kohl (kajal) um lugar de destaque. Pelos padrões culturais do país, as afegãs acham que as mulheres ocidentais usam tão pouca maquiagem que ficam parecidas com homens. A maquiagem das noivas é muito forte, bem ao estilo “drag queens”. A boa tradição exige que a maquiagem delas seja demorada, como se fora um evento especial. Até os bebês usam o kohl para “combater o olho do diabo”.

Ainda criança, a menina já é prometida em casamento, normalmente a um homem bem mais velho, que pode dar à sua família um bom dote. A preocupação com o casamento da garota acontece assim que tem a primeira menstruação. Representa o momento a partir do qual ela já pode e deve se casar, antes que “fique falada”. É o período em que as transações comerciais são levadas a cabo. Em muitos casos, ela é, literalmente, vendida. Mas muitas delas são casadas antes de ficarem menstruadas. Ao se casar, a garota vai morar com o marido na casa dos pais dele, junto com os sogros, irmãos e suas famílias, onde a máxima comum é a de que “lugar de mulher é em casa”. Mesmo dentro de casa existe a parte destinada às mulheres, separando-as dos homens.

Os homens mais velhos estão sempre em busca de uma esposa mais jovem, talvez para provar a sua virilidade, relegando ao desprezo as esposas mais velhas, tornando-as mulheres muito tristes e sogras rancorosas. Mesmo os irmãos mais novos possuem a obrigação de vigiar e regular suas irmãs solteiras. Há casos de mulheres que são obrigadas a usar burcas até dentro de casa, passando a sofrer sérios problemas de visão, alguns deles levando à cegueira, pois a burca quase não oferece visão periférica. Outras são proibidas de saírem de casa por períodos de até de oito anos.

A mãe afegã não se abre com a filha, preparando-a para a noite de núpcias que, na maioria das vezes, transforma-se numa noite de terror para a pequena. Mas reza a tradição local que, quanto mais aterrorizada fica a nova esposa, maior é o indicativo de sua virgindade. O que muito alegra o esposo e sua família. A muitas das recém-casadas é vedado o contato com o exterior, durante muitos meses, inclusive com suas famílias, para que se adaptem à nova família que foi obrigada a abraçar.

A mulher, que não aceita fazer sexo com o marido, é surrada e pode sofrer queimaduras de cigarro. As jovenzinhas mais rebeldes possuem marcas de surras e cigarro pelo corpo. Em hipótese alguma, a sociedade afegã considera que haja estupro por parte do marido em relação à esposa. Ela é propriedade dele e deve servi-lo sempre. E só pode falar com os homens de sua própria família. São castigadas até por serem bonitas e inteligentes. A autoimolação é comum entre as mulheres desesperadas.

Quando o marido sai, cabe à sogra a vigilância sobre as mulheres do filho (ele pode ter muitas mulheres). Em muitos aspectos ela é bem mais cruel do que o homem. Oprime as noras, como se quisesse vingar tudo aquilo pelo qual já passou. É a vez de fazer valer o poder que nunca teve até então. Às esposas mais velhas, também, cabe vigiar as mais jovens. E, muitas vezes, acabam por transformá-las em escravas.

Muitas garotas, não aguentando os maltratos do marido, que, em muitos casos, poderia ser seu avô, e muitas vezes viciado em haxixe ou ópio, costumam fugir. Mas são denunciadas à polícia pelas próprias mães por “quebrar os votos do matrimônio”. Na verdade, as mães temem que as filhas possam ser devolvidas, de modo que a família tenha que restituir o dote recebido por ocasião do casamento.

O divórcio é considerado a coisa mais vergonhosa que pode acontecer a uma mulher. Mesmo assim, algumas o preferem ao sofrimento em que vivem. Ao se divorciarem, os filhos ficam com o marido. Um pai pode desfazer o casamento da filha, mesmo depois de casada e com filhos, caso não receba o dote, sem se preocupar com o futuro dela. Também, pode renegar a filha até que o marido pague-lhe o dote.

O mais cruel é que os homens podem andar pelas ruas de mãos dadas, conversarem abraçados ou se acariciarem nos braços, mas não aceitam o contato público com a mulher. Qualquer aproximação, eles entendem como se fosse um convite para o sexo. Tratar a mulher como empregada é o único modelo de relação que conhecem. A relação de carinho entre homem e mulher só pode ser explícita dentro do quarto do casal. Qualquer carinho fora disso é rechaçado.

Embora seja proibido tocar em mulheres que não são suas esposas, muitos homens afegãos tentam apalpar as poucas mulheres que encontram pelas ruas, deixando-as envergonhadas e amedrontadas, pois o castigo sempre recai sobre elas. Por isso, toleram tudo caladas. Uma expressão comum no país, para falar do assédio masculino ao sexo feminino, é dizer que “Os homens estão caindo das bicicletas!” pelo despudor delas. As poucas mulheres, que andam pelas ruas, mantêm a cara fechada (agora que podem usar lenços nas cabeças em vez da burca), para se livrarem do assédio masculino.

Na casa paterna, a filha não pode ser surrada por outro homem, mas na casa do marido, isso não tem importância alguma. A queixa de uma mulher contra o marido não é levada a sério. A esposa, que dá ao homem um menino, torna-se a favorita, principalmente quando ele já tem muitas meninas com as outras mulheres. Os pais do marido pressionam a nora para que faça sexo e ganhe um filho. E aquela que não ganha um menino dá direito ao esposo para se divorciar dela.

Os filhos masculinos são muito valorizados no Afeganistão. Ter muitas filhas é sinal de infortúnio, pois são os homens quem mantém as famílias e, além disso, quando se casam, continuam a viver com os pais, ajudando no sustento deles. Muitas famílias deixam claro que as meninas são indesejadas. As mulheres afegãs envelhecem com muita rapidez. Parecem ter o dobro da verdadeira idade.

Moralistas radicais estão sempre de olho nas mulheres, podendo lhes jogar ácido no rosto, por achar que estão sendo imorais, ou apedrejá-las até a morte. Tal atitude é considerada legal pela sociedade. A situação da mulher é tão grotesca, que ela pode ser presa por ter sido estuprada. Se o marido mata o estuprador, ela vai presa junto, com uma pena bem maior de que a dele, por ter sido a causa do crime. Engravidar do namorado, que não foi o homem escolhido pelos pais, também a leva à cadeia, assim como matar maridos violentos, pouco importando se a esposa é ainda uma criança.

No Afeganistão não existe o conceito de “namoro”. Moças e rapazes afegãos não se encontram, não flertam e não namoram. Mulheres vivendo sozinhas são tidas como prostitutas. Nas festas, homens e mulheres ficam em compartimentos separados. Os homens não se levantam à entrada de uma mulher. Se o homem recebe um amigo, a mulher fica fechada em outro cômodo, até que esse vá embora. As mulheres são literalmente ignoradas. O que elas dizem, segundo a tradição, não merece ser levado a sério.

O Afeganistão possui muitas etnias. Algumas são consideradas melhores do que outras. Assim como na Índia, a limpeza de banheiros não é feita por mulheres de determinadas raças. Não se pode menosprezar a coragem das mulheres afegãs que suportam uma sucessão de guerras intermináveis, a pecha de indesejáveis, casamentos forçados, maridos e sogras tiranos, a prisão imposta pela burca, a proibição de estudar e trabalhar, assim como a proibição de fazer parte da história de seus país.

Nota:
É claro que existem exceções como em todas as culturas. Mas o descrito aqui refere-se ao que é normal na cultura afegã.

Nota: Imagem copiada de http://www1.folha.uol.com.br

Fonte de Pesquisa:
O Salão de Beleza de Cabul/ Deborah Rodriguez/ Editora Campus

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EUA – GATO PREVÊ A MORTE DAS PESSOAS

Autoria de Lu Dias Carvalho
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Segundo certas escolas esotéricas, o papel dos animais de estimação não se limita ao de uma simples companhia. Nossos bichos funcionam também como verdadeiros para-raios, absorvendo energias pesadas que, não fossem eles, seriam absorvidas por nós. (Luis Pellegrini)

Os animais “irracionais” sempre foram motivo de curiosidade para os humanos. Eles estão presentes na história de todas as culturas, ora como seres sagrados ora como motivo das mais bizarras superstições. Mas a ciência vem desvendando um mundo até então desconhecido para nós, acerca de nossos companheiros de planeta. O certo é que eles possuem poderes ainda inexplicáveis. Não sei se você que me lê conhece a história do gatinho Oscar. Eu a conheci. Fiquei estupefata e a repasso aos leitores deste espaço.

Oscar, um gatinho abandonado e levado posteriormente para um abrigo, foi adotado, em 2005, junto com outros companheiros, pela equipe médica Steere House Nursing and Rehabilitation Center, no estado de Rhode Island (EUA). Ali ele cresceu na unidade destinada aos dementes senis, fazendo parte do grupo de animais que tinha por objetivo fazer companhia aos pacientes, de modo a levá-los a manifestar carinho e afetividade, assim como entreter os familiares durante o horário de visitas.

No início, Oscar não parecia satisfeito na sua nova profissão, não correspondendo aos anseios de seus protetores. O danadinho preferia esconder-se a ter que dar atenção aos pacientes e seus visitantes, como quem diz “Estou fora desta!”. Mas já tendo passado um ano, e como a esperança é a última que morre, o felino começou a se mostrar mais gentil, como se quisesse assumir seu posto, ou seja, fazer o que dele se esperava. Começou por visitar todos os quartos. O bichinho chegava, empurrava a porta com a cabecinha, espiava o paciente e inspirava o ar. Depois partia para outro quarto e mais outro…

Tudo seguia normalmente, como se Oscar fosse um daqueles profissionais competentes no seu trabalho, mas sem nada que o tornasse excepcional. Isso até o dia em que descobriram que o bichano, inúmeras vezes, escolhia um dos pacientes para se deitar junto. E a surpresa: o paciente escolhido falecia entre duas ou quatro horas após a visita do felino. O mais interessante é que Oscar não era afeito a passar muito tempo com as pessoas, excetuando as que estavam prestes a partir. Ou seja, o gatinho tinha a percepção de qual doente morreria. Se era impedido de entrar no quarto do paciente prestes a falecer, Oscar ficava inquieto, tentando usar a patinha para abrir a porta à força.

Inicialmente, ninguém ligou a presença de Oscar na cama dos moribundos à morte desses. Porém, as coincidências ficaram tão numerosas, que acabaram despertando a atenção da equipe médica. Cerca de 25 vezes ininterruptas, ele acertou qual seria o próximo paciente a falecer. Assim, quando o gatinho deitava na cama de um paciente, os enfermeiros já alertavam a família para o seu desenlace. Num dos casos, a família foi avisada e chegou antes de a paciente falecer. Um garoto, neto da senhora, perguntou à mãe:

– O que o gato está fazendo na cama da vovó?

– Ele está ajudando a vovó chegar ao céu. – responde a mãe, retendo as lágrimas.

Cerca de meia hora depois, a “vovó” partiu. Oscar então se levanta, olha em volta e deixa o quarto tão silenciosamente quanto chegou. Sua missão tinha sido cumprida.

Segundo a equipe do Steere House, muitas vezes, a família do paciente nem percebe a presença de Oscar no quarto da pessoa que está morrendo. Ele fica ali, sem emitir qualquer ruído, até que ela pereça. Logo após, levanta-se, dá uma olhada em torno e parte em silêncio. Mas, se a pedido dos parentes, Oscar é colocado para fora do quarto, o felino fica andando de um lado para outro, miando, em frente à porta.

Muitas indagações têm sido levantadas no intuito de compreender os poderes de Oscar. Será que os gatos:

  • reconhecem pelo faro as substâncias químicas eliminadas pelas pessoas, momentos antes de morrer?
  • são excelentes observadores?
  • possuem algum algo especial que a ciência ainda não conseguiu explicar?
  • possuem algum poder paranormal?

Nenhuma resposta conclusiva foi dada até agora, enquanto Oscar continua seu trabalho de bom samaritano na clínica Steere House, em Rhode Island (EUA).

 Fonte de pesquisa:
Brasil 247

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NIGÉRIA – DEVOLVAM NOSSAS GAROTAS!

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Ter o mundo olhando para nós pressionou as autoridades. (Aisha Ouebode, uma das líderes da Coalizão Mulheres pela Paz e pela Justiça)

Além de conviver com o terror da experiência por que passaram, essas adolescentes tornam-se “incasáveis” porque não são mais virgens. Também não há apoio médico, psicológico ou social para elas. (Rona Peligal, vice diretora da divisão de África da Human Rigthts Watch, em Nova York)

Quem poderia imaginar que fanáticos seguidores de Alá pudessem cometer tal atrocidade com um número tão grande de jovens? Certamente essas pessoas não fazem parte dos verdadeiros devotos de Alá, ao contrário, sujam o nome do Islamismo em todo o mundo. Ainda que esses indivíduos, depois de concluídas suas barbaridades, gritem “Allahu akbar!” (Deus é grande!), transformam o nome de Alá em blasfêmia.

Um grupo de muçulmanos extremistas, sediado na Nigéria, país africano, nutre um ódio violento pelas mulheres, principalmente, e faz tudo aquilo que Maomé condenaria, se vivesse nos dias de hoje com a sua amada Khadijah. Seus participantes não apenas vendem mulheres, como as escravizam, estupram e matam, além de praticarem todo tipo de chacinas. Sob o pretexto de obter reféns, esse grupo sequestrou mais de 200 garotas de uma escola (com idade entre 16 e 19 anos), transformando tal ação no maior sequestro de adolescentes até então conhecido, o que revoltou as pessoas em todo o mundo. As alunas estavam concluindo o ensino médio. Algumas delas conseguiram fugir, outras foram soltas, enquanto a maioria tem o paradeiro desconhecido.

A imprensa internacional, grupos de ativistas e celebridades das mais diferentes esferas vêm unindo forças em prol das garotas. Michelle Obama e Angelina Jolie estão entre aqueles que tentam mobilizar os governantes nigerianos e de outros países, para salvarem as meninas. A princípio, o presidente nigeriano Goodluck Johnathan não aceitou ajuda externa, mas com a pressão da ONU acabou cedendo. Na Nigéria encontram-se equipes dos Estados Unidos, Reino Unido e França, tentando salvar as moças raptadas.

O Boko Haram, grupo muçulmano extremista, tem suas raízes na Nigéria, um dos 10 países mais pobres do mundo. E todos nós temos a consciência de que onde habita a miséria transforma-se um terreno propício para todos os tipos de monstruosidades. Os terroristas apresentaram-se como militares e exigiram que as garotas subissem nos caminhões parados à porta da escola. Até então, eles agiam no norte da Nigéria, sequestrando meninas, mas agora estão se estendendo por todo o país. As sequestradas passam pelas seguintes situações:

• são convertidas à força ao islã;
• muitas delas são vendidas a chefes tribais, ou para o Chade e Camarões;
• outras são transformadas em escravas sexuais;
• as “desobedientes” ou “fujonas” têm o pescoço cortado com facão.

Uma das jovens, que conseguiu fugir, relatou que elas chegavam a sofrer até 15 estupros por dia, sendo as virgens oferecidas aos homens mais importantes do grupo.

Mohammed Yusuf, muçulmano radical, foi o fundador do grupo extremista Boko Haram, em 2002, quando contou com a ajuda de universitários sem emprego. Objetivavam criar na Nigéria um Estado muçulmano, pois o país é secular. O grupo passou a exigir que as mesmas regras impostas pelo Talibã ao Afeganistão imperem na Nigéria. Tudo o que diz respeito à cultura ocidental deve ser banido, assim como o acesso de mulheres à educação.

O líder Yusuf foi assassinado em 2009, assumindo o poder o seu vice que, embora muito inteligente e poliglota, é mais sanguinolento do que o presidente anterior, já tendo matado mais de 1.500 pessoas no país. Escolas e igrejas cristãs têm sido os principais alvos. Os cristãos são obrigados a aceitar Alá, e os garotos transformam-se em soldados armados do grupo. Os membros do governo e fazendeiros ricos também não estão a salvo de sequestros. O grupo extremista receba o dinheiro de resgates milionários que patrocinam as selvagerias.

Fonte de pesquisa:
Revista Marie Claire/ nº 279/ 2014

 Nota: imagem copiada de ultimosegundo.ig.com.br

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