Arquivo da categoria: Janelas pro Mundo

Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

ÍNDIA – TAJ MAHAL: UMA HISTÓRIA DE AMOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É uma lágrima no rosto da eternidade!( Rabindranath Tagore)

O Taj Mahal é considerado por muitos arquitetos, no mundo inteiro, como uma das mais belas construções de todos os tempos. Situa-se na cidade indiana de Agra, sendo o mais conhecido dos monumentos do país. Foi classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade e anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno, em 2007.

Três grandes mestres trabalharam em seus desenhos: Ustad Isa (persa), Gieronimo Veroneo (italiano) e Austin de Bordeaux (francês). Não há registro de que algum mestre indiano tenha feito parte de sua construção.

Esse monumento nada tem a ver com o hinduísmo. Sua arquitetura é totalmente maometana. De modo que seus funcionários mais especializados (escultores, pedreiros, artesãos, calígrafos) foram trazidos de Bagdá, Constantinopla e outros centros da fé islâmica. Sua construção durou 22 anos, com cerca de 22.000 operários.

O Taj Mahal contém inscrições do Corão e incrustações com pedras semi-preciosas. A sua cúpula é costurada com fios de ouro. O edifício é ladeado por duas mesquitas e cercado por quatro minaretes.

O imperador mongol, Shah Jehan, filho de Jehangir, possuía grande paixão pela arte, a ponto de gastar prodigamente com artistas, importando-os de vários lugares, fora da Índia.  Também foi responsável por derrubar os palácios cor-de-rosa de Akbar, substituindo-os por uma arquitetura da mais pura sensibilidade e beleza. Shah Jehan foi o responsável pela construção do Taj Mahal.

Embora na Índia, a fronteira entre a realidade e o mito seja, muitas vezes, imperceptível, de modo que nunca se sabe onde começa a realidade e termina o mito, esse mausoléu simboliza uma comovente história de amor. Diz a história indiana que o Taj Mahal foi construído em memória da mulher pela qual, um dia, Shah Jehan apaixonara-se: Mumtaz Mahal, “A escolhida do Palácio”.

Ela era apenas uma garota, quando ele caiu de amores por sua beleza, ao vê-la num mercado. Diz a lenda, que ela era tão linda que parecia uma imagem saída de uma miniatura persa. Depois de cortejá-la por algum tempo, casou-se com ela e a transformou em imperatriz e em sua conselheira. Mumtaz Mahal era venerada pelo povo, pois tinha especial carinho pelos pobres. Também era muito amada pelos poetas e artistas, em geral.

Depois de 19 anos de casados, ao dar à luz a seu décimo quarto filho, Mumtaz Mahal morreu de parto, deixando o esposo, inconsolável. Ela estava, na época, com 38 anos, idade em que as mulheres já não eram tidas como desejáveis sexualmente, o que não aconteceu com ela. Segundo contam, ela fazia uso de certas técnicas, como a contração da vagina para estimular o ato sexual. Também aplicava uma mistura de gengibre em pó, pimenta-do-reino e mel dentro da vagina para tornar o sexo mais prazeroso.

Embora Shah Jahan tenha tido outras esposas, a sua predileta sempre foi Mumtaz Mahal, sua única e mais preciosa Joia. Durante dois anos, o imperador foi tomado pela mais forte tristeza, guardando um luto severo. Não usava joias nem trajes suntuosos, recusava-se a ouvir música ou a participar de festas. A vida havia perdido o sentido para ele. Shah Jehan entregou o comando das campanhas militares a seus filhos, dedicando-se inteiramente à construção do Taj Mahal, mausoléu dedicado à esposa morta e construído sobre seu túmulo. O nome é, na verdade, uma abreviação do nome da sua amada: Mumtaz Mahal.

Diz a lenda que, já pressentindo a chegada da morte, ela teria pedido ao imperador que construísse um monumento “à felicidade compartilhada”. Passado o período crítico de luto, pela morte da esposa, o imperador Shah Jehan tornou-se obcecado pela arquitetura. Compreendeu que os monumentos poderiam sobreviver à fugacidade do tempo, à fragilidade da vida humana. A parte mais famosa do mausoléu é a tumba de Mumtaz Mahal (Joia do Palácio) com sua cúpula de mármore branco, mas também inclui mesquitas, torres e outros edifícios.

O imperador mongol deixou em Delhi obras fabulosas como a luxuosa sala das Audiências Públicas, com painéis de mosaico florentino em mármore negro e tetos de ouro e prata; a sala das Audiências Privadas, com tetos de ouro e prata e colunas filigranadas, onde se encontrava o famoso Trono do Pavão, comentado em todo o mundo. Ele também foi responsável pela construção de palácios, mesquitas, jardins e mausoléus.

Quando Shah Jahan ficou doente, seu filho Aurangzeb aproveitou de sua fragilidade para encarcerá-lo e ocupar o trono. Deixando-o em cativeiro até sua morte. Conta a lenda que ele passou os últimos dias de sua vida, olhando fixamente em um pequeno espelho o reflexo do Taj Mahal, e morreu com o espelho agarrado em sua mão. Hoje, os restos dos corpos de Shah Jehan e Mumtaz Mahal estão juntos, dentro de uma cripta, debaixo de uma cúpula branca, dentro do Taj Mahal.

Segundo pesquisas não foi bem assim todo a história, pois o imperador Shah Jehan passou a sentir uma obsessão pela filha mais velha, de 17 anos, que tinha os mesmos traços da mãe. Acabou se tornando amante dela, além de possuir inúmeras outras concubinas. Ou seja, o amor não foi tão forte assim, para coibir os desejos da carne.

Esse mausoléu ao mesmo tempo em que mostra a suntuosidade do amor, também deixa claro a insignificância e a brevidade da vida humana, diante de tudo que a rodeia.

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ÍNDIA – RIO GANGES, ONDE TODOS SE IGUALAM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O Rio Ganges (ou Benares) é um dos sete rios sagrados da Índia, cujas águas são formadas pelo degelo das enormes montanhas do Himalaia. Nasce no Tibet, atravessa o norte indiano, desaguando no Oceano Índico. Possui uma ligação muito forte com a cultura e a religião indiana.

É muito importante para a população que vive em suas margens, pois é dele que ela retira a água e os alimentos que consome. Nos períodos das chuvas, as enchentes do rio atingem uma área de mais de 150 quilômetros e com isso proporciona uma ótima fertilização de sua margem, ideal para o plantio de alguns produtos como trigo, arroz, algodão, açucares e vários outros gêneros agrícolas.

O Ganges possui um grande valor espiritual para os adeptos do hinduísmo, que tomam banho nas suas águas, crendo que o rio possui a capacidade de purificá-los de todos os pecados. Pessoas idosas vão ali para morrer, pois se falecem nesse local sagrado, o ciclo de reencarnações termina, ficando livres da Roda de Samsara, conforme prega o hinduísmo.

Nas águas do Ganges, milhões de pessoas fazem o ritual de purificação. Sendo, sem dúvida, um dos maiores centros de peregrinação do mundo, principalmente durante o festival religioso Ardh Kumbh Mela, quando as estradas ficam apinhadas de peregrinos.

Nas margens do Ganges há vários postos de cremação onde os mortos são queimados, ininterruptamente, e as cinzas encontram o destino final em suas águas. As famílias que trazem seus mortos para serem cremados, acreditam que eles serão purificados e se libertarão da servidão material.

Na Índia, a tradição de se banhar no rio Ganges não foi interrompida, apesar de sua crescente poluição.  Milhões de hindus banham-se ali para se purificarem dos pecados, e ascenderem a uma nova reencarnação, numa casta superior à que estava. Milhares de devotos banham-se, oram, oferecem velas acesas, bebem sua água e lançam-lhe as cinzas e os ossos de seus entes queridos, cremados nas escadarias (os “ghats”) desse mesmo “rio santo”. Quem não pode pagar a cremação de seus familiares, joga os corpos no rio ou os deixa apodrecer nas margens. E muitas mães afogam seus filhos recém-nascidos, principalmente meninas, como sacrifício aos deuses (embora alguns julguem que seja, para não terem que pagar dote, quando casarem).

O Rio Ganges é um mundo à parte. Nele, pessoas lavam roupas, tomam banho, escovam os dentes, assim como vacas podem ser vistas, mortas ou vivas, dentro de suas águas. Além disso, águas de enxurradas vindas das ruas cheias de cocô de humanos, de vacas, de porcos, de cachorro e outros animais são despejadas no rio. Somente na cidade de Varanasi existem 32 saídas de esgoto para o Ganges, o que torna as peregrinações muito perigosas.

A Organização Mundial de Saúde vem estudando uma forma de despoluir esse rio, que é a principal causa da mortalidade infantil na região. Mesmo assim, é impossível não notar os rostos felizes, cheios de paz e espiritualidade que emergem de suas águas. Sendo inútil qualquer tentativa de proibir que bebam dessas mesmas águas e que se evite levar garrafas cheias com a “água sagrada” para casa, para supostos tratamentos.

Os fiéis caminham quilômetros para descer até o Ganges e esperam pacientemente sua vez, para lavar nele seus pecados, nos poucos metros de faixa de água habilitados para esse ritual. Os fiéis são liderados por sadhus, homens considerados sagrados, que cobrem o corpo de cinzas e correm nus para o rio, usando apenas guirlandas de flores.

Curiosidades:

  • A cena de imensas fogueiras para cremar os corpos dos mortos repete-se todos os dias.
  • As mulheres estão proibidas de assistirem às cerimônias de cremação porque, ao chorar, impedem que a alma vá para o Nirvana.
  • Antes de serem cremados, os corpos são lavados nas águas do rio, depois colocados para escorrer o excesso de água.
  • É comum ver famílias tirando fotos ao lado do morto na sua pira crematória.
  • O parente, que acende a fogueira, tem a cabeça toda raspada em sinal de luto. Ao final da cremação todos os familiares presentes deverão tomar um banho no rio.
  • Não são cremados: bebês, crianças de até 5 anos de idade, brâmanes, mulheres grávidas, sadhus, iogues, pessoas que morreram picadas por cobras, vítimas de hanseníase ou varíola e animais. São amarrados a uma pedra e jogados no fundo do rio. Muitas vezes os cadáveres desprendem das pedras e voltam à superfície, sendo muitos corpos devorados por animais.
  • Quando o rio está com baixo volume de água, o “ghat” fica com três níveis: inferior, médio e superior. As cremações, então, ocorrem por castas. A casta inferior é cremada no nível mais baixo do solo e a casta mais alta no nível mais alto.
  • A madeira usada para a cremação nas castas mais altas é o sândalo.
  • Homens são enrolados em tecido branco, mulheres em vermelho, idosos em roxo.
  • A casta mais alta tem um forno especial.
  • Na beirada do rio ficam muitos garimpeiros, peneirando as cinzas na tentativa de achar alguma joia que tenha sido esquecida pela família do morto.
  • O crematório ou “burning ghat” funciona dia e noite e os corpos chegam o tempo todo e de toda maneira.
  • Um pequeno caminhão leva um funcionário com uma vara, que vai cutucando as pessoas deitadas no período de peregrinações. Não havendo movimentos por parte dessas, são carregadas como supostamente mortas.
  • Os intocáveis só podem vestir roupas dos mortos.
  • Os ossos da bacia feminina e do peito masculino não queimam completamente, sendo os restos jogados no Ganges.

No Rio Ganges, a vida e a morte andam de mãos dadas, numa permanente festa.

Nota: imagem copiada de http://www1.folha.uol.com.br

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ÍNDIA – PINCELADAS SOBRE O PAÍS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Índia pode ser vista como um continente, levando em conta o tamanho de sua população, a variedade de línguas faladas, a diversidade de clima, literatura, arte, religião e filosofia. Ali temos regiões geladas que sofrem as frias rajadas de vento e o nevoeiro vindos do Himalaia, assim como o calor seco das terras do sul, bem próximos dos 50º. É o país das castas.

Enganam-se, aqueles que pensam que foi a religião que determinou o número de castas, ela apenas a reforçou. Os invasores arianos já chegaram trazendo regras de endogamia (proibição do casamento fora do grupo racial) e de exogamia (proibição do casamento com parentes próximos). Como consideraram o povo invadido inferior, embora fosse em número bem maior do que o dos invasores, os arianos trataram de dar garantias à própria raça.

A primeira divisão de castas deu-se em função da cor. Os arianos eram separados dos nagas e dravidianos (primeiros povos da Índia). O que foi perpetuando cada vez mais e aumentando o sistema de castas. Enquanto os párias, dalits ou intocáveis inicialmente vinham das tribos não convertidas, ou eram prisioneiros de guerra ou homens condenados à escravidão como castigo. Hoje, basta nascer numa família de intocáveis, ou não obedecer ao regime das castas para se transformar num deles.

O casamento obedecia a alguns estratagemas: ia do rapto da noiva à compra dessa ou a um acordo entre as famílias. As mulheres preferiam ser raptadas ou compradas e pagas. Achavam deprimente ser casadas através de acordos verbais.

Com o início da prática do “suttee”, a vida da mulher tornou-se um inferno. Ela tinha que obedecer a seu esposo, mostrando humildade, coragem e fidelidade até morrer. Não podemos nos esquecer de que o contato com o islamismo contribuiu, e muito, com a derrocada da liberdade da mulher.

Todas as castas deveriam seguir o dharma geral (diz respeito à moralidade do hindu. É a regra de vida de cada indivíduo, determinada por sua casta. E a religião hinduísta sedimentou os preconceitos advindos da invasão indiana pelos arianos, ao definir para o homem os seus direitos e limites, dentro da própria casta. A fé fanática levou o hindu a não questionar a sua condição, fosse lá qual fosse):

  1. respeito aos brâmanes;
  2. reverência pelas vacas;
  3. respeito ao dharma da cada casta, sem intromissão;
  4. a obrigação de ter filhos.

Os filhos eram de suma importância. Segundo o Código de Manu um homem só está perfeito, quando é três: ele, mulher e filho (eu disse filho). Levavam em conta que:

  • os filhos traziam vantagens econômicas para os pais, sobretudo na velhice;
  • eram responsáveis por manter a adoração dos ancestrais (oferecendo alimento aos mortos, pois sem esses as almas morreriam de inanição).

Mal nascia o rebento, os pais já começavam os arranjos do casório. Não se podia ficar solteiro, sob o risco de virar um pária, sem consideração social, cuja virgindade prolongada era uma desgraça para a família e o cidadão.

Vejamos as vantagens que atribuíam ao casamento:

1-  era de mais interesse para a casta e a sociedade do que para o casal;
2-  a paixão só trazia cegueira e maus resultados;
3-  tinha que ser arranjado antes que o sexo metesse a colher de pau (na verdade uma outra casta);
4-  forma de o pai proteger a menina contra as sensibilidades eróticas do macho;
5-  o casamento por escolha mútua era permitido, mas não respeitável e, segundo o Código de Manu era apenas o filho do desejo sexual.

Mahatma Gandhi opunha-se vigorosamente ao casamento infantil, quando dizia:“A mim repugna o casamento infantil. Arrepia-me ver uma criança viúva. Não sei de superstição mais grosseira que a que atribui ao clima da Índia a causa da precocidade sexual. A verdadeira causa está na atmosfera mental e moral da família indiana.”

A prostituição era confinada aos templos. As devadasis eram as “servas de Deus”, as “mulheres sagradas” (prostitutas) cuja função era dançar e cantar diante dos ídolos e depois divertir os brâmanes. Algumas eram reclusas, outras levavam os seus serviços a quem pagasse. E, como não poderia deixar de ser, parte da féria ia para os sacerdotes.

Na Índia, as paixões não influem no casamento. À mulher compete amar o esposo e tratá-lo com paciente devoção. “Ao esposo cabe dar à esposa, não afeição romântica, mas solíticita proteção.”, reza o Código de Manu.

Vejam como o Código de Manu refere-se, tão “cordialmente”, à mulher:

1-  é a fonte de desonra;
2-  é a fonte de discórdia;
3-  é a fonte de mundanidade;
4-  cumpre, portanto, evitar a mulher.

A mulher que desobedecia ao marido tornava-se chacal na próxima encarnação. Ao marido bastava alegar que a esposa não era casta para obter o divórcio. Mas a vítima tinha que aguentar o sujeito até o fim de seus dias. Não podia divorciar. Sendo que, a viúva fiel não deve desejar sobreviver ao marido, e sim queimar orgulhosamente com ele na fogueira (contam alguns, que essa era uma forma, para impedir que as mulheres envenenassem os maridos.).Dizem, ainda, que os brâmanes se opuseram a tal prática no começo, mas depois de “muita iluminação”, aceitaram-na, interpretando-a como a eternidade do casamento: a mulher que se casava, casada ficava pra sempre, nesta e na outra vida.

Nota: Imagem copiada de http://www.chorten.com.br/apresentacoes-da-viagem-a-india

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ÍNDIA – OS CUMPRIMENTOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Na Índia, os parentes em maior grau e os mais velhos da família recebem um tratamento distinto daqueles que ficam abaixo no parentesco. Os filhos devotam aos pais uma cordialidade especial, assim como aos avós e aos mais idosos. A esposa, por sua vez, não pode falar o nome do marido e deve tratá-lo como se fosse um rei, fazendo jus a sua função de mulher cuidadosa e devotada.  Esse tipo de cumprimento, todo formal, recebe o nome de Pronam Mudrá. Uma mulher não deve jamais tocar no homem ao lhe dirigir o cumprimento

Na Índia, o Pronam Mudrá é um gesto de saudação em que a pessoa curva o corpo em direção àquele que é reverenciado, tocando-lhe os pés, com a mão direita. Depois de cumprido tal ritual, a mão responsável pelo toque nos pés, é passada na cabeça, como se aquele que fez o cumprimento estivesse absorvendo a sabedoria do outro.

Outro tipo de cumprimento formal e respeitoso, usado para cumprimentar pessoas e imagens de divindades, é unir as palmas das mãos e dedos apontados para cima, na altura do peito, mantendo os antebraços em uma linha paralela ao solo, com uma ligeira vênia, dizendo: Namastê! ou Nâmaskar! Estas duas palavras são derivadas do sânscrito. Ambas possuem o mesmo significado, embora alguns digam que a segunda seja um pouquinho mais formal.

Significam quando dirigidas:

  • a uma pessoa: “O Deus que há em mim reverencia o Deus que há em você!”
  • a uma divindade: “Curvo-me perante ti!”.

 Como podemos observar, o cumprimento não é feito à pessoa, mas ao Deus que habita no seu interior. O Deus que há em um, reverencia o Deus que há no outro.

 Muitas vezes, tais palavras não são ditas, pois já estão implícitas no gesto, assim como, quando sacudimos a mão para cumprimentar ou nos despedir de alguém distante.
Elas são usadas tanto na chegada quanto na despedida. Mas, na despedida não se usa pronunciar a palavra. Faz-se apenas o gestual. Esse gesto também é chamado de añjali mudrá.  Equivale, portanto, ao nosso aperto de mãos e não há nada de religiosidade nele. Tanto é que, indianos, muçulmanos ou cristãos, também o fazem. É comum em todo o país.

Existe uma interessante simbologia nesse ritual, em que a mão direita representa a espiritualidade e a esquerda a materialidade. Quando juntas, dá-se o equilíbrio entre o espírito e a matéria.

Dizem alguns que os dez dedos unidos durante o Namastê (ou Nâmaskar) trazem grandes auspícios, pois o número dez simboliza a perfeição, a unidade e o equilíbrio perfeito. Como exemplo citam:

        Os dez mandamentos
As dez emanações da Árvore da Vida
Os dez vértices da estrela de Pitágoras
A Parábola dos Dez Talentos, etc.

 Toda a criatura é um reflexo dos Dez Atributos Divinos: Apego, Bondade, Conhecimento, Entendimento, Esplendor, Harmonia,  Perseverança, Realeza, Sabedoria, Severidade.

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ÍNDIA – ORIGEM DAS CASTAS E DALITS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Na Índia, trabalho e riqueza não são parâmetros suficientes para que o indivíduo melhore de vida. Nesse país, o chamado regime de castas usa critérios de natureza religiosa e hereditária para formar seus grupos sociais. Estudos comprovam que tal separação se deveu, por volta de 600 a.C., à cor da pele (escura) da população invadida, transformada em escravos pelos invasores de pele branca. Recebendo, a seguir, o apoio oficial da religião hinduísta.

As quatro castas mais importantes originaram-se da estrutura do corpo de Brahma (deus supremo da religião hindu), segundo a visão hinduísta. Hoje, existem mais de 3.000 sub-castas não oficiais, e que não param de multiplicar. As principais castas são assim representadas:

  • A boca – Brahmin (brâmanes) – compreende os sacerdotes, filósofos e professores;
  • Os braços – Kshatriya (xatrias) – formada pelos militares e governantes;
  • O estômago – Vaishya (vaixias) – composta pelos comerciantes, pastores e agricultores;
  • Os pés – Shudra (sudras) – formada pelos artesãos, operários e camponeses (trabalhadores braçais). Até há pouco tempo, nenhum membro desta casta tinha permissão para conhecer os ensinamentos hindus.

E onde ficam os dalits (ou párias ou intocáveis)? À margem dessa estrutura social ficam os dalits (párias, sem casta, também conhecidos como “intocáveis”). Isto porque, para a cultura hinduísta (constituída por mais de 80% dos indianos), os dalits não pertencem a nenhuma das castas. São apenas a poeira que jaz abaixo dos pés da suprema divindade (Brahma). A eles são entregues os trabalhos mais degradantes e mal pagos. Representam o que há de mais imundo sobre a Terra. E todo aquele que, também, viola as regras de sua casta é expulso do sistema e transformado em dalit, pois a pessoa deve fidelidade absoluta à casta a que pertence. E, uma vez rebaixada, coloca todos os seus descendentes na mesma posição. Trocando em miúdos, toda a família, gerada por ela, é castigada.

Qualquer membro, pertencente a uma das castas, que vier a tocar ou receber um pária, ou mesmo ser coberto por sua sombra, pode não apenas poluir a sua casa e família, assim como toda a casta a que pertence. E, para ser purificado, demanda uma série de ritos, incluindo o jejum e o incenso.

Apesar de a Índia ser um país em franco desenvolvimento, o sistema de castas ainda é muito forte, embora banido da Constituição indiana. É um claro exemplo de como, nos países atrasados, as leis são atropeladas pelos costumes vigentes.

Muitos dalits estão acordando para a realidade cruel que os detém. E, para conseguirem romper, de certa forma, com o passado opressor, convertem-se ao Budismo (mais liberal e igualitário), ao Islamismo ou Cristianismo. Apesar da discriminação sofrida, por parte dos colegas e professores, muitos dalits convertidos a uma nova religião, estão conseguindo um diploma de curso superior. O que tem contribuindo para o nascimento de grandes líderes dalits.

Se na Índia moderna, os párias estão sujeitos a tamanha humilhação, é possível imaginar como é a vida dessa gente nos vilarejos, onde as injustiças são muito mais graves e onde, a maioria dos casos de abusos fica sem apuração, não chegando ao conhecimento público. Os membros das castas mais baixas também têm se rebelado contra a situação em que vivem, ocorrendo várias revoltas pelo país.

As tradições culturais e a forte religiosidade existentes na Índia ainda resistem bravamente às ações governamentais e transformações econômicas, que atingem a realidade presente dos indianos. Enquanto isso, o regime tradicional já contabiliza mais de três mil classes e subclasses, que originam esse complicado sistema de quebra-cabeça da sociedade indiana.

Nota: Imagem copiada de http://www.vancouverdesi.com/news/india/dalits-social-justice-activists-

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ÍNDIA – O PAÍS DE GITA MEHTA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Nascida na Índia em 1943, Gita Mehta é hoje uma escritora de renome mundial. Também é conhecida por seu trabalho como roteirista, produtora e diretora de documentários.  CARMA-COLA: O MARKETING DO ORIENTE MISTICO é um dos seus livros mais famosos, onde ela conta histórias hilariantes e patéticas. Mostra a globalização do mercado místico e revela a incompreensão do Oriente pelos ocidentais que buscam ali a salvação da alma.

Os trechos abaixo foram retirados de seu livro ESCADAS E SERPENTES: UM OLHAR SOBRE A ÍNDA MODERNA, com o intuito de enriquecer o nosso conhecimento sobre o país da autora:

  • Nova Delhi foi projetada para servir a um Império Britânico que pensava durar eternamente. É uma das cidades que mais crescem no mundo.
  • O domínio britânico era uma espécie de prisão. Não havia liberdade de imprensa, nem de palavra, nem de reunião.
  • A maioria dos indianos considera estrangeira a maioria dos outros indianos, e isso com amplas justificativas.
  • O governo da Índia reconhece oficialmente dezessete línguas indianas principais, nas quais os assuntos políticos podem ser tratados. Cada uma delas possui sua literatura antiga e contemporânea, seus jornais e programas de televisão e rádio, seus próprios filmes, assim como uma grafia específica.
  • O sânscrito é a língua clássica. Existem mais de quatrocentas outras línguas, algumas escritas outras orais.
  • O inglês é a língua unitária da administração, idioma que os indianos se apropriaram de maneira original ao longo de mais de dois séculos de utilização.
  • Na Índia, não há como escapar da religião, elemento que mais enriqueceu a diversidade do país. Ali convivem hinduístas, cristãos, muçulmanos, jainistas, parses, budistas, judeus, sikhs, zoroastristas, etc.
  • O hinduísmo é a religião praticada pela grande maioria dos indianos (mais de 80% da população).
  • A Índia é um continente que, apesar da inércia, da rigidez da burocracia maciça, da venalidade de seus líderes, das injustiças secularmente institucionalizadas de seus sistemas sociais, demonstrou que os profetas da catástrofe estavam mais errados do que certos.
  • Na Índia antiga, as castas haviam sido um pouco como as corporações medievais, servindo simplesmente para descrever a ocupação das pessoas. Mas ao longo dos milênios, o sistema de castas foi degenerando, até que a ocupação das pessoas se transformou num fato imutável de nascença. Os intocáveis (antigamente castas dos lixeiros e catadores de lixo) passaram a ser tratados como um anátema, poluindo as demais castas com sua mera sombra.
  • Os intocáveis (dalits) trabalham em condições subumanas, são semiescravos. A morte era o castigo para um intocável que pretendesse instruir-se.
  • As Leis de Manu, seguidas pelos hinduístas ortodoxos, determinavam a forma de execução. Se um intocável chegasse a ouvir palavras em sânscrito, a linguagem dos livros sagrados, era executado mediante o derramamento de chumbo derretido nos ouvidos.
  • Em 1890, quando a terrível crueldade do sistema de castas ainda negava educação a milhões de indianos, o soberano de Baroda, um dos maiores reinos da Índia, franqueou a educação para todas as castas.
  • Em Baroda, um jovem intocável estudou com tal afinco, que conseguiu obter o grau de bacharel na Universidade de Bombaim, ganhando a seguir uma bolsa de estudos para a Universidade de Columbia, em Nova York. Deixando os Estados Unidos já como PhD, foi para a Universidade de Londres, onde obteve o grau de doutor em Ciências. Duas vezes o menino intocável realizara o impossível. Viria a ser o dr. Ambedkar.
  • Mahatma Gandhi insistia para que os intocáveis fossem chamados de harijans (filhos de Deus). Mas o dr. Ambedkar sabia que mesmo com outro nome, os intocáveis continuariam sendo o detrito de uma religião, o inferno em vida do qual os hinduístas buscavam libertar-se mediante boas ações, a serem reconhecidas em futuros renascimentos, ao longo da escalada da reencarnação.
  • Decidido a modificar um vasto continente, no qual quase um terço da população era explorado pela discriminação de casta, o dr. Ambedkar obteve novo grau em Londres, desta vez em Direito. Sendo o presidente da comissão com a finalidade de redigir a Constituição da Índia, em 1947. Nela reza que:

O Estado não negará a nenhuma pessoa a igualdade diante da lei; O Estado não discriminará nenhum cidadão por motivo de religião, raça, casta ou sexo; A “intocabilidade” fica abolida, e sua prática, sob qualquer forma, é proibida.

  • Desencantado com o fluir dos acontecimentos, dr. Ambedkar converteu-se à fé  budista, abandonando o hinduísmo, sendo observado por meio milhão de intocáveis, quando fez para eles o discurso:

“Se quiserem respeitar a si mesmos, mudem de religião.
Se quiserem igualdade, mudem de religião.
Se quiserem poder, mudem de religião.
A religião que proíbe o comportamento humanitário entre seres humanos não é religião, mas uma penalidade.
A religião que considera pecado o reconhecimento da dignidade humana não é religião, mas uma doença.
A religião que permite tocar um animal e não um homem, não é religião, mas loucura.”.

  • Em Bombaim esse poderoso discurso foi adotado pelos intocáveis instruídos, que se haviam congregado num movimento militante, depois de converter-se ao budismo. Eles se autodenominavam Panteras Dalit.
  • A roca, que aparece no centro da bandeira indiana, é o reconhecimento de que os tecidos são uma forma de arte viva do país, que ainda produz obras primas comparadas às do passado. Mas também acentua o debate sobre a função tradicional do trabalhador têxtil no futuro.
  • As monções são a vida (quando vêm) e a morte (quando não chegam) da Índia rural. A escassez dessas causa o maior êxodo rural do país.
  • Mais de 100 mil sadhus (homens santos), completamente despidos, de cabelos emaranhados, interromperam suas meditações, desceram de suas cavernas nas montanhas para escalar os altos portões do Parlamento indiano, brandindo tridentes de ferro, exigindo a proibição do abate de vacas.
  • O branco, que na verdade é a ausência de cor, é a cor do luto na Índia.
  • Mahatma Gandhi foi alvejado por um fanático hinduísta, no momento em que se preparava para partir numa marcha pela paz nos campos de batalha de partição, onde milhões de pessoas, deslocadas pelo traçado dos mapas do Império Britânico, que originara as nações da Índia e do Paquistão seis meses antes, ainda fugiam da orgia de terror e selvageria que já deixara em sua esteira um milhão de hinduístas, muçulmanos e sikhs massacrados.
  • Com a morte de Gandhi, a Índia independente, com apenas seis meses de idade, já perdera a inocência.
  • O filme Gandhi, de Richard Attenborough mostra que o cortejo funerário era uma enorme parada militar com canhões de rodas e fileiras de soldados perfilados, ainda que Gandhi jamais tivesse desejado pompa em sua morte, pois abominava a ideia de um funeral de Estado, que se assemelhava ao próprio colonialismo.
  • Embora a não violência fosse o credo da Índia, o país passou por três guerras civis em 10 anos.

Nota: Obra de Francesco Clemente

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