Quentin Massys – O BANQUEIRO E SUA MULHER

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                  

O pintor holandês Quentin Massys (c.1465 – 1530) é tido como responsável pela fundação da escola de pintura da Antuérpia. Presume-se que tenha iniciado seus estudos sobre pintura na Bélgica, cidade onde nasceu, indo a seguir para Antuérpia, onde participou da Guilda de São Lucas. O artista ficou famoso por ter sido o primeiro pintor holandês a compor figuras humanas sem levar em conta a iconografia tradicional cristã, mostrando-as operando livremente no seu dia a dia. Ele pertenceu à mesma época de Albrecht Dürer, Hans Holbein, o Velho, entre outros nomes da pintura flamenga.

A composição intitulada O Banqueiro e sua Mulher, também conhecida como O Cambista e sua Mulher, é uma obra do artista, sendo um bom exemplo da influência da primitiva pintura flamenga, tão característica do estilo do pintor. É vista como uma das primeiras cenas de cotidiano da história da arte. É interessante saber que esta pintura, após mais de um século de sua existência, apareceu pintada, como um quadro dentro de outro, conforme mostra a gravura menor, denominada “A Oficina de Apolo”, obra do pintor Willem van Haecht. E você, como bom observador que é, deverá encontrá-la ali (amplie a foto menor clicando nela).

O artista, em relação à sua pintura acima, deixou aos críticos a difícil missão de nomeá-la. Seria um retrato duplo, uma cena de gênero ou uma alegoria religiosa? Para alguns se trata de uma obra alegórica e moral, que despreza a avareza e louva a honestidade e a oração. Naquela época, os artistas usavam a pintura como ensinamento, condenando os vícios e mostrando às pessoas que a vida humana é frágil e passageira. Esta pintura de Massys lembra-nos “Santo Eloi” (presente aqui no site), obra de Petrus Christus, tanto no seu detalhamento quanto nas figuras enormes. Ao longo dos anos, esta composição tem sido copiada e replicada. O espelho presente na obra também nos lembra “O Casal Arnolfini” (também presente aqui), obra de Jan van Eyck. As roupas arcaicas, anterior à época da criação da obra, jogam por terra a teoria de que se trata de um retrato duplo.

A cena mostra um casal rico, sentado diante de uma mesa forrada com um pano verde. As duas figuras monumentais, simétricas e enquadradas, ocupando a maior parte do painel, são o foco de atenção da obra. O marido veste um casaco azul-cinzento e uma espécie de chapéu verde, enquanto a esposa usa um vestido vermelho e uma coifa branca, adornada com um alfinete de ouro, na testa. Acima da touca ela usa certo tipo de chapéu. As mangas e gola das vestimentas de ambos são de pele. A mulher usa anéis de ouro no dedo mindinho da mão direita e o homem no dedo indicador do mesmo lado.  A mão esquerda de ambos realiza o mesmo gesto pendente no ar: ela segurando a página do livro e ele a balança.

O marido mostra-se extremamente concentrado em seu trabalho. Traz uma balança na mão esquerda e uma moeda na direita. À sua frente estão quatro anéis de ouro com pedras preciosas, enfiados num canudo de papel, uma taça de cristal e ouro, um monte de pérolas sobre uma bolsa de pano preto, tidas como símbolo da luxúria, moedas de ouro de diferentes países e épocas e objetos usados para pesar. A esposa tira sua atenção do livro que lê, ou seja, de sua obrigação espiritual, para centrá-la no serviço do marido. O grosso “Livro de Horas”, ricamente adornado, é uma obra de devoção, conforme mostra a figura da Virgem Maria com seu Menino Jesus. A página, onde a mulher descansa a mão, tem como imagem um cordeiro, símbolo relativo ao Apocalipse. O livro de orações representa o mundo espiritual e a balança o material.

Um espelho convexo e redondo está colocado em primeiro plano, próximo ao encontro dos braços dos dois personagens. Trata-se de um objeto muito usado na pintura flamenga, com dois objetivos: criar um elo com o espaço e emoldurar a cena refletida. O espelho em questão reproduz a imagem de um homem de pé, aparentemente lendo um livro, em frente a uma janela dividida em cruz, que se abre para fora, onde se vê a torre gótica de uma igreja e outra edificação. Este homem estaria de frente à mesa. Seria ele um cliente? Na lateral direita da composição, através de uma porta entreaberta, vê-se um velho e um jovem conversando na rua. O homem idoso parece admoestar o jovem sobre os perigos de entrar naquele lugar.

Ao fundo, atrás do casal, encontra-se uma estante de madeira com duas prateleiras à vista. Os objetos ali dispostos têm por objetivo reforçar a mensagem moral do painel. No canto direito da prateleira mais baixa, atrás do chapéu da mulher, vê-se uma vela apagada, enquanto na prateleira mais alta encontra-se uma maçã. Os dois objetos, símbolos da morte, aludem ao pecado original e à fugacidade da vida. A garrafa com água, situada à esquerda da primeira prateleira, e o rosário dependurado logo abaixo, simbolizam a inocência e pureza da Virgem Maria, e a diminuta caixa de madeira, logo abaixo do rosário, simboliza a ausência de fé.

Ficha técnica
Ano: 1514
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 71 x 68 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/moneylender-and-his-wife
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_cambista_e_a_sua_mulher_(Matsys)

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