Dalí – A METAMORFOSE DE NARCISO

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho Dali5

A única diferença entre mim e um louco é que eu não sou louco. (Dalí)

“Meus quadros são fotografias de sonho pintadas à mão.” (Dalí)

Não resta dúvida de que nos encontramos diante de um quadro perturbativo, mas em se tratando do pintor surrealista Salvador Dalí, tudo é normal, pois ele conseguiu impressionar os próprios surrealistas. Chegou a considerar A Metamorfose de Narciso  como a melhor obra de seu método “paranóico-crítico”, em que usava uma imagem duplicada, como se se tratasse de ilusão x realidade.

Mais uma vez, Dalí inspirou-se na mitologia clássica para compor uma obra. Foi no livro Metamorfose, de Ovídio, que ele foi buscar inspiração para esta tela. Como conta o poeta romano, Narciso era tão belo que chegou a se apaixonar por seu próprio reflexo na água. Melhor seria se tivesse ficado apenas nisso. Mas o jovem ficou ali paralisado, consumindo-se até morrer. Foi então transformado numa flor: narciso. Outra fonte de inspiração para completar a tela foi a conversa de dois pescadores que alegaram que um tal sujeito tinha “um bulbo na cabeça”, expressão usada em catalão para nominar doença mental.

Como vimos anteriormente, Dalí tinha grande apreço pelo trabalho de Freud. Inclusive, ao conhecê-lo, mostrou-lhe esta pintura. Na ocasião, o psicanalista disse-lhe que o “narcisismo” estava ligado à sexualidade reprimida. E Dalí sabia que estava inserido nesse contexto até conhecer Gala.

Narciso, o jovem dourado, encontra-se debruçado sobre a água, hipnotizado pelo próprio reflexo. Ali, com a cabeça para baixo, sem conseguir soerguê-la, já começa o seu processo de destruição. Sua cabeça tem a forma de um ovo rachado, e o seu corpo já se assemelha às formações rochosas. Também tem o formato de uma mão segurando um ovo. Na parte superior direita da tela, em meio às rochas cobertas pela neve, o “deus da neve” começa a se derreter, numa alusão à destruição de Narciso, que principia a ser destruído junto com sua beleza.

A segunda grande figura, bem similar à de Narciso mirando-se nas águas, mostra o belo jovem morto, transformando-se numa flor: narciso. O corpo destruído, já com sua ossatura à mostra, corroída pelas formigas, símbolo da morte na obra do pintor, também traz o ovo, de onde brota a flor, simbolizando uma nova vida. Um cão esquelético e faminto, à esquerda da ossatura de Narciso, traz na boca um pedaço de carne vermelha, saciando a fome, indiferente ao drama que ocorre ao lado. Ele também traz consigo uma associação com o declínio e a destruição.

A parte principal da composição é o rompimento do ovo, que antes era a cabeça de Narciso, dando origem à flor, ou seja, a uma nova vida. Simboliza a cura para os problemas sexuais do narcisismo, aquilo que Gala representou para Dalí. À direita da tela, um jovem nu e esguio encontra-se num pódio vermelho, de costas para o observador, admirando suas belas formas, totalmente alheio aos acontecimentos. Simboliza a vaidade. Um “grupo heterossexual” (segundo o pintor) de devotos do narcisismo, postado no meio da composição, encontra-se à espera do gozo. Os narcisistas presentes possuem as mais diferentes origens.

Para alguns, as duas representações de Narciso referem-se ao pintor e seu irmão morto. Dali também compôs um poema sobre este quadro.

Ficha técnica
Ano: 1937
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 51,1 x 78,1 cm
Localização: Tate, Londres, Reino Unido

Fontes de pequisa
Grandes pinturas/ Publifolha
Dalí/ Abril Coleções

Views: 258

6 comentaram em “Dalí – A METAMORFOSE DE NARCISO

  1. Branca

    Amo surrealismo e meu pintor favorito é sem dúvida Salvador Dali. Gostei do que li. Gostaria de acrescentar que, a meu ver toda a arte é subjetiva.

    Abraço

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Branca

      Muitíssima obrigada pela sua visita e comentário ao “nosso” site. Será sempre um prazer contar com a sua presença e explanação. Também gosto muito do Salvador Dalí. Penso que a arte seja subjetiva em parte, pois ao agregar informações sobre qualquer obra de arte, nossa capacidade de compreensão e observação fica ainda mais aguçada, principalmente quando se trata de um período, cuja simbologia é desconhecida para nós, o que não nos impede de também olhá-la com um olhar próprio. Veja o quadro que postei hoje de um pintor holandês:

      https://virusdaarte.net/heemskerck-retrato-de-familia/

      Nota: seu e-mail está incorreto.

      Beijos,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Fico feliz, pois quem me diz isso é um grande admirador de Dalí.
      Obrigada pelo incentivo.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Mário Mendonça

    Lu Dias
    A análise de uma obra surrealista não é objetiva, e essa subjetividade nos faz senti-la por diversos ângulos.
    Não creio que as obras sejam resultados de sonhos, mas da realidade que o artista enxerga.
    Tu podes não gostar do Mestre Dali, mas percebo um prazer em ver-te escrever sobre ele.
    Tenho a impressão que mergulhaste profundamente num lago, onde a escuridão faz arrancar com brilhantismo tua narrativa.
    Contigo passo a gostar mais ainda desse gênio maluco.
    Parabéns!

    Abração

    Mário Mendonça

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Eu gosto muito de pesquisar sobre a vida dos grandes mestres da pintura.
      E não posso negar que Dalí é um deles, quer eu goste ou não de sua personalidade.
      Sempre senti muita curiosidade por suas pinturas.
      Somente agora, ao estudá-las, é que pude compreendê-las um pouquinho.
      Para compreender Dalí é preciso estudá-lo.
      Ele mesmo dizia que nem ele compreendia a própria arte.
      Então estou tentando… risos.

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *