Autoria de Lu Dias Carvalho
A Índia pode ser vista como um continente, levando em conta o tamanho de sua população, a variedade de línguas faladas, a diversidade de clima, literatura, arte, religião e filosofia. Ali temos regiões geladas que sofrem as frias rajadas de vento e o nevoeiro vindos do Himalaia, assim como o calor seco das terras do sul, bem próximos dos 50º. É o país das castas.
Enganam-se, aqueles que pensam que foi a religião que determinou o número de castas, ela apenas a reforçou. Os invasores arianos já chegaram trazendo regras de endogamia (proibição do casamento fora do grupo racial) e de exogamia (proibição do casamento com parentes próximos). Como consideraram o povo invadido inferior, embora fosse em número bem maior do que o dos invasores, os arianos trataram de dar garantias à própria raça.
A primeira divisão de castas deu-se em função da cor. Os arianos eram separados dos nagas e dravidianos (primeiros povos da Índia). O que foi perpetuando cada vez mais e aumentando o sistema de castas. Enquanto os párias, dalits ou intocáveis inicialmente vinham das tribos não convertidas, ou eram prisioneiros de guerra ou homens condenados à escravidão como castigo. Hoje, basta nascer numa família de intocáveis, ou não obedecer ao regime das castas para se transformar num deles.
O casamento obedecia a alguns estratagemas: ia do rapto da noiva à compra dessa ou a um acordo entre as famílias. As mulheres preferiam ser raptadas ou compradas e pagas. Achavam deprimente ser casadas através de acordos verbais.
Com o início da prática do “suttee”, a vida da mulher tornou-se um inferno. Ela tinha que obedecer a seu esposo, mostrando humildade, coragem e fidelidade até morrer. Não podemos nos esquecer de que o contato com o islamismo contribuiu, e muito, com a derrocada da liberdade da mulher.
Todas as castas deveriam seguir o dharma geral (diz respeito à moralidade do hindu. É a regra de vida de cada indivíduo, determinada por sua casta. E a religião hinduísta sedimentou os preconceitos advindos da invasão indiana pelos arianos, ao definir para o homem os seus direitos e limites, dentro da própria casta. A fé fanática levou o hindu a não questionar a sua condição, fosse lá qual fosse):
- respeito aos brâmanes;
- reverência pelas vacas;
- respeito ao dharma da cada casta, sem intromissão;
- a obrigação de ter filhos.
Os filhos eram de suma importância. Segundo o Código de Manu um homem só está perfeito, quando é três: ele, mulher e filho (eu disse filho). Levavam em conta que:
- os filhos traziam vantagens econômicas para os pais, sobretudo na velhice;
- eram responsáveis por manter a adoração dos ancestrais (oferecendo alimento aos mortos, pois sem esses as almas morreriam de inanição).
Mal nascia o rebento, os pais já começavam os arranjos do casório. Não se podia ficar solteiro, sob o risco de virar um pária, sem consideração social, cuja virgindade prolongada era uma desgraça para a família e o cidadão.
Vejamos as vantagens que atribuíam ao casamento:
1- era de mais interesse para a casta e a sociedade do que para o casal;
2- a paixão só trazia cegueira e maus resultados;
3- tinha que ser arranjado antes que o sexo metesse a colher de pau (na verdade uma outra casta);
4- forma de o pai proteger a menina contra as sensibilidades eróticas do macho;
5- o casamento por escolha mútua era permitido, mas não respeitável e, segundo o Código de Manu era apenas o filho do desejo sexual.
Mahatma Gandhi opunha-se vigorosamente ao casamento infantil, quando dizia:“A mim repugna o casamento infantil. Arrepia-me ver uma criança viúva. Não sei de superstição mais grosseira que a que atribui ao clima da Índia a causa da precocidade sexual. A verdadeira causa está na atmosfera mental e moral da família indiana.”
A prostituição era confinada aos templos. As devadasis eram as “servas de Deus”, as “mulheres sagradas” (prostitutas) cuja função era dançar e cantar diante dos ídolos e depois divertir os brâmanes. Algumas eram reclusas, outras levavam os seus serviços a quem pagasse. E, como não poderia deixar de ser, parte da féria ia para os sacerdotes.
Na Índia, as paixões não influem no casamento. À mulher compete amar o esposo e tratá-lo com paciente devoção. “Ao esposo cabe dar à esposa, não afeição romântica, mas solíticita proteção.”, reza o Código de Manu.
Vejam como o Código de Manu refere-se, tão “cordialmente”, à mulher:
1- é a fonte de desonra;
2- é a fonte de discórdia;
3- é a fonte de mundanidade;
4- cumpre, portanto, evitar a mulher.
A mulher que desobedecia ao marido tornava-se chacal na próxima encarnação. Ao marido bastava alegar que a esposa não era casta para obter o divórcio. Mas a vítima tinha que aguentar o sujeito até o fim de seus dias. Não podia divorciar. Sendo que, a viúva fiel não deve desejar sobreviver ao marido, e sim queimar orgulhosamente com ele na fogueira (contam alguns, que essa era uma forma, para impedir que as mulheres envenenassem os maridos.).Dizem, ainda, que os brâmanes se opuseram a tal prática no começo, mas depois de “muita iluminação”, aceitaram-na, interpretando-a como a eternidade do casamento: a mulher que se casava, casada ficava pra sempre, nesta e na outra vida.
Nota: Imagem copiada de http://www.chorten.com.br/apresentacoes-da-viagem-a-india
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