Arquivo da categoria: Crônicas

Abrangem os mais diversos assuntos.

CECIL, JOÃO BATISTA E O VALOR DA VIDA

Autoria de Celina Telma Hohmann

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A morte do leão abre um vasto leque de indagações, indignações e, bom, dá-nos a chance de perceber o quanto o homem inverte a ordem natural de tudo. É o retrocesso humano mais uma vez mostrando os dentes, expondo sua fúria como se num alerta diário de que o homem, dentre todas as criaturas, foi e continua sendo, a mais horrenda, traiçoeira e malfazeja de todas.

Para alguns, nada tão prejudicial, afinal, é um esporte! Para outros – e por sorte, a maioria – um sinal de que a desenfreada necessidade do poder, do mostrar-se, da não valorização da vida, ainda é a tônica num mundo, onde existe a urgência do voltar-se ao bem, buscar soluções, chorar o choro dolorido pela maldade que o mundo nos oferta diariamente. Não sofremos “só” pela morte do Cecil, afinal, era “só” um leão. Sofremos, porque, mais uma vez houve a morte pelo prazer de matar! Isso por si, mata!

Não concebo a ideia de que um homem, tenha ele a condição social, formação intelectual ou estrutura familiar que tiver, estaria numa posição melhor ou pior para justificar um ato cruel. Não, não acredito numa justificativa, seja ela qual for, exceto o distúrbio mental. Aqui, afasto-me da possível vontade divina. Afasto-me da crença crua de que é assim porque é assim! Não, não aceito! E volto, novamente, em minha afirmação de que somente uma mente conturbada terá prazer em matar.

Vem-me à lembrança, a morte de João Batista, se buscar justificativa baseada em crença. João Batista foi morto pela ganância, pelo poder manipulador de uma mulher, mas ele era um dos Profetas de Deus, então, como justificar? E o mataram, porque Herodes, mesmo com pesar – seria isso? – viu-se obrigado a presentear Salomé, para, como homem poderoso, não passar vexame, voltar atrás na promessa tola e fútil que fizera após, embebecido por um rodopiar de quadris, prometer tudo, inclusive o reino – ou metade dele – para a fulaninha E note-se aqui, que a “fulaninha” nem levaria vantagens, pois isso era o que desejava sua mãe. Nessa morte – a de João Batista – o não matar significava passar por não cumpridor das promessas feitas mediante testemunhas, e isso era feio. Matar não, não era feio! Hoje, tal qual à época de Herodes, antes dele ou depois dele, matar é comum, algo sem valor. O que é a vida? Nada, para muitos! Eis o homem!

Mais uma vez, fica o mundo, ou parte dele, entre o aceito e até natural, gestos corriqueiros, e o terrível, apavorante, desolador conhecimento de que estamos num planeta, onde o que impera é a maldade. Não foi esporte! Foi morte! Morte. Fim. Sacrifício de um ser vivo que não fere, se não for ferido. Não mata, se não for provocado, considerando que não tem capacidade mental para discernir o que é correto, ou não! Vítima de mentes doentias. E aqui entendo o que Otto Fenichel tanto tentava fazer aceito, quando citava que a sublimação, uma das características da neurose, justificava-se como “a defesa bem sucedida”.

A mim, o dentista, ou os que ganharam para subjugar o leão (ou poderia ser o lince, o rinoceronte, o elefante, não importa, qualquer animal de grande porte) têm em si, escondido em alguma parte do cérebro, unicamente um emaranhado de “desencapados fios”, uma avassaladora e desenfreada compulsão em satisfazer um desejo, seja financeiro – no caso dos que o ajudaram – ou uma excessiva energia negativa, onde somente o matar consegue trazer tranquilidade, satisfação. E para isso, os que não pensam, ou seja, os animais irracionais viram as vítimas. Poderiam, tranquilamente, ser familiares, pois quem mata um animal indefeso, pode fazê-lo, com o mesmo prazer, ato semelhante com algum dos seus. Aí haveria o susto! De resto, quando é com algo “inútil” – ainda veem a natureza assim – tudo bem!

O homem e suas capacidades! Todas, ou quase todas, voltadas ao mal. Uma pena! Disso não precisamos mais. O que faz falta e faria bem é a convivência pacífica entre todos os seres, respeitados seus limites e condições! Tristeza! Acho que o sentimento mais correto para exprimir o que penso. Tristeza pela impotência de cooperar para que o Espírito da Paz habite em todos os corações! Quantos, tal qual Cecil, precisarão nos mostrar a inutilidade de imaginar a humanidade caminhando para o bem?

Acordemos! Não fomos nós, mas de alguma forma cooperamos! Se não nos dispusermos a valorizar a vida, em todas as suas formas, nós a exterminaremos com a velocidade não programada pelo Ser que tudo criou. Triste pelo Cecil – ou João, Antônio, enfim… Triste por fazer parte de uma civilização que não evoluiu. E assim continuamos… E ainda opinamos! Ao menos, mostramos que nosso lado “pensante”, está funcionando. Ao menos isso!

Notas: Salomé com a Cabeça de São João Batista – Bernardino Luini

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DEUS, DETERMINISMO, CECIL E BONDADE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Recebi um e-mail de um leitor, que me parabeniza pelo trabalho humanitário que faço aqui no blog, mas, que também me diz ser em vão o fato de eu me preocupar com esse tipo de coisa, como a morte do leão Cecil, pois tudo o que acontece é com a permissão de Deus, Alá, Brahma, Javé, em suma, de um ser responsável por tudo que ocorre no planeta Terra ou em qualquer parte do Universo. Acrescentou que o mal é responsável pela evolução de nosso espírito, pois tudo é matéria física. Que o leão Cecil morreu na hora exata. E parar ou não com o meu trabalho, era decisão minha. Confesso que o meu amigo virtual não teve nenhuma intenção de me magoar. Mas também não poderia ficar calada, sob a possibilidade de jogar por terra todas as minhas verdades, que busco durante anos a fio. Respondi-lhe:

O que move o mundo é o paradoxo de pensamentos tão díspares. Ou, seja, eles são o reflexo daquilo que somos: seres humanos complexos, ainda que muitos de nós estejam cheios das melhores intenções, ou pensem conter as verdades da vida. Não creio em dogmas ou em religião. Conheço um pouco de algumas. Delas absorvo aquilo que considero louvável e desprezo o que concebo como um atraso para a vida no planeta Terra. Sou agnóstica, e vejo nisso algo humanamente recompensador para minha existência humana. Tento ser generosa comigo e com a vida, não em função de uma crença, que me ofereça a eternidade, numa espécie de barganha, mas, porque quero ser alguém melhor, a serviço de um planeta melhor, ainda que minha vida reduza apenas a essa passagem fugaz pela Terra.

Não acredito que a existência de um ser divino, quer tenha o nome de Deus, Alá, Brahma, Javé (ou o que quer que seja), direcione a vida dos seres terrestres, até porque, se assim fosse, eu o teria como diabólico, sem magnanimidade, parcial e mesquinho, que a uns envia o sofrimento e a outros compraz com uma vida de benesses. Não! Eu jamais aceitaria um ser manipulador e determinista, que me obrigasse a cruzar os braços diante das atrocidades do mundo, criado para ser um Paraíso. Se assim fosse, melhor seria ter nascido árvore, pedra, ou água, que se move empurrada pela corrente, rumo ao mar.

Se houver um Deus, o meu Deus será muito diferente. Terá criado a vida, posto o homem na Terra, dado-lhe o livre-arbítrio (embora a Ciência esteja a provar que não o temos tão livre assim, uma vez que a genética é responsável por grande parte daquilo que somos) para agir como quiser. Caso contrário, o homem, não deveria passar pelo tão conclamado Juízo Final, visto na maioria das crenças, pois, coitado, seria apena uma marionete manipulada por um ser superior. Que culpa carregaria diante da manipulação de um ser que lhe é superior? Se assim for, todos os seres humanos já são puros por antecipação. Não deveria nem mesmo haver a Justiça terrena, se todos servem a um Ser Determinista Superior. Eu o abominaria com todas as forças de meu ser, pois, para mim, Deus só poderia ser o mais puro e profundo amor.

Se houver um Deus, penso que apenas observa a trajetória humana na Terra, onde colocou cada homem. A cada um, nessa “outra” proclamada Vida, julgará conforme o merecimento. Levará em conta sua genética, o país em que viveu, as condições que recebeu ao nascer, as oportunidades que teve, a crença em que nasceu e, sobretudo, sua generosidade para com o planeta. Peste, vírus, maremoto, terremoto, furacão e todas as desgraças seriam advindas da própria condição planetária, em suas constantes transformações, pois a morte e tais mudanças também são renovação, não apenas para o bem, mas também para o “mal”.

Não imagino como o espírito possa evoluir, com o corpo cruzando os braços, omisso, vendo tudo como determinado. Sua evolução está no modo como cada ser reage diante das desgraças, quando essas não se perpetuam, pois o sofrimento tende a trazer nosso melhor lado. Mas, se contínuo, a revolta pela miserabilidade torna os homens ainda mais cruéis uns com os outros,  com os animais e com a Terra. Acredito firmemente na teoria de que a “generosidade tende a duplicar o amor”.

Se houver um Deus, a Terra é uma escola de vida, onde temos a oportunidade de nos aprimorarmos. E é aí que entra a necessidade do sofrimento, que atinge a prepotência e o egoísmo humano no seu cerne. Se o aprimoramento não vem através de nossa interação com as adversidades, vistas e sentidas na Terra, como iremos aprimorar nosso espírito? Decorando um monte de verborreia encontrada nos chamados “livros santos”, muitas vezes mais bélicos do que o próprio homem?

O que aconteceu com o leão Cecil, ao unificar os corações de um monte de pessoas, em todas as partes do mundo, unindo-os em prol de outros leões e animais, num sentimento maravilhoso de humanidade, é a parte boa de sua morte. Mas, se ninguém se importasse, teria sido o xeque-mate de nossa inutilidade aqui na Terra. Saber que ele iria morrer mais cedo ou mais tarde não justifica a deplorável ação do dentista americano e comparsas. Que morresse conforme os desígnios da natureza.

Se alguém entrar em sua casa, meu amigo, e assassinar sua família, você aceitaria normalmente como ordem divina, já que todos vão morrer mais cedo ou mais tarde, por que são matéria física? Se arrancarem todas as árvores de sua rua, você não se importaria, pelo fato de que elas irão morrer um dia? Se o vizinho matar o seu cão, você não se importará, pois trata-se de matéria física e foi ordem divina? Que Deus é esse que não induz à ordem, se o Universo, apesar de, à primeira vista parecer complexo e caótico, é altamente ordenado?

Você diz que o leão morreu na hora exata. Como prova isso? Como responde ao crescente aumento da vida humana através dos tempos, em razão da melhoria de sua qualidade, sobretudo em função dos muitos avanços científicos (tome a penicilina como exemplo)? Deus separou o homem, bichos e plantas em compartimentos estanques? De ano tal a ano tal, o homem viverá apenas 30; de tal a tal, 50; de tal a tal, 80… E ainda, no Japão e Coreia do Sul nascerão os que viverão mais tempo, na África, sobretudo na Somália, nascerão aqueles que terão o menor índice de vida? Quão cruel é esse seu Deus! Abomino-o! Mais parece o deus hindu (Brahma) dividindo o mundo em castas, além de criar os conhecidos “dalits” (intocáveis), a poeira da Terra, mas também a vergonha da humanidade.

Ainda que não carregue nenhuma crença, eu me preocupo muitíssimo com meu espírito (ou mente). Não para ganhar o paraíso, num escambo maquiavélico (ser bom por recompensa), mas para me sentir melhor como pessoa, pois isso me faz bem, torna-me mais completa e feliz. E olhe que recebo mais da Vida do que mereço. Ajudar, trabalhar como voluntária e sentir-me útil é um bem dirigido, sobretudo, a mim mesma e, por consequência ao planeta, pois bondade gera bondade. Não se trata de algo feito para Deus, pois ele não deve precisar disso para existir, tamanho é o seu poder.

Eu devo continuar o meu trabalho de crescimento espiritual (ou mental) em meu benefício e em prol de meu planeta, pois tenho certeza de que preciso dele para NÃO me transformar num autômato, num ser robótico, numa mera carcaça perambulando pela Terra. Eu quero ser GENTE! De carne e osso, também. Eu quero que esse Deus, se houver, julgue-me por minhas ações e não apenas por meus pensamentos. Ação é vida! Pensamento é a alavanca da ação, se posto em execução. Fora disso não passa de palavras tolas jogadas ao vento.

Mas eu lhe faço uma pergunta. Outros homens deveriam trabalhar para que você viva? O agricultor, o lixeiro, os funcionários dos supermercados, dos laboratórios, das farmácias, dos hospitais, das fábricas de tecido e das usinas de água, num ínfimo exemplo? Já imaginou quantas pessoas trabalharam para que pudesse tomar uma única xícara de café ou chá? Comece pelo operário que, com seu trator, abriu os sulcos na terra e chegue até a caixa do supermercado, que o atendeu. Não se esqueça de passar, se estiver de carro, por todos os homens que contribuíram para que usasse seu automóvel, sem se esquecer dos que trabalharam para que tivesse gasolina ou álcool e dos que fizeram a rua por onde passou, até chegar a seu lar, pelos que trabalharam na confecção do fogão ou micro-ondas, do açúcar ou adoçante, da xícara e dos talheres usados… Infinitos seres humanos trabalham para que você viva, todos os dias de sua existência, e ainda assim acha que não deve trabalhar por outrem, numa visão determinista é egóica de que Deus, Alá, Javé (e não sei mais o quê) tem tudo escrito, nos mínimos detalhes, sendo, portanto, necessário apenas que cruzemos os braços e deixemos tudo acontecer a bel-prazer?

Não, meu amigo, eu não compactuo com a existência desse seu Deus. É mesquinha demais para meus parcos neurônios. E, se assim fosse, ainda estaríamos vivendo nas cavernas, sem crença em Deus, Alá, Javé, Brahma… Mas, se acha que é assim, isso é com você! O que torna a vida ímpar é essa diversidade de pontos de vista, num mundo laico. Sei que tentou me preservar das minhas emoções, mas sem elas eu viro apenas casca. Agradeço-lhe. Eu seria muito infeliz se abraçasse sua crença. Ainda mais porque tenho certeza absoluta de que você, quando adoece, vai ao médico e toma remédio, em vez de deixar sua saúde nas mãos desse ser que determina tudo. Partindo desta premissa, em relação ao que diz sobre a morte do leão, não segue a risca o que prega. Como só acredito em ação, tenho as suas palavras como discordantes. Desculpe-me a sinceridade!

Nota: Religião Brasileira, obra de Tarsila do Amaral

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JOHN PARSONS – UM INGLÊS BEM BRASILEIRO

Autoria de Luiz Cruz

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No início da década de 1970, o casal Anna Maria Noemia Lopes Parsons e John Francis Parsons (1930-2015) tinha projetos a serem desenvolvidos na Espanha. Após terem adquirido terreno nesse país, resolveu fazer uma viagem ao Brasil e chegaram até Tiradentes, onde fariam uma visita breve. Só que, quando John deparou-se com a imponente Serra de São José, decidiu que aqui seria o local em que viveria para sempre e executaria seus projetos, inicialmente idealizados para a Europa.

O casal adquiriu uma obra inacabada e, ao longo do tempo, foi construindo, adaptando e equipando a edificação, que veio a ser o Hotel Solar da Ponte. Anna Maria e John inovaram a maneira de hospedar e abriram diversas oportunidades de trabalho para os tiradentinos. A excelência dos serviços do Solar influenciou sobremaneira não somente Tiradentes, mas diversas localidades. O casal sempre esteve à frente da gestão do hotel, acompanhando tudo de perto, o que além de garantir a qualidade, tornou-se um diferencial significativo, reforçando a proposta de que receber bem pode se tornar uma arte.

John Parsons nasceu em Wolverhampton, na Inglaterra, e desde que chegou a Tiradentes, integrou-se para sempre à comunidade, tornando-se um tiradentino de coração. Acompanhou as celebrações religiosas, e a procissão que mais gostava era a de Ramos, a que abre a programação da Semana Santa. Sempre prestigiou a Sociedade Orquestra e Banda Ramalho de Tiradentes e as orquestras Ribeiro Bastos e Lira, de São João del Rei. Na região, conhecia todos os bons artesãos, moveleiros, santeiros, canteiros, marceneiros e ferreiros, com quem trocava ideias e com suas habilidades de engenheiro, contribuía para o aprimoramento das peças.

Em 1980, o casal Parsons juntamente com Angelo Oswaldo de Araujo Santos, José Luiz Alqueres, Alice Lima Barbosa e outros fundaram a SAT — Sociedade Amigos de Tiradentes, que obteve o apoio de inúmeros amigos que se hospedavam no Solar da Ponte. Muitos deles se associaram à SAT e colaboraram financeiramente com vários projetos pela defesa do patrimônio cultural e ambiental de Tiradentes, sendo o Projeto Obras Emergenciais o mais amplo e importante.

John presidiu a SAT por alguns mandatos e apoiou as manifestações populares como os grupos de Folias de Reis e São Sebastião, Congados e as Pastorinhas. A SAT foi a primeira instituição a apoiar os brigadistas, equipando-os para o combate aos incêndios florestais na Serra de São José. Os brigadistas fortaleceram-se e tornaram-se o Corpo de Bombeiros Voluntários de Tiradentes, atualmente com quase vinte e cinco anos de atuação. John sempre acompanhou as questões ambientais locais. Em 1987, ele e Anna Maria subiram a Serra de São José, integrando a Procissão Ecológica em defesa da serra. Participou da Semana do Meio Ambiente de Tiradentes e na primeira edição, também realizada em 1987, na Escola Estadual Basílio da Gama, fez palestra sobre a “Sustentabilidade do Planeta”. Acompanhou todo processo de criação das Unidades de Conservação da Serra de São José, que infelizmente não viu devidamente tombada, pois o processo se arrasta no IPHAN, desde 1979. Liderou a campanha para aquisição do Terreno Maria Joanna, pela SAT, no alto da serra, onde se encontram as cachoeiras do Mangue.

Como bom inglês, John adorava cavalgar e tinha orgulho em participar da Cavalgada da Inconfidência Mineira. Foi sócio fundador do CCYA — Centro Cultural Yves Alves e acompanhou praticamente todas as reuniões, desde sua criação. Contribuiu financeiramente para a manutenção do centro durante certo período. Levou ao Conselho do CCYA suas experiências de engenheiro, ambientalista, empresário e acima de tudo humanista. Pode ver aprovado o Plano Diretor Participativo de Tiradentes, o qual sempre defendeu, e acreditava que seria a solução para conter o crescimento desordenado da cidade. Teve a felicidade de participar e encaminhar diversas sugestões nas oficinas para a elaboração do plano, que foi magistralmente coordenado pela Fundação João Pinheiro e apoiado financeiramente pelo BNDES. Como homem da área das ciências exatas, buscava nos filósofos a compreensão sobre as questões ambientais. Apreciador da obra de James Lovelock, acreditava que a sustentabilidade poderia amenizar e resolver os problemas locais e até mesmo os globais. Nos encontros ou reuniões compartilhava os ensinamentos. O Meio Ambiente era um de seus temas favoritos e sobre ele podia discorrer longas horas.

John viveu intensamente, sempre ao lado de Anna Maria. Com certeza tornou-se um dos maiores defensores de Tiradentes e seu patrimônio cultural e ambiental. Em nosso último encontro — já hospitalizado e na presença de Anna Maria — recomendou-me a leitura de seu último ensaio O planeta azul: promessas para o futuro, onde desenvolveu seus pensamentos inspirados em Idades de Gaia (Lovelock, 1988) perpassando por Charles Dickens, Francis Bacon, Issac Newton, Nicolau Copernicus, Lynn Margulis e outros. “O Planeta Azul é sustentado pela sua própria teia de vida, na qual todos os seres vivos dependem de todos os demais, inclusive a própria humanidade”. E terminou o texto com o desejo de que as escolas participem mais, pois o comprometimento dos jovens pode fazer muita diferença em nossos ecossistemas, exatamente como ele proferiu em 1987, ao abrir a primeira Semana do Meio Ambiente de Tiradentes.

John Francis Parsons faleceu no dia 28 de junho de 2015 e foi sepultado no Cemitério das Mercês. A Capela de Nossa Senhora das Mercês, templo rococó, decorado pelo artista Manoel Victor de Jesus, era a que ele mais apreciava em Tiradentes.

Nota (fotografias)

1 – O casal Parsons, no alto da Serra de São José (1987) / Fotografia: Eros Conceição.
2. Abertura da Semana do Meio Ambiente, em 1987, na E.E. Basílio da Gama/Fotografia: Luiz Cruz

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DÊ PODER A ALGUÉM E DESCUBRA QUEM É

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso.
Mas não se esqueçam de que
o abuso é sempre a regra. (Bertolt Brecht)

Não há quem não conheça o provérbio popular que diz que “o poder corrompe”. Alguns acham que se trata de uma bobagem criada pelo povo, outros que não é bem assim, pois depende do caráter da pessoa, e alguns outros afirmam que nada tem a ver com a verdade. Mas a ciência entrou em campo para nos dar uma resposta dentro dos rigores científicos, mesmo que desagrade a muitos e surpreenda a uns poucos.

O pesquisador americano Adam Galinsky, Ph.D. em psicologia social pela renomada Universidade de Princeton, diz que o poder, na maioria das vezes, torna as pessoas mais corruptas, gananciosas, mesquinhas e hipócritas e, em geral, muda-as para pior.

A experiência foi aplicada em forma de testes comportamentais a voluntários. Os pesquisadores observaram que, nos testes aplicados, “os poderosos não só trapaceavam mais, como se mostravam mais hipócritas, ao se desculparem por atitudes que condenavam nos outros.” Como acontece na vida real, tais sujeitos julgavam-se acima do bem e do mal, como se certas regras comportamentais não dissessem respeito a eles.

Portanto, meus queridos leitores, abram os olhos, pois o poder corrompe sim. E não pensem que é só o poder de grande porte. Alguns indivíduos há, que mesmo no posto de gerentes de departamentos, representantes de comunidades, diretores de escolas, assessores de políticos, síndicos de prédios, dirigentes de clubes, chefes em  instituições públicas, portadores de diplomas de curso superior, etc., adotam uma postura de seres especiais, de uma espécie humana diferenciada da comum. E pior, aqueles que ousam questioná-los para maior compreensão de determinado assunto, usando os meios legais, são tidos como desrespeitosos, desequilibrados e arrogantes. Sendo até mesmo intimidados por processos judiciais, por estarem “duvidando da honra alheia” ou os “desrespeitando” no exercício de suas funções.

Diz a pesquisa que embora os “notáveis mais notáveis” saibam que o poder os deixa no centro das atenções pelo cargo ocupado, psicologicamente sentem-se invisíveis e inacessíveis à qualquer forma de punição. Coisa que não acontece às pessoas ditas comuns, que são sempre penalizadas. Em muitos países, a impotência, as firulas ou a morosidade da justiça acabam reforçando esse comportamento imoral dos “poderosos”, deixando-os “invisíveis”, para agirem impunemente.

Segundo o pesquisador Adam Galinsky, a melhor maneira de testar a identidade moral de um indivíduo é dar poder a ele, pois já se pode afirmar com absoluta certeza que o uso do poder provoca mudanças comportamentais nos indivíduos. E pior, a maior transformação é aquela que os torna mesquinhos, corruptos e hipócritas. De modo que tais figuras começam com pequenos deslizes e vão afrouxando seus padrões éticos, ante a falta de cobrança e punição. Daí, para se transformarem em “deuses do Olimpo”, é um pulo. E voltamos ao politeísmo!

Quem pensa que os “dominantes” quando flagrados em seus delitos mostram-se envergonhados e arrependidos está redondamente enganado. Primeiro, porque eles já cometeram muitas irregularidades que não lhes trouxeram punição alguma e, segundo, porque se julgam no direito de tê-las cometido, pois não se veem como cidadãos comuns, a quem cabe os rigores da lei. É o tal do “Você sabe com quem está falando?”.

A maioria das pessoas, quando fora do poder, possui um tipo de comportamento, mas assim que se vê imbuída de uma faísca de autoridade, muda a conduta (Quem não conhece alguém assim?). Essa maioria não apenas assume postura imoral, como se torna ditadora e hipócrita, defendendo padrões rígidos de comportamentos para os outros, mas que nunca dizem respeito a si. Vemos, na verdade, que tais indivíduos trabalham, não pelo bem da coletividade, mas pelo bem de si mesmos.

Adam Galinsky diz que a melhor saída para conter essa tendência humana de agir mal, quando se encontra no poder, é fazer com que os “poderosos” tenham de prestar contas. De modo que o combate à falta de ética, à imoralidade e à arrogância do poder seja constante, exigindo-se processos decisórios transparentes das pessoas, em qualquer que seja a função que exerçam, em nome de uma coletividade ou de um povo.

O pesquisador faz uma comparação com a história de O Senhor dos Anéis. Assim que ele coloca o anel no dedo, torna-se invisível e passa a agir mal.

Diz ele: “O poder é este anel.”.

O poder, no entanto, caros leitores, pode se transformar numa armadilha cruel para o ambicioso e da qual ele não conseguirá escapar, pois não resta dúvida de que a vida é regida por forças opostas, num vai e vem contínuo. O que hoje traz alegria ao ambicioso, poderá ser amanhã motivo de sua própria desgraça, pois toda ação produz uma reação.

Nota: Imagem copiada de http://oserprofeta.com

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GOLPE – O PAQUERADOR DE SHOPPING

Autoria de Alfredo Domingos

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Há relatos em demasia sobre a aproximação de indianos com mulheres do mundo inteiro, em especial envolvendo as brasileiras, com o fito de os primeiros obterem vantagens. Isso está muito bem enfocado e alertado em dois importantes textos da Lu Dias, aqui no blog Vírus da Arte & Cia. – “Índia – golpe da união com estrangeiras” e “Índia – mulher estrangeira x indiano”.

Existem artimanhas das mais variadas para a aproximação, praticadas pelos homens estrangeiros, conforme as próprias mulheres têm apresentado. Deduz-se que a intenção principal não é o amor ingênuo, e sim algum tipo de ganho financeiro ou de oportunidades. Essa apelação, aproveitando, talvez, a solidão momentânea da mulher é extremamente desagradável, desrespeitosa, e também com contornos de delito provenientes dos golpes que provavelmente serão aplicados. Considerando essa situação, exponho outro tipo de golpe conduzido fora das conexões internacionais, bem perto, ali na esquina.

O agente principal da farsa já é conhecido como o “paquerador de shopping”. E, infelizmente a “trama” é verdadeira, sendo a vítima uma pessoa da nossa amizade. Diga-se, a princípio, que a área de atuação abrange alguns shoppings, com mudanças frequentes, para não dar na pinta, imagina-se. De passagem, vale comentar que o shopping é excelente cenário para a atividade da conquista. Ali encontramos ambiente mágico, luzes feéricas, alegria em excesso e facilidade para obter alguma coisa ou, até mesmo, uma pessoa. Normalmente, não se sai do shopping de mãos vazias, podemos carregar também as mãos alheias, agarradinhas.

Há toda uma preparação por parte do “artista” (verdadeiro ator na arte de engabelar as mulheres). Roupas apertadas, de garotão. Cabelo arrepiado com auxílio de gel. Tênis coloridos. E para fechar o visual, carrega a inseparável mochila. Isso sob as mais de quatro décadas que o cidadão já percorreu, ostentando uma feiura quase inigualável, o que surge como incrível. Os seus procedimentos eficazes são o posicionamento estratégico no alto da escada rolante e a forma de abordar as incautas. É reconhecido como um especialista no ofício.
O aproveitador utiliza um ingrediente que tem tudo para garantir o sucesso da empreitada – a boa observação, conduzida de cima, sobre as mulheres que sobem, desprevenidas, na escada em movimento. A presa, para o bote, deve aparentar estar solitária ou em dificuldades, com a tristeza aparente, e, em consequência, no estado de carência. Exatamente dessa forma, aconteceu com a tal nossa amiga. Havia sido arrancada recentemente de um casamento de meia dúzia de anos. O ex-marido, ao despertar-se no que se transformou num mau dia, disse-lhe apenas:

– O nosso casamento já deu, e após o café da manhã tirarei o time de campo.

Ironicamente, a raiva aumenta quando ela se lamenta por ainda ter fornecido o “breakfast”. Fazer o quê?! Revestida de profunda mágoa e sem um companheiro, a amiga converteu-se em fácil conquista para o “paquerador”.

Numa segunda-feira insossa, à tarde, calçando surradas sandálias de borracha, sem preparo algum para colóquio amoroso, foi pega de surpresa pelo galanteador, que do seu posto de vigilância disparou sentença irresistível:

– Chegou a “deusa da tarde”! Desculpe-me, mas tinha que lhe dizer o quanto fiquei fascinado! Não consegui ficar calado.

A fala constituiu-se em jogada de mestre! A abordada não ofereceu resistência. Daí, sem demora, houve um convite para o cafezinho, que foi aceito de bom grado. Em decorrência do papo de cerca-lourenço, marcaram novo encontro. Rápido, assim! À primeira vista, ele é gentil, cheio de rapapés. Sem dúvida, sabe cortejar as mulheres. Trata-se de profissional! Falando em profissional, cabe inserir a sua profissão, segundo o próprio: atividade liberal “free lancer”. Que maravilha, hein? É um tudo, tendendo a nada! Ocorreram encontros, todos sem muito gasto, o mínimo de despesa, porém, recheados de carícias, palavras melosas e outras coisas íntimas! Todavia, uma decisiva pedra estava para ser mexida no tabuleiro da oportunidade. Aquela do xeque-mate!

O amigo revelou-se incomodado por não poder se dedicar inteiramente a ela, confessou a paixão. Mas para colocar tudo em pratos limpos precisava, “por decência”, abrir o jogo e contar detalhes sensíveis da sua vida. Mentira ao afirmar que morava sozinho. Alegou que aturava, com pena, uma pobre ex-esposa, doente mental, que necessitava de cuidados. Mas a situação era muito ruim para ele, pois não se concentrava no trabalho, em função dos desvarios da criatura, além das demandas da doença. Precisava tomar uma decisão firme e sair de casa para canalizar o seu amor somente nela, a namorada, e ter sossego para produzir o sustento, que estava sendo deixado de lado. Acrescentou que atravessava difícil situação financeira, por tudo que foi contado, não dispondo de condições para arcar com as despesas de aluguel, etc.

Para resumir, a nossa amiga compadeceu-se e ofereceu, inicialmente por um curto período, acolhimento no seu apartamento. Para ele, muito melhor a emenda do que o soneto, claro! Em um mês, mais ou menos, o sabido estava aboletado não somente na residência, mais em tudo o mais, inclusive no carro! Sujeito bem-sucedido este! Outras necessidades foram sanadas. Tratamento dentário. Uma antiga dívida. E a tão sonhada cirurgia oftalmológica, nunca resolvida. Coitado, concentrava problemas demais! Contudo, o fim acaba chegando para tudo. Depois de seis meses, instalado com todas as mordomias, sem comparecer com um real que fosse, a minha amiga, finalmente, percebeu o conto do vigário. Revoltada com a vida mansa do sujeito e o pouco afeto por ele dedicado ultimamente, indicou-lhe a porta da rua para a saída definitiva, em busca de outro pouso ou de alguém mais bobo que permitisse a continuação da “farra”.

Parece, contudo, que o esperto não se emendou. Dia desses, foi visto em ação, cortejando outra desavisada, com a mesma cara de pau, desfazendo-se em mesuras. Fica o providencial alerta: mulheres, atenção, o “paquerador de shopping” está solto!

Nota: Imagem de www.torange-pt.com

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GOLPES – COMO ESTÁ DIFÍCIL SER GENTIL!

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em tempos idos, uma das boas qualidades a serem ditas sobre alguém é que a pessoa era “gentil”. Esta palavrinha tão modesta no número de letras e de apenas duas sílabas encerrava um mundaréu de preciosidades: nobreza, afabilidade, generosidade, cavalheirismo, delicadeza, graciosidade, cortesia, amabilidade, boa educação, civilidade, atenção, cortesia, sensibilidade, deferência, discrição, polidez, sociabilidade, e por aí vai. Mas longe estão os tempos em que se primava por ser “gentil”. Os tempos de hoje são outros, de modo que “gentileza” passou a significar também “ingenuidade”.

O leitor deve estar achando que eu me levantei de ovo virado e que briguei com o mundo. Nada disso. Sou uma pessoa otimista por natureza, mas sempre movida pela razão. Não há mais como negar que uma parte da humanidade tornou-se tão astuta, ardilosa e dissimulada que obrigou a outra a botar a “gentileza” em fuga, de modo que, mais uma vez na história humana, o mal faz um grande estrago, impedindo a evolução espiritual de nossa espécie. O meu desabafo tem razão de ser. Vou expô-lo.

Nós, brasileiros, somos vistos em todo o mundo como um povo hospitaleiro, alegre e “gentil”. Alegram-me muito tais qualidades, pois isso significa que prezamos a vida e dividimos com os outros a nossa sede por um mundo melhor, centrado na comunhão com todos os povos, uma vez que somos parte de um todo. E dentro de nosso país, nós, mineiros, carregamos com grande honra o elogio de sermos um povo “gentil”. Sem nenhum apego ao bairrismo, digo que é verdade. Se nos pedem uma orientação para um determinado endereço, por pouco não levamos a pessoa ao local de destino. Só para ilustrar o que digo, num dia chuvoso, um meu amigo de outro Estado ficou encabulado ao dar sinal para um táxi, esse parar, e o motorista explicar que não poderia levá-lo, pois já fora chamado pelo telefone. O taxista perguntou-lhe então qual era o seu destino e lhe deu uma carona até onde os caminhos de ambos divergiam. Mesmo o meu amigo querendo dar ao cavalheiro taxista uma gorjeta, pois o cronômetro estava parado, esse não aceitou. Mas, por que não podemos continuar sendo assim, generosos?

Hoje, recebi de uma amiga o alerta sobre um novo golpe no país. Espertalhões estão colocando uma criança chorando, na rua, carregando um papel com um endereço, como se estivesse perdida, pedindo que a leve ao endereço indicado. Estão também usando idosos como isca. No endereço mostrado estão eles, os bandidos, à espera da alma que fez aquela boa ação. E, como “prêmio” ela é roubada ou sequestrada. Adverte-me a minha boa amiga Esther: “Não ofereça ajuda à criança ou ao idoso, ainda que seja até à esquina seguinte, mas chame a polícia (190), que irá ao encontro dos meliantes.”.

Notícias dão conta de que tal modalidade de assalto tem sua origem na cidade de São Paulo ou na do Rio de Janeiro, e, que vem se espalhando como praga por todo o país. Mas isso não vem ao caso, pois malfeitores estão espalhados por todos os cantos do país e do mundo. O melhor mesmo é se prevenir. Mas, por que fazem isso com a generosidade que há em nós? Por que coagem crianças e idosos, seres tão indefesos? Até quando?

Obrigada, Ester, pelo alerta!

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