Arquivo da categoria: Crônicas

Abrangem os mais diversos assuntos.

AS PALAVRAS E O POLITICAMENTE CORRETO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Lutar com as palavras/ é a luta mais vã./ Entretanto lutamos/ mal rompe a manhã. (Carlos Drummond)

O universo das palavras é por demais encantador, com seus mistérios e complexidades, de modo que cada palavra possui uma história, que vai passando por ajustes ou transformações através dos tempos. E algumas delas são como pessoas, que fogem a qualquer explicação plausível.

Estas diabinhas, muitas vezes, parecem nos enlouquecer. Uma mesma palavra pode ter significados diferentes em países que falam a mesma língua (ver puto no Brasil e em Portugal), ou vestir roupagens diversificadas, até mesmo dentro do próprio país, variando de uma região para outra (mandioca, macaxeira, maniva…), isto quando a diferença não se processa dentro de um mesmo Estado (entojada/sertão mineiro e grávida/capital mineira).

As expressões idiomáticas são uma pedra no sapato de quem tenta aprender uma língua estrangeira, pois o dicionário perde toda a sua imponência diante destas bruxinhas. Cortem-me a língua, se eu estiver mentindo. Imagine algum gringo, de dicionário em punho, tentando traduzir, palavra por palavra, a frase: A esposa saiu do casamento com uma mão na frente e outra atrás. Não haverá de colher bons frutos, o coitado.

Os dicionaristas, os escritores e todos os seres falantes lutam com as palavras, pois a língua é dinâmica, modifica-se constantemente para acompanhar as transformações que operam no dia a dia de um povo, quer para acompanharem as mudanças tecnológicas, científicas, literárias ou até mesmo para se afinar com o linguajar popular. E neste vai e vem, algumas palavras caem em desuso, outras tantas ressuscitam e mais outras são criadas.

Nos dias de hoje, quem tem a língua afiada, deve pesar as palavras antes de expô-las, caso não queira um processo judicial nas costas. O que significa que algumas destas senhoras caíram no desagrado conceitual. Ficaram démodé. Foram relegadas à marginalidade, pois reforçam o preconceito e difundem visões discriminatórias sobre pessoas ou grupos sociais. Bani-las do convívio entre os indivíduos seria uma forma de erradicar o preconceito existente na linguagem, pensam os defensores de uma linguagem politicamente correta. Mas temos, também, aqueles que se colocam ao lado das palavras “marginais”, defendendo que tais mudanças empobrecem o idioma e a comunicação, pois, muitas delas, originárias do latim, possuem dois mil anos e estão sendo banidas da língua portuguesa.

Assim, como o Professor Aldo Bizzocchi, doutor em linguística pela USP, penso que o problema não está na palavra, mas na intenção que o indivíduo exterioriza através dela. Ou seja, no tom com que se fala certa palavra ou no contexto em que ela se encontra inserida. Tudo é relativo.

Embora algumas palavras tenham ganhado a classificação de grosseiras, isto não acontece com a grande maioria que está sendo posta em xeque. Tais mudanças, em busca do politicamente correto, apareceram nos Estados Unidos, na década de 70, como herança dos direitos civis pós-guerra, e se espalham hoje por vários países ocidentais. A palavra homossexualismo, por exemplo, é uma da listagem das tidas como politicamente incorretas por gays e lésbicas. A explicação é que o sufixo “ismo” é indicativo de doença. Mas, o que dizer de liberalismo, positivismo, criacionismo, evolucionismo…?

Se tais mudanças começarem a ocorrer com muita assiduidade, a comunicação entre as pessoas vai se tornar cada vez mais difícil. Antigamente, aquele que perdesse um braço, era aleijado. Depois, passou a ser chamado de deficiente. Agora deve ser chamado de portador de deficiência física. Como acompanhar tanta mudança?

A Secretaria de Direitos Humanos lançou, em 2006, a Cartilha do Politicamente Correto. Dentre as muitas palavras que devem ser evitadas estão: baianada (abuso no trânsito), beata, bêbado, anão e palhaço, assim como certas expressões, a coisa está preta, etc. Só para citar um exemplo, o que dizer dos tantos “anões” que aparecem nos programas de tevê, sendo usados, muitas vezes, em situações deprimentes?

Policiar a linguagem tem muito mais a ver com educação, em todos os sentidos. Para mim é questão de caráter e ética de cada indivíduo. Educar o povo é a melhor mudança. As mudanças são permanentes, quando vêm de dentro para fora, sem maquiagem, mas resultante de uma boa educação familiar e escolar. O resto é pura maquiagem.

Glossário Politicamente Correto
(O uso da primeira palavra é incorreto)

gordo / portador de sobrepeso
favela/ comunidade
cego/ deficiente visual
negro / afrodescendente
velho/ idoso, da terceira ou melhor idade
surdo/ deficiente auditivo
pobre/ menos favorecido
deficiente/ portador de necessidade especial
empregada/ assistente
funcionário/ colaborador
homossexualismo/ homossexualidade

Nota: Imagem copiada de scienceblogs.com.br

Fonte de pesquisa:
Revista Época, 08/03/2010

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CAPITALISMO E MEIO AMBIENTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

bola verde

O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza, antes de dominarem a si mesmos (Schweitzer).

 A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância (Gandhi).

Não podemos mais ignorar que o capitalismo mórbido entrou numa corrida maluca pelo lucro pecuniário, levando a vida em nosso planeta às raias da loucura. E neste ensandecer consumista, quem está levando os piores golpes é o meio ambiente, supermercado de onde se tira avidamente as mercadorias necessárias à vida, mas onde não se faz reposição alguma, numa matemática suicida. Para dar um exemplo do que acontece bem debaixo de nossos olhos, basta olharmos nas ruas das cidades brasileiras, os lugares vazios deixados pelas árvores que tombaram, quer pela idade, raios ou por uma praga qualquer (quando não pela mão cruel do homem). Os locais permanecem vazios, sem reposição, enquanto o ar continua cada vez mais cheio de poluentes, trazendo inumeráveis doenças respiratórias, com os veículos fazendo a festa. Quem pagará a conta? A vida como um todo.

O uso da tecnologia pelo capitalismo é feita em várias vertentes, mas só que de uma maneira estúpida e irracional. Não é mais possível que continuemos fingindo que somos ostras, ignorando os prejuízos causados ao planeta onde vivemos e, em consequência, a nós mesmos. Esta covardia precisa ser detida, enquanto existe um mínimo de racionalidade em alguns de nós. Podem persistir divergências acerca do tamanho do impacto sobre a vida na Terra, mas negar o óbvio torna-se cada vez mais impossível: a poluição, o aquecimento global, o desgaste da camada de ozônio, o lixo nuclear, o desgaste do solo e das poucas florestas que ainda restam, os perigos levados à saúde através dos conservantes alimentícios, os agrotóxicos cada vez mais poderosos, etc, são indiscutíveis. Somente os loucos varridos contestam-nos.

Nos últimos séculos, o planeta vem inchando consideravelmente. Somos hoje mais de 7 bilhões de habitantes. O crescimento da população tem sido acelerado pelo avanço da medicina nos mais variados campos. O mais preocupante é que o inchaço vem se dando principalmente nos países mais carentes, social e economicamente mais atrasados, numa proporção de 9/1, ou seja, para cada criança nascida num país rico, nove nascem em um país pobre. O que não deixa de ser uma matemática deveras preocupante. Já vemos isso no grande número de imigrantes que deixam seu país de origem em busca de trabalho em outros mais desenvolvidos. Somente o equilíbrio na distribuição de riquezas do planeta poderá segurar os indivíduos na própria terra, caso contrário o caos instalar-se-á, mais cedo do que imaginamos.

Os nossos governantes, em sua imensa maioria, possuem uma visão imediatista de lucro. Não se preocupam em elaborar e seguir um planejamento, que utilize uma tecnologia raciocinada e não tão destrutiva como a que ora vemos mundo afora. Na China, em várias cidades, já é necessário o uso de máscaras pela população, para conseguir respirar. O país está vendendo toda a sua riqueza mineral e vegetal, em busca de lucros rápidos e poder. Os países ricos ali têm feito a sua cozinha a lenha, onde a fumaça devora tudo. E no futuro, como viverá aquela gente? Que isso nos sirva de exemplo. Todo crescimento deve ser planejado, responsável, voltado não apenas para o presente, mas também para o futuro, se quisermos deixar um legado positivo para as futuras gerações.

Os grandes empresários e os governos que querem o crescimento a qualquer custo, não levam em consideração a saúde da Terra. Tudo é feito em curto prazo, como uma maneira de alcançar o máximo de lucro no menor tempo possível. Até mesmo os governantes, de quem os governados esperam bom senso, recusam-se a assumir a abordagem de tais temas, relegando-os às futuras gerações, como se urgentes não fossem. É a magnitude do uso das riquezas do planeta pelo capitalismo, sem se preocupar com a gravidade da finitude dessas.

Os problemas relativos ao desgaste de nosso planeta Terra derivam, principalmente, do uso excessivo de energia, pois frotas de automóveis multiplicam-se pelo mundo, poluindo a atmosfera, principalmente por meio do óxido de nitrogênio, enquanto os transportes públicos, que deveriam minimizar o problema, são relegados a um segundo plano. Não se tem a clareza, ou pelo menos fingem não ter, de que os recursos de nosso planeta não são renováveis, e de que outras gerações deles precisarão. Enquanto isso, o grosso dos governantes, em todos os patamares administrativos, fazem parte da máfia que esconde os dados que revelam os riscos ambientais a que estamos expostos, manipulando e enganando a opinião pública, para que essa apoie todas as suas sandices.

Doenças antigas, tidas como exterminadas, estão voltando com uma força muito maior, enquanto outras novas aparecem. Rios, mares, lençóis freáticos e o ar encarregam-se de transportar os dejetos desta nossa sociedade “tão” evoluída, por todo o planeta, antes tão azul. Troca-se hoje a simplicidade de vida pelo conforto retirado, a duras penas, do meio ambiente. Estaremos todos nós alienados e hipnotizados pela sedução do capitalismo doentio, em vista de nossa negligência em relação à destruição ambiental que se processa ferozmente? Será que também acreditamos que os recursos da natureza, mãe generosa, são ilimitadamente disponíveis? Se o fazemos, não passamos de tolos.

Bem melhor seria se ouvíssemos os nossos ancestrais que nos ensinavam que é melhor prevenir do que remediar. A continuar no ritmo de destruição em que se encontram as riquezas naturais da Terra, não haverá muito a ser remediado, só nos restando lamentar pelos inocentes que virão atrás de nós, com o passar dos tempos.

Nota: Imagem copiada de www.zun.com.br

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ALDEIA GLOBAL E O CAMINHO DO MEIO

Autoria deLu Dias Carvalho

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Marshall McLuhan criou, nos anos de 1960, o termo “aldeia global”, para mostrar que as fronteiras dos países estavam sendo eliminadas e a Terra estava se transformando numa única comunidade com bilhões de pessoas. Como acontece nas comunidades, principalmente com os indivíduos obrigados a aceitá-las por imposição, essa reunião de pessoas teve e tem os seus altos e baixos. Algumas estão felizes com o andar da carruagem, enquanto outras estão permanentemente insatisfeitas, ao constatarem que lhes sobrou apenas um pangaré.

Não há como pular fora desta aldeia, pois a sua evolução é inevitável e, em função disso, a espécie humana precisa aprender a conviver com suas benesses e malefícios.  São muitas as dores enfrentadas no diluir das fronteiras, sendo algumas passageiras e outras crônicas. Dentre elas podemos salientar o mal dos dias atuais: o fanatismo religioso que vem descambando para o extremismo e o terrorismo confesso, assim como o anarquismo moral. Não há quem não saiba que ambos são empecilhos à harmonia da aldeia global.

 O extremismo, seja lá de que natureza for, não tem compromisso com o agora. Suas ações visam resultados em longo prazo. O fato de se estar vivo e o de lutar por uma vida valorosa no presente não tem significado algum. Enquanto as pessoas equilibradas lutam, tendo como objetivo o alcance do bem comum para si e para os que estão à sua volta, os extremistas torcem para que o caos se instale, seguidores que são da filosofia do quanto pior, melhor.

 Por sua vez, o anarquismo moral é o desrespeito aos valores e à ética que devem nortear um povo. É a falta de parâmetros na distribuição de riquezas no mundo. É a falta de cooperação entre aqueles que detêm a capacidade de agir, visando o bem comum. É a busca pela riqueza e pelo poder a qualquer preço. É o descaso para com o planeta Terra e suas espécies. É a prepotência, o viver sob o comando do ego, inimigo capcioso e vil.

 Sempre tive dificuldade em me ater às crenças religiosas, pois as vejo como fatos da história, mas acredito piamente no poder imensurável que cada homem carrega dentro de si, pois ele é um microcosmo. Tudo encontra em seu interior,  tanto o bem quanto o mal. Se tal poder for usado com sabedoria, reverterá em bons frutos para todos, mas o contrário se dará com quem o usar de outra forma, pois não se pode plantar urtiga e colher alface. De que adianta ir aos templos “sagrados”, se se negligencia o templo interior, onde se aprende a reverenciar a si mesmo, os irmãos de planeta e a própria Terra? Quem vive de aparências não passa de um vaidoso tolo.

O fato de sermos generosos com todas as espécies de vida não significa  um caminho para o perdão de nossos “pecados” ou para a redenção de nosso “carma” numa outra dimensão. Esqueçamos isso. É apenas a única forma de sermos felizes agora, pois a energia advinda de nossas boas ações fluirá sobre nosso corpo carnal e nossa mente, no presente momento em que a ação se processa. Se arremessarmos uma bola na parede, ela voltará para nós. Assim acontece com as nossas ações, que reverterão em energia negativa ou positiva, em relação a tudo que fizermos. A escolha é de cada um de nós.

 A palavra-chave para vivermos bem nesta “aldeia global”, onde crenças e valores morais estão divergindo e entrando em conflito todo o tempo, é o equilíbrio, o célebre Caminho do Meio ensinado por Buda, que convida todos os homens, indiferentemente de suas crenças e ideologias, a se unirem em torno dos melhores interesses de cada comunidade, colocando de escanteio o ego, a prepotência, o desejo de posse. Precisamos aprender que nada nos pertence de fato, pois tudo nos é emprestado por um determinado tempo.

Cada um de nós é único nesta “aldeia global”, o que individualiza as nossas responsabilidades para conosco, para com os outros e para com a Terra e demais formas de vida. A nossa racionalidade permite-nos exercer e sofrer influências. Não podemos fugir da raia. A omissão reverterá em energia negativa, enfraquecendo-nos diante do mundo e, sobretudo, diante de nós mesmos. Nenhum de nós ficará imune às próprias escolhas, conforme a lei de Ação e Reação.

 Os três sábios da Antiguidade: Aristóteles, Buda e Confúcio (ABC) ensinaram, em épocas diferentes, que o extremismo é o maior dos males da humanidade, pois se contrapõe à felicidade, à saúde e à harmonia. Resta-nos continuar buscando o equilíbrio em tudo que fizermos. Sempre em busca do Caminho do Meio, do bom senso, do ecumenismo e do sentimento de igualdade.

Nota: imagem copiada de http://tudosobreglobalizao.blogspot.com.br

 Fonte de Pesquisa:  O Caminho do Meio/ Lou Marinoff

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A TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS E O CRIME

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Recebi, via e-mail, um texto muito interessante sobre a “Teoria das Janelas Quebradas” que é mesmo muito intrigante, pois deixa às claras o porquê de certos comportamentos. Por que nós humanos somos tão complexos? O que nos leva agir de maneira contraditória àquilo que muitas vezes defendemos? A pobreza seria a razão maior da criminalidade?

Comecemos por um prédio que, por um motivo interno qualquer, teve um dos vidros de suas janelas quebrado. Ninguém deu a mínima para o conserto. No dia seguinte, outros dois vidros apareceram quebrados. E nada foi feito. Uma semana depois não restava nenhum deles inteiro, sem falar que o pequeno prédio ficou todo pichado. Era como se o imóvel não tivesse nenhuma valia, ou se não fosse de interesse de ninguém, podendo qualquer um depredá-lo. Em razão disso, quando uma das cadeiras de ônibus ou metrô aparece danificada, deve ser imediatamente removida ou consertada. Se isso não acontece, todo o veículo ficará danificado em curto prazo, pois uma ação de vandalismo vai desencadeando outra. É por isso que, nas comunidades esquecidas pelo poder público, a destruição se faz presente todo o tempo.

Segundo uma experiência de psicologia social, conduzida pelo professor Phillip Zimbardo, em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), foram deixados dois carros, iguaizinhos em todos os sentidos, numa via pública, mas em zonas sociais diferentes. Enquanto um foi deixado em Palo Alto, zona de classe alta e bastante tranquila da Califórnia, o outro foi abandonado no Bronx, região pobre e de muita contenda. Como era de se esperar, o carro abandonado no Bronx foi dilapidado já no primeiro dia, enquanto o deixado em Palo Alto nenhum dano sofreu. Alguém mais precipitado poderá achar que a causa de tais diferenças está no nível social das pessoas, de modo que toda sorte de delito nasce da pobreza. Mas vamos adiante…

 Como vimos anteriormente, o carro deixado em uma das vias de Palo Alto estava impecável, com tudo no lugar. Um dos pesquisadores levou a cabo a segunda fase da pesquisa, quebrando um dos vidros desse automóvel. O que aconteceu? O carro foi totalmente danificado, como aconteceu com o que se encontrava no Bronx. Não se tratava de um local de gente rica e educada? É verdade! Qual a razão de ter acontecido o mesmo tipo de vandalismo?

O fato é que a pobreza não é a real razão dos acontecimentos. A verdade crucial está no comportamento humano, na maneira como as pessoas veem e sentem o ambiente em que se encontram. Bastou que o carro tivesse o vidro quebrado para que elas adotassem um procedimento totalmente inadequado, como se o veículo não pertencesse a alguém e, ao mesmo tempo, pertencesse a qualquer um que dele quisesse desfrutar, ainda que o depenando.

Os banheiros públicos são um exemplo clássico da Teoria das Janelas Quebradas. Alguém escreve na porta, imediatamente outro faz o mesmo, e mais outro, e mais outro, até que se transforma numa verdadeira página de “literatura de latrina”. O mesmo se dá com a postura das pessoas em qualquer ambiente. Se esse está sujo, ninguém se sente constrangido em jogar um papel no chão ou uma casca de fruta. Quando ao contrário, o lugar está muito limpo, as pessoas têm a sensação de que não podem maculá-lo e de que não pertencem a elas.

Levando para o lado criminal, está provado que o maior número de crimes acontece nos lugares esquecidos pelo poder público, em que tudo parece estar abandonado e se deteriorando, onde tanto faz como tanto fez, e tudo fica por isso mesmo. Em suma, a falta de punição para os pequenos deslizes acaba gerando delitos maiores, até que a situação torna-se insustentável, como vemos nas regiões violentas das cidades.

Quando se discute em todo o país a diminuição da maioridade penal, podemos comparar os pequenos delitos dos menores infratores com o vidro quebrado do carro. Se nada se faz para puni-los, será impossível contê-los quando se transformarem em adultos. É possível trocar um vidro, mas torna-se inviável consertar um carro que virou sucata. Se o jovem pode votar com 16 anos, se pode contrair família e ser pai com a mesma idade, também pode e deve responder por suas ações. Em pleno século XXI, com tanta informação à disposição de qualquer um, não se pode considerar que o indivíduo só se torna adulto depois dos 18 anos.

A Teoria das Janelas Quebradas também nos ensina que não podemos nos tornar prisioneiros dentro de nossas casas, deixando de visitar os parques e as praças, ou mesmo andar pelas ruas, pois esses espaços cairão no abandono, depois se transformarão em lugares esquecidos pelas autoridades e, sem dúvida alguma, serão ocupados pelos delinquentes. E aí fica bem mais difícil recolocar o vidro no carro abandonado ao deus dará, tendo que, praticamente, fazer um novo. Infelizmente os responsáveis eleitos para zelar pelos espaços públicos não vêm dando a mínima para a deterioração dos mesmos, tão pouco dão o exemplo da moralidade com a coisa pública, só fazendo ampliar o caos.

Um bom exemplo de como aplicar a Teoria das Janelas Quebradas é o que foi feito em Nova York, em relação ao metrô daquela cidade, ponto de alta periculosidade. Foram combatidas quaisquer formas de infração. O resultado surpreendente levou o prefeito da cidade, Rudolph Giuliani, seguindo os mesmos princípios, a criar a Tolerância Zero, que resultou na diminuição drástica da criminalidade na cidade norte-americana.

Seria de bom alvitre que fosse implantada nas grandes cidades brasileiras a Tolerância Zero (E também nos Três Poderes da República). Mas que atingisse todos os lados do cubo, a começar pelos responsáveis por conduzi-las, com comandantes e comandados dando o bom exemplo. E quanto maior for a autoridade responsável pelo deslize (corrupção, nepotismo, impunidade, criminalidade, omissão, etc), maior deveria ser a punição.

 Nota: Imagem copiada de  www.blogmudancas.com

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GLOBALIZAÇÃO E GRANDES CIVILIZAÇÕES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Uma única harmonia comanda a composição do todo através da combinação dos princípios contrários. (Aristóteles)

Nada existe inteiramente sozinho; tudo está relacionado a tudo. (Buda)

Já faz muito tempo que o Caminho prevaleceu no mundo. (Confúcio)

No período de 10.000 e 4.000 a.C., aproximadamente, quatro civilizações, a helênica, a abraâmica, a indiana e a asiática, enraizaram-se e ramificaram-se na consciência humana, transformando-se em grandes civilizações ao longo dos milênios. Todas elas floresceram em períodos específicos, com objetivos específicos, permanecendo como as mais importantes até os dias de hoje.

Ao longo dos séculos, as quatro civilizações citadas sofreram algumas mudanças, fundindo-se em alguns pontos, mas permanecendo sempre distintas umas das outras. Elas divergem, sobretudo, na visão da identidade humana, campo fértil para os extremismos. Podem ser vistas (e sentidas) como a acomodação das placas tectônicas, que ora se chocam com menos impacto, ora com violência aterrorizante.

Como se não bastasse a belicosidade gerada pelos choques destas civilizações, ainda temos que nos defender de outras guerras inerentes aos dias de hoje: o aumento da venda de drogas, o fosso profundo entre pobres e ricos, a criminalidade, a escravidão humana,  o terrorismo ampliado pelo uso da tecnologia, os preconceitos diversos, a intolerância e a violência sem freio. São tantas as complexidades e conflitos, que estamos ficando cada vez mais desnorteados num mundo em que as respostas tornam-se cada vez mais difíceis.

É fato que a história da humanidade sempre foi e é uma história bélica, com derramamento de sangue em grande escala. Vemos isso até dentro de nações que possuem em comum a mesma civilização. Vale dizer que a civilização ocidental é responsável pelas armas mais destrutivas e foi responsável pela destruição de outras culturas mais frágeis: a dos povos aborígenes, escravos africanos e povos colonizados. No entanto, o ocidente possui os valores de liberdade mais amplamente desenvolvidos. Portanto, cada civilização possui suas contradições e paradoxos, que demandam um estudo mais aprofundado dos fatos.

No confronto entre estas quatro grandes civilizações que deram origens às variadas correntes filosóficas, vemos que algo se destaca com bastante rigor: algumas correntes pecam pelo excessivo materialismo, enquanto outras são condenáveis pela espiritualidade desmedida. Falta-lhes o equilíbrio. A esmagadora pobreza material é tão decepcionante quanto o excesso de bens. A espiritualidade exagerada, em meio à miséria e à privação da liberdade, é tão pecaminosa quanto a falta de crença num mundo ecumênico, onde todos possam viver em harmonia.

Cientistas sociais contemporâneos dizem que a globalização é um processo mais poderoso e rápido do que as quatro grandes civilizações. Em pouco tempo terá derrubado muitas fronteiras e limites políticos, religiosos, geográficos, étnicos, tribais, culturais e filosóficos, trazendo modificações profundas às civilizações. Tais mudanças advêm, sobretudo, da rede global virtual, que não exige identidade civilizacional, política, religiosa, geográfica ou étnica para dela participar. Na rede global, a espécie humana é vista como um todo, apesar das diferenças que separam os homens entre si. E essa conexão tanto pode ser para o bem, quanto para o mal, dependendo da forma como é usada.

É fato que nenhuma das quatro grandes civilizações terá forças para se manter isolada da globalização que se processa no planeta, pois as fronteiras estão sendo demolidas, quer queiram ou não. Não me refiro aqui à globalização que se processa na Europa, com a inclusão do euro como moeda única, mas sim, à globalização advinda da tecnologia, da rede global virtual, do contato entre todos os povos do planeta.

Nota: imagem retirada de http://www.adimapas.com.br

Fonte de pesquisa:
O Caminho do Meio/ Lou Marinoff

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GLOBALIZAÇÃO E SERVIDÃO HUMANA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Comemorar o fim da escravidão humana não é tarefa para muitos povos, uma vez que, em pleno século XXI, ela ainda se encontra a todo vapor em várias partes do planeta. A diferença é que os negros não são mais acorrentados na África e levados para terras estranhas como escravos, mas pessoas desesperadas ou fragilizadas, de várias etnias, em todo o mundo, são feitas escravas diariamente. Esta é a  única diferença.

Estatísticas mostram que quase 30 milhões de pessoas vivem na condição de escravas, sem distinção de sexo ou idade. São compradas e vendidas, exploradas e agredidas e mantidas em cativeiro. Só para se ter uma ideia do que vai pelo mundo, no que diz respeito à servidão humana:

  • Na Índia, crianças são vendidas pelos próprios pais, para as mais variadas frentes de trabalho, dentre essas está a confecção de bijuterias, trabalhando mais de 10 horas por dia, sem direito à escola.
  • No Paquistão, crianças de 5 e 6 anos são vendidas para o Golfo Pérsico para trabalharem como jóqueis e condutores de camelos de corrida. Mas, assim que completam certa idade, são jogadas na rua.
  • A América Central possui um grande número de crianças sem teto, um prato cheio para os aliciadores.
  • Brasileiros são escravizados na região Norte do próprio país, para trabalharem com suas famílias na produção de carvão para a indústria siderúrgica, ou para trabalharem na plantação e colheita de cana na região nordestina.
  • Proprietários rurais indianos possuem famílias inteiras de pequenos agricultores na escravidão, muitas delas pagando por dívidas dos pais já mortos.
  • Calcula-se que quase 20 milhões de pessoas são escravas por dívida na Índia, no Paquistão, em Bangladesh e no Nepal.
  • No Miamar, os escravos são responsáveis pela colheita de cana-de-açúcar e de outros produtos agrícolas.
  • Crianças escravas na China confeccionam fogos de artifício. Homens e mulheres trabalham nas fábricas por salários miseráveis, sem direitos trabalhistas.
  • A mineração de diamantes é feita por escravos em Serra Leoa.
  • No Egito e Benin, crianças são usadas no setor de algodão.
  • Na Costa do Marfim, escravos infantis colhem os grãos de cacau que são exportados para produzir o “gostoso” chocolate.
  •  A venda e revenda de mulheres para prostíbulos é um negócio que vem deslanchando com a maior desenvoltura. No início, o produto humano provinha de países latinos, africanos, asiáticos, mas, atualmente, já é bastante forte o contingente vindo do leste europeu.
  • Redes de mafiosos têm como produto o aliciamento de crianças para suprir o mercado de pedófilos, em várias partes do mundo.

A grande maioria das mulheres escravizadas é ludibriada com a proposta de trabalhar como modelos, em restaurantes, fábricas e hotéis. Na maioria das vezes, elas são estupradas, antes de serem repassadas a seu destino final. Cabe-lhes a tarefa de ficarem seminuas, dançar, beber muito com o cliente e ir para o quarto com qualquer um. Se não cumprem tais “deveres”, são espancadas. E o sistema da dívida contraída é tão cruel quanto nos outros casos. Elas dificilmente conseguem pagar o que “devem”. E, caso isso aconteça, sem dinheiro, voltam a cair nas mãos de outra máfia.

O mais estarrecedor na compra de mulheres e crianças para a prostituição, assim como para outros tipos de serviços escravos, é que são vendidas para países considerados “guardiões” dos Direitos Humanos e de forte cunho religioso, como Israel, França, Itália, Alemanha, Suíça, Japão, Espanha, Portugal, Áustria, Suíça, EUA, etc. O que abala a fé na humanidade e mostra a hipocrisia das leis e crenças. Contudo, os EUA ainda são o país que aplica penas severas, quando descobrem casos de escravidão dentro de seu território. O Brasil ainda navega no “faz de conta que pune”.

Segundo estudiosos no assunto, a globalização tem sido responsável pelo crescimento do negócio escravo no mundo. Embora ela tenha facilitado o deslocamento de bens e divisas de um lugar para outro, as restrições para a imigração legal de pessoas em busca de trabalho tem sido severamente dificultada. E, com isso, a máfia do tráfico humano deita e rola na clandestinidade com o uso da internet e de contas bancárias. Não podemos negar que a globalização trouxe ao mundo muitos pontos positivos, assim como muitas mazelas vieram com ela. O objetivo primordial do mundo globalizado é o lucro, muitas vezes a qualquer preço, quando três bilhões de pessoas, quase a metade dos habitantes da Terra, tentam viver com 2 dólares por dia.

As desigualdades na distribuição da riqueza do planeta é outro fator preponderante no aumento da escravidão humana, assim como o esfacelamento de antigos países como a União Soviética, Iugoslávia, as guerras civis, o desabamento dos preços dos produtos de exportação dos países mais pobres, tendo que concorrer com os de países mais ricos (como exemplo podemos citar a venda de milho barato dos EUA para o México, desempregando os pequenos cultivadores de milho mexicanos), as catástrofes naturais (seca, terremotos…), etc. O México é hoje é um entreposto de entrada para a mercadoria humana, que anseia por encontrar trabalho nos EUA. Os migrantes têm se transformado em presa fácil para as numerosas gangs mexicanas que apreendem os documentos das pessoas e as forçam a trabalhar como escravas em fazendas distantes, levando as garotas para os prostíbulos, dentre eles o de Tapachula.

A escravidão por dívidas contraídas, feitas normalmente para pagar serviços médicos ou para arranjar trabalho em outros países, nunca tem fim, pois à dívida principal são acrescidos juros exorbitantes e cálculos desonestos.

Nota: Cerâmica do Vale do Jequitinhonha

Fontes de Pesquisa:
 National Geographic/ nº 41

Site para denúncia:
www.nationalgeographicBR.com.br/o3o9

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