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Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

ÍNDIA – INDIRA GANDHI E SUA FAMÍLIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Indira Gandhi era a única filha de Jawaharlal Nehru, o primeiro-ministro da Índia, após a libertação do país do domínio dos britânicos, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo mais alto no governo indiano.

Indira fora muito doente em sua mocidade, tendo contraído tuberculose. De modo que os médicos aconselharam-na a não ter filhos. Como fora muito só em sua vida, não quis aceitar tal destino. Almejava para si uma vida simples, sem as tensões que conhecera desde criança, com a família que haveria de formar. Tinha um aspecto frágil, apesar do nariz proeminente e uma mecha de cabelo branco na parte frontal da cabeça, que viria a ser parte de sua identidade.

Como companheiro, escolheu um parse chamado Firoz Gandhi, com quem se casou e teve dois filhos: Rajiv e Sanjey.  Seu pai foi contrário ao casamento, pois Firoz além de não ter fortuna, pertencia a outra religião e vinha de uma cultura diferente da hindu. Mas, na verdade, Indira e Firoz jamais foram religiosos. De modo que a religião não teve impacto na união dos dois, mas somente a infidelidade do marido.

Seu esposo era filho de um parse chamado Jehangir Gandhy, que mudou a ortografia de seu nome para Gandhi, sobrenome pertencente a uma casta de perfumistas, da qual viera Mahatma Gandi, o grande líder. O seu sobrenome Gandhi não tinha, portanto, nenhuma relação de parentesco com Mahatma Gandhi. Era apenas uma coincidência, por sinal muito “auspiciosa” e que a ajudou muitíssimo na sua carreira política.

Firoz e Indira, ao se casarem, transgrediram três tradições arraigadas na cultura do país:

  • não se quedaram à união arranjada pelas famílias;
  • nem se casaram segundo a exigência religiosa da fé de cada um;
  • não deram continuidade aos ditames da casta, como arranjo social.

Fatos que deixaram os hindus ortodoxos muito contrariados.

Ao ser nomeada primeira-ministra de seu país, já imaginava o rol de problemas que a aguardava:

  • seu país era um mosaico complexo de povoados com raças, idiomas, religiões e culturas as mais diversas;
  • era um território composto por 4.635 comunidades diferentes, cada uma vivendo dentro dos seus próprios costumes;
  • as desigualdades iam desde a pobreza extrema à corrupção velada em todas as camadas da sociedade;
  • a burocracia não deixava nada ir à frente;
  • o crescimento demográfico corria veloz, enquanto o país era castigado por calamidades naturais como a seca, e havia, praticamente, um deus (330 milhões) para cada um dos seus habitantes;
  • os vários anos de seca (ocasionados pela falta das monções) eram responsáveis pela escassez  de alimentos,  provocando a fome no país;
  • os ascetas hindus, com os corpos nus e cobertos de cinzas,  exigiam a proibição da matança de vacas em todo o território, sem respeitar a Constituição indiana, que rezava a igualdade para todas as religiões.

Em suma, a Índia era uma imensa panela de pressão, como se a sua independência houvesse trazido à tona todas as hostilidades de séculos e séculos anteriores, mantidas em banho-maria, em que a exploração de uma minoria por outra era o fato mais comum. Mas sua preocupação maior era o combate à fome.

Indira Gandhi herdara do pai o gosto pela política, sendo uma grande estrategista e pensadora.  Acabou com os últimos privilégios dos marajás, por achá-los inviáveis diante da pobreza vista no país. Angariando com isso muitos inimigos que depois tentariam tirá-la do poder.

Tornou-se uma grande líder política, conhecida em todo o mundo pela sua relevância. Chegou a medir forças com o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, que apoiou o Paquistão contra a Índia. Sendo também considerada como uma nas iniciadoras do programa nuclear de seu país.

O seu filho mais novo, Sanjay Gandhi, por quem ela demonstrava um carinho muito especial, era imprudente e arrogante, vindo a lhe trazer vários problemas, levando-a a tomar atitudes ilegais aos olhos do povo. E, imprudentemente, veio a perecer numa queda de avião, pilotado por ele.

Indira Gandhi foi morta, em 1984, por Beant Singh, um extremista sique (sikh), que era um de seus seguranças, em razão de uma disputa entre siques e hindus, sendo sucedida por seu filho mais velho, Rajiv Gandhi.

Rajiv espalhou suas cinzas sobre os picos brancos do Himalaia, onde ela pedira para ser jogado seu corpo, sem passar pela cremação ou enterramento, mas que em respeito às tradições hinduístas, fora cremado.

Indira Gandhi parece ter tido um presságio de sua morte, pois na própria noite em que morreu, havia dito num discurso:

“Não me importa se perco a vida a serviço da nação. Se morrer hoje, cada gota de meu sangue revigorará a nação.”

Sua vida política foi controversa, sendo discutível em vários pontos, de modo que os sikhs ainda se ressentem, de terem sofrido o mais sangrento genocídio da Índia, em um de seus governos.

(*) Imagem copiada de http://www.shaktisinhgohil.com/blog/indiraji_eng/

Fontes de pesquisa:
Wikipédia
O Sári Vermelho / Javier Moro

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ÍNDIA – HOLLYWOOD X BOLLYWOOD

  Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quem pensa que a indústria cinematográfica estadunidense é a maior do mundo, anda totalmente equivocado. O país indiano possui três grandes centros produtores de filmes: Calcutá, Mumbai e Madras. Juntos, lançam uma média de quase mil filmes anualmente. A maioria desses é falada na língua híndi.

A Índia, tanto em relação à venda de bilhetes como em número de filmes produzidos, é a maior indústria de cinema mundial. Os ingressos no país estão entre os mais baratos do mundo. Daí a sustentação que lhe dá o seu vasto público. No Brasil, é quase que impossível um assalariado ir ao cinema com a sua família pelo menos uma vez por mês, pois o preço do bilhete é abusivo, somado ao transporte e ao valor do lanche.

O país indiano é um mosaico de línguas e dialetos (mais de 1.500), o que leva os produtores de cinema a fazer seus filmes nas línguas mais faladas (híndi, tâmil, telugu, bengali, etc). Mas, nem tudo tem a cara da Índia, principalmente depois da globalização.

 A palavra Bollywood é aplicada somente ao cinema híndi, em comparação com o cinema de Hollywood (EUA), e não ao cinema indiano como um todo, como muitos pensam. O cinema híndi é o mais liberal de toda a Índia, principalmente por ter coragem de levantar temas polêmicos, de desagrado de grande parte dos indianos. É, também, o que possui maior público e reconhecimento internacional.

Bollywood, a Hollywood de Bombain (Índia), é surpreendentemente mágica, a ponto de desbancar o egocêntrico Tio Sam (EUA). É um prisma de cores, turbantes e sáris. O cinema híndi (um dos tipos do cinema indiano regional) goza de grande popularidade, tanto na Índia, quanto em várias partes do Oriente Médio, Paquistão, Reino Unido, Austrália, Estados Unidos e em muitos outros locais, onde a comunidade indiana se faz presente.

Dentre as várias características do cinema indiano, podemos destacar as cenas de música e de dança. Normalmente, as músicas expressam grandes paixões, que representam amores e tragédias. A melodia é determinante no sucesso dos filmes que possuem, geralmente, entre 2 e 3 horas de duração. O gênero varia entre ação, romance, suspense, comédia e o chamado “cinema de arte” (compromisso de alguns diretores com os temas inerentes às complicadas relações humanas existentes no país). Infelizmente, a Índia, apesar de sua riqueza étnica, sempre se inspirou no cinema ocidental. Hoje, ainda com mais força, principalmente em Bollywood, alguns diretores indianos chegam a ser acusados de plagiar filmes de Hollywood.

Bollywood mantém os mesmos ideais vistos em Hollywood: o compromisso de mostrar aquilo que o telespectador quer ver ou possuir (riqueza, mulheres deslumbrantes e fantasia). O que é uma pena, por se tratar de uma das mais ricas e milenares culturas do mundo. Teria muito a mostrar em originalidade, sem a necessidade de passar pela imitação. Apesar disso, a sua cultura ainda se faz presente. Torçamos para que jamais perca a sua identidade.

Existe censura no cinema indiano, mas ela não é oficial.  Todo filme passa, sutilmente, por um grupo de censores. A Índia, país emergente em todos os sentidos, é cheia de contradições profundas. As minorias são ignoradas, a homossexualidade é ilegal e a religião hinduísta anda de braços dados com o Estado.

Nota: Imagem copiada de http://www.cinemadicto.com.br

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ÍNDIA – HINDUÍSMO E SADHUS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O Hinduísmo é a principal religião da Índia, professada por mais de 80% dos indianos. Sua importância é tamanha, que se usa o termo “hindu” (seguidor do hinduísmo) com o mesmo significado de “indiano”. Trata-se de uma mistura de vários tipos de crenças e diversos estilos de vida, originários das várias tradições étnicas que habitam a Índia. O Hinduismo é conhecido há mais de 3.000 anos a.C., e não possui fundador. Seus livros sagrados são os Vedas e os Upanishads. Ocupa o patamar da terceira maior religião do mundo (depois do Cristianismo e do Islamismo), em relação ao número de seguidores, e está disseminado, principalmente, pela Índia, Nepal, Paquistão, Sri Lanka e Indonésia.

Fundamentos básicos do Hinduísmo:

1-  Cada pessoa possui um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. Sua trajetória depende das ações de cada um, de acordo com a Lei do Carma, onde a toda ação corresponde uma reação.

2-  Até atingir a libertação final (moksha), o indivíduo passa continuamente por mortes e renascimentos, cujo ciclo é chamado de Roda de Samsara, da qual só sai após atingir a Iluminação.

3- Os rituais compõem-se de dois elementos principais: Darshan, que é a meditação/ contemplação da divindade, e o Puja (oferenda).

4- A alimentação vegetariana é um de seus pontos principais, pois é livre da impureza (morte/sangue), Todo alimento deve ser antes oferecido aos deuses, não se pode ofertar algo que seja “sujo”.

5- O mais importante mantra é o OM, (sílaba sagrada) que representa o próprio nome de Deus, sendo a semente de todos os mantras e o princípio da criação, pois dele derivou toda a matéria.

 As preces são entoadas como cânticos no idioma sânscrito (língua morta), que deu origem ao hindi e a um grande número de dialetos praticados na Índia. Recebem o nome de mantras, que são dirigidos a diversas divindades, ou estimulam qualidades pessoais. Em geral, são entoados 108 vezes e, para sua contagem é utilizado o japa-mala (colar de contas), confeccionado em sândalo ou com sementes de rudraksha (árvores consideradas de bom augúrio). O Hinduísmo enxerga o nascimento de um indivíduo, dentro de uma determinada casta, como resultante de um Carma que ele está a cumprir, pelo que fez nas vidas anteriores. Quanto mais se sobe na hierarquia das castas, maiores responsabilidades o hindu passa a ter. As castas são as seguintes:

1-   Brâmanes – é a casta superior, composta por filósofos e educadores que têm uma vida dedicada aos estudos e obrigações sociais.
2-    Kshatriya – casta composta por administradores e soldados.
3-   Vaishya – casta composta por comerciantes e pastores.
4-   Sudras – casta composta por artesãos e trabalhadores braçais.

Os Intocáveis (ou Dalits) não fazem parte de nenhuma casta, cabendo a eles os serviços considerados sujos pela cultura indiana.

Os brâmanes são os únicos responsáveis pelos rituais religiosos hindus, assumindo as posições de destaques nos seus templos, uma vez que a cobrança da roda da vida é maior para os mais habilitados.

Antigamente, o sistema de castas era seguido como lei, mas depois que Mahatma Gandhi contestou-o, em nome dos direitos humanos, a mobilidade social começou a dar alguns frágeis passos no país.

O Hinduísmo é uma religião politeísta (presença de vários deuses). Dentre as suas principais divindades encontram-se:

Brahma – representante da força criadora do Universo, a alma universal.
Matsya – responsável por ter salvado a humanidade da destruíção.
Vishnu – responsável pela manutenção do Universo, também conhecido como “o preservador”.
Ganesha – responsável pela prosperidade, inteligência, intelecto e a capacidade de superar obstáculos.  É representado como um ser com corpo de homem e cabeça de elefante. Simboliza a união entre o masculino e o feminino (ou os princípios Shiva e Shakti), pois sua tromba é uma forma fálica e a boca é a forma receptora.
Shiva – deus supremo, também visto como “o destruidor”. Representa o princípio masculino. É o deus da morte, da destruição e das transformações profundas. Sua atuação é fundamental, pois do caos que promove é que nasce a nova vida.

Os sadhus são tidos como homens “santos”, que renunciam ao mundo e vagueiam em busca de sabedoria e iluminação.  São devotos de Shiva e costumam andar seminus com os cabelos compridos e emaranhados. Dedicam-se à prática da ioga, que seria uma expressão da dança de Shiva.

 Na visão hinduísta, a vida é um eterno retorno, que gira em volta de ciclos homocêntricos, terminando com a iluminação. Portanto, os hindus não veem os problemas da existência como castigo ou pecado, mas como uma chance de a alma amadurecer, para chegar à iluminação, posição alcançada por poucos. De modo que as várias facetas existenciais são tidas como transitórias. Uma das principais características do Hinduísmo é a sua capacidade de absorver novos elementos,pois tanto a influência muçulmana quanto a cristã já se fazem presentes nos dias de hoje, levando-o a se dividir em várias correntes.

Somente diante do conhecimento da crença hinduísta podemos compreender a posição de servilismo e submissão em que se encontram os dalits. Tudo aceitam como um meio de alcançar, no próximo retorno, uma vida melhor. A revolta impediria o amadurecimento espiritual,  assim prega a religião hinduísta.

Nota: Imagem retirada de http://photos.merinews.com

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ÍNDIA – GANESHA, LAKSHMI E OUTRAS DIVINDADES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O hinduísmo faz parte das cinco maiores religiões do mundo. No entanto, ela contém uma característica bem incomum às outras: é politeísta (mesmo acreditando em um deus superior, ela possui vários outros).

A abundância encontrada no hinduísmo, nos seus mais variados aspectos, também se manifesta em seu conceito de Deus. Em sua forma mais filosófica, alguns enxergam o conceito da divindade hindu como panteísta (o panteísmo é uma doutrina, segundo a qual só Deus é real, sendo o mundo apenas um conjunto de manifestações ou emanações Dele. Sustenta, pois, a idéia da crença em um Deus que está em tudo, ou a de muitos deuses representados pelos múltiplos elementos divinizados da natureza e do universo).

A divindade não é um ser pessoal, mas uma força, uma energia que está presente em tudo. O lado politeísta é a crença num grande número de deuses e deusas, apesar de todos serem considerados símbolos do Brahman. Apesar de que, cada divindade poder aparecer de várias formas, todas são partes do espírito universal, o Brahman.

O hinduísmo permite que cada hindu escolha a forma de culto que lhe aprouver. Pessoas de diferentes regiões adoram divindades diferentes e possuem sua própria forma de culto, porém, todos devem cultuar o deus Brahman (o deus supremo).

O hinduísmo possui quatro objetivos principais:

  • Dharma (viver de maneira correta)
  • Artha (almejar ganhos materiais através de meios legais)
  • Kama (prazer dos sentidos)
  • Moshka (ser liberto da reencarnação)

E quatro deveres diários:

  • reverenciar as divindades;
  • respeitar os ancestrais;
  • respeitar todos os seres;
  • honrar todos os seres humanos.

Eu me pergunto, onde ficam os “dalits” (intocáveis) nos deveres diários? Que “ser” eles representam?

Em relação ao Universo, acreditam os hindus que ele é parte do divino e, como tudo é parte de Deus, logo Deus está presente em todas as coisas: animais, minerais e vegetais. O hinduísmo vê a alma como parte do divino, embora individual. Portanto cada ser é parte de Deus.

Vejamos alguns deuses:

  • Brahman – não é um deus como o dos cristãos. Ele é impessoal e impossível de ser descrito. E é o único deus supremo.
  • Vishnu, Shiva e Brahma – são diferentes formas e nomes do deus supremo. Esta trindade está acima de todos os outros deuses. Brahma é responsável pela criação do Universo, enquanto Vishnu preserva-o. E o deus Shiva, representado pelo deus da dança, é responsável pela destruição do Universo. Tudo acontece num ciclo eterno, de modo que um inexiste sem o outro.
  • Krishna e Rama – são muito venerados e reverenciados. Sendo que Krisna é um dos doze avatares (encarnações) de Vishnu.
  • Kali – é uma divindade feminina muito poderosa, chamada de “deus-mãe”, encarnação de Vishnu.
  • Maha Lakshmi – esposa de Vishnu – é a deusa da riqueza, da fartura e da prosperidade espiritual. Representa a qualidade rajástica (atividade), possui a energia feminina, necessária para garantir a preservação da Criação.
    Com seus quatro braços, ela dá a bênção e distribui moedas. Segura uma flor de lótus, representando sabedoria e proteção.
  • Ganesha – é muito adorado pelos hindus, sendo uma mistura de humano com elefante, invocado para retirar todos os problemas, assim como é o deus das novas venturas. Possui alta capacidade de raciocínio. Seus quatro braços destroem as pedras (obstáculos) do caminho. Ele ajuda no desenvolvimento espiritual e auxilia no desapego material. Uma lenda explica a razão de ter ele uma cabeça de elefante, que o leva a penetrar nos mais emaranhados obstáculos.

Conta a lenda que Shiva (outro nome do deus supremo) decapitou por engano Ganesha, por não reconhecer nele seu filho. Na hora, só foi possível encontrar uma cabeça de elefante para ser colocada no lugar da cabeça perdida. O deus-elefante é, portanto, o primeiro filho de Shiva (Xiva). Sendo responsável por proteger os comerciantes, aumentar a prosperidade, remover qualquer tipo de obstáculo e trazer prudência, sabedoria na política e sagacidade em tudo.

Ganesh Chaturthi é dos mais populares festivais hindus. Pois Ganesha é:

  • a personificação da sabedoria e da bem-aventurança;
  • remove todos os obstáculos no caminho do aspirante espiritual;
  • está acima de todas as adorações, bem como no sucesso espiritual.

No hinduísmo existe uma série de divindades com os mais variados tipos: sobre-humanos, sobrenaturais, com aspectos humanos, com aspectos animais, com aspectos dos elementos da natureza (fogo, água, ar, terra) e toda uma variedade de outros aspectos, que vão desde a parte homem à parte animal, assim como seres de quatro braços, quatro pernas, oito braços, oito pernas, mil cabeças e assim por diante. Tal estrutura, firmada nesse panteão de deuses, possui uma sólida composição, através da qual se determina grande parte do comportamento ético, social e religioso dos hindus.

Nota: Imagem copiada de http://iconacional.blogspot.com.br/2009/01/assim-como-cultura-mitologia-hindu.html

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ÍNDIA – DOUTOR AMBEDKAR X GANDHI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O culto do herói é o caminho seguro para a degradação e, mais adiante, para a ditadura. (Ambedkar)

Embora Gandhi e o doutor Ambedkar tivessem lutado contra a discriminação feita aos dalits (párias, intocáveis), houve um momento na história indiana em que estiveram em lados opostos, quanto à maneira de travar tal luta. O que foi tremendamente negativo para a vida dos intocáveis.

Gandhi foi um dos maiores críticos da exclusão social, chegando a chamar os intocáveis de harijans (filhos de Deus). E em seus discursos dizia:

  • “Considero a intocabilidade a maior mácula do hinduísmo.”, e
  • “do fundo do coração, odeio o repugnante sistema da intocabilidade pelo qual milhões de hindus se tornaram responsáveis.” e ainda:
  • “Não quero renascer. Mas se precisar nascer de novo, gostaria de nascer um intocável, para poder partilhar as tristezas, os sofrimentos e as afrontas que lhes são impostos e para que eu possa me esforçar para libertar a mim e a eles dessa miserável condição.”.

 Mas, como integrante da casta vaixa, Gandhi nunca deixou de acreditar no sistema de castas (é bom lembrar que os párias não possuíam castas). Sendo essa uma das razões, pelas quais ele não é visto pelos dalits como um herói. No entanto, o doutor Bhimrao Ramji Ambedkar é idolatrado pelos dalits, que possuem pendurado em seus casebres ou junto a seus molambos, uma figura desse grande homem que foi um contemporâneo de Gandhi.

Embora muito pouco conhecido no Ocidente, Dr. Ambedkar ficou conhecido em todo o país, como o “pai da Constituição indiana”, promulgada em 1950. Foi o primeiro a fundar um partido político para os dalits. Ele se torna muito mais admirado, à medida que vamos tomando conhecimento de sua aguerrida trajetória. Idolatrado pelo dalits, era malvisto pela elite daquele país, que o acusava de ter dividido a sociedade indiana.

A morte era o castigo para um dalit que aspirasse à instrução. As Leis de Manu determinavam que, se algum intocável chegasse a ouvir palavras em sânscrito, a linguagem dos livros sagrados, deveria ser executado mediante o derramamento de chumbo derretido nos ouvidos.

O pequeno Ambedkar, como dalit, parte da poeira dos pés de Brahma, não poderia ter nascido, senão em uma das miseráveis aldeias, que proliferavam em toda a Índia, numa família de 14 irmãos. Foi, com muita dificuldade, autorizado a instruir-se. E estudou com tamanho esforço, a ponto de conseguir o bacharelato na Universidade de Bombaim. A seguir ganhou uma bolsa de estudo para a Universidade de Colúmbia, em Nova York.

Deixando os EUA já como Ph.D., foi para a Universidade de Londres, onde obteve o grau de doutor em Ciências e passou a fazer parte da renomada London School of Economics, vindo a ser o famosos Dr. Ambedkar da Índia. Ao retornar a Bombaim (atual Mumbai), trazia consigo graus de doutor, obtidos nos EUA e Inglaterra, começando a trabalhar como advogado.

Como era de se esperar, Dr. Ambedkar tomou para si a causa dos dalits. Ele tinha a certeza de que, mesmo com outro nome (filhos de Deus), os intocáveis continuariam sendo o detrito do hinduísmo, caso não houvesse medidas profundas nas leis. Para conseguir seu intento, sabia ser necessário que houvesse uma separação radical entre o Estado e a religião. E, num dos seus veementes discursos, desafiou o sistema de castas, queimando um exemplar do Código de Manu.

O governo britânico, que até então governava a Índia, passou a ouvir com acuidade as reivindicações do bravo dalit, a ponto de permitir a participação das castas inferiores (não dos dalits) no sistema político do país. E se mostrava propenso a discutir as outras propostas de mudança. Durante os quatro longos anos necessários à redação da Constituição, o subcontinente foi sacudido pela mudança. Os britânicos partiram e, ao longo de toda essa devastadora turbulência, o trabalho de redigir a Constituição prosseguiu. Foi nesse exato contexto, que Gadhi passou a fazer oposição ao modo de luta, usado pelo Dr. Ambedkar, para conseguir os mesmos fins, que ambos buscavam.

Gandhi, muito fervoroso, receava que uma mudança na política das castas pudesse acabar com o hinduísmo. Diante de tal receio, iniciou uma “greve de fome até à morte”, se necessário fosse, para que tal medida não fosse aprovada. Ambedkar tinha conhecimento da multidão que seguia o grande líder. Pressentindo que ele estava ficando cada vez mais fraco e, para evitar mais confrontos sangrentos, optou por recuar, abrindo mão de sua mais desejada aspiração. E, mesmo conseguindo os direitos garantidos pela Constituição indiana, não houve, de fato mudança na vida dos dalits.  A lei tornou-se de direito, mas não vigorou de fato, pois a postura de Gandhi impediu que as mudanças acontecessem, na prática.

Dr. Ambekar e Gandhi convergiram pelo fato de que:

  • O primeiro sabia que somente uma mudança radical de mentalidade poderia resolver a questão social de seu povo.
  • O segundo sabia que uma mudança radical exigiria o abandono do modelo religioso e seu consequente enfraquecimento.

Gandhi atacou as castas, chamou os intocáveis de “Filhos de Deus”, mas não foi tão longe na luta pelos direitos dos dalits, quanto foi o Dr. Ambedkar, no sentido de fazer com que a igualdade, a liberdade e a dignidade se estendessem sobre o povo indiano, de modo que todo homem fosse visto como cidadão.

A República Soberana da Índia foi proclamada formalmente em 26 de janeiro de 1950, governada por uma Constituição que garante (entre aspas) que:

  • O Estado não negará a nenhuma pessoa igualdade diante da lei;
  • O Estado não discriminará nenhum cidadão por motivo de religião, raça, casta ou sexo;
  • A “intocabilidade” fica abolida, e sua prática, sob qualquer forma, é proibida.

A Índia estava preparada para ir às urnas para a primeira eleição geral. Naquela grande ocasião, o advogado “intocável” que redigira a Constituição do país recordava ao povo da Índia, que ela seria apenas um pedaço de papel enquanto, não ficasse inscrita no coração dos cidadãos. E assim tem sido até os dias de hoje.

Desiludido e impotente diante do poderio hinduísta, Dr. Ambedkar, o apóstolo da causa dos excluídos, acabou por abandonar a religião do Hinduísmo, com a qual não mais se afinava, abraçando o Budismo. Seguiram-no centenas de milhares de intocáveis. Época em que muitos outros intocáveis abraçaram o Cristianismo ou o Islamismo.

Nota: Imagem copiada de
http://www.buddhambedkar.com/apps/photos/photo?photoid=123926078

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ÍNDIA – CULTURA MILENAR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O mundo começará a mudar, quando os ocidentais se interessarem um pouco menos pelas coisas materiais, e os orientais um pouco menos pelo sagrado, e quando, juntos, se preocuparem um pouco mais com a vida real dos humanos. (Shafique Keshavjee)

A civilização indiana é uma das mais antigas do nosso planeta. É impossível escrever sobra a Índia, país de grandes contrastes, sem levar em conta a diversidade de línguas, hábitos e o modo de vida da população, o que não impede que haja uma grande unidade  cultural no país.

Embora cada Estado indiano possua o seu próprio modo de expressar em relação à arte, música, linguagem e culinária, o povo indiano possui muito apego a sua pátria, grande orgulho e amor por ela, assim como é grande a devoção pelos seus ancestrais. E é exatamente por isso que suas tradições tornam-se vivas e fortes, incompreensíveis para nós ocidentais.

A Índia possui muitos símbolos, deidades e rituais.  A grande maioria desses é relativa ao Hinduísmo (religião predominante), seguidos pelo Islamismo e o Budismo. Somente o estrangeiro que estuda a cultura indiana com afinco poderá entender o significado de seus símbolos, mas é obrigação moral dos indianos (pertencente às castas) se dedicarem ao conhecimento da simbologia cultural de seu país.

Principais símbolos

Deepak – é uma lamparina, tradicionalmente feita de cerâmica, que representa o corpo humano, porque assim como o barro, também viemos da terra. O óleo é queimado nela como um símbolo do poder da vida. Uma deepak traz-nos a mensagem de que toda pessoa no mundo deve remover a escuridão da ignorância, fazendo o seu próprio trabalho, ou seja, lutando pela sua espiritualidade.

Om – representa o poder de Brahma, pois é o som da criação, o princípio universal entoado no começo de todos os mantras. Dizem que esse som permeia o cosmos. É o número um do alfabeto, é o zero que dá valor aos números, é o som da meditação.

Flor de lótus – presente em muitas imagens, devido ao fato de crescer na água pantanosa e suja, jamais afetada por ela, ensina-nos que devemos ficar acima do mundo material, apesar de viver nele. As centenas de pétalas do lótus representam a cultura da “unidade na diversidade”.

Suástica – embora pareça ter laços com o nazismo, é na verdade um símbolo de auspiciosidade, bem-estar e prosperidade. Sendo vista como uma bênção.

Divindades – com seus muitos braços, cada um deles carregando objetos ou armas, símbolos em si (como o lótus, o livro) indicam as direções. A maioria representa os quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste.

Ashramasignifica a vida do indiano que é dividida em quatro fases:

  • infância;
  • juventude (que é absolutamente devotada aos estudos, não existindo namoro nessa fase);
  • tempo de se constituir família que é pela tradição, arranjada pelos pais (hábito que está caindo em desuso, aos poucos);
  • velhice, época em que a vida é dedicada à realização espiritual.

Taj Mahal  – é o  maior cartão postal indiano. É uma construção muçulmana, um monumento ao amor, construído por certo rei para sua amada, que morreu prematuramente. É uma das maravilhas do mundo, ele é feito com mármore branco e ricamente decorado com pedras preciosas.

A dança indiana inclui elementos descritivos, onde são narradas aventuras de deuses e heróis míticos. São esses os principais instrumentos indianos:

  • de cordas –  tambura (tampura);
  • de sopro – flautas e uma espécie de oboé;
  • os mais importantes tambores – o mridangam e o tabla;
  • o tala é o gongo indiano.

Entre os mais importantes musicistas indianos estão Ali Akbar Khan e Ravi Shankar.

A Índia é uma diversidade colorida, uma mistura de línguas, religiões, sáris e turbantes, além de arquiteturas diferentes, que exigem um olhar mais atento para a sua diversidade. A princípio, o estrangeiro pode achar que um sári é sempre igual ao outro, mas um olhar mais aguçado mostrará que, de acordo com a crença, um modo de amarrar difere do outro, como acontece, também, com os turbantes usados pelos homens.  Em suma, a Índia é um país místico, cheirando a incenso e cheio de guirlandas, com santos vagando pelas ruas, características que convivem lado a lado com um povo extremamente progressista, que gosta da modernidade e com uma identidade cultural única no mundo. Mas nem tudo é santidade naquele país, onde o sistema de castas é um símbolo de atraso e crueldade.

Nota: Imagem copiada de http://cinema-indiano-bollywood.blogspot.com.br

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