Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Cézanne – SUA VIDA AMOROSA

Autoria deLu Dias Carvalho

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Quando estava com 30 anos de idade, Cézanne ficou conhecendo, em Paris, a jovem morena de grandes olhos escuros, Hortense Fiquet, de 19 anos. Ela exercia a profissão de encadernadora e nas horas vagas trabalhava como modelo para alguns pintores, sendo muito paciente ao posar, o que chamou a atenção do artista, que era moroso em suas pinturas. O namoro aconteceu às escondidas do pai do pintor, mas com a anuência da mãe e da irmã Marie, pois o primeiro jamais aceitaria uma mulher pobre para o filho. Mas apesar de seu contato com Hortense, ele continua tímido com as mulheres.

O casal permaneceu junto em L`Estaque, uma vila de pescadores, na baía de Marselha, durante a guerra franco-prussiana, para onde o pintor foi, para evitar o alistamento militar. Ali, ele pintou inúmeros quadros que já mostravam a passagem de seu estilo romântico ou expressionista para uma nova maneira de pintar. Ele deixava para trás as temáticas mais agressivas, cheias de paixões.

Três anos após a união entre Cézanne e Hortense, nasceu Paul, o único filho do casal, época em que os três foram morar em Pontoise, nos arredores de Paris, atendendo o convite do amigo Camille Pissarro, que teve grande influência na vida de Cézanne e em sua pintura. Depois, a convite do Dr. Gachet, um jovem médico que adorava arte e ajudava muitos artistas, dentre eles Van Gogh, a família foi morar em Auvers-sur- Oise.

Ao abrir mão de seus trabalhos em Paris, Cézanne passou a trabalhar em Aix e L`Estaque, mas estava sempre visitando sua mulher e filho em Marselha, embora até ali, seu pai nada soubesse sobre a existência dos dois, continuando a ajudá-lo em suas despesas, já que sua arte continuava rejeitada por críticos e público. Dezessete anos após uma vida em comum com Hortense Fiquete, Cézanne resolveu se casar com ela e reconhecer o filho dos dois, já com 14 anos de idade. Seus pais participaram da cerimônia de casamento, realizada na cidade de Aix.

Hortense Piquet não gostava da vida rotineira do povoado, mas do mundo agitado de Paris, ficando o pintor sozinho em Aix. Tampouco partilhava da paixão do marido pela pintura e pelas letras. Também não dava bem com a mãe e as irmãs de Cézanne. Por isso, ele se tornava cada vez mais arredio com as mulheres, e, à medida que envelhecia, ia se afastando de Hortense, e ficando cada vez mais apegado à mãe e à irmã preferida. Renunciou, inclusive, a usar os modelos femininos.

Em 1906, quando estava pintando ao ar livre, Cézanne foi encontrado inconsciente, depois de uma tempestade. Embora voltasse a pintar no jardim de sua casa, morreu uma semana depois, aos 67 anos de idade. Na ocasião, sua esposa Hortense Fiquet e o filho Paul encontravam-se em Paris. Tanto Hortense quanto Paul serviram de modelo a Cézanne em vários de seus quadros.

Fontes de pesquisa
Cézanne/ Coleção Folha
Cézanne/ Abril Coleções
Cézanne/ Girassol
Cézanne/ Taschen

Nota: Pintura com Hortense Fiquet, Cézanne

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Mestres da Pintura – PAUL CÉZANNE

Autoria de Lu Dias Carvalho

PAUCE

Cézanne foi tão somente meu único mestre (Pablo Picasso)

Talvez tenha nascido cedo demais. Sou mais pintor de sua geração do que da minha. (Cézanne a um jovem pintor)

A idade e a saúde não me deixarão realizar o sonho de arte que persegui durante toda a minha vida. (Paul Cézanne)

O pintor francês Paul Cézanne (1839 – 1906) era filho do exportador de chapéus Louis-Auguste Cézanne, que depois tornou-se banqueiro, e de Anne-Elisabeth-Honorine Aubert, tendo nascido na pequena cidade de Aix-en-Provence. Teve duas irmãs, Marie e Anne, nutrindo uma relação mais forte com a primeira, que sempre tomava o seu lado, em relação ao autoritarismo do pai. Cézanne e Marie nasceram quando seus pais ainda mantinham uma relação secreta.

Como o pai de Cézanne ascendesse financeiramente, ele passou a estudar numa boa escola. Paralelamente aos estudos na nova escola, Collège Bourbon, onde ficou até os 19 anos, tendo recebido uma importante formação humanista, passou a estudar artes com o professor Joseph Gibert, na École Municipale Livre de Dessin de Aix, onde foi premiado com a segunda colocação, o que estimulou a sua veia artística. Foi aí que se tornou amigo do futuro escritor Émile Zola, que ali estava em companhia do pai e de Jean-Baptiste Baille, futuro engenheiro. O trio tornou-se muito unido. A amizade entre eles era tamanha, que, quando Zola, após a morte trágica do pai, retornou a Paris, Cézanne caiu em profunda depressão, passando os dois a corresponderem-se com assiduidade.

O pai de Cézanne era tido como um homem severo, que não mantinha com o filho relações próximas. Ele exigiu que o filho fizesse o curso de direito. Após frequentar a universidade durante três anos, Cézanne acabou por abandoná-la. Depois dos pedidos incessantes da mãe e da irmã Marie, seu pai acabou por lhe dar permissão para se dedicar à pintura, em Paris, ao lado do amigo Zola. Lá, estudou na Académie Suisse, onde se preparava para ingressar na Escola de Belas-Artes. Fazia visitas ao Louvre, copiando os grandes mestres: Ticiano, Tintoreto, Rubens, Veronese, Poussin, Coubert e Delacroix. Além de ter sido reprovado, o futuro artista, introvertido e provinciano, não se adaptou à capital francesa, retornando a Aix, onde continuou pintando e ajudando o pai no banco.

Com a ascensão econômica, o pai de Cézanne comprou uma propriedade, o Jas de Bouffan, onde foi morar com a família. Coube ao filho pintor decorar com painéis o salão da nova morada, tendo escolhido como tema as quatro estações. Um ano depois, voltou a Paris, onde permaneceu cerca de dois anos. Ali encontrou-se com os pintores Monet, Bazille, Degas, Renoir, Sisley, Pissarro, entre outros, passando a frequentar o Café Guerbois. Também chegou a participar do Salão dos Recusados, pois suas obras também não eram aceitas pelo Salão de Paris, com suas rígidas normas acadêmicas. Teve apenas uma única obra sua exposta naquele lugar. E mesmo no Salão dos Rejeitados, ou nas exposições que fazia, suas pinturas eram motivo de ácidas críticas pelos julgadores e zombaria por parte do público visitante.

O pai de Cézanne morreu seis meses após o casamento do pintor com Hortense Fiquet, depois de seu filho esconder dele essa união e paternidade por mais de 16 anos, pois necessitava que esse o ajudasse, uma vez que não conseguia vender seus quadros. Deixou uma grande herança, que foi dividida entre os três filhos. Mesmo assim, ele continuou vivendo solitário, e levando uma vida simples.

Em 1886, quando estava com 47 anos, Cézanne teve uma grande decepção com o amigo Émile Zola, que já era um reconhecido escritor. No seu romance L´ouvre, ele tinha como protagonista um pintor, denominado Claude Lantier, cujo perfil correspondia ao de Cézanne. E pior, era descrito como um artista conturbado por sua vida particular, sendo inábil para finalizar sua obra-prima, endoidecendo-se e, ao final, pondo um fim na própria vida. Segundo Cézanne, havia passagens na obra, que eram fatos reais vividos por ambos. Assim foi por água abaixo uma das maiores amizades cultivadas entre artistas daquela época. Mas, para alegria de Cézanne, esse também foi o período em que suas obras passaram a ser valorizadas por alguns círculos da cultura francesa, sendo visto como um importante pintor.

Anos depois, em uma das exposições de Cézanne, onde se encontravam 150 obras do pintor, Zola, em meio aos críticos detratores, qualificou o antigo amigo de “pintor fracassado”, sem lmostrar-lhe qualquer tipo de consideração. Contudo, Cézanne foi aclamado por outros artistas, grandes figuras do impressionismo, recebendo também o elogio dos mais jovens, entre os quais se encontrava Matisse. Também esteve presente na inauguração da Torre Eiffel, com o apoio do amigo Victor Chocquet, quando foi um dos participantes da Exposição Universal de Paris, com o seu quadro A Casa do Enforcado. No ano seguinte, participou da importante exposição Les XX, em Bruxelas.

Mesmo com o sucesso, o artista tornava-se a cada dia mais retraído e solitário, distanciando-se dos outros pintores, estando também vitimado pela diabetes. Saía pouquíssimo de casa. O que lhe importava era sua arte. Era ela que sustentava seu espírito. Onze anos após a morte do pai, ele perdeu a mãe. Por sua vez, o contato com a esposa e o filho, que viviam em Paris, tornava-se esporádico. Suas relações eram pouquíssimas, o que aumentava ainda mais sua solidão. Hortense Piquet não gostava da vida rotineira do povoado, mas da vida agitada de Paris, ficando o pintor sozinho em Aix, onde se sentia à vontade, ao lado de seus vizinhos que o admiravam, pessoas que com ele crescera, levando uma vida simples, longe da metrópole francesa e das ácidas críticas dos julgadores e do público, referentes à sua arte, que eles não compreendiam. E muitos desses seus amigos posaram para ele em suas pinturas, como seu jardineiro.

Cézanne sofria de diabetes, doença que aumentava sua irritabilidade. Em 1906, quando estava pintando ao ar livre, nos seus queridos campos da Provença, foi surpreendido por uma tempestade, com chuva fina, num dia de muito frio, sendo encontrado inconsciente. Foi socorrido por lavradores que o levaram até Aix. Embora debilitado, voltou a pintar no jardim de sua casa, mas foi acometido por uma pneumonia. Morreu uma semana depois, aos 67 anos. Na ocasião, sua esposa Hortense Fiquet e o filho Paul encontravam-se em Paris, não chegando a tempo para vê-lo vivo. Foi homenageado no Salão de Outono, com a exposição de 10 obras suas.

Fontes de pesquisa
Cézanne/ Coleção Folha
Cézanne/ Abril Coleções
Cézanne/ Girassol
Cézanne/ Taschen
A história da arte/ E.H. Gombrich

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Velázquez – AS FIANDEIRAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição As Fiandeiras, também conhecida como A Lenda de Aracne, é a composição mais intrincada do pintor espanhol Diego Velázquez, possibilitando inúmeras interpretações. Apresenta uma cena na tapeçaria e loja Juan Alvarez, em Madri. Segundo a lenda, Aracne era uma exímia fiandeira, mas muito pretensiosa. Ao tecer uma tapeçaria em que Júpiter, em forma de touro, raptava Europa, deixou Atena, também conhecida por Minerva, muito chateada. E por isso foi castigada.

Inicialmente os estudiosos do pintor achavam que o tema central da obra era a oficina de fiação, em primeiro plano. Em segundo plano encontra-se uma habitação, tendo uma imensa tapeçaria ao fundo, que está sendo observada por três damas ricamente vestidas. Estudos posteriores chegaram à conclusão de que a tapeçaria é na verdade uma cena mitológica, estando as fiandeiras à frente da mesma. Há quem diga que o artista teve como objetivo, ao compor tal obra, aludir à situação dos pintores espanhóis, que, no século XVII, eram ainda vistos como artesãos.

Na composição mitológica, em segundo plano, Minerva, usando um capacete, levanta a mão para transformar a fiandeira numa aranha, no momento em que esta lhe mostra a tapeçaria em questão. Estão presentes no local outras figuras femininas, a testemunharem o fato, que alguns aludem simbolizar as quatro belas-artes, mas não há nada que confirme isso. A mulher, que vira o rosto para as fiandeiras complica ainda mais a interpretação do quadro.

Na oficina, representando a vida real, duas fiandeiras e três assistentes preparam a lã para executar os trabalhos de tecelagem, trabalhando com fios, rocas e fusos. Elas se mostram tranquilas e habilidosas, sem se aterem ao quadro às suas costas ou ao observador. Uma delas, de pé, à esquerda, segura uma cortina vermelha, possibilitando a visão de outro espaço. Não é possível ver os raios da roca, em razão da rapidez dos movimentos. O artista pensou em tudo, mas deixou um enigma a ser resolvido, quanto ao real significado da obra.

Curiosidade
A lenda de Aracne está relatada nas Metamorfoses, obra do poeta romano Públio Ovídio, encontrando duas edições na biblioteca de Diego Velázquez.

Ficha técnica
Ano: 1657
Dimensões: 220 x 289 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Velázquez/ Taschen
Velázquez/ Coleção Folha
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemamm

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Velázquez – O PRÍNCIPE BALTAZAR COM SUA ANÃ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Príncipe Baltazar com sua Anã, obra do pintor espanhol Diego Velázquez, retrata o herdeiro de Filipe IV e Isabel de França,  ainda bebê, ao lado de uma anã de sua corte. O príncipe teria um ano e meio na época em que foi retratado.

O principezinho encontra-se sobre um rico tapete, debaixo de um pomposo cortinado drapeado, como se formasse acima dele um dossel. Veste um suntuoso traje de gala, complementado por uma longa faixa carmesim. No pescoço traz uma placa armoriada como colar.  O pequenino carrega na mão direita um bastão de comando, indicativo de seu futuro cargo, e repousa sua mão direita no punho de uma espada, indicativa de seu papel futuro de comandante dos exércitos de seu reino. Seu capacete de couro e plumas encontra-se sobre a rica almofada vermelha.

À frente do príncipe bebê está uma outra criança, em primeiro plano, que vira a cabeça ligeiramente para trás, a fim de observar seu futuro rei. Trata-se de uma criança anã, possivelmente do sexo feminino. Ela traz na mão direita um chocalho e na esquerda uma maçã, numa alusão ao cetro e ao globo imperiais que um dia pertencerão ao futuro monarca.

O príncipe Baltazar é a figura mais importante da composição. Sua pele loira é realçada por suas vestes escuras com bordados dourados e pela faixa vermelha que ostenta. A anã, por sua vez, usa uma vestimenta verde-escuro com um avental branco, fazendo com que o príncipe destaque-se ainda mais. É o futuro rei com seu objeto de brinquedo – a anã.

Nesta composição, Velázquez não usa a forma rígida comum aos retratos reais. Aqui ele mostra fluidez no movimento e profundidade, como fosse uma brincadeira entre os dois personagens.

Ficha técnica
Ano: 1631
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 128,1 x 102 cm
Localização: Museum of Fine Arts, Heri Lillie Pierce Foundation, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Velázquez/ Taschen
Velázquez/ Abril Coleções
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Velázquez – STO. ANTÔNIO ABADE E SÃO PAULO EREMITA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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                                             (Cliquem sempre nas obras para ampliá-las)

A composição Santo Antônio Abade e São Paulo Eremita é uma obra do pintor espanhol Diego Velázquez. É provável que tenha sido encomendada para ornamentar o eremitério de São Paulo, no Bom Retiro. Trata-se do primeiro quadro do artista com um grande fundo de paisagem. As figuras vistas em primeiro plano mostram-se bem desenhadas e sólidas, enquanto as de segundo plano não passam de meras pinceladas que as sugerem.

Há muita semelhança entre esta pintura de Velázquez e a obra do mesmo nome, feita por Albrecht Dürer, gravura sobre madeira, em cerca de 1503 e que se encontra em The Metropolitan Museum of Art, Nova York, USA (gravura à direita). Em ambas se encontram os dois santos e o corvo carregando o pão para os eremitas. Nesta pintura o artista faz uso de um reluzente branco de chumbo que, aplicado em finas camadas, mal cobre as tramas da tela. O artista representou na mesma composição várias cenas da vida dos dois eremitas, mas, infelizmente, nem todas são perceptíveis ao observador.

Começando pelo fundo, observando a primeira cena:

1- Santo Antônio procura por São Paulo, e encontra pelo caminho, à margem do rio, um centauro, a quem pede informações;
2- mais à frente, Santo Antônio depara-se com uma personagem com dois cornos, rabo e pés de bode.
3- à direita, dentro da grande rocha, que fica atrás de São Paulo, em primeiro plano, o santo bate à porta da gruta ali escavada;
4- santo Antônio encontra-se com São Paulo, com suas vestes singelas e pés descalços e cajado no colo. Assentados, põem-se a orar. Enquanto isso, um corvo traz no bico um pedaço de pão para os dois homens santos;
5- dois leões, tendo um deles somente a cabeça visível, cavam a sepultura de São Paulo, que jaz deitado, enquanto Santo Antônio reza junto a seu corpo sem vida.

Ficha técnica
Ano: c. 1636-1644
Dimensões: 261 x 191,5 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Velázquez/ Taschen
Velázquez/ Coleção Folha
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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Velázquez – VELHA FRITANDO OVOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Velha Fritando Ovos, composição do pintor espanhol Diego Velázquez, é um exemplo de seu brilhantismo no que diz respeito às cenas de gênero. É considerada uma das grandes obras que compõem o seu trabalho. Trata-se de uma cena doméstica, bem comum ao cotidiano das pessoas e, por isso, chegou a ser criticada à época, pois “rebaixava a arte a conceitos vulgares”, como afirmou o artista Carducho. O pintor gostava de pintar os chamados “bodegones” que se referiam aos quadros representando cozinhas, tabernas, alimentos e bebidas, personagens do povo, vendedores e cozinheiros, principalmente.

A cena acontece numa cozinha em Sevilha, com a presença de dois personagens: uma senhora idosa – supostamente sogra do pintor – e um rapaz. O jovem, pela posição do corpo, parece estar chegando ao local no exato momento em que a senhora frita os ovos. O olhar de um não é dirigido ao outro, pois ambos olham para pontos diferentes. Todos os detalhes dos objetos mais importantes foram observados registrados pelo pintor, a exemplo do carvão em brasa debaixo da panela com ovos e a sombra da faca no prato branco.

A tela apresenta um fundo escuro, trazendo na parte superior uma cesta de junco com um pano amarrado a ela e, mais à direita, duas conchas são vistas penduradas. Sobre a mesa encontram-se um jarro de vidro, uma jarra de cerâmica, um almofariz de bronze, uma tigela branca com uma faca sobre ela, uma cebola e pimentas. Chama a atenção a sombra deixada por esses objetos. O artista faz uso de uma luz forte e focada – uma novidade à época – reforçando o naturalismo da pintura em que as diferentes formas, texturas e superfícies parecem adquirir vida própria.

A senhora idosa – já com os traços marcados pelo tempo –  está sentada de frente para o alguidar (vaso de barro ou de metal, baixo, em forma de tronco de cone invertido), sobre o qual se encontra o fogareiro com carvão e sobre esse uma panela de cerâmica com dois ovos dentro, boiando na gordura, à esquerda da mesa. E traz na mão esquerda um ovo, enquanto, com a direita, segura a colher de pau. Seu olhar está voltado para fora do espaço da tela.

O rapaz veste roupas escuras, com uma camisa branca interna, cujas gola e mangas à vista reforçam sua presença no local, de modo a não fundi-lo com a cor do fundo. Traz na mão direita, junto ao corpo, um melão atado com uma fina corda que capta a atenção do observador, enquanto na esquerda segura uma garrafa de vinho caseiro. Os personagens e objetos presentes na cena compõem uma estrutura ovalada, sendo que o melão, o caldeirão de cobre encostado no alguidar e o almofariz trazem grande luminosidade à composição.

A mulher, apesar de sua simplicidade, mostra uma grande dignidade. A presença da idosa e do menino lembram a transitoriedade da vida. O ovo na mão da senhora evoca a inconstância das coisas terrenas e uma vida após essa, conforme simbologia da época.

É grande a influência de Caravaggio na obra inicial de Velázquez, no uso do claro-escuro. Contudo, as obras do pintor espanhol não trazem a impetuosidade do italiano, ao usar luz disseminada e cores em tons terrosos, tratando tanto os seres quanto as coisas do mesmo modo.

Ficha técnica
Ano: 1618
Dimensões: 99 x 128 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: The National Gallery of Scotland, Edimburgo, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Velázquez/ Taschen
Velázquez/ Coleção Folha
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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