Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Rubens – O JARDIM DO AMOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Jardim do Amor, obra do pintor Peter Paul Rubens, reflete a sua felicidade depois de, aos 53 anos de idade, viúvo, casar-se com uma garota de 16 anos. Não é à toa que tantos querubins esvoaçam pela tela, pintada logo após o casamento do artista francês. Ao contrário da maioria das obras de Rubens O Jardim do Amor que também foi conhecida como A Corte dos Prazeres de Vênus, não foi feita sob encomenda, mas para o deleite do próprio pintor que recupera a sua alegria existencial ao lado de sua nova e graciosa mulher.

A composição retrata o modo de viver dos ricos da época. A cena é ambientada num jardim. À esquerda da tela um mancebo enlaça sua companheira loira pela cintura, tentando convencê-la de algo ou estão a dançar. E à direita um casal suntuosamente vestido desce as escadas em direção ao grupo de amigos. No centro do quadro um grupo animado de quatro mulheres — também ricamente vestidas — ouve as canções do tocador de alaúde. Para alguns Helene, a nova esposa de Rubens, é a mulher de azul que se abaixa levemente, tentando tocar o querubim.

As mulheres estão vestidas de acordo com a moda francesa da época: vestidos longos e rodados, com amplos decotes que deixam à vista grande parte dos ombros e do colo. A presença de espadas na composição indica que os personagens pertencem à nobreza ou à aristocracia. Inúmeros querubins — todos nus — nas mais diferentes posições adejam em volta do grupo. Um deles empurra um casal; outro se encontra no colo de uma mulher; outro espalha flores; outros parecem participar da conversa; e muitos deles voam numa imensa alegria.

De acordo com os historiadores todos os personagens femininos presentes na composição são parecidos com a nova esposa do pintor: nariz reto, olhos meio protuberantes e cabelos aloirados. O que leva a crer que o artista pintou sua esposa na companhia de suas irmãs. Os personagens masculinos também são muito parecidos e trazem as mesmas características do artista, ou seja, na composição Rubens faz uma homenagem a si e a sua esposa, embora à época, ele se mostrasse bem mais velho do que aparenta na pintura.

No canto superior direito há uma fonte, sendo que a água desce do peito da deusa Vênus que por sua vez encontra-se montada num golfinho. Ela é o símbolo da fertilidade e o animal simboliza os jogos de amor incansáveis. O escudo visto na varanda também simboliza Vênus e os anjos — tidos como irmãos de Cupido — são também filhos da deusa.

Certos historiadores acreditam que na composição O Jardim do Amor, o pintor mostra a transformação de sua esposa Helene de menina para noiva, esposa e mãe. Baseando-se nessa suposição, eles deduzem que assim se desenrola o ciclo das mudanças:

  1. a garota de pé, sendo empurrada por um cupido, está sendo convidada pelo admirador para abrir mão da timidez e se sentar;
  2. já moça, ela está assentada na grama, com a mão sobre o joelho do amado, tendo o olhar para fora da tela, olhando para o observador (no caso o pintor);
  3. já casada, ela desce orgulhosamente as escadas, acompanhada pelo marido.

Acreditam também que as três mulheres no centro do quadro seriam uma representação das três formas de amor: o apaixonado, o sereno e o maternal que é aquele que traz o Cupido no colo.

O argumento de que a composição baseia-se numa ode ao amor está: na presença dos anjinhos com pombos que simbolizam o amor conjugal; a tocha de Himenau que é o deus do casamento; as flores nupciais; a presença do cãozinho ao lado do casal que desce as escadas e que simboliza a fidelidade; e o pavão (do qual só se vê só o pescoço, logo acima do personagem com capa vermelha) que simboliza a deusa Juno — protetora do casamento.

Curiosidades:
Na época em que este quadro foi pintado, o ideal feminino exigia que as mulheres fossem gordas, ou seja, tivessem formas arredondadas, um pescoço forte, peitos bem avantajados, mãos brancas, cabelos abundantes e encaracolados, sendo o loiro cinza a cor preferida das madeixas. Mostrar os ossos não era de bom tom.

Os jardins eram muito importantes no século XVII, pois refletiam o status social de seus proprietários. Havia quatro tipos de jardins, de acordo com a classe social do dono:

  • horta com ervas medicinais e legumes — pertencentes às pessoas comuns;
  • horta com ervas medicinais, legumes e trilhas para caminhadas — pertencentes às pessoas com melhores condições;
  • parque com grutas, pavilhões e gazebos — pertencentes aos aristocratas e ricos burgueses;
  • lagoas artificiais e residências secundárias — pertencentes aos príncipes e reis.

As pessoas consideravam bela e atraente apenas a natureza domesticada, por isso, os jardins eram repletos de fontes, balaustradas, estátuas e grutas artificiais. Ali as pessoas passavam grande parte de seu tempo, principalmente os enamorados — ocasião em que podiam ter mais privacidade. Os jardins também eram palcos para os piqueniques, serenatas e jogos pastorais.

Ficha técnica
Ano: 1632/1634
Dimensões: 198 x 283 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Rubens/ Abril Coleções

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Gauguin – O NASCIMENTO DE CRISTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em seu quadro, O Nascimento de Cristo, também conhecido como Te Tamari no Atua, Gauguin retrata um tema bastante difundido na arte cristã – A Natividade. A composição é dividida em duas partes: superior e inferior, com a predominância do azul e do amarelo.

Na parte inferior, uma mulher nativa, vestindo um sarongue azul, provavelmente Maria, está deitada sobre uma cama. Ela parece dormir. Traz a mão esquerda sobre o peito e a direita estendida para cima.

Na parte superior da composição, o menino Jesus está sendo segurado por uma mulher nativa, de vestes brancas, assentada sobre uma cadeira, ao lado da cama de Maria. Uma terceira mulher aparece na cena. Ela se encontra de pé, com vestes escuras e uma flor branca nos cabelos, contemplando o Menino Jesus.

No lado superior direito da tela, em segundo plano, encontra-se um estábulo com um boi e um burro. As auréolas douradas que envolvem a cabeça de Maria e a do Menino remetem à divindade dos personagens.

Ficha técnica
Ano: 1896
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 96 x 128 cm
Localização: Neue Pinakothek, Munique, Alemanha

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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Gauguin – A VISÃO DEPOIS DO SERMÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho guin1

Para mim, neste quadro a paisagem e a luta existem apenas na imaginação das pessoas rezando, como resultado do sermão. (Gauguin)

Creio ter alcançado nos rostos uma grande simplicidade rústica e supersticiosa. O conjunto é muito austero. (Gauguin)

O quadro de Gauguin intitulado A Visão depois do Sermão, também conhecido como A Luta de Jacó com um Anjo, tem como temática uma passagem do Gênesis. Para alguns críticos sua nova temática marca a passagem da pintura do artista da fase impressionista para a simbolista.

No lado esquerdo da composição em primeiro plano há um grupo de majestosas mulheres bretãs rezando. Algumas delas estão de costas para o observador. No lado direito é possível ver um perfil semelhante ao do pintor, única figura masculina mostrada em meio ao grupo de mulheres que ora em razão da luta de Jacó com o anjo. O que pode ser traduzido como a luta do homem contra o diabo ou contra si mesmo.

O embate acontece debaixo de uma macieira, num chão de cor vermelha. O grupo de bretãos reza, enquanto a peleja acontece. O tronco forte da macieira atravessa em diagonal o quadro, interpondo-se entre os devotos e os lutadores, delimitando o espaço entre o real e o imaginário.

As mulheres vestem roupas tradicionais da Bretanha: vestidos pretos, aventais e toucas brancas, cujas pontas e fitas caem-lhes pelas costas. O anjo, vestido de azul, trazendo enormes asas amarelas abertas, subjuga Jacó que usa uma túnica verde. Ao fundo, na parte superior esquerda, duas mulheres, vestidas como as demais, estão assentadas com as mãos cruzadas sobre o colo, acompanhando a luta. As cores da composição são fortes e contrastantes.

Já nesta obra Gauguin inicia o novo conceito que passa a ter sobre a pintura: o sintetismo. Tanto a paisagem quanto os personagens são feitos com manchas de cor delimitadas, contornadas com um sutil traço preto, diferentemente dos impressionistas que usavam as pinceladas para demarcar o espaço. Também fica explícita na luta entre Jacó e o anjo a influência dos lutadores de sumô do pintor japonês Hokusai.

A Visão depois do Sermão manifesta a maneira de ver a arte por parte de Gauguin: simbólica, sintética, subjetiva e decorativa. Em suma: o antinaturalismo. À cena real, composta pelo grupo saindo da igreja, ajunta-se a simbólica, que é a luta entre Jacó e o anjo.

Ficha técnica:
Ano: 1888
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 73 x 93 cm
Localização: National Gallery of Scotland, Edimburgo, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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Gauguin – O PINTOR E SUA ARTE

 Autoria de Lu Dias Carvalhogauguin12

Quero fazer uma arte simples, muito simples. Para isso, preciso recuperar minhas forças em contato com a natureza virgem, ver apenas como os selvagens vivem a sua vida, sem nenhuma preocupação, com a simplicidade de uma criança que traduz as fantasias da mente, com o único meio real e eficaz: aqueles da arte primitiva. (Gauguin)

Pouco a pouco, a civilização sai de mim. Estou começando a pensar com simplicidade e a ter apenas um resto de intolerância para com os outros – começo até a amá-los. Gosto de toda a felicidade dos seres humanos de vida livre e dos animais. Fujo do artificial e entro na natureza: com a certeza de um amanhã similar a hoje, tão livre e tão belo, a paz vem a mim. Minha vida corre naturalmente e não tenho mais pensamentos vazios. (Gauguin)

Depois de Gauguin, a pintura deixou de ser um simples instrumento de descrição e conhecimento da natureza, e se converteu também na abstração dessa mesma natureza, em expressão livre das emoções e da imaginação do artista. (ArtBook/ Gauguin)

Paul Gauguin estreou na pintura aos 28 anos de idade. Começou colecionando obras dos pintores impressionistas, usando a pintura como passatempo. Também gostava de estudar os velhos mestres no Louvre. Suas primeiras obras tratavam de temas ligados à vida familiar. Mas tinha em casa a indiferença da mulher, Mette, que não compartilhava de sua euforia pela arte.

Era na índole índia que se dava a busca do artista pelo primitivo, pois, para ele, o essencial era o valor simbólico das linhas, que indicavam a estrutura primária da realidade. Não mais se prendia à simples imitação da natureza. Por isso, acabou perdendo o apoio de amigos como Theo e Degas, que não foram capazes de compreender sua nova pintura simbólico-abstrata. E, por não receber o sucesso que julgava merecer, foi se tornando um crítico cada vez mais ácido da civilização que o ignorava. O pintor abraçou uma nova concepção pictórica: o sintetismo (as formas são simplificadas, sendo a ideia mais importante do que a realidade. São usadas linhas grossas e traços escuros que delimitam as formas, criando compartimentos de cor).

Gauguin passou por momentos dramáticos, quando se viu distanciado dos filhos e vitimado pela indiferença da mulher, que não aceitava a sua dedicação extremada à pintura. Aliado a isso, não contava com o apoio dos amigos, que não aceitavam sua nova maneira de pintar. Somente a aceitação de um grupo pequeno de pintores, em Le Pouldin, na costa da Bretanha, serviu-lhe de incentivo. Em certos períodos da arte do pintor, as paisagens marinhas, as naturezas-mortas e a vida no campo lembram a xilogravura japonesa de Hokusai, Hiroshige e Kuniyoshi, talvez pela convivência com Van Gogh, admirador e colecionador desse tipo de arte japonesa.

Quando esteve em Mateia, próxima a Papeete, capital do Taiti, Gauguin uniu-se a uma garota maori, Techura, que trouxe muita inspiração para seus quadros, ambientados na cabana em que juntos viveram. Essas obras acabaram atraindo os simbolistas. O pintor era também um grande ceramista. Aprendeu com Ernest Chaplet, um hábil ceramista, o uso de técnicas japonesas de cozimento em fogo vivo, e com Bracquemond  aprendeu a arte do entalhe. Também se dedicou à fundição em bronze. Suas criativas obras mostraram-se extravagantes para o público da época, trazendo para o artista pouco lucro. Também foi notável na escultura, que trazia influência das culturas pré-colombianas e da arte japonesa.

Em seu estilo sintético, Gauguin simplificava a realidade, pintando de memória, pois não era mais necessário pintar do natural. Enquanto os impressionistas pintavam postando-se diante do objeto, ele o fazia através da imaginação, sem se ater à forma e às cores da realidade. Tinha liberdade plena para sintetizar aquilo que lhe ditava suas emoções, ou seja, aquilo que elas suscitavam na sua memória.  Não tinha preocupação com a perspectiva, os matizes, as sombras ou os claros-escuros. A tinta era espalhada por superfícies planas, delimitadas por contornos escuros.  Segundo alguns, era o início do longo caminho que levaria, tempos depois, ao nascimento da arte abstrata. Gostava da natureza selvagem e dos fortes contrastes. Mas seus quadros não eram bem aceitos no mercado. A maioria dos críticos e do público parecia não compreender sua arte.

Logo após as primeiras mostras póstumas do pintor, ficou evidente que sua obra exerceria uma grande influência na arte do século XX. Os nabis (grupo de artistas da segunda geração simbolista, cujo nome significa “profetas”, “inspirados”) proclamaram-se seus discípulos. Também ganhou a admiração de pintores como Pablo Picasso e Henri Matisse, assim como dos expressionistas alemães. Pouco antes de morrer, Gauguin recebeu uma carta do amigo Manfred que dizia:

“Presentemente o senhor é o artista fascinante e misterioso que envia do Taiti as suas obras, confusas, mas inigualáveis. São criações de um grande homem, que parece praticamente desaparecido do mundo. O senhor goza da imunidade dos Grandes já mortos, entrou na história da arte.”.

Gauguin é tido como um dos pioneiros do Modernismo, ao evidenciar a ligação entre a arte e a vida, o que viria a dominar o mundo pictórico do século XX, ficando patente a sua advertência:

Um conselho, não copiem muito a natureza. A arte é uma abstração. Preocupem-se mais com a criação do que com o resultado.

Nota:  Mulheres do Taiti (1891)/ Gauguin

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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Gauguin – SUA RELAÇÃO COM VAN GOGH

 Autoria de Lu Dias Carvalho

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Sentia-se, de certa forma, a iminência de uma colisão entre as nossas duas naturezas: uma vulcânica, outra inquieta, intimista. Achava em tudo e em todos os lugares uma desordem que me incomodava. A caixa de tintas continha tubos mal espremidos e, apesar do caos e da confusão, uma harmonia fluía de suas telas. (Gauguin sobre Van Gogh)

Devo algo a Vincent. Com a certeza de tê-lo ajudado na confirmação das minhas ideias de pintura e nos momentos difíceis, a lembrança dele me diz que há alguém mais infeliz do que qualquer um de nós. (Gauguin)

Theo van Gogh foi o primeiro comerciante de arte a se interessar realmente pelo trabalho de Gauguin. Comercializava suas obras de cerâmica e suas telas, o que lhe permitia sobreviver. Também o incentivou a ir para Arles, onde se encontrava seu solitário irmão Vincent van Gogh, prometendo-lhe comprar o que ele produzisse. Ali, os dois pintores planejaram formar uma comunidade de artistas. Mas Gauguin adiava sempre a sua ida para o lugar, deixando Van Gogh cada vez mais impaciente. Somente quando as dívidas ficaram cada vez maiores é que ele resolveu ir ao encontro do pintor holandês.

 Embora tivesse ficado pouco mais de dois meses em Arles, o encontro entre Gauguin e Van Gogh foi ao mesmo tempo desgastante e rico, trazendo um novo impulso para a pintura dos dois. A situação piorou, quando os sonhos de Van Gogh, em manter uma colaboração duradoura com o pintor francês, vieram por terra, com a partida desse. A participação de Gauguin no episódio em que diz que o pintor holandês tentou agredi-lo com uma lâmina de barbear, posteriormente se automutilando, ainda é obscura. O fato é que ele ficou tão horrorizado com a atitude de Vincent, que regressou imediatamente a Paris, atitude que já estava prestes a ser tomada, e nunca mais voltou a vê-lo, embora viessem a trocar correspondência depois.

O encontro entre os dois gênios não foi fácil, pois cada um queria fazer valer a sua superioridade na pintura, o que tornava as discussões intermináveis, e acirrava o conflito. Eles se utilizavam de obras um do outro, para mesurar a capacidade artística de cada um. Van Gogh tinha grande admiração pelo amigo e sobre ele comentou: “Tudo o que faz tem algo de suave, enternecedor, surpreendente. As pessoas não o compreendem ainda, e ele sofre com o fato de não vender nada – como outros verdadeiros espíritos poéticos.”.

O fato é que Van Gogh e Gauguin tinham almas diferentes. O primeiro, introspectivo, era dotado de uma emoção à flor da pele e sua paixão refletia com intensidade em sua arte, enquanto o segundo distanciava-se da condição humana em sua arte, procurando fora de si a harmonia e a felicidade. Assim, quando Gauguin resolveu abandonar o projeto que envolvia os sonhos de Van Gogh de trabalhar com colegas sob o sol de Arles, o pintor holandês entrou num profundo estado depressivo.

O temperamento artístico de Gauguin era caracterizado pela artificialidade e pela megalomania, além da ânsia pelo sucesso. Ele estava sempre em busca de algo que valorizasse a sua arte. Por isso, não se fixava em lugar algum, sempre se sentido desprestigiado.  Enquanto Van Gogh conseguiu transformar a vida e a arte numa só unidade, ele não atingiu tal objetivo. Tampouco considerou valioso o tempo, que passou com o pintor holandês, considerando-o “uma má experiência” e uma “concessão” ao negociante de suas obras: Theo van Gogh, irmão de Vincent.

Muitos estudiosos da pintura atestam que Van Gogh foi responsável pela mudança no uso da cor por parte de Gauguin. E esse, que não gostava de pintar ao ar livre, incentivou o colega holandês a pintar, apoiando-se nas sensações, na memória e no olhar.

Nota: Vincent van Gogh Pinta Girassóis – Gauguin

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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Mestres da Pintura – PAUL GAUGUIN

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Muitas pessoas encontram proteção porque se mostram frágeis e sabem como pedir ajuda. Ninguém me protegeu, porque me consideravam forte e porque fui demasiado orgulhoso. (Gauguin)

 Devo lembrar que existem duas naturezas em mim: a índia e a sensível. A sensível desaparece de forma que a índia passa a proceder com firmeza. (Carta de Gauguin a Matte)

 O pintor francês Eugène Henri Paul Gauguin (1848-1903) era filho do jornalista e cronista político Clovis Gauguin e de Aline-Marie Chazal, cuja família pertencia à nobreza espanhola que se mudou para o Peru na época da conquista daquele país. Tinha uma única irmã, Marie, dois anos mais velha do que ele. Sua origem era mestiça (francesa, espanhola e peruana). Sua avó, que militava na defesa dos indígenas, era filha de um nobre peruano.

 Clovis e Aline, com medo de que Luís Napoleão, a quem se opuseram politicamente, chegasse ao poder, embarcaram para o Peru levando os filhos ainda bebês (Gauguin tinha pouco mais de um ano). Mas Clovis não aguentou a dureza da viagem, morrendo no navio em consequência de um aneurisma. Ainda assim, sua mulher seguiu para Lima com os dois filhos e ali foi morar com o tio-avô das crianças. Depois de permanecer 4 anos no Peru, onde colecionava cerâmicas, Aline retornou a Paris com os dois filhos, após a morte do sogro, para receber a herança que lhe cabia.

 Gauguin que vivera sua primeira infância numa terra exótica, com traços do mundo pré-colombiano, ao se mudar para Orleans viu-se num mundo totalmente diferente, local em que permaneceria até os 7 anos de idade. Dali mudou-se para Paris com sua mãe e irmã, onde frequentou o curso preparatório para a Escola Naval. E já como aprendiz de oficial fez uma viagem de 13 meses ao redor do mundo. Sua mãe morreu, enquanto ele viajava, ficando ele e sua irmã sob a tutela de Paul Gustave Arosa, que além de fotógrafo era também colecionador de pintura moderna.

 Apóa abandonar a Marinha, o tutor de Gauguin aconselhou-o a trabalhar como corretor da Bolsa de Valores. Aos 25 anos de idade, o futuro artista casou-se com a dinamarquesa Mette Sophie Gade que lhe fora apresentada por Arosa, e com quem teve cinco filhos. Mas, apesar do sucesso como corretor, Gauguin apaixonou-se cada vez mais pela pintura. E como tivesse uma boa situação financeira, passou a colecionar arte moderna e aprendeu técnicas artísticas com o escultor Jules Bouillot. Comprou obras de Cèzanne, Sisley, Monet, Manet, Pissarro, Renoir e de outros impressionistas. Amigo dos pintores Camille Pissarro e Edgar Degas, foi convidado por eles para participar da quarta exposição do Impressionismo. Tal contato incentivou-o a pintar com mais frequência, além de adquirir obras impressionistas para a sua coleção. Foi iniciado por Pissarro na técnica do paisagismo.

Quando ocorreu a quebra da Bolsa de Paris em 1883, Gauguin viu-se desempregado e daí para a frente dedicou-se inteiramente à pintura. Com as dificuldades batendo à porta, mudou-se para Rouen com sua família, mas a situação continuou difícil. Meses depois foi para a Dinamarca, terra natal de sua esposa, com a família, onde também não obteve sucesso. No ano seguinte voltou a Paris, depois da separação definitiva da mulher, levando consigo o filho Clovis, de seis anos. Mette ali permaneceu com os filhos, dando aula de língua francesa para sobreviver. Mas, embora separados, o casal manteve correspondência, na qual ela expunha sua mágoa em razão do egoísmo do pintor que punha sua família de lado, para se dedicar à pintura, levando uma vida errante em busca de culturas primitivas e selvagens. Era visto pela família como uma ovelha errante. Gauguin era incapaz de exercer uma profissão burguesa, assim como tomar conta de uma família. Mesmo quando herdou de um tio certa quantia, preferiu investi-la na sua carreira artística a ajudar sua família.

 Gauguin desejou conhecer outras terras para recuperar o primitivismo de antes. Foi assim que, depois de visitar sua esposa e filhos em Copenhague, partiu para a Polinésia Francesa, onde se encantou com a paz, a beleza e o sossego do lugar, mas os problemas de saúde (úlcera, sífilis, infecção nos olhos, além do abuso do álcool e da morfina) assim como os financeiros fizeram-no retornar à França, depois de conseguir uma passagem de terceira classe com o Ministério do Interior francês, levando na bagagem significativa produção pictórica. Assim, aos 45 anos de idade, Gauguin voltava a restabelecer-se na França. Dois anos depois voltaria definitivamente para a Oceania, pois sua natureza mestiça preferia o primitivismo à arte ocidental.

 Gauguin teve que trabalhar em Paris afixando cartazes para sobreviver. Retomou contato com os impressionistas e participou da última exposição do grupo. Dois meses depois deixou o filho Clovis, doente, com sua irmã Marie, sendo depois apanhado pela mãe. Rumou para a região da Bretanha, na costa atlântica francesa, decisão que muito influiu na sua vida artística. Ao retornar a Paris, acabou rompendo relações com alguns nomes do Impressionismo, distanciando-se da corrente, enquanto acompanhava o surgimento do Simbolismo. A seguir, viajou para o Panamá, onde as dificuldades obrigaram-no a trabalhar como operário no Canal do Panamá. Dali foi para a Martinica, colônia francesa na América Central, onde reviveu sua infância no Peru e as viagens de sua juventude, imbuindo-se de muitos estímulos criativos. Mas, após contrair disenteria e malária, viu-se obrigado a voltar para a França, período em que se tornou amigo dos irmãos Van Gogh, quando Theo tornou-se seu marchand e Vincent seu amigo.

 Ao receber a notícia de que sua filha Aline morrera, Gauguin ficou profundamente abalado, chegando a culpar Mette pelo acontecimento, sem levar em conta a sua ausência na vida dos filhos, sendo um pai praticamente inexistente. Também chegou a pensar no suicídio em razão de suas dificuldades financeiras e do pouco apreço da crítica e do público por sua arte. Escreveu numa carta a um amigo: “Sem um comerciante de arte, sem alguém que se encarregue de me assegurar a subsistência, o que pode me acontecer? Não vejo outro caminho senão a morte: ela me liberta de tudo”.

 Gauguin também se envolveu com suas modelos nativas, tendo dois filhos fora do casamento com Mette. Também não lhes deu importância, abandonando-os, pois, para ele, a arte esteve sempre acima da família. No final da vida é possível notar o presságio da morte na obra de Paul Gaugin  que morreu aos 55 anos de idade, nas Ilhas Marquesas, depois de ter sofrido dois ataques cardíacos. Dizem que os nativos lamentaram muito a sua morte.

 Filmes sobre Gauguin
A lua e seis cêntimos/ Albert Lewin
Ânsia de viver/ Vincent Minnelli
A vida de Gauguin/ Henning Carlsen

 Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

Nota: autorretrato de Gauguin

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