Autoria de Lu Dias Carvalho
Nada me põe tão feliz como contemplar e pintar a natureza. Imagine que, quando vou para o campo e vejo o sol e o verde e flores por todo lado, digo para mim: tudo isto é realmente meu! (Henri Rousseau)
O pintor francês Henri-Julien-Félix Rousseau (1844-1910) era o terceiro filho de Julien Rousseau, um funileiro, e de Eléonore. Frequentou a escola primária e o liceu de Laval, cidade onde nascera, mas como seus pais viviam em frequentes mudanças após a falência da empresa familiar, foi enviado para um internato. Contudo, quando os Rousseau mudaram para Angers, o jovem foi trabalhar num escritório de advocacia, mas, após afanar uma pequena quantia em dinheiro e selos, teve que cumprir um mês de prisão em Nantes.
Henri Rousseau alistou-se como voluntário no serviço militar em Angers, onde permaneceu por sete anos, só sendo dispensado após a morte do pai, época em que se mudou para Paris e tornou-se empregado oficial das diligências Radez. Casou-se aos 25 anos com Clémence Boitard, uma costureira, tendo com ela cinco filhos, mas somente a filha Júlia sobreviveu. Dois anos após o casamento, ele se mudou para Paris, ali se empregando na alfândega e, posteriormente, tornando-se funcionário da instituição.
Presume-se que o primeiro contato de Rousseau com a pintura deu-se quando ele estava com 28 anos de idade. Já na casa dos 40 anos, o futuro artista, recomendado por Féliz Clément, um premiado pintor, ganhou autorização para copiar pinturas em vários museus, inclusive no Louvre. Um ano depois, ele participou do “Salão dos Recusados”, entidade criada por pintores independentes, que tinham sido excluídos do grande Salão. Em virtude de sua composição “Clémence, Valsa com Prelúdio para Violino e Mandolina”, ele recebeu o diploma da Academia Literária e Musical da França.
Rousseau foi recomendado pelo pintor Maximilien Luce a participar do “Salão dos Independentes” de 1886, com quatro de suas obras, dentre elas “Uma Noite de Carnaval” que, juntamente com “Tarde de Domingo na Ilha da Grande Jatte”, obra de Georges Saurat, tornou-se a grande atração do evento, quando muitos críticos compararam-no aos pintores renascentistas. O famoso artista Camille Pissarro tornou-se um dos seus admiradores. Contudo, a crítica a seu trabalho era intensa, mas isso não o fazia desistir, embora se fechasse em si próprio, escondendo seu sofrimento interior, que ele repassa às suas pinturas, que são tão intovertidas e enigmáticas como ele.
Posteriormente, as obras de Rousseau ganharam a atenção de Odilon Redon, importante pintor do simbolismo. Com sua pintura “Eu Próprio, Retrato-Paisagem” recebeu a admiração do pintor Paul Gauguin. E com seu quadro “Surpreendido!”, a sua primeira pintura em que entra a temática sobre a selva, recebeu elogios de Félix Valloton, pintor e gravurista suíço. A sua alegoria “Comemoração do Centenário da Independência” recebeu comentários de Arsène Alexandre, crítico de arte francês.
Henri Rousseau, já aos 50 anos, expôs a pintura “A Guerra”, sua obra principal. Nessa época, ficou conhecendo o poeta Alfred Jarry que, juntamente com Rémy de Gourmont, poeta e dramaturgo francês, publicou a litografia na revista “L’ Ymagier”. Mais tarde, Thardée Natanson, jornalista e crítico de arte, fez um comentário sobre sua pintura “Cigana a Dormir”. Na sua obra, a fantasia e o fantástico tomam lugar num pano de fundo exótico e, embora se mostre ingênua e infantil, ela traz em si, por vezes, certa malícia.
Tendo perdido a primeira esposa, o artista casou-se, aos 55 anos de idade, com a viúva Joséphine-Rosalie Nourry, que vende as obras do marido em sua papelaria. Nessa época, Rousseau causou grande impressão no pintor Auguste Renoir com o quadro “Surpresa Desagradável”. Tornou-se professor, ensinando pintura de porcelana e de miniaturas. “Explorador Atacado por Tigre” é o segundo quadro do artista tendo a selva como temática. As suas obras mais conhecidas são aquelas que descrevem cenas da selva, ainda que ele nunca tenha deixado a França e, portanto, jamais conheceu uma selva de verdade.
No Salão de Outono, Rousseau expôs algumas obras, dentre elas o famoso quadro “O Leão Faminto”. Nessa época ficou conhecendo o pintor Robert Delaunay e o poeta Guillaume Apollinaire. Seu ateliê passou a ser frequentado por mecenas, literatos e artistas vanguardistas. Foi homenageado por Picasso com um banquete. Continuou recebendo encomendas de pessoas famosas. Morreu aos 66 anos, vítima de septicemia.
O aduaneiro Henri Rousseau era um pintor amador, sem nenhuma formação acadêmica, por isso era chamado pelos críticos de “ingênuo”, termo usado para pintores sem treinamento formal em arte. A sua preocupação era com o objeto vislumbrado. Por isso, pintava o que via e como o via. A natureza era a sua grande mestra. Muitas vezes foi visto como um artista naïf . E foi na sua maneira de criar espontaneamente, trocando o conhecimento acadêmico pelo sentimento, que encantou seus admiradores, dentre os quais se encontravam Camille Pissarro e Odilon Redon. Nutria grande predileção pela combinação entre as cores preto, branco, vermelho e verde.
A vida do artista não foi fácil, pois mesmo os independentes, vistos como de vanguarda, desdenhavam de seu trabalho, não reconhecendo nele um gênio autodidata. Ao organizarem as obras de arte, durante as exposições, colocavam as obras de Rousseau em salas secundárias, de modo a não serem percebidas pelos visitantes. Na exposição de 1893, se não fosse pela intervenção do artista Henri Toulouse-Lautrec, que alertou o grupo para o cumprimento de seus estatutos, ele não teria sido admitido. Mas o deboche só contribuiu para que as obras de Rousseau tornassem-se cada vez mais conhecidas.
Alfred Jarry, André Breton, Guillaume Apollinaire, Robert Delaunay e Pablo Picasso estavam entre os mais fervorosos admiradores de Rousseau. Mais do que qualquer outro artista, ele se rebelava contra os valores estabelecidos. Talvez seja por isso que seria tão aclamado entre os artistas modernos do início do século XX e até os dias de hoje.
Fonte de pesquisa
Rousseau/ Editora Taschen
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