NÃO OLHE PARA UM ÚNICO FOCO DE LUZ!

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

O lugar em que vivi as experiências da luz acesa no brejo, relatadas no texto O BREJO, A GUERRA E O RÁDIO, ficava no sítio de meu avô paterno, no bairro dos Fernandes, em Corrupira (Jundiaí/SP), lugar em que vivi dos nove aos quatorze anos (1938-1943).

Por mera casualidade, esse sítio foi, muitos anos mais tarde, adquirido por um grande filósofo, educador, escritor e teólogo catarinense: Huberto Rhoden (1893 – 1981). Fui conhecê-lo. Era realmente uma figura humana que causava forte impressão. Além de sua cultura vastíssima e do invejável domínio da palavra, sua imagem era imponente: seu porte ereto e grande, sua basta cabeleira já estava toda branca. Seus olhos azuis pareciam estar sempre focados no infinito. Seu tom de voz era sempre profético. Tudo fazia desse homem excepcional um verdadeiro luzeiro. Aprendi muito com esse homem de grande cultura e sabedoria. A mim fascinava especialmente seu domínio sobre a etimologia: o conhecimento sobre a origem das palavras em suas raízes mais fundas – a Filosofia Universal. Seu currículo, seus muitos livros, sua fala calma e segura sem qualquer tropeço, e sua convivência com Albert Einstein, em Princeton (USA), faziam dele um grande mestre, mais do que isso: um verdadeiro “guru”.

Para muitos, Huberto Rhoden tornou-se uma grande lâmpada no brejo de suas vidas. Para outros, esse homem se tornou uma “luz” tão forte que lhes ofuscou e tolheu a visão das outras coisas de suas vidas. Até mesmo as limitações e as fraquezas, próprias de qualquer ser humano, tornavam-se nele, virtudes excelsas para muitos dos deslumbrados. Não por culpa dele, mas por culpa daqueles que se deixaram ofuscar, pelo fato de só olharem para aquela “luz”. Muitos desses passaram a “orbitar” cativos, tão próximos a ele, que já não conseguiam ver outra coisa a não ser o mestre e só repetiam suas palavras. Vários outros casos conheci, como o do grande Pietro Ubaldi, autor de “A Grande Síntese”. Vi coisas semelhantes. Homens que, pelo brilho e fascínio do que diziam, podiam ser considerados grandes “luzeiros”. Menos por culpa deles e mais daqueles que os fitavam tão fixa e unicamente, que muitos desses “queimaram as asas” e passaram a enxergar menos do que viam no apagado de suas vidas mais obscuras.

Se por um lado devemos buscar as “luzes” de quem sabe mais, para jogar alguma claridade sobre nossos caminhos, não nos devemos deixar ofuscar ao ponto de só olharmos para a “luz”. Não podemos perder de vista nosso querido “brejo”. Nem as mais brilhantes lâmpadas valem nossa renúncia de conduzirmos nossas próprias vidas, mesmo que modestas ou sem grande brilho. Todos os fanatismos, que nos fazem olhar para uma única “luz”, acabam por nos cegar para as limitações e possibilidades da vida. A escuridão com que temos que conviver é, às vezes, desconfortável e cheia de riscos. No entanto, a certeza de uma única “luz” para onde devemos olhar parece ridícula, diante de tantos e diferentes pontos de luz. O olhar fixo para uma única luz nos faz perder a possibilidade de aprender e desfrutar coisas que vemos na penumbra e até na escuridão do Mundo em que vivemos. É desde a mais completa escuridão que melhor podemos ver o esplendor do céu cheio de uma infinidade de estrelas, mesmo estando no “brejo” de nossas modestas e insignificantes vidas.

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6 comentaram em “NÃO OLHE PARA UM ÚNICO FOCO DE LUZ!

  1. Luiz Cruz

    Prof. Rodolpho,
    Belo texto, bela reflexão! A luz existe somente porque existe a escuridão. Ambos são importantes e com sua reflexão, o escuro e os diversos pontos luminosos são significativos para podermos desenvolver olhares diversos. Muito bom!
    Um abraço,

    Luiz Cruz

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  2. Celina Telma Hohmann

    Querido professor!
    Quanta saudade de pronunciar essas palavras, ou escrevê-las naqueles textos que a gente fazia para homenagear o professor de quem tanto gostávamos!

    Seu texto, irretocável e adorável, tem início com suas lembranças e isso é tocante. Lembranças são os pedaços bons que levamos vida afora em que se têm nome, rostos e endereços. E transformam-se, ainda mais, em delícias de serem saboreadas, seja com os olhos, boca, mente ou o melhor, com o coração!

    Um belo alerta para nosso comodismo para com nossos olhares: “o olhar fixo para uma única luz…”, fez-me, de imediato, perceber que incautamente, por quantas vezes fiz isso? Foram muitas e nem me dei conta! Sábia sua forma gostosa, coesa e cativante de mostrar-nos que podemos extrair bem mais do nosso “brejo”, se nos dermos o direito e o cuidado de ver, através da escuridão, outros pontos de luz! Perfeito! Um belo presente para o nosso iniciar de uma fase ainda desconhecida, mesmo que planejada, mas sabemos, os planos que fazemos ao findar um ano, não são estáticos. Mudam, senão por nossas buscas de outros caminhos não planejados, pelo próprio caminhar da vida! Então, bom olhar para “outros focos” de luz.

    Professor Rodolpho, dê-nos, neste ano, o prazer de saborear suas sábias observações! E, se concordar, o direito de poder chamá-lo de “Querido Professor”! Há tanto tempo não tenho essa deliciosa oportunidade, mesmo que na lembrança, guardadinhos no canto mais aquecido das doces memórias, queridos professores ainda estejam intactos, com rosto, perfume, nome e agradecimento pelo que com eles aprendi!

    Abraços,

    Celina

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    1. Rodolpho Caniato Autor do post

      Celina

      Li seu comentário muito elogioso sobre o meu texto. Você foi muito generosa em em sua apreciação.
      Fico mesmo muito grato pelos elogios “nunca dantes” ouvidos. O texto retrata uma vivência e a forte impressão que pode deixar na gente, alguém que fala ou escreve em tom “profético”.

      Fico muito feliz, e nunca antes tinha recebido tantos elogios para aquele mesmo texto. Atribuo isso muito mais à sensibilidade e ao mérito das minhas “novas” LU leitoras.

      Atenciosamente,

      Rodolpho Caniato

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      1. Celina Telma Hohmann

        Querido Professor!

        Imagine o tamanho de minha alegria por ter respondido ao meu comentário em seu adorável texto! Já havia me apaixonado pelo escritor, meigo, delicado, e confesso, senti-me meio sem saber ao certo se minhas palavras, onde as regras ortográficas, mesmo sendo buscadas, estão aquém do seu visível conhecimento, estavam à altura do que quis lhe repassar. Mas, ao que percebi, não precisaria ter sentido o tal temor, pois o senhor conseguiu sentir-se, como desejei, elogiado e o digo, o fiz com a alma!

        Identifico-me muito com a Lu e sou, verdadeiramente, uma das LU leitoras. Bons textos são presentes. E como tentei dizer-lhe, quando nos reportamos ao passado, lembrando com carinho de quem ficou em nossa memória, aí, claro, a glória é maior!

        Mas sinta-se acarinhado, pois eu me senti ao ler um texto, onde houve um direcionamento ao olharmos para outro ponto de luz! E juro, saboreei cada palavra e me vi dentro da cena. Perdão pela invasão em suas adoráveis pinceladas de conhecimento e por ter-nos dado a alegria quieta – que julgo a melhor – em, num repente, descobrir um adorável escritor e suas adoráveis colocações, carregadas de lembranças que somadas ao alerta, foram como a deliciosa volta à sombra de uma frondosa árvore, que além do descanso, nos dá bons frutos!

        Um abraço gostoso em seu coração!

        Responder
  3. Moacyr Praxedes Autor do post

    Prof. Rodolpho, não resta razão de que quem olha para diferentes focos vê a vida em sua maior abrangência. Texto excelente!

    Abraços do

    Moacyr

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  4. LuDiasBH Autor do post

    Prof. Rodolpho

    Na continuidade de seu texto “O BREJO, A GUERRA E O RÁDIO”, você nos brinda com um ensinamento valioso, uma verdade incontestável:

    “Todos os fanatismos, que nos fazem olhar para uma única ‘luz’, acabam por nos cegar para as limitações e possibilidades da vida. A escuridão, com que temos que conviver é, às vezes, desconfortável e cheia de riscos. No entanto, a certeza de uma única “luz” para onde devemos olhar parece ridícula, diante de tantos e diferentes pontos de luz.”

    Acho que é pedir muito, ainda assim eu o faço: permita-nos beber mais nessa fonte de sabedoria que emana de suas palavras, neste novo ano que se inicia. Será um grande prazer contar com seus textos aqui neste espaço. Diz o mais importante livro dos cristãos que “A quem muito foi dado, muito será pedido” (Lc 12,48), logo, meu pedido é mais do que razoável… Risos.

    Um grande abraço,

    Lu

    Responder

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