O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental. Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos adverte sobre o poder da autossugestão tanto para o bem quanto para o mal.
“A principal missão do homem em sua vida é dar a luz a si mesmo, é tornar-se aquilo que ele é potencialmente”. (ErichFromm, em “Análise do Homem”.) Esta é a linguagem de um psicólogo ilustre. É bem igual à linguagem de um yogui. “Cada alma é potencialmente divina. O fim é manifestar este íntimo divino para controlar a natureza externa e interna. Faça isto pelo trabalho ou pela adoração, pelo controle psíquica ou filosófico ou por um ou mais ou todos esses caminhos, e seja livre. Este é papel da religião. Doutrinas ou dogmas, ou rituais, ou livros, ou templos, ou imagens são somente detalhes secundários” (Vivekananda, Works).
Desde os anos de nossa infância aprendemos que somos todos “filhos do pecado”, que “degradados” somos frágeis, imperfeitos e indignos de olharmos para Deus. Supondo e pretendendo em nós cultivar a virtude da humildade, piedosos instrutores religiosos encheram-nos desta funesta autodepreciação e, para mais acentuá-la, ensinaram-nos também ser Deus algo infinitamente diferente, distanciado e absolutamente fora de nosso alcance.
Colocar Deus tão alto, lá no inacessível e, simultaneamente, nós mesmos no mais tenebroso pélago da inferioridade, tem nos feito tanto mal! Por isso, Deus tem sido temido, mas não amado. Está tão longe que não temos a audácia de pensar esteja ao alcance de nossa busca. E, não obstante enunciemos sua onipresença, vivemos na convicção do contrário. E, assim, nos sentimos desamparados.
O desalento resultante da inacessibilidade à Bem-Aventurança Suprema faz-nos ficar parados onde estamos ou mesmo regredir, tornando-nos ainda mais frágeis e pecadores (cheios de erros). O que imaginamos que somos, somos. Afirmar imperfeições e concentrar a consciência sobre inferioridades só tem conseguido conduzir ao padecimento, à falência. Ninguém desconhece o poder da autossugestão, seja para curar, melhorar, elevar ou, ao contrário, seja para enfermar, inferiorizar e piorar. Tudo depende de seu conteúdo ser positivo ou negativo.
O ocidental, mercê de tão bem intencionado, mas funesto ensino religioso generalizado, tem enraizado no subconsciente a autossugestão “eficaz” que diz ser mísero pecador. Esta sugestão tem dado seus frutos: sofrimento, doença, vícios, ansiedades, complexo de inferioridade e até amoralismo patológico.
O yoguin nunca se preocupa com seus pecados (erros) ou com o pecado. Prefere atender ao oposto e afirmar sua unidade com o Divino, imitando Jesus ao dizer: “Eu e o Pai somos um”. Jesus realizou isto. Convidados estamos nós a imitá-lo. Potencialmente, somos divinos. E a existência nos foi dada para que possamos atualizar esta potencialidade. Divinizar-nos é o desafio.
Religiosos – dogmáticos fanáticos – acharão mesmo que comete profanação quem não se humilha, quem não se afirma degradado e pecador. Acreditar-se herdeiro do Absoluto é tido por irreverência e pecado, aos olhos de muitas vítimas da nociva pedagogia religiosa da autodepreciação piedosa. Tais pessoas precisam aprender de Ramakrisna que “nenhum orgulho que exprima a glória da Alma chega a ser orgulho. Nenhuma humildade que procure humilhar nosso Ego verdadeiro merece o nome de humildade”.
Para tais pessoas que confundem humildade com humilhação autodestrutiva, um dia escrevi: “Quando eu disse ao caroço de laranja que dentro dele dormia um laranjal inteirinho, ele sorriu e zombou de mim e se mostrou estupidamente incrédulo”.
Um tolo todos os dias batia no peito e repetia contrito: eu pecador… Eu pecador… Eu pecador… Acabou sendo. Um sábio, até mesmo ao cair, repetia: “Eu e Deus somos um… Deus e eu somos um… Eu e Deus somos um… Acabou sendo.” (Hermógenes, do livro “Mergulho na Paz”).
*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.
Nota: pintura do artista ucraniano Oleg Shuplyak
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Existe muita gente que confunde humildade com humilhação. É muito difícil nos desligarmos dos ensinamentos errôneos que nos ensinam por meio das religiões. Eu não sou religiosa.
Mudando de assunto, Lu Dias, por onde anda aquele jovem talentoso e inteligente de nome Lucas que escrevia com graça, neste espaço.
Abraço a todos, especialmente para você, Lu.
Rosa
Como você diz, existe uma distância imponderável entre “humildade” e “humilhação”, ou seja, uma pessoa humilde não pode abrir de seus direitos, de ser tratada como cidadã. Qualquer tipo de humilhação não pode e não deve ser aceita por ninguém. A humilhação faz parte da linguagem dos arrogantes e prepotentes.
O Lucas anda preguiçoso para escrever. Vou enviar sua mensagem para ele.
Beijos
Lu
Realmente muitos confundem “hulmidade” com “hulmilhação”.
Abraços
Rui
O que é uma pena, amiguinho!
Abraços,
Lu