Sakai Hôitsu – VENTO DE OUTONO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Esta delicada composição intitulada Vento de Outono é uma obra-prima da pintura decorativa japonesa. Presume-se que Sakai Hôitsu (1761 – 1828), o responsável pela criação, buscou nas divindades do vento e da chuva a inspiração para decorar um de seus biombos (divisória móvel, feita geralmente com folhas de madeira, presas por dobradiças, cuja finalidade é dividir um aposento em duas partes, ou para isolar um espaço, ou proteger da luz ou do vento).

O artista, em vez de personificar o vento, optou por apontar seus efeitos na natureza, mostrando as folhas e as flores outonais dobradas sob sua força. É possível notar que algumas folhas já amareladas foram arrancadas do galho, esvoaçando pelo ar. O fundo da composição é metálico prateado, sendo o resto da pintura em cores e detalhes naturalistas. Esta pintura foi feita sobre papel num par de biombos com duas folhas.

Sakai Hôitsu, discípulo de Sotatsu e Korin, ainda se encontrava ativo no início do século XIX. Nasceu no Edo, numa família de samurais. Experimentou variados estilos e veio a tornar-se um religioso budista. Fundou uma escola de pintura chamada Ukaan. Por ser um grande observador da natureza, tornou-se especialista na pintura de flores e plantas, assim como seu mestre Ogata Kôrin.

Ficha técnica
Ano: início do séc. XIX
Autor: Sakai Hôitsu
Período Edo
Dimensões: 166 x 183 cm
Localização: Museu Nacional de Tóquio, Japão

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
O Japão/ Louis Frédéric

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A BÍBLIA E O DESAMOR PELOS ANIMAIS

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Autoria de Marguerite Yourcenar

Parece-me que uma das causas mais responsáveis pelo sofrimen­to animal (bichos), pelo menos no Ocidente, deve-se à injunção bíblica que Jeová transmite a Adão no paraíso, onde, depois de mos­trar-lhe o mundo dos animais, o faz nomeá-los e declara-o mes­tre e senhor de todos eles.

Esta cena mítica sempre foi inter­pretada pelo cristão e pelo judeu ortodoxo como uma permissão para usar à vontade essas milhares de espécies que expri­mem, por suas formas diversas das nossas, a infinita variedade da vida, e por sua organização interna, por seu poder de agir, gozar ou sofrer, a evidente unidade da vida. Contudo, teria sido bastante fácil interpretar o velho mito de outra forma: Adão, ain­da isento de pecado, poderia perfeitamente sentir-se promovido à categoria de protetor, de árbitro, de moderador de toda a criação, utilizando os dons superiores que lhe foram dados por acréscimo, ou de modo diverso dos que foram outorgados aos animais, para perfazer e manter o belo equilíbrio do mundo, do qual Deus o fizera não o tirano, mas o intendente.

O cristianismo viria insistir nas lendas sublimes que unem o animal ao homem: o boi e o asno a aquecerem com seu hálito o menino Jesus; o leão enterrando piedosamente os corpos dos anacoretas, ou servindo de animal de carga e de cão de guar­da a São Jerônimo; os corvos alimentando os Padres do de­serto, e o cão de São Roque a seu dono doente; o lobo, as aves e os peixes de São Francisco; os animais da floresta bus­cando proteção junto a São Brás; a prece para os animais de São Basílio da Desareia ou o cervo trazendo a cruz que converteu Santo Huberto (uma das mais cruéis ironias do folclore religioso é ter esse santo se tornado o padroeiro dos caçadores). Ou ainda os santos da Irlanda e das Hébridas, que cuidavam de garças feridas recolhidas na praia, protegendo os cervos acuados,  ou confraternizando-se com um cavalo branco ao chegar à morte.

Havia no cristianismo todos os elementos de um folclore animal quase tão rico quanto o do budismo, mas o seco dogmatismo e a prioridade dada ao egoísmo huma­no o levaram de vencida. Parece que a esse respeito um movimento supostamente racionalista e laico, o humanismo, no sen­tido recente e abusivo da palavra, segundo o qual se pretende atribuir interesse apenas às realizações humanas, é o herdeiro direto desse cristianismo empobrecido, ao qual foram retirados o conhecimento e o amor pelo resto dos seres.

Nota: texto extraído do livro “O Tempo, Esse Grande Escultor”/ Edit. Nova Fronteira

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Torii Kiuonaga – TRÊS GUEIXAS DA RUA TACHIBANA…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A gravura (xilogravura sobre papel) intitulada Três Gueixas da Rua Tachibana em Seu Quarto faz parte da série “uma coleção de beldades do distrito do prazer”. Na cena estão presentes três gueixas* preparando-se para ir até o salão e entreter os clientes.

As gueixas estão elegantemente vestidas com seus longos quimonos. Elas usam pomposos e enfeitados penteados. A que se encontra à direita parece ler um livro ou fazer alguma anotação, enquanto a do meio olha para trás, aguardando a amiga que se encontra sentada e segurando um espelho, dar os últimos retoques em sua maquiagem.

O artista Torii Kiuonaga, artista do ukiyo-e, era exímio em retratar atores e também criou a série sobre “jovens beldades”. Suas pinturas tornaram-se conhecidas pela delicadeza da linha, resultante da técnica que ele usava na xilogravura. Suas beldades apareciam como um dos melhores exemplos do ideal japonês sobre a beleza feminina.

Nota:

*Gueixa – mulheres especialmente treinadas, desde a infância, para a dança, o canto e a música, cujo papel é divertir os homens ricos influentes. Têm geralmente um protetor (ou protetora) que assume suas despesas de educação e sustento. Consideradas modelos de bom gosto e de elegância, as gueixas foram, desde 1660, aproximadamente, em Edo, altamente apreciadas pelos homens da alta sociedade e foram frequentemente consideradas confidentes e conselheiras dos homens no poder. No início existiam homens-gueixa (hôkan, taikomochi, otoko-gueixa), que se encarregavam de distrair as companhias. Mas esse papel passou muito rapidamente às mulheres, que foram chamadas “onna-gueixa”, depois simplesmente “gueixa” (geisha). (O Japão/ Louis Frédéric)
 
Ficha técnica
Ano: c.1781
Autor: Torii Kiuonaga
Período Edo
Dimensões: 39 x 36,2 cm
Localização: Museu Nacional de Tóquio, Japão

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
O Japão/ Louis Frédéric

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Caravaggio – DAVI COM A CABEÇA DE GOLIAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 – 1610) nasceu no povoado de Caravaggio, cujo nome acabou por incorporar-se a seu nome. Também existe a hipótese de que tenha nascido em Milão. Era filho de Fermo Meresi, arquiteto e decorador de Francisco Sforza e de Lucia Aratori. Aos cinco anos de idade vivia em Milão com seus pais, cidade ocupada pela Espanha. Além das tensões geradas pela ocupação estrangeira, a fome e a peste também se faziam presentes. Em razão da peste, a família do futuro pintor retornou ao povoado de Caravaggio que também acabou sendo alcançado pela doença que ceifou a vida do pai, do avô e do tio do garoto. Lucia, a mãe, optou por permanecer ali com os filhos, distanciando-se do fanatismo religioso e da violência política que se espalhavam por Milão.

A composição intitulada Davi com a Cabeça de Golias é uma obra do artista barroco. Retrata um tema do Velho Testamento, do qual o pintor fez três versões, sendo esta a mais serena delas e também a mais original. Caravaggio não representa Davi como um herói e tampouco Golias é visto como um monstro da maldade. As formas firmes e brilhantes sobressaem com o fundo escuro da tela.

O jovem Davi, usando roupas simples que deixam seu peito direito nu, traz um saco às costas e a espada atrás do pescoço, equilibrando-se sobre seu ombro esquerdo. Sua mão esquerda, estendida para frente, segura a cabeça de Golias pelos cabelos. O jovem traz a cabeça do gigante afastada de si, como se quisesse mantê-la bem longe. Ele parece ainda não se dar conta do que acabara de fazer, sendo que sua expressão não denota júbilo, mas tristeza e certa compaixão.

Ficha técnica
Ano: c. 1606
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 90 x 115,5 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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LAOCOONTE E SEUS FILHOS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A estátua conhecida como Laocoonte ou Laocoonte e Seus Filhos ou ainda como O Grupo de Laocoonte, feita em mármore, foi encontrada durante uma escavação em Roma em 1506, permanecendo em exposição no Vaticano. É tida como uma das mais belas obras da escultura helenística, sendo vista como “o ícone prototípico da agonia humana” na arte ocidental, uma vez que, ao contrário dos martírios apresentados na arte cristã, esse não possui redenção ou qualquer outra forma de recompensa. Ao ser descoberta, seu efeito de tragicidade impactou emocionalmente os artistas e público. A estátua, embora seja tida em excelente condição por se tratar de uma obra escavada, tem várias partes incompletas e ainda sugere, após análises, que tenha sido remodelada em tempos antigos. Desde a sua descoberta ela já passou por várias restaurações.

Trata-se de um dos mitos que mostram a hedionda crueldade proporcionada pelos deuses olímpicos aos mortais, o que era bem comum às mitologias grega e latina. A dor lancinante dos três personagens, postados no degrau de um altar, é representada através da expressão dos rostos e da tensão física dos corpos na tentativa de libertarem-se da constrição das duas serpentes, o que deixa em realce a musculatura, sobretudo a do pai e a do filho mais velho. O modo como os músculos do tronco e dos braços repassam a ideia de esforço e sofrimento na luta desesperada, a expressão de dor vista no rosto do sacerdote, as contorções inúteis dos dois moços e o modo como toda essa agitação foi criada, tudo isso contribuiu para que essa obra fosse tão impressionante.

Ao ser encontrada, a escultura estava sem o braço direito de Laocoonte, sem parte da mão de um dos garotos e o braço direito do outro, assim como várias partes das duas serpentes. O garoto mais velho, à direita, também havia sido desunido das outras duas figuras.  Para resolver o problema das partes ausentes da escultura, vários escultores, artistas da época em que ela foi encontrada, discutiram como essas deveriam ter sido. Michelangelo, depois de profundo estudo, concluiu que os braços direitos deveriam ter sido dobrados para trás, sobre o ombro, enquanto outros artistas sugeriram que deveriam ter sido estendidos para frente, como num gesto heroico. Contudo, na década de 1980, chegou-se à conclusão de que a estátua deveria ser apresentada como fora encontrada, tendo, portanto, as partes restauradas de braços e mãos sido retiradas.

Ao observarmos a estátua podemos notar que os dois garotos foram feitos numa escala bem pequena, se comparada à do pai, possivelmente com o intuito de destacar mais Laocoonte, figura central da obra, dando-lhe um impacto maior. Ao serem envolvidos pelas duas serpentes que une os três personagens, esses mostram o semblante carregado de dor, medo e agonia. O garoto da esquerda já se encontra em agonia, picado por uma das serpentes, enquanto o da direita tenta desenrodilhar a serpente de sua perna esquerda e olha para o pai como se pedisse ajuda, mas sentisse que ele não poderia socorrê-lo.  O tronco musculoso e avolumado de Laocoonte deixa visível a sua árdua luta para afastar a cabeça da serpente, já com a boca aberta, de seu quadril esquerdo.

Chama a atenção no conjunto da obra, esculpida num único bloco, a beleza das dobras das duas serpentes enrodilhadas nos três personagens. Segundo o historiador Plínio, o Velho, em sua História Natural, este trabalho foi feito por três grandes artistas da época: Agesandro, Polidoro e Athenodoros, nascidos em Rodes e a estátua encontrava-se no palácio do imperador Tito. Presume que ela seja parte de uma iconografia maior. Segundo o mito que se relaciona com a Guerra de Troia, o sacerdote troiano Laocoonte, que era filho de Príamo e sacerdote de Apolo, casou-se contra a vontade do deus e teve dois filhos denominados Antífenes e Timbreu. Apolo ficou mais irritado ainda quando Laocoonte arremessou sua lança contra o Cavalo de Troia. E, por isso, vingou-se enviando duas serpentes marinhas para matar os filhos de seu sacerdote, mas esse, ao tentar salvá-los, acabou sendo picado e morto. Existem outras versões para esta lenda.

Curiosidades

  • Presume-se que o grupo Laocoonte tenha sido encomendado pelo imperador Tito, na primeira metade do primeiro século d.C., tendo sido executada pelos escultores de Rodes, após um original de bronze feito no século 2 a.C.
  • O braço direito foi descoberto por Ludwig Pollak, em 1905. Ele conseguiu provar que esse pertencia à figura de Laocoonte. O braço encontrado foi adicionado à estátua durante sua última restauração, em 1957-1960.

Fontes de pesquisa
Para entender a arte/ Maria Carla Prette
A História da Arte/ E. H. Gombrich
http://ancientrome.ru/art/artworken/img.htm?id=1372
https://en.wikipedia.org/wiki/Laocoön_and_His_Sons

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Gianlorenzo Bernini – APOLO E DAFNE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A escultura intitulada Apolo e Dafne é uma obra-prima criada pelo artista italiano Gianlorenzo Bernini (1598 – 1680), também filho de um escultor, responsável por trazer um novo sentido para a escultura ao criar figuras cheias de movimentos que ganham vida através dos drapeados de modo fluido e delicadeza dos membros. É também uma preciosidade de toda a escultura ocidental.

A obra traz como tema a história de Dafne e Apolo, extraída das “Metamorfoses” de Ovídio que narra a paixão de Apolo, deus da juventude e da luz, pela ninfa Dafne, filha do rio-deus Peneu e seguidora da deusa Diana. Apolo apaixona-se pela ninfa, depois de ser atingido pela seta de ouro de Cupido – após irritar o pequeno deus com a sua arrogância – e passa a perseguir Dafne. Em contrapartida, o deus do amor atingiu a ninfa com uma flecha de chumbo para que essa tivesse aversão pelo deus apaixonado. Ao fugir de Apolo, ela recebe o socorro de Gaia (Mãe-Terra) que, para acabar com seu sofrimento, transforma-a num loureiro.

O escultor apresenta o exato momento em que os membros superiores e inferiores de Dafne e seus cabelos vão se transformando no loureiro. É possível notar que a parte inferior do corpo da ninfa já se mostra coberta pela casca de árvore.

Apolo atrás, desesperado por não conter sua amada, traz a mão esquerda sobre o flanco de Dafne, ao tentar impedir a transmutação, puxando para si o corpo da ninfa que tem os braços para cima, já com o formato de galhos. A sensação de movimento é repassada através do uso inteligente do drapejamento.

Benini usou o famoso Apolo do Belvedere, estátua de mármore feita na Antiguidade Clássica e redescoberta no Renascimento, para modelo de seu Apolo. Na base da estátua pode-se ler o dístico moralístico em latim: “os que preferem as formas fugazes do prazer não colherão senão folhas amargas”, a mando do Cardeal Barberini.

Ficha técnica
Arte romana
Ano: c. 1622- 1625
Localização: Galleria Borghese, Roma, Itália

Fonte de Pesquisa
Galleria Borghese/ Os Tesouros do Cardeal

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