Autoria de Lu Dias Carvalho
Se pretendo contribuir para que o meu país tenha uma fisionomia artística própria, se pretendo exprimir o vigor da natureza física e humana do México, se pretendo que minha pintura não só descreva o povo, mas dialogue com ele, para que ele se reconheça e reencontre-se em meus quadros, tenho que redefinir meu estilo. (Diego Rivera)
Diego Rivera voltou ao México, após sua permanência na Europa, quando os revolucionários assumiram o poder, após a revolução liderada por Emiliano Zapata, que revira as estruturas econômicas, sociais e políticas do país. Ali permaneceu pouco tempo, mas o suficiente para certificar-se de que era o homem concreto, resultante de condições específicas, com toda a sua problemática, que lhe importava. E é com tal concepção que retornou à Europa, especificamente a Paris, onde vicejava a pintura neo-impressionista, o cubismo de Picasso e Braque e a criação de Paul Cézanne. E é disso que ele queria se nutrir, e não dos ensinamentos acadêmicos, estagnados no tempo. Na sua nova escola as cópias eram proibidas, o que lhe deu muito prazer.
O pintor foi atraído pelo estilo cubista, sem contudo abrir mão de sua personalidade artística. Em sua obra figuravam as cores incomuns, uma maior observância com as reproduções figurativas e seu México com sua natureza exuberante, seus índigenas e vestimentas, os fuzis da revolução de Zapata e seu povo. Em razão disso, o cubismo de Rivera era visto como exótico pelos europeus. Mas o artista ainda não se encontrava satisfeito com sua obra. Ao se rebelar contra duas academias, não queria ser apenas um cubista a mais. Levou seu questionamento a Amedeo Modigliani, seu amigo, mas esse, como europeu, foi incapaz de compreender a angústia vivida por Rivera em sua busca. Foi David Alfaro Siqueiros, seu compatriota, participante da revolução e pintor como ele, também vivendo em Paris, quem realmente compreendeu o questionamento de Rivera, pois possuíam a mesma consciência de seu país e o apego às suas origens.
Depois de dez anos vividos em Paris, Diego Rivera tomou o caminho de casa – o México. Não estava apenas mais velho, mas também transformado por uma profunda e radical mudança interior, ainda que sua obra guardasse lembranças do grande mestre Cézanne, com quem aprendeu, sobretudo, a selecionar com cuidado as cenas e personagens que habitariam suas telas. Embora admirasse a arte europeia, o artista queria criar uma arte essencialmente mexicana, usando como cabedal de conhecimento o que aprendera com os gregos, espanhóis, italianos, holandeses e franceses. Queria fazer uma arte nacional, mas com ressonância universal.
Juntamente com David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco, Rivera fundou um Sindicato de Pintores, e também ingressou no Partido Comunista. Abandonou o Cubismo, o Impressionismo, ou qualquer outro tipo de arte abstrata, e abraçou o Figurativismo. Passou a fazer questão de que suas obras fossem vistas por todos, quando bem o quisessem, e não por uma minoria rica. Portanto, não as quis em museus ou instituições nas quais o povo não pudesse ter acesso, mas sim em edifícios públicos, escolas, repartições oficiais, tornando uno o Estado e a Nação. Foi por isso que ele escolheu os murais. A ele se juntaram, além dos nomes acima citados, o pintor Rufino Tamayo. A produção desse grupo representa uma das mais importantes tendências do Realismo na pintura atual.
Por que Rivera e seu grupo optaram pelo mural? Porque somente a pintura mural – pensavam eles – seria capaz de resgatar artisticamente seu povo, já esquecido da grandeza da civilização pré-colombiana, depois de viver durante séculos sob o jugo espanhol e sob o roubo, o despreso e a violência das oligarquias nacionais, cuja cultura era totalmente direcionada para a antiga metrópole espanhola. Os murais tinham dois objetivos básicos: 1- dar ao povo indígena o direito de ser ator da arte de seu próprio país; 2- revificar a altivez de sua gente em relação ao grandioso passado asteca.
O artista foi fértil e incansável em seu trabalho. Ainda lhe sobrou tempo para viajar para a antiga União Soviética. Tornou-se amigo de Trotsky, que era íntimo de Lênin, mas que fora banido por Stálin, encontrando asilo no México, onde foi assassinado. Apesar de comunista, visitou os Estados Unidos, e ali decorou o Salão de Jantar da Bolsa de Valores de San Francisco. Anos depois realizou uma exposição individual no Museu de Arte Moderna de Nova York. Quando em 1933, encomendaram a Rivera um mural para o Rockfeler Center de Nova Iork, ele incluiu no painel a figura de Lênin. Apesar dos pedidos, ele se recusou a tirar o retratado, sendo o mural desfeito.
Rivera também fez pinturas de cavalete, nas quais abrange uma temática mais ampla, passando por diferentes fases, chegando a beirar o Surrealismo. Nutria grande preocupação em evidenciar a “mexicanidade” em sua obra, ressaltando os trajes típicos do rico folclore de seu país, levando em conta o misticismo e a índole predominamente religiosa de seu povo. Não se atinha às cópia dos modelos europeus.
Ao Figurativismo tradicional, Rivera agregou duas características importantes: 1- deu um tom grotesco ou até mesmo monstruoso às figuras representadas como espoliadoras do povo mexicano, deformando-lhes a feição e a dimensão; 2- agregou às figuras simpáticas, representativas das classes humildes, elementos decorativos. O pintor é tido como o libertador da vocação plástica em seu país, o responsável por seu renascimento artístico. O amor do povo mexicano pelo artista nunca arrefeceu. Diego Rivera morreu, vitimado por um ataque cardíaco, aos 71 anos de idade. Sobre Sua mulher, a também pintora Frida Kalo, trabalharei mais adiante.
Nota: As Ilusões, composição de D. Rivera.
Fonte de pesquisa
Gênios da Pintura/ Abril Cultural
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