A PROCRIAÇÃO E A MULHER ANTIGAMENTE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quando destrinchamos os meandros da história da humanidade, percebemos que a mulher sempre carregou a carga mais pesada e, mesmo assim, com exceção do tratamento dado a elas dentro das famílias matriarcais, jamais teve o seu valor reconhecido. É interessante saber como as mulheres primevas lidavam com o ato sexual e com a reprodução humana.

Nos tempos idos, o homem desejava uma prole imensa, mas por detrás de tal desejo existia um objetivo escuso: mão de obra servil. Espertinho como sempre, teve que arrumar uma justificativa para induzir a mulher, a quem cabia todo o peso da reprodução, a pensar como ele, cooperando na produção de cativos. O que fez o vivaldino? Com a conivência da religião e do poder, transformou a maternidade em algo sagrado. Assim sendo, pensava ele, quem haveria de se opor a ela?

A fêmea espertíssima não caiu na lábia do macho interesseiro. Ela se rebelou secretamente de todas as maneiras possíveis, tudo fazendo para escapar da pesada carga, já que não tinha nenhuma ajuda do cambondo, tão entusiasmado em aumentar o número de pirralhos, mas extremamente alheio à labuta na criação da molecada. O torunguenga ainda exigia que todas as crianças tivessem o mesmo sexo do pai, supondo que o macho era mais forte no eito, sem pensar em momento algum que sem a fêmea não poderia haver procriação. Mas nem sempre era ouvido pelos deuses, que queriam que a Terra continuasse sendo povoada, a menos que transformasse o turuna em hermafrodito.

O fato é que a mulher, para fugir da pesada labuta, inventou o feticídio e o infanticídio, além de usar outras maneiras para evitar o contato com o surunganga, pois não era inhenha para ficar só embuchando ano após ano. Listo aqui algumas saídas encontradas pela tranchã para deter a parição excessiva, costume que variava de acordo com cada tribo:

  • negação do prazer sexual ao homem, no período em que ela estivesse amamentando. Em alguns casos, os filhos viravam garrotes mamando. Havia casos de meninos fumarem e mamarem no mesmo período. Agindo assim, a mulher ganhava espaço e afastava o macho de seu corpo por um bom tempo;
  • adoção do costume de se recusar a ter o novo filho, antes que o primeiro completasse 10 anos; Sem nenhum conhecimento contraceptivo, o homem era obrigado a se satisfazer em outras freguesias, para o bem da parceira que, com uma carga tão pesada, acabava perdendo o gosto pelo sexo;
  • durante os três primeiros anos de casamento não se podia ter filhos; o casal deveria arrumar primeiro a vida, antes de receber seus rebentos. Como homens e mulheres casavam-se muito novos, essa media não trazia muito efeito;
  • a mulher não podia ter filho antes dos 30 anos, devendo, para tanto, usar muitos artifícios, já que se encontrava numa idade extremamente fértil;
  • era comum o uso de ervas, ou alteração na posição do útero, para evitar a concepção. Se uma dessas formas falhava, a mulher optava pelo feticídio. E, se esse também falhava partia para o infanticídio.

O infanticídio era executado por muitos motivos, tais como:

  • se o bebê nascia disforme ou doente, ou se era bastardo;
  • se a mãe havia morrido no parto;
  • se fosse dado à luz sob más circunstâncias;
  • se nascia por ocasião de tempestade;
  • se nascia em março ou abril;
  • se nascia na quinta ou sexta-feira ou na última semana do mês;
  • se a mulher parisse gêmeos, já que um mesmo homem não podia ser ao mesmo tempo pai de duas crianças. Um dos bebês ou ambos eram condenados à morte;
  • os nômades reduziam o número de crianças, para não atrasar as marchas;
  • cada casa só podia ter duas crianças. O excedente era eliminado;
  • na época de carestia, muitas tribos estrangulavam as crianças de peito.

Em geral, as meninas eram as principais vítimas. Muitas vezes, elas eram torturadas até à morte, a fim de induzir a alma, quando voltasse a se reencarnar, a escolher o sexo masculino, e não cair na bobagem de nascer mulher. Assim sendo, nada mais sensato que do que fazer com que a alma apanhasse bastante para voltar homem. Só as almas “ingênuas” nasciam mulheres.

O homem primitivo tinha senso de propriedade, mas não tinha ciúme sexual. O contato da mulher com outro homem não tinha problema algum, desde que passasse por sua permissão. Aí estão fincadas as raízes do machismo que ainda perdura nos dias de hoje.

A mulher esteve sempre ligada ao tabu. As muitas superstições faziam dela um ser “impuro”. Chegou a ser considerada como a raiz de todos os males. A menstruação feminina era vista como uma aberração da natureza, a ponto de se achar que qualquer homem, que tocasse numa mulher menstruada, perdia a virtude e a virilidade. Em algumas tribos, ela era proibida de entrar nas florestas para não ser mordida por serpentes enamoradas. O parto também era visto como impuro. Para ser purificada, a mulher tinha que passar por muitos rituais. Dentre muitos povos primitivos, a relação sexual não se dava quando a mulher estava menstruada, grávida ou amamentando.

O mais triste em toda esta história é que a mulher continua inferiorizada, não apenas nos países onde religiões extremistas tratam-na como um objeto do homem, mas também nos ditos civilizados, onde trabalha fora para ajudar na manutenção da família, é responsável pela criação dos filhos e pelo trabalho de casa, sem uma participação mais efetiva de seu companheiro.

Nota: Artesanato de Araçuaí

Fonte de pesquisa:
Nossa Herança Ocidental/ Will Durant/ Editora Record/ 4ª edição

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