Arquivo da categoria: Visão Crítica da Arte

Crítico de Arte – Professor Pierre Santos

A ARTE ROMÂNICA (1ª Parte)

Autoria do Prof. Pierre Santos

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Outros motivos que não a ostentação de luxo e poderio imperial, bem como necessidades bem diversas daquelas que caracterizavam o Império Bizantino, conduziram o arquiteto românico a resolver os seus problemas construtivos de maneira diferente dos construtores de antes. Distante do Oriente, de onde em raras oportunidades emigraram formas, como para Ravena e Veneza, mas não de vulto a criar raízes e adaptação nas regiões para onde emigraram; com tradição construtiva cristã local já considerável desde o Paleocristianismo, no que contam as influências de vários povos nômades e bárbaros, como os godos e tantos outros, que invadiram a desprotegida Europa de norte a sul, durante períodos como o merovíngio, o carolíngio e o otoniano – sabendo-se que o impulso construtivo artístico não se interrompeu no Ocidente com a mudança da capital para o Oriente, mas ao contrário, sofreu lenta evolução até determinar estilos futuros tardios; e, finalmente, à necessidade de se darem locais apropriados às massas de aficionados, já agora maiores e desejosas de prece e recolhimento – são alguns dos fatores que levaram a religião cristã do Ocidente ao encontro de soluções próprias para a sua arquitetura, desenvolvidas nos séculos XI e XII, com um período anterior de amadurecimento, ao longo dos três séculos anteriores.

Soluções arquitetônicas do romanismo

Na verdade, as soluções bizantinas, mesmo arrojadas (e também mais caras), limitariam as necessidade de expansão do templo, a saber que edifícios grandiosos como Santa Sofia e São Marcos raramente se levantaram, pela sangria econômica que a edificação representava. Essas soluções, tal como eram postas, não se coadunavam bem com as pretensões dos dirigentes românicos. O novo estilo, por isso mesmo, voltou-se para a primitiva arquitetura cristã e fê-la evoluir-se. Primeiro, retomou sua planta em cruz latina, a qual se vira então melhor adaptada com ampliação do transepto, pela necessidade de atender à multiplicação das irmandades religiosas, merecedoras de lugar especial durante os rituais. O transepto cortava a nave longitudinal transversalmente e era separado do primeiro corpo da igreja por uma cancela, onde geralmente se constituía em piso mais elevado, formando os braços da cruz. No eixo desse cruzeiro, onde o bizantino punha a cúpula, o românico adaptou uma torre lanterna quadrada ou octogonal, para iluminação da igreja. Depois, em lugar do precário teto de madeira da basílica antiga, adotou para todas as partes do edifício a abóbada de canhão ou plena Cintra, em pedra, enquanto nas naves laterais colocou uma abóbada de meia Cintra, ou seja, de um quarto de circunferência, visando à neutralização do empuxo que a pesada cobertura central exercia.

Para fazermos idéia simplista desta edificação, este novo sistema de construção equivalia a tomar o quadrilátero usado na solução bizantina anterior e acrescentar-lhe vários outros quadriláteros num sentido longitudinal, além do transepto transversal – sistema este que, sobre ampliar em muito o interior útil do templo, elevou-se sobremaneira, como pretendia a Igreja na expressão do êxtase, a altura da abóbada.

Elemento muito original criado pelo românico foi o deambulatório, que o povo de então denominava charola, o qual consistia na construção de várias capelas menores, às vezes simples altares, dispostas num corredor semiesférico em torno da abside, parte terminal da igreja onde o sacerdote realiza os rituais litúrgicos perante o altar-mor ali localizado; atrás, portanto, da parede curva como um grande nicho da ábside, atrás da qual ficava o deambulatório. Essas capelas radiais foram criadas para atender às necessidades das peregrinações tão em moda àquele tempo. É sabido que, então, os fiéis se reuniam em grandes grupos e partiam em romaria por essas várias igrejas, que se localizavam de norte a sul, ao longo das chamadas vias de peregrinação, até Compostela, no norte da Espanha, devido ao que ficaram também conhecidas como Caminho de Compostela. Nessas capelas, cada fiel encontrava o santo de sua devoção, bem como as imagens dos santos aos quais essas igrejas eram consagradas.

O estilo românico, obviamente, acrescentou muita coisa ao impulso para o céu desejado pela arquitetura cristã, mas ainda mostrava inconvenientes. Estes só seriam superados, quando daí evoluísse para o gótico. Ora, a pesada abóbada central exigia pesadas e possantes colunas para o seu sustento; as pesadas abóbadas laterais que, além do peso do próprio material, ainda recebiam grande parte do empuxo da central, exigiam grossas e resistentes paredes para apoio; por sua vez, essas paredes exigiam o reforço de poderosos contrafortes externos, nos quais se escoravam. A compacidade construtiva requerida por esta espécie de arquitetura criava um sério inconveniente para a época, sabendo-se que somente raras janelas, e sempre estreitas, podiam ser abertas, deixando muito obscurecido o interior, além do que as soluções empregadas ainda não tinham conseguido contornar o problema das águas pluviais, ameaça sempre iminente. Exteriormente, essas igrejas apresentavam total sobriedade (embora houvesse exceções, como a Catedral de Poitiers, com seu rico exterior todo em pedra branca trabalhada): os efeitos decorativos inclusive das fachadas eram muito comedidos, ao contrário da decoração interior. Para dar maior movimento de massas arquitetônicas ao exterior, além da torre lanterna situada no cruzamento de naves e das reentrâncias formadas pelos contrafortes de apoio das naves laterais, o românico também acrescentou ao corpo do edifício duas torres, as quais, em certos casos, subiam acima dos cem metros de altura. Algumas igrejas, estas mais raras, apresentavam apenas uma torre. A basílica primitiva e a igreja bizantina não possuíam nenhuma torre; mas, de modo geral, apenas um simples e limitado campanário afastado do corpo do templo.

Ilustrações:
1.Catedral de Poitiers
, toda por assim dizer esculpida em pedra branca da região, destacando-se na parte de cima sua torre lanterna, 1140.
2.Cripta de Saint-Sernin.

OS EVANGELHOS E OS EVANGELISTAS

Autoria do Prof. Pierre Santos

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Os Evangelhos
Todos nós sabemos o que são os evangelhos ou pelo menos temos boa noção do que sejam. A rigor, trata-se daqueles textos contidos no Novo Testamento e escritos pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, dentre os quais apenas São Mateus e São João estavam incluídos entre os doze apóstolos de Cristo. Procuraram eles transcrever, da maneira a mais objetiva possível, as parábolas e os ensinamentos passados por Cristo, nos seus sermões proferidos na Galileia. Nessa empreitada era sempre coadjuvado por seus doze apóstolos – Pedro, André, Tiago Maior, João, Filipe, Bartolomeu, Judas Tomé, Tiago Menor, Mateus, Simão, Judas Tadeu e Judas Iscariote – os quais se encarregavam de esclarecer, para aqueles que não tivessem entendido bem as parábolas, o real significado das mesmas. Na verdade, esses doze homens pelo Senhor escolhidos eram seus reais discípulos, pois sabia que, em sua falta, iria caber-lhes a disseminação de seus ensinamentos.

Contudo, o primeiro a ter ideia de registrar, em linguagem bem inteligível, as pregações de Jesus, não foi nenhum dos autores dos quatro livros que compõem o Livro dos Evangelhos aos quais se somaram o Ato dos Apóstolos, de São Lucas, as treze Epístolas, de São Paulo, as três de São João e, também deste, o Apocalipse. Quem realmente pensou nisto primeiro foi São Paulo que, em suas treze cartas – Romanos/ Coríntios I/ Coríntios II/ Gálatas/ Efésios/ Filipenses/ Colossenses/ Tessalonicenses I/ Tessalonicenses II/ Timóteo I/ Timóteo II/ Tito/ Filémon – endereçadas às igrejas por ele fundadas, expõe de maneira bem resumida as principais mensagens de Cristo.

No alvor do culto e durante grande parte do século I, os deões sentiam falta de ter em mãos, por escrito, as palavras do Senhor, para se guiarem com maior segurança durante as orações conjuntas. Para tanto, pediam a alguém alfabetizado e mais culto para anotar, a partir do relato de pessoas que tivessem ouvido as pregações do Senhor, os seus ensinamentos. Este costume, contudo, estava sujeito a vários perigos, como o da deturpação, da falta de unidade nos escritos e, principalmente, de esses ficarem incompletos, como realmente ficavam, pois a tradição da oralidade vai sofrendo alterações ao longo do tempo e, “como quem conta um conto, aumenta um ponto”, de acordo com a sabedoria popular, esses relatos iam perdendo cada vez mais a fidelidade em face da certeza dos ditos sagrados.

No princípio do século II, o Papa Alexandre I, tendo em vista os referidos perigos e conhecedor dos textos escritos, primeiramente por Mateus e João, apóstolos diretos de Cristo, em seguida, por Marcos e Lucas (havia outros textos que, na época, também circulavam, os quais, por não apresentarem a completude e a segurança comprovadas nos textos dos evangelistas, deixaram de ser considerados), determinou a compilação dos quatro textos aprovados, quais sejam, o evangelho segundo Mateus, o primeiro deles, o evangelho segundo Marcos, o segundo na ordem e o evangelho segundo Lucas, o terceiro deles, sendo estes três chamados sinópticos ou semelhantes por terem a mesma estrutura e seguirem o mesmo esquema, com poucas diferenças; e ainda o evangelho segundo João, “o bem amado”, como a ele se referia Jesus, diferente dos outros textos, porque se ateve mais à vida do Mestre e é mais completo na transcrição dos discursos do Senhor, pelo que é considerado evangelho teológico. A eles o Papa mandou acrescentar as Cartas escritas por Paulo, o Ato dos Apóstolos escrito por Lucas, autor também do terceiro evangelho, as Cartas e o Apocalipse escritos por João. Assim compilados, definidos e aprovados, o Papa recomendou seu uso a todas as comunidades cristãs, a cujos líderes era facultada a obtenção de cópias, as quais eram feitas por copiadores oficiais, que se atinham com exclusividade aos textos, sem nenhuma sofisticação.

Essa forma de culto foi mantida até o final do século VI, ao longo de cujo tempo a liturgia foi evoluindo até à definição ideal de todos os rituais, com o uso dos evangelhos devidamente estabelecido. Àquela altura, os monastérios já iam se espalhando por vários lugares e os monges assumiram o ofício de copistas, no qual se especializaram a tal ponto, que se puseram a fazer obras em tudo notáveis, tornando-se os responsáveis por uma das artes mais representativas da Idade Média: a arte das miniaturas e iluminuras de livros.

Ao longo do século VII, copiava-se normalmente o Livro dos Evangelhos, por encomenda das igrejas cristãs espalhadas pelo mundo. Mas aí, os monges começaram a sofisticar cada cópia. Reis, políticos e importantes colecionadores de obras de arte viram essas cópias e fizeram encomendas para si, personificadas. Aí veio Carlos Magno e incrementou o empreendimento do setor, como passaremos em revista na próxima postagem.

Os Evangelistas
São Mateus foi o autor do primeiro evangelho. Era filho de Alfeu e seu nome mesmo era Levi. Exercia a profissão de publicano, ou seja, de cobrador de impostos (profissão odiada à época) na cidade de Cafarnaum, a serviço de Herodes Antipas. Consta que Jesus, um belo dia, após atravessar o Lago de Tiberíades, ao passar pela porta de uma taberna, avistou lá dentro Matias e seus ajudantes, ocupados em conferir a coleta de impostos. Então, indicando-o num amplo gesto, disse-lhe: “És meu escolhido. Segue-me”. E Mateus obedeceu, tornando-se um de seus doze apóstolos. A propósito, há neste blog uma extraordinária postagem de LuDias sobre um quadro de Caravaggio, que trata exatamente desta passagem bíblica, intitulado: Caravaggio – A VOCAÇÃO DE SÃO MATEUS

Enquanto o Mestre viveu, Mateus o seguiu muito de perto, sem perder nenhuma de suas pregações, inclusive indagando aos condiscípulos, com muita curiosidade – segundo narra em algum lugar de seus textos – sobre aquelas proferidas antes de sua incorporação ao grupo, que Ele não tenha repetido. Aproveitava os momentos em que ficava parado para tudo anotar. Além de ter testemunhado tantos acontecimentos em sua maioria surpreendentes, participou da Santa Ceia e presenciou as aparições de Cristo ressuscitado, sua ascensão e o episódio do Pentecostes. Depois, na qualidade de pregador independente, enquanto levava os ensinamentos do Senhor a regiões como da Palestina e da Etiópia, sentiu necessidade de por em ordem e dar melhor redação às suas anotações. Assim nasceu o seu evangelho.

São Marcos foi o autor do segundo evangelho. Era filho de Maria de Jerusalém. Barnabé (seu primo), Lucas, Paulo, Marcos e outros personagens, são considerados entre os apóstolos bíblicos de Cristo, e não entre os doze escolhidos pelo Salvador. Provavelmente nasceu em Jerusalém, mas pouco se sabe sobre sua vida. Sabe-se, contudo, que foi um veemente e exímio pregador, tendo viajado a inúmeras localidades em companhia de Barnabé e Paulo, a fim de levar a elas as palavras do Mestre. Esteve no Egito, onde fundou a Igreja de Cristo, e na Itália, onde fundou a cidade de Veneza, da qual é o padroeiro. Seu evangelho foi escrito em Roma, por sugestão de Paulo, quando lá esteve para dar assistência ao amigo, que estava encarcerado. Dedicou seu evangelho, de estilo simples e vigoroso, aos cristãos provenientes do paganismo, constando de 661 versículos, pelo que é o mais extenso de todos e segue, para a disposição da matéria, o esquema do de Mateus, assim como Lucas.

São Lucas foi o autor do terceiro evangelho, como também de Atos dos Apóstolos, inseridos no quinto lugar do mesmo livro. Viveu no século I da era cristã, era sírio nascido em Antióquia, médico de profissão e pintor nas horas vagas, tendo pintado vários quadros com o tema da Virgem Maria e, segundo consta, retratos de Paulo e de Pedro. Só por curiosidade, é por isto que as Guildas de São Lucas, na Flandres medieval, tinham seu nome e a Accademia di San Luca, de Roma, com filiais em outras cidades européias, tem como um de seus objetivos a proteção dos pintores. Mencionado várias vezes nas epístolas de São Paulo, com este viajou por alguns lugares e depois, sozinho, andou pregando o evangelho no sul da Europa, na Macedônia, em Jerusalém e, finalmente, na Grécia, onde foi martirizado.

São João foi o autor do quarto evangelho. Usou esquema próprio, diferente dos demais na distribuição da matéria escrita, não sendo sinóptico como os demais, pois sua preocupação bem centrada foi narrar a vida e a obra de Jesus Cristo, descrevendo com mais finura os ensinamentos do Senhor e sendo mais inclinado à contemplação do que à ação, o que fez sua diferença. Nascido em Batsaida, na Galiléia, foi chamado pelo próprio Jesus para segui-lo, juntamente com seu irmão Tiago Maior. Esteve presente em todos os importantes lances da vida de Cristo e foi o único a segui-lo até na hora de sua morte, na cruz, ocasião em que foi o apoio de Maria, de quem cuidou. Depois de muitas andanças pregando o evangelho, foi viver em Éfeso, na Ásia Menor, nas costas da Turquia, de onde comandou várias igrejas que havia criado e onde escreveu seu evangelho. Quando Domiciano assumiu o poder, foi exilado para a Ilha de Patmos, onde escreveu o Livro do Apocalipse ou da Revelação, o último a ser incluído no Livro dos Evangelhos juntamente com suas três cartas endereçadas a todos os cristãos. Faleceu em Éfeso já velho, onde foi sepultado.

 Ilustrações:
1.Os quatro Evangelistas, iluminura do séc. VIII
2. Os quatro Evangelistas, séc. IX, Cat. de Aachen, Alemanhna

A ARTE CRISTÃ MEDIEVAL (2ª Parte)

Autoria do Prof. Pierre Santos

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No esforço sem trégua de simbolizar o êxtase pretendido pela igreja nos elementos componentes da arquitetura, o construtor medieval desenvolveu um plano de paulatinas conquistas, nas quais o arrojo e a audácia foram as notas dominantes. Este esforço fica bem demonstrado, quando comparamos a altura a que, a partir dos sistemas empregados, os templos se alçaram, desafiando a lei da gravidade.

A antiga Basílica de São Pedro – em cujo lugar hoje se eleva a famosa Basílica do Vaticano, o maior tempo da cristandade – construída na fase basilical a mando de Constantino, após o reconhecimento do culto cristão como o oficial do Império, mesmo tendo sido sua construção inspirada na basílica romana, portanto no sistema de peso e sustentação, com o predomínio da horizontalidade, disposta em dois lances conjugados, conseguiu erguer-se a trinta e seis metros de altura; a tinta e quatro a Igreja de São Paulo Extramuros. Para se fazer ideia, a elevação da cúpula da antiga Igreja de São Pedro equivalia à de um edifício atual de doze andares, ou seja, de trinta e seis metros de altura.

A Igreja de Santa Sofia, síntese da arquitetura bizantina, construída pelo sistema de cúpula sobre pechinas ou pendentes (pechinas, a título de recordação, são os triângulos curvilíneos resultantes do encontro dos arcos de plena Cintra ou meia circunferência, que vinham das colunas mestras, com o tambor de trinta e um metros de diâmetro, onde são abertas quarenta janela, simolizando os dias passados no Cristo em retiro no deserto), eleva-se a cinquenta e quatro metros de altura desde o centro da cúpula, equivalendo, portanto, a um edifício de dezoito andares.

O estilo desenvolvido pelo artista românico, ao acrescentar ao quadrilátero que era usado pela arte bizantina, vários outros quadriláteros, opondo-lhes um transepto, deu à cobertura a forma de abóbada e, à planta, a forma de cruz latina. Entretanto, no cruzamento da nave longitudinal com a transversal, ao invés da cúpula, ergueu uma torre-lanterna que, desde o nível do transepto, sobe no interior acima dos sessenta e cinco metros (tamanho de um edifício de vinte e dois andares) e, dos cem (tamanho de um edifício de 34 andares), as torres externas que lhe completam as fachadas, harmonizando-as.

O coroamento de toda essa tenacidade medieval se dá com a Arte Gótica – seu momento de maior esplendor. Tirando à parede a função de sustentar o peso das partes superiores e de neutralizar as pressões da gravidade, simplesmente quebrando o arco de plena Cintra, agora tornado ogival, e criando o arcobotante, que passa por cima das naves laterais e vai apoiar-se em leves contrafortes externos, o arquiteto pôs sob controle o peso dos materiais sujeitos à força da gravidade. Os grossos muros de antes se tornaram agora meros tapumes de vedação e puderam ser substituídos pelo material mais leve que existe: o vidro. E as igrejas góticas encheram-se dos mais belos vitrais. Com este sistema, a cobertura por abóbada ogival chegou, em Beauvais, perto dos sessenta metros (como um edifício de 20 andares), em Milão, aos oitenta (como um edifício de 27 andares), e, em Chartres, a cento e cinquenta e dois metros (como um edifício de 51 andares) as torres externas.

Poderíamos ter feito esta pesquisa também em relação à área interna útil desses templos, os quais foram crescendo à medida que também crescia o número de fiéis – e os resultados iriam ter o mesmo sentido, causando o mesmo impacto. Nos dois últimos períodos as comunidades adquiriram o costume de construir as próprias igrejas, pagando em cotização geral as despesas e fornecendo a mão de obra, porquanto cada pessoas dava dois ou três dias de sua semana ao trabalho comunitário. Durante o gótico, principalmente, houve comunidades de oito a dez mil habitantes que edificaram matrizes para abrigarem até trinta ou quarenta mil fiéis, como se todos estivessem de olho bem aberto nas futuras expansões demográficas! Para não irmos longe e não perdermos tempo com números, basta somente compararmos, por exemplo, o Duomo de Milão em sua grandiosidade (praticamente o último monumento gótico construído) ou a Catedral de Beauvais, o mais amplo dos templos franceses, com as demais igrejas anteriores – e teremos perfeita idéia desse vertiginoso crescimento.

Contudo, por mais que possamos sentir a par e passo todas as evoluções técnicas dadas de um período ao outro, a verdade é que jamais a opulência da construção posterior diminuiu, seja em que aspecto for, a opulência da anterior. A emoção, que sentimos, ao visitarmos as capelas e os arcossólios tão singelos das catacumbas, é a mesma que sentimos, ao entrarmos na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, na Catedral de Santa Sofia, de Constantinopla, ou na Catedral de Notre-Dame, de Paris, porque em todas sempre vamos encontrar, seja ela um templo grande como o de Nossa Senhora das Graças, de Milão, ou um templo pequeno como a Sainte-Chapelle, de Paris, a presença indelével do impulso criador que as gerara: a grandiosidade, essa grandiosidade espiritual que as embalsama e em nós incute o sentido de enlevo e de prece.

O historiador alemão Lutzeler, estudando a arte criatã em suas características e objetivos, dividiu-a de maneira muito significativa em dois ciclos: o da Epopéia e o da Tragédia. Ora, a arte é um instrumento de raciocínio e expressão. O artista, durante o primeiro ciclo, procurava Deus, sacrificando o homem, pelo que sua arte era essencialmente espiritualista, fugindo ao corpóreo. Toda a Arte Medieval se desenvolveu no âmbito do ciclo da epopéia, procurando expressá-la num crescendo de conquistas. Giotto, ao intuir a possibilidade de fazer com que a arte se voltasse para a vida e para o mundo, nele valorizando o homem, ao mesmo tempo em que cavou todos os alicerces sobre os quais se ergueria o edifício do Renascimento, deu também início ao ciclo da Tragédia, em que o artista continuou a procurar Deus, mas agora sem sacrificar o homem, donde ter surgido uma arte voltada para a realidade presente aos seus olhos, pulsante e sensual. É por isto que não fico convencido quando vejo alguns estudiosos filiarem Giotto ora ao bizantinismo ora ao goticismo. Pode ser que tenha tido influência daqueles períodos, mas suas prospecções estéticas foram muito além dessa filiação.

Assim, a Arte Gótica significou a chegada ao ponto extremo do ciclo da epopeia,dando oportunidade a que a Igreja, para subsistir, mudasse de rumo, tanto material, quanto espiritualmente, mudando seus objetivos. Era chegado o momento de o suor e a lágrima humanos se elevarem à condição de tema e base artística.

Ilustrações:
1.Iluminura do Livro de Horas de Bedford
2. Vitral da Sainte-Chapelle, Paris

Exposição – HERANÇA DO SAGRADO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É a maior mostra de arte sacra realizada no Brasil e uma das mais importantes com o acervo do Vaticano fora da Itália. (Mônica Xexéo, diretora do Museu Nacional de Belas Artes/ RJ)

A exposição proporciona amplo entendimento da singularidade de importantes períodos artísticos, como o Renascimento e o Barroco.  (Morello, pesquisador durante 30 anos na Biblioteca do Vaticano)

Não se pode negar a importância da Igreja Católica em relação às artes, pois ela foi responsável por incentivar e abrigar, especialmente na região que forma hoje a Itália, grandes mestres e suas artes, nos mais diferentes estilos e épocas, cujo apogeu deu-se no período da Renascença. Prova disso são os mundialmente famosos Museus Vaticanos, que abrigam tesouros inestimáveis, e, que se encontram entre os mais visitados do mundo.

Os Museus Vaticanos e outros ligados a dioceses e instituições católicas, assim como donos de algumas coleções particulares, emprestam 106 obras de arte para que seja realizada no Brasil a exposição Herança do Sagrado, que permanecerá em nosso país por um período de três meses. Dentre os grandes nomes da pintura estão Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravaggio, Fra Angelico, Guido Reni e Ticiano. Embora não se trate das obras maiores desses artistas, é uma ocasião ímpar para admirar o trabalho desses grandes nomes da pintura e escultura.

Na sala que retrata a imagem de Cristo, vê-se o Mandylion de Edessa, peça que compõe o acervo da Sacristia Secreta, sala anexa à Capela Sistina e à qual apenas o papa tem acesso. Trata-se de uma têmpera sobre linho colado sobre madeira de cedro com a imagem de Cristo datada do século III a IV dC., com moldura em ouro, prata e pérolas de Francesco Comi (1623). No Mandylion (‘tecido’ em grego), segundo a tradição católica, a imagem de Cristo não teria sido pintada, mas ‘se manifestou milagrosamente’, de acordo com Morello.

Na mesma sala, o público verá a tela ‘Salvador Mundi’ (século XVI), de Leonardo da Vinci, em que o curador apontou uma polêmica entre os historiadores da arte: o globo na palma da mão de Cristo é composto por quatro partes, diferentemente das três retratadas na época – o que indicaria que Leonardo da Vinci saberia da existência da América.

A ‘Pietà’ de Michelangelo é uma réplica de 1975, pois a original foi danificada pelo martelo de um homem em 1972 e hoje, restaurada, não sai o Vaticano. Na mesma sala, está a tela pintada a partir da imagem de Nossa Senhora Aparecida, de autor paulista desconhecido e datada de meados do século XX,  enviada à Basílica de São Pedro de acordo com a tradição de mandar pinturas e esculturas de santos coroados ao Vaticano.

A exposição é dividida em 4 módulos:

  1. O primeiro é dedicado às representações de episódios da vida de Cristo, com destaque para obras como Ressurezione, de Ticiano, e outras de Peter Paul Rubens.
  2. O segundo aborda a vida e a missão dos apóstolos Pedro e Paulo e tem como destaque achados e obras de arte provenientes da antiga Basílica de São Pedro.
  3.  O terceiro tem como tema a Virgem Maria, representada por obras significativas como Madonna del Davanzale, de Pinturicchio, datada de 1490.
  4. O quarto é formado por obras e relíquias que remetem à vida dos santos, retratados em obras de Caravaggio e Guido Reni, entre outros mestres do Renascimento.

Nota:
Nesse último segmento, a exposição faz uma homenagem ao Rio de Janeiro, ao mostrar o relicário que abriga os restos mortais do crânio de São Sebastião, o padroeiro da cidade.

O que poderá ser visto:

  • Ressurreição, do pintor Ticiano;
  • Quatro feições de Cristo, postadas lado a lado;
  • Uma escultura rara atribuída a Leonardo da Vinci;
  • São Pedro, obra do espanhol José de Ribera;
  • O Salvador do Mundo, de Melozzo da Forli;
  • Madonna del Davanzale, de Pinturicchio;
  • A primeira representação de Jesus Cristo, de autor desconhecido e pintada entre o terceiro e o quinto século da era cristã;
  • Relicário que abriga os restos mortais do crânio de São Sebastião
  • Antiguidades e objetos sacros de estilos e épocas diversas, etc.

A exposição Herança do Sagrado iniciou-se no dia 10 de julho e se prolongará até 13 de outubro. Trata-se do principal evento cultural da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Fontes de pesquisa:
Revista Veja/ 26-07-2013

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Nota: Foto Agência Brasil

O NEOBARROCO DE HÉLIO PETRUS

Autoria de Merania de Oliveira

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Procuro tirar aquela densidade dramática e sofrida dos santos do barroco do século XVIII para torná-los mais alegres e joviais. Como por exemplo, os meus Sãos Franciscos trazem pássaros e não a caveira, algo comum, aliás, bem usual, nas mãos do São Francisco das nossas igrejas setecentistas. Nas talhas, também as virgens e as madonas são geralmente jovens alegres. Por isto, meu trabalho é denominado neobarroco. (Hélio Petrus)

Hélio Petrus descende dos esplêndidos autores que tornaram a ornamentação dos retábulos e das naves do século do ouro a viagem delirante a um universo de formas encantadas. Sabe como acumular a riqueza dos detalhes e alcançar as nuanças que o cedro sugere. Madonas, anjos e arcanjos circunvolam em cirandas de nuvens. À frente de uma legião seráfica, Francisco de Assis conversa com os pássaros e se eleva, em êxtase, para o voo sublime. (Ângelo Oswaldo – curador de arte e atual presidente do Instituto Brasileiro de Museus IBRAM)

O trabalho de Petrus é classificado como neobarroco, que apresenta um estilo genuíno com densa diversidade. Cada anjo tem o rosto próprio cujo entalhe traz uma encarnação sempre diferente. (Roselli Santaella – doutora em história)

Embora tardia a vocação de Hélio Petrus para a arte do entalhe, ele se consagrou como grande ícone na arte sacra. Seu trabalho é reconhecido como neobarroco, além de ser professor e descobridor de talentos. Homem culto, amável e de muita fé, assim é conhecido o mestre do entalhe de Mariana, Hélio Petrus Viana, 70 anos.  Nasceu em Felipe dos Santos, povoado distante 50 km de Mariana, para onde foi ainda criança residir, fazer o curso primário e depois o seminário.  Ele se inspira em obras dos mestres Aleijadinho, Vieira Servas e Manoel da Costa Ataíde para produzir seus trabalhos, cujo tema preferido é a Arte Sacra.

A vocação artística despertou-se somente aos 25 anos, quando cursava Letras. A partir deste momento, passou a estudar e conhecer o barroco com mais profundidade, principalmente a obra de Aleijadinho, Vieira Servas e Athayde, os grandes artistas mineiros do século XVIII. A descoberta da obra desses mestres inigualáveis, ali tão perto, fê-lo se encantar com a beleza barroca e se apaixonar pela arte. Sentiu-se motivado e começou a executar os primeiros trabalhos, os querubins, e a produzir certos detalhes que via nas igrejas marianenses. Anos mais tarde, aprofundou seu estudo sobre o barroco europeu, principalmente o italiano. Com isto, passou a utilizar tons mais claros denominados pátina.

Petrus já esculpiu obras famosas como a Madona de Cedro, que a Rede Globo de Televisão usou para filmar a minissérie de mesmo nome em 1994. Tem realizado obras para a ornamentação de capelas e igrejas e para acervo de colecionadores particulares, como a capela do padre cantor, Fábio de Melo. Sua mais nova alegria é saber que o Papa Francisco que virá ao Brasil neste mês, receberá como presente, um São Francisco esculpido por ele, Petrus. É mais um coroamento do seu grande êxito. Para o presidente da Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras, Roque Camêllo, “Hélio imprime em suas obras o caráter espiritual de sua própria vida plasmada em suas raízes familiares e entre as paredes do tradicional Seminário de Mariana, ícone da sabedoria e da religiosidade. É fruto também deste cenário vivo da cultura que são nossas cidades Históricas. Agora, Hélio vai para o Vaticano com seu São Francisco como já foi para o mundo com suas mãos abençoadas”.

Quando se deu, em 1999, o incêndio do Santuário do Carmo de Mariana, foi contratado para produzir réplicas de imagens consumidas pelo fogo. Seus trabalhos se encontram em vários estados brasileiros e em outros países como Portugal, França, Bélgica, Itália, Suíça, Japão e Estados Unidos.

Hoje, Petrus tem um rico acervo de obras barrocas e o ateliê, no Centro de Mariana, onde trabalham com ele jovens artistas. Ao longo desses anos, procurou identificar talentos, partilhando com esses sua arte, orientando-os no aprimoramento do estilo barroco, na talha e na escultura em madeira. Seus seguidores fazem questão de chamá-lo de mestre. Em sua simplicidade afirma: “Foi uma gratificação muito grande esta inspiração que eu tive em associar a meu trabalho talentos jovens”. Sendo a obra na madeira demorada, porque exige paciência e precisão no corte do entalhe, Petrus associou jovens habilidosos ao seu trabalho. Assim, conseguiu três coisas: primeiro o aprimoramento, depois uma produção suficiente para fazer exposições e uma terceira que é dar oportunidade e incentivar os aprendizes. Segundo o artista “não basta ter apenas habilidade, é necessário muita aplicação”.

 O turista que vai a Mariana se extasia diante de igrejas e monumentos do século XVIII, mas sua visita será mais completa se conhecer Hélio Petrus e seu ateliê, ali na rua Dom Silvério, que o povo continua chamando rua Nova, porque foi a última a ser construída quando Dom João V mandou planejar a cidade, em 1745. No meio desse ambiente de História e vizinho de nomes comuns da antiga Vila do Ribeirão do Carmo como Athayde, Aleijadinho, Servas e outros, é que vive Hélio Petrus, um nome do presente que o futuro incluirá entre aqueles. Já consagrado, não perde a simplicidade, o bom humor e a fidalguia em receber, com um sorriso constante e um coração generoso todos que o procuram.

Marlene Maia, presidente do Movimento Renovador de Mariana afirma: “O artista não tem pátria porque a arte é universal, mas Hélio Petrus não tem como negar que sua obra revela a alma e o sentimento de Mariana”.

A acadêmica e especialista em História da Arte, e especialmente em arte barroca, professora Regina Almeida, afirma que: “A arte de Hélio Petrus transporta o céu para a terra e nos conduz, da terra, ao céu. É arte que enleva e eleva!”.

Nota: São Francisco que foi doado ao Papa Francisco.

APOCALIPSE E ARMAGEDOM

Autoria do Prof. Pierre Santos

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E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de terra, e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua tornou-se como sangue (São João, Apocalipse 6:12)

O exagero visionário do apóstolo João propiciou o entendimento equivocado de dois termos por ele empregados, transformando-os e lhes incrementando o sentido: apocalipse e armagedom. Já me referi à formação do primeiro e ao seu real sentido, que é revelação. Assim, se os Livros dos Evangelhos tivessem que ser titulados, o título que me parece mais correto para o livro de São João é Revelações de Jesus Cristo e se refere a tudo quanto o mestre pregou nos sermões que fez na Galiléia. Se alguém quisesse dar a esse livro o título de Apocalipse de Jesus Cristo, não estaria errado, mas tal título seria, no mínimo, estapafúrdio em nossa atualidade, dadas as conotações que o termo passou a ter.

Algo parecido aconteceu com a palavra armagedom, que ficou, erradamente, como nome da Batalha Final, de que se encontram referências nos textos antigos. Embora o apóstolo João tivesse sido o único a dedicar um livro inteiro ao tema do apocalipse, o último do Canon, os demais autores dos evangelhos – e São João também – registraram em seus escritos as previsões de Cristo declaradas no profético sermão feito no Monte das Oliveiras, quando somente João e Mateus estavam presentes. Assim escreveu Mateus sobre o sermão:

 “29. Logo depois da aflição (outro nome que o evangelista deu a tribulação) que naqueles dias haverá, o Sol ficará escuro, a Lua negra, as estrelas cairão do céu e as forças que suportam o universo serão sacudidas. 30. Por fim, aparecerá nos céus o sinal da minha vinda e haverá grande choro em toda a Terra. E as nações do mundo ver-me-ão chegar no meio de nuvens no céu, com poder e grande glória. 31. E enviarei os meus anjos com forte toque de clarim, que juntarão os meus escolhidos dos pontos mais distantes da Terra e do céu.” ((Evangelho segundo Mateus (24:29 a 31):

 Isto mostra que as revelações de Cristo incluíam previsões de acontecimentos futuros. Não obstante, nem Jesus, nem ninguém mencionou a palavra Armagedom, a não ser São João, segundo já foi citado no presente texto, dando ao termo o peso de um significado simbólico. As escrituras são claras e registram escritas antigas exaradas pelos profetas e retomadas posteriormente, segundo as quais, antes da Batalha Final, os exércitos convocados pelo falso profeta, o anticristo, a besta, cada um comandado por seu rei, deveriam reunir-se na Planície de Megiddo, abaixo de Har Megiddo, ou seja, abaixo da colina de Megiddo, porque Har significa colina (monte pequeno) e Megiddo significa local para reunião de multidões. Por conseguinte, Har Megiddo é um platô a noroeste da planície onde está localizado, em cima do qual foi construída uma cidade, destruída depois e novamente construída, isto vinte e cinco vezes ao longo da história, pois há ali, segundo mostraram as escavações realizadas no local, vestígios de vinte e cinco cidades. A colina de Megiddo é uma vasta extensão territorial existente ao norte de Jerusalém, dali distando cerca de 130 km, situando-se logo abaixo de Nazaré, lugar onde Jesus Nasceu, e muitos quilômetros acima de Tel Aviv, medindo 30 km de comprimento por 22 km de largura. Essa região, conhecida também pelos nomes de Vale de Jezreel em hebraico e Vale de Esdraelom em grego, foi palco em tempos antigos de muitos conflitos e dezenas de guerras. Importantes reis e generais, que deixaram seus nomes na história, ali guerrearam, sendo os mais importantes entre eles: Tutmosis em 1.500 aC, Ramsés e1,350 aC, Sargão em 722 aC. Senaqueribe em 710 aC, Nabucodonosor em 606 aC, Ptolomeu em 197 aC, Antíoco Epífanes em 168 aC, Pompeu em 63 aC, Tito em 70 dC, Cosroi da Pérsia em 614 dC e Omar em 637 dC.

Contudo, quem fez a tradução do texto antigo, incluído no Velho Testamento, não foi feliz quando traduziu Har Megiddo por Armagedom, criando a confusão, porque o texto ficou assim: “Os exércitos se reunirão na planície antes do Armagedom, a Batalha Final” e não assim: “os exércitos se reunirão antes na Planície de Armagedom, para a Batalha Final”. Em decorrência deste equívoco, a palavra Armagedom ficou sendo o nome da destruição da humanidade e do mundo, como resultado daquela extrema luta determinada pela vingança de Deus, por terem os reis se aliado com o falso profeta.

Assim, por causa das exageradas interpretações em cima do texto hiperbólico do apóstolo João, os vocábulos apocalipse e armagedom acabaram sendo sinônimos, passando ambos a sugerir a idéia de hecatombe geral e definitiva; mas o primeiro, conforme já se informou, significa, originalmente, apenas revelação, e o segundo é, simplesmente, o nome de uma vasta planície ao norte de Israel e de um platô onde se construíram cidades, o que já se explicou. Nas ruínas da última cidade, que ali houve, foram encontrados vestígios daquela que pode ter sido a primeira igreja construída no mundo. Só o resultado das escavações, que estão em processo, poderá dizer ao certo do que se trata.

Nota: Peter Brüeghel, O Triunfo da Morte, 1562, ost, 117 X 162 cm, Museu do Prado, Madri