Autoria de Lu Dias Carvalho
Se estes olhos de sofrimento levantam um som de lamento da vossa parte, então a obra de Giovanni Bellini pode iluminar. (Inscrição na laje)
A composição Pietá, também conhecida como Cristo Inoperante Apoiado por Maria e João, é uma obra-prima do pintor italiano Giovanni Bellini, que nela deixa patente o sinal de sua plenitude como artista. É tida como uma das mais belas e comoventes telas da história da arte cristã, em que a dor da Mãe, que recebe o Filho martirizado, estende-se ao sofrimento de todas as mães, em todo o mundo, que vivem tragédias semelhantes. A proximidade da cena parece fazer com que a dor transponha a tela e atinja, em cheio, quem a observa. Essa dor é ao mesmo tempo particular e universal.
O pintor apresenta, agrupados em primeiro plano, a Virgem Maria, à direita de seu filho martirizado, e o apóstolo São João Evangelista, à esquerda, tendo atrás um horizonte infinito. Amobos mostram-se em profundo sofrimento, amparando o corpo sem vida de Jesus Cristo, que fora retirado da cruz. O braço esquerdo do Mestre, que termina num punho fechado, apoiado sobre a pedra, lembra o de um atleta.
A pele de Cristo já se mostra extremamente pálida. Seu semblante sem vida, com os olhos cerrados e a boca entreaberta, deixando visível parte da arcada superior, mostra uma profunda entrega ao suplício da crucificação e morte. O corpo de Jesus está envolto apenas por um lençol branco, embora não seja visível a parte inferior. A coroa de espinhos ainda cinge sua cabeça, fazendo com que pingos de sangue escorram sobre sua testa e face. Sua cabeça pende para o lado da Virgem Mãe. Seu cabelo, em cachos, emoldura-lhe o rosto inerte, e desce pelas costas. A barba desponta em pequenos tufos. As marcas da tortura estão visíveis na cabeça, no lado direito do peito e nas mãos. As veias no braço esquerdo e mão de Cristo são impressionantes.
Maria ampara com ternura a cabeça do Filho com seu próprio rosto, sabedora de que este é o último contato físico que terá com ele. Ela segura sua mão direita, dobrando seu braço até à altura do coração, enquanto cinge-lhe os ombros com a esquerda. A mão esquerda do filho é amparada por uma laje, na qual se encontra uma inscrição (ver na frase em negrito). Assim como Jesus e o apóstolo, ela traz um fino halo em torno da cabeça, comprovando sua divindade. Os personagens presentes demonstram um sentimento humano e psicológico.
São João Evangelista segura o corpo morto de Jesus pela esquerda, envolvendo sua cintura. Ele desvia o olhar da Virgem e de seu Filho, tamanha é a sua aflição. Seus olhos esbugalhados e sua boca aberta demonstram surpresa e incredulidade diante do que está ocorrendo. Ele fixa os olhos ao longe, como se quisesse reservar à mãe e ao Filho os últimos momentos, juntos. Chama a atenção os pormenores dos cabelos cacheados do santo. Em segundo plano estende-se uma paisagem, apenas sugerida, com um caminho que serpenteia, levando ao Monte Calvário. Um céu entristecido e uma luz fraca e difusa cobrem os personagens e tudo em volta, reforçando a sensação de angústia.
Ficha técnica
Ano: c. 1465/70
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 86 x 107 cm
Localização: Pinacoteca de Brera, Milão, Itália
Fontes de pesquisa
Murillo/ Abril Cultural
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
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Gostaria de saber sobre a análise denotativa, conotativa e as curiosidades… Se fosse possível! Espero pela resposta.
José
O que tenho sobre a obra é somente o que publiquei. Certo? A leitura denotativa, ou objetiva, refere-se à descrição dos elementos presentes na obra. A conotativa, ou subjetiva, é a interpretação da imagem de acordo com o seu marco de referências, com sua visão pessoal.
Abraços,
Lu