Autoria de Celina Telma Hohmann
Uma das situações que ainda me trazem incômodo, é pensar na possibilidade de um dia, considerando que meus idosos, todos já se foram, parar numa dessas instituições (ILPI), ainda que o sombrio passado dos asilos, albergues, hoje difere, pois as ofertas de locais mais prazerosos existem, sim, e com o cuidado necessário. Mas ainda assim, confesso, não teria coragem de deixar uma pessoa da minha família – seja em qual condição fosse – abrigada longe da minha presença. E vou tentar resumir o porquê, sem tentar ofender ou desvalorizar os novos modelos de instituições que estão sendo ofertadas.
Sou dessas pessoas que veem nas carências humanas o mais temido dos sentimentos, pois sabemos, até nossos bichinhos de estimação sentem, se são afastados, abandonados, deixados de lado. Por muito tempo dediquei uma parte do meu tempo a trabalhos voluntários e, por incrível que pareça, tudo teve início no trabalho com idosos em asilos. Eu precisava fazer isso, pois a velhice, em minha juventude explosiva e vibrante, era algo que incomodava. Via pessoas idosas, mas só as via. Conversava com elas, batíamos papo e eu fingia que gostava. Gostava, não! Julgava que todo idoso em condição ruim estava pagando pelos erros do passado. Meu Deus! Tolice é semente de mostarda comparado ao meu erro de interpretação.
Sempre senti vontade de fazer algo útil, e aí, aceitando convite de senhoras, dessas que fazem do voluntariado um sacerdócio ou um passatempo, embrenhei-me pelo trabalho com os idosos. Foi o melhor que pude fazer. Cresci na primeira visita ao Lar das Vovozinhas, onde, pela primeira vez, fiz algo que deveria ter feito antes, muito antes. Das lembranças que guardo, essas estão entre as melhores. Conheci o mundo nesse período de minha vida, onde eu, em plena capacidade, dava o meu melhor às que já estavam sem forças físicas, sem vislumbrar horizonte algum. E fez um bem danado! Amo lembrar que fiz isso com tamanho empenho e respeito. Diga-se que o respeito surgiu. Ele não existia.
Vivenciei as dores do abandono na velhice, não na condição de abandonada, mas tentando alegrar rostinhos que não se alegram. Os que estão felizes fora do seu lar natural, normalmente o estão por comprometimento da razão. A senilidade, precoce ou não, a demência, absurdamente comum com a idade já avançada. Exceções existem, mas o caminho natural é esse. Quando há esse comprometimento, afastado todos os demais que incapacitam, mas não comprometem a lucidez, pela própria condição, o que ocorre ao redor do idoso nem o afeta. É uma criança que tem rugas, pele ressecada, cabelinhos ralos e caminhar lento. Pode manter a alegria, mas não é a alegria espontânea, natural.
Hoje, o que prolifera são hotéis para pequeninos, lares para idosos, enfim, temos que deixar crianças e velhos aos cuidados dos outros, pois precisamos trabalhar… Virou conceito, a forma básica do pensamento de que para eles, crianças ou idosos, o melhor é estar num lugar onde o cuidado é garantido, afinal, há toda uma estrutura e equipe preparada para cuidar desses nossos amados, que não podemos, de forma alguma, deixar aos cuidados de qualquer um, e então, a saída sadia é deixá-los onde julgamos que estarão bem. E paga-se caro por isso! Mas é o melhor, não? Discordo, mas deixo a liberdade da aceitação de que escolas para crianças, quando um pouco maiores, fazem bem, sim! E dou-me a liberdade e essa opinião é exclusivamente minha, em não aceitar que isso faça bem quando são ainda muito pequenos. Valendo para quando nossos idosos já representam transtornos.
Quem avalia que, dentro de um lar de idosos, eles estão tendo tudo o que necessitam? Quem não vive o dia a dia deles. Quem paga um valor monetário alto para mantê-los em local próprio para que não incomodem. Há conforto, há estrutura, repito, mas falta o amor, aquele amor que só a família pode dar. Por vezes não dá e isso é comum, mas também há exceções e muitas.
Meu trabalho foi com velhinhas carentes e algumas nem tanto. As que não pagavam nada e as que a família pagava e muito bem. Umas em alojamentos conjuntos, outras em apartamentos individuais. Garanto que, em conjunto, eram mais felizes. Ou se divertiam mais, sem que se percebesse nelas que o afastamento havia feito tanto mal. Há casos em que ficam melhores se longe dos seus. Fico feliz quando encontro eco para esses desabafos que são motivados pela incredulidade de que alguns, justificando motivos que nem sempre têm uma razão efetiva, afastam os seus, como se isso fosse um favor.Não é favor, é desamor! Senão desamor, um certo quê de displicência, ou dê-se o nome que se der, ainda assim, é injusto!
A convivência afetiva é importantíssima! Pena que isso seja só importante e necessário e não a realidade. Quem tem a coragem – e aqui exponho minha covardia – em levar um dos seus para fora do lar, usando a desculpa que melhor convenha, não imagina o que está fazendo. Abrevia o resto de felicidade que esse ser possa almejar e ter direito. Vem a solidão, mesmo que rodeados por outros em condição idêntica, ou, como se prega, iguais em pensamento e visão de vida. Balela! Eles sofrem. Por vezes esbravejam, xingam, brigam. Noutras, calam-se, e é o calar-se por não ver motivo para falar nada. Mesmo as “besteiras dos velhos” já não saem mais dessas bocas. Para quê? Não haverá respostas.
Vemos idosos felizes, dançando, passeando e viajando com grupos da “Melhor Idade”. Mas quem nos mostra isso? A televisão e um ou dois casos onde a convivência deu certo? Velhinhos saltitantes jogando baralho, contando piadas, praticando esportes existem, claro. Mas se saíram de suas casas – já não suas – e foram para algum lugar agradável, o fizeram por opção e, porque podem pagar. Esses são pouquíssimos, e, graças a Deus, existem. Mas a maioria representa o tronco da velha árvore que apodreceu e pode cair, e caindo, destruirá nosso telhado, ou muro, ou jardim bacana.
Os cuidados adequados em casos extremos terão um melhor suporte nos ILPI. Concordo! Mas, infelizmente, com toda a certeza, garanto, em sua maioria, somente o tratamento médico é eficaz. A comida, excelente para a idade. Mas quem disse que velho gosta só da comidinha que antes odiava? E quem serve a comida ao idoso não pode nem sentar-se com ele. São regras, em grande parte das clínicas. Então, colheradas rápidas e certeiras, e, claro, em pé! Isso não é carinho. É cuidar como se cuida de um estabelecimento qualquer. É um trabalho. Quem percebe que o abraço do enfermeiro ou cuidador tem, para o idoso, o mesmo calor que o do filho, dos netos? Os que não têm esse abraço e recebem o abraço do próximo, que pode dar carinho, mas o carinho que varia em cada turno. Filhos/netos/noras e demais, só visitam, levam as melhores roupas, mas com horário certo e rapidez em sair dali… Cumpriram a obrigação. Então, pronto, fez-se o melhor!
Complicado, principalmente se nos damos conta de que o número de idosos é enorme e continuará aumentando. Reflexo dos novos tempos. Casais de filho único terão qual futuro? O que me conforta é que os meus velhinhos morreram em casa e nos meus braços, exceção para minha avó materna, que faleceu quando levantou para tomar banho pela manhã, dizendo que ia morrer, e minha prima apoiou-a em seu último instante. Educo minha filha, como fiz com meus sobrinhos, para que a família seja um laço eterno. E que, quando o físico não mais responder como antes, haja o contato, o olhar, o afago… Isso sempre será por pouco tempo. Sei que existem clínicas bonitas e equipadas, mas sem o perfume gostoso que exala do lar.
Com toda certeza, há muitos que pensam que as tais Instituições são o melhor. Não vivem dentro de uma delas. Livram-se da penosa obrigação de cuidar, e com esmero, daqueles que precisam de cuidados. Há instituições, mas há também hospitais quando nossos velhinhos não estão bem. E se nas instituições há lazer, quem disse que não podemos nos divertir com os que viram, novamente, crianças fragilizadas? Pode ser difícil, mas quando temos dentro de nós um pouco de consciência, senão o amor incondicional, nossos idosos partirão, mas embalados pelo saber que não foram abandonados. Os trapinhos que um dia protegeram-nos do frio, os que nos supriram, os que ensinaram, os que nos toleraram em nossas birras de infância, adolescência e nos deram força em nossa vida adulta, não são parte de nós. Nós é que somos parte deles! Se cortamos a raiz, como caule, também ressecaremos. Se isso não ocorrer, não somos seres vivos. Somos pedras, e essas, ainda mesmo que o tempo e as intempéries as modifiquem, não mudam sua condição. Pedras, unicamente pedras!
Nota: imagem copiada de grupodeoracaoagape.com
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Interessante!
Alan
Os artigos do Dr. Telmo são sempre muito sensíveis, atuais e cheios de verdades.
Obs.: o seu e-mail está incorreto.
Abraços,
Lu
Olá, Celina.
Há muito já é sabido por todos que a convivência e o aconchego familiar é como um ‘elixir’ imprescindível na cura e prolongamento da vida do ser humano. Mas, para muitos, e por diversas razões que, por mais que sejam aparentemente consideradas soluções adequadas (para mim são cruéis), quando é chegado esse momento, de colocar em prática tal conceito de vida, menosprezam-no, cortando esse vínculo tão sublime e sagrado.
Com a atitude de abrir mão de cuidar de um ente querido, demonstram laços afetivos frágeis e intolerantes e uma falta de comprometimento por causa de um amor líquido, raso. Se sentem ameaçados, temerosos de que o parente possa atrapalhar suas vidas ‘tão importantes’, e na ânsia de vivê-las sem nenhum empecilho, se esquecem da importância que os seus sempre tiveram e a necessidade de serem retribuídos por tudo o que plantaram.
Tempos em que existe uma nova ética da forma de amar, pautada pela fragilidade e desumanização das relações e, como já foi citado, pessoas que são tratadas como mercadorias.
Minha mãe teve uma experiência bem desagradável ao descobrir por acaso, um irmão morando nessas casas de repouso. E toda vez que vamos visitar esse tio na “Casa de Repouso Dia Feliz”, que de feliz não tem nada, surgem esses questionamentos em minha mente, a capacidade do ser humano de ser tão insensível; sentimentos de incredulidade e perplexidade (os filhos e netos o abandonaram lá).
Ao chegar, observo meu tio mais esquecido das coisas, mais abatido e fragilizado pelas doenças e pior, cada vez mais triste. Ao sair, penso que poderíamos viver num mundo melhor se houvesse mais amor e compaixão pelo próximo.
Parabéns pelo texto que retrata muito bem a realidade em que vivemos.
Um abraço,
Rosali Amaral.
Rosali,
Você vivencia como a separação dos familiares faz murchar a vontade de viver. Abre facilmente a cova, motivada pela certeza da menos valia, do sentir-se um inútil! Há temas inquietantes e esse é um dos mais dolorosamente complexos. Não podemos tomar partido quando não parte de nós essa separação, mesmo que haja boa vontade de nossa parte.
O que e essas pessoas perdem ao relegar à outrem os seus, não será medido, quantificado, mas perdem a melhor parte: sentirem-se felizes ao relembrar, mais tarde, o aperto de mão, o abraço não tão forte, mas tão sincero, e o brilho nos olhos, que mesmo embaçados pelo tempo, ainda mantém aquele brilho da esperança e da segurança. O dia a dia com um idoso adoentado não é fácil, e por vezes, complicado. Mas se tivermos amor, com ele vem a força, como que saindo sabe-se lá de onde, mas conseguimos, diariamente, ajudá-los a viver e com eles, viver plenamente.
Famílias que se sentem confortáveis ao levar os seus onde os cuidados são adequados, não o fazem imbuídos da melhor das intenções, em absoluto! É livrar-se do fardo, esquecendo-se que no passado, o fardo eram eles, de alguma forma!
Oxalá, haja uma revolução nessa mentalidade oca e voltem os princípios de que família é base, sustentação e mantenha-se o ciclo natural do nascer, viver, envelhecer e morrer sem a terrível sensação do abandono. Que os “trapinhos” mantenham o status de dignos e valiosos, pois o são.
Um abraço forte, onde a cumplicidade se manifesta através desse gesto, mesmo que à distância.
Celina
Celina
Amei o seu texto, pois eu também tive uma avó, materna, que tenha Alzheimer. Eu e minha mãe cuidamos dela, que foi amada até o último dia dela. Eu era incapaz de a entregar num lar, ela já comia por uma sonda, ficou com paralisia, não falava com a boca, mas com os olhos. Se eu a entregasse a um lar, estava a cometer um crime. Felizes aqueles que têm veem os idosos como nós, pois também para lá vamos. Muitos se esquecem disso, principalmente os jovens,temos de os chamar à razão.
Abraços
Rui Pedro
Rui Pedro
Que felicidade em descobrir que muitos agem dessa forma! Você conta que ela, entre outros problemas, não falava com a boca, mas expressava-se com os olhos… É por isso que, também, de forma alguma, abandonaria um ser tão valioso. Nos olhos, na busca há toda compreensão do que acontece ao redor deles e eles sabem, com certeza, se estão entre a família que os ama ou com estranhos, que a eles não significam nada até então. Felizes somos nós, sim!
Um forte abraço em seu coração e que essa bondade lhe dê, como retorno, a recompensa em forma de paz, tranquilidade, saúde e certeza de que o que é feito com amor, terá no amor o presente merecido.
Celina
Obrigado pelo seu abraço sincero, um para si do mesmo tamanho, pois a recompensa a recebo todos dias, tudo que você diz da recompensa já é acrescentado na minha vida.
Abraços,
Rui Pedro
Celina
Você fez um excelente texto, muito emocionante, sobre uma das questões que, infelizmente, hoje floresce como nunca na insensibilidade de milhares de pessoas: o abandono dos idosos. Não serve e nunca servirá de desculpas, para os filhos que abandonam os pais, terem-nos colocados em um asilo. No fundo, as pessoas que assim agem pensam em se livrar daqueles que lhes deram a vida e lutaram por eles com muito amor e dedicação. É triste o seu relato, que, asseguro-lhe, também conhecia, pois morei uns vinte anos, tendo um asilo em frente a minha casa.
Com frequência visitávamos os velhinhos, que, embora muito bem tratados (era um asilo, no qual freiras católicas faziam a sua manutenção), percebíamos, eu e minha esposa, que eram pessoas carentes de carinho e amor. Quando lá chegávamos, principalmente a Cidinha, minha esposa, ia dando beijinhos e brincava com todos os asilados, chamando-os pelos seus nomes (que a Cidinha propositadamente decorava). Eram, no caso, muito bem tratados materialmente e, mesmo com o empenho espiritual das freiras, percebíamos que lhes faltava o afeto dos filhos. Empenhamo-nos em procurar as famílias que os asilaram. Pedíamos que, pelo menos, fossem com mais frequência visitá-los. E quando isto acontecia, nossa satisfação era muito grande, pois os velhinhos exalavam, como a rosa, o perfume da felicidade. Percebíamos a alegria que os dominava e, infelizmente, a tristeza na hora que voltavam às suas casas.
Uma vez, e foi muito triste este fato – um veículo de certo luxo – parou em frente ao asilo e as pessoas abandonaram uma velhinha na frente dele, depois que acionaram a campainha e, com muita pressa, saíram “voando” com o seu veículo. Um crime! As freiras saíram e recolheram a senhora idosa – que tinha, como fiquei posteriormente sabendo, Alzheimer em estado adiantado. Uma cena que me apavorou, uma punhalada em nosso coração. Fui até ao asilo e recomendei que se chamasse a polícia, pois o ato não era tão somente cruel e desumano, mas, com certeza, criminoso. Não sei se o fizeram. Sei que a velhinha ficou por lá e, com certeza, foi bem tratada pelas religiosas.
Bate e muito com seu relato metafórico que finalizou seu texto:
“Se cortamos a raiz, como caule, também ressecaremos. Se isso não ocorrer, não somos seres vivos. Somos pedras, e essas, ainda mesmo que o tempo e as intempéries as modifiquem, não mudam sua condição. Pedras, unicamente pedras.”
Depois de alguns anos, infelizmente, minha saudosa mãe também adoeceu com Alzheimer. Todavia, minha família, abençoada por Deus, jamais a abandonou. Ela continuou a viver na mesma casa, onde também meu saudoso pai faleceu. Todos os dias, toda a família ia visitá-la, ficando horas em seu redor. Não foi morar na minha casa ou de minhas irmãs, porque não queria de lá sair, sua própria casa. Tinha medo de sair. Contratamos empregadas, pagamos todas as contas, mas revezávamos. Sempre estávamos por lá, mesmo quando ela sequer já não nos reconhecia. E assim a mantivemos até a sua partida.
Seu texto sensibilizou-me muito, máxime pelos fatos, sintetizados, que vivenciei. Sei que não fomos pedras. Fomos muito, mas muito amor. E temos a certeza que minha mãe – mesmo não mais nos conhecendo – foi feliz com a família em seu redor.
Parabéns!
Edward
Fico feliz quando deparo-me com pessoas que se sensibilizam com a situação desses idosos, em especial. Envelhecer é consequência natural de viver, mas que nessa fase não se sintam como o lixo que diariamente jogamos fora.
Toda família, como a sua, é mesmo abençoada por Deus, tocada por uma força divina ao cuidar, acalentar, preocupar-se e estar junto de um dos seus, que já não mais conseguem, por conta própria, cuidarem-se, pois lhes falta a força e a vitalidade. Mas, que mesmo sem forças físicas e por vezes, como no caso dos que têm o temido Alzheimer, que mantém a mente, por vezes, em outra dimensão, numa realidade que não compreendemos. Não é culpa deles a dependência. É consequência e pode acontecer conosco, no futuro.
Sei que em asilos, muitos estão melhores que em seu nos próprios lares. Asilos, ainda que mal vistos, oferecem, por vezes, mais carinho que uma família toda. Mas é amargo a quem teve um lar, ofereceu o seu melhor, e mesmo que não o tenha feito por motivos que não nos cabe julgar, quando chegam à velhice, nosso dever é tomá-los pelas mãos e fazê-los sentir que têm valor, que nos preocupamos com eles. Manter nossos idosos em seu lar, dando-lhes apoio, carinho, amor, não faz bem somente a eles, mas também a nós, futuramente, ao sentir um alívio, mesmo quando nos deixam, por sabermos que estivemos ali, acompanhamos uma fase nem sempre boa, mas se há amor, esse é o bálsamo!
Sinto pelos que, com motivos que a eles é o correto, abandonam os seus. E mesmo que julguem que ao isolá-los numa dessas instituições o fazem para o bem dos idosos. Mentira! Fazem-no para livrarem-se do fardo. Mal sabem eles que lá, mesmo que com todos os recursos, ao menos se propaga isso, falta muito. Citei, e confirmo, há carinho, mas carinho por turnos! O caso da senhora abandonada em frente ao portão é um terror! Meu Deus! Como podem dormir em paz agindo assim? E, incrível, conseguem!
Hoje, já há um certo respaldo legal para que a internação em casas de idosos seja avaliada. Mas, quando há dinheiro em jogo e a “casa” mantém aparência própria para tal, aí nem com a avaliação prévia da necessidade é considerada. Velho também virou mercadoria e o comércio cresce! Graças a Deus, nem todos, e aí entram os bons caules,têm essa predisposição a livrar-se do que já os incomoda! Incômodo algum se por nós fizeram tanto, e mesmo quando nem são do nosso meio, temos como obrigação, dar-lhes o melhor. Perderam a saúde, mas que não percam o sentimento de que têm importância. Se crianças necessitam tanto de amor, os que já passam pela última fase da vida, em igual grau o necessitam!
Um grande abraço e o desejo de que sua família, toda, não perca essa luz que alguns apagam propositadamente!
Celina
Estou tirando do contexto da frase em que você a utilizou (mesmo que esteja se referindo ao comércio que pode existir em um asilo), para dar um sentido ainda muito mais cruel: “Velho também virou mercadoria ”
Cresci na Igreja Católica, porém não sou praticante. Sou deísta e aceito como muito importantes os ensinamentos cristãos. Assim, justifico-me para lembrar que o papa Francisco vem nos alertando para o fato de que a nossa sociedade atualmente está voltada para a cultura do consumismo, do mercantilismo e do descarte. Tudo, agora, virou comércio, virou mercadoria. Na sua visita à Bolívia, ele pregou “Jesus nos diz nesta praça: ‘Sim, basta de descarte'”, depois de censurar a “lógica que busca transformar tudo em objeto de troca, de consumo, tudo negociável”.
Lembrei-me desta pregação do papa Francisco quando mencionou “Velho também virou mercadoria”. Famílias hoje, horrivelmente, estão descartando seus velhos, como se fossem mercadorias usadas, bem utilizadas ao máximo e, que não mais lhes servem – no sentido de que entendem – para nada. São inúteis e precisam ser descartados.
A frase, Celina, mais marcante do Papa, quando visitou a Bolívia foi” “uma vida memoriosa necessita dos outros, da troca, do encontro, de uma solidariedade real, que seja capaz de entrar na lógica de tomar, bendizer e entregar, na lógica do amor”.
Esta é a grande lógica da vida: a lógica do amor. Sem este sentimento, ninguém é rico. Poucos percebem isto e acabam colocando seus entes, que deveriam ser os mais queridos e amados, em um asilo, descartando-os e levando-os à imensa tristeza e angústia. Sei lá, Celina, não sei escrever esquecendo este sentimento – o amor – que deve preencher os corações de todos os seres humanos, tudo que é a verdadeira riqueza e felicidade.
Obrigado por sua resposta maravilhosa.
Edward
Por Deus, não tomei conhecimento dessa pregação, mas é um fato aterrador e visível. À família, pelo descarte, faz do seu ou seus, um objeto, só! As Instituições viram no “descarte” um bom negócio, rentável, com crescimento garantido… Uma vida memoriosa necessita dos outros, da troca… Bendito Papa Francisco, direto, objetivo, tomados os cuidados necessários, mas atento, sempre!
Obrigada por sua carinhosa dedicação ao tema, que esperamos, vire uma bandeira!
Celina
Ótimo texto! Nunca é pouco reforçar este tema, numa sociedade em que não se presa o idoso. Devíamos tomar como exemplo o amor que o Japão dedica às crianças e aos idosos. Também sou contrário aos asilos, tenham eles os nomes que tiverem. Nada supre o contato com a família e o amor dessa. Perdi meu pais aos 97 anos e minha mãe aos 88. Todos juntos à família.
Abraços
Moacyr
Moacyr
Moacyr
Um tema, infelizmente, um tema! Mas como é importante pensar nele com carinho, e saber, nossos idosos carregaram toda uma história. Outros ainda a carregam, e nessas histórias há sabedoria, dedicação, os sorrisos, a felicidade e nem sabemos o quão custoso foi para eles chegaram à velhice. Que o respeitemos! Sua menção ao Japão é oportuna. Uma sociedade em que se valoriza quem pode nos mostrar onde poderemos errar, e os pequenos, que ainda dependem de que o ensinemos a valorizar o que realmente tem valor!
Que lindo ter o pai até os 97 anos e a mãe por um tempo em que deu para desfrutar de uma família completa! E como nos é doloroso perdê-los, mesmo sabendo que isso é o natural da existência humana. Tê-los conosco é uma dádiva, nunca um estorvo! Não compreendo e juro, repreendo, quem, pela desculpa que der, lhes tira o direito de , quando o tempo deles findar, poderem estar junto aos seus .O aconchego do familiares é necessário e tão fácil. Devemos prestar atenção e não tirá-los do ninho que construíram e nem sempre sabemos a quê custo. Não se caia na ideia de que o melhor são lugares “especializados”. Especial é o sentir-se querido, mesmo que por vezes, passem-nos a impressão que não entendem. Entendem, sim! E mesmo que não, nós entendemos!
Benditos sejam nossos idosos! E especiais e protegidos nossos pequenos! Esses, ainda terão muito pela frente, mas que tudo seja em seu tempo, obviamente, perdoando quem, por vezes, realmente sem outra saída, necessita já no comecinho da vida, deixá-los fora do calor do berço e do cheirinho de mãe que é tão importante!
Um grande abraço!
Celina
Eu também tive a felicidade de viver com os meus pais até seus últimos dias de vida. Com minha mãe foi mais penoso, porque ela faleceu na UTI, após quatro meses de internação. Ambos partiram com 89 anos idade. Quanta saudade ainda sinto!
Jamais eu me afastaria deles. Jamais os entregaria a outrem, depois de se tornarem tão frágeis e vulneráveis. Teria medo de que os maltratassem distante dos meus olhos. Seria também negar tudo o que fizeram por mim. Seria esquecer a vida difícil pela qual passaram para me tornarem a pessoa que sou hoje. De quantos prazeres abriram mão, para me dar uma vida melhor, uma vez que venho de uma família pobre. Eu sou pedaço deles. Galho do mesmo tronco. Seiva advinda das mesmas raízes. Sinto-me feliz, ao saber que partiram carregando todo o amor que pudemos lhes dar.
Existe um conto interessante. Resumindo:
Um homem preparou para o pai idoso uma tosca gamela de madeira, onde deveria comer, alegando que ele estava a lhe quebrar os pratos de louça. Certo dia, porém, deparou com o filhinho de quatro anos, golpeando um pedaço de madeira. Perguntou-lhe o que estava fazendo. Ele lhe respondeu:
– Estou preparando a gamela do senhor, para quando ficar como o vovô.
A minha crença maior é na certeza de que tudo que fazemos de bom ou ruim retorna para nós, na fantástica lei do retorno. Todos aqueles que relegam seus idosos para outros cuidarem, percorrerão o mesmo caminho, quando estiverem como eles. Os pais que fazem isso, dão a lição para os filhos de que é preciso descartar o que incomoda e dá trabalho… E não perderão por esperar a própria vez. Sem falar no remorso que os acompanhará pela vida inteira.
Eu tinha uma vizinha, cujo marido morrera há muito tempo deixando-lhe uma altíssima pensão. Ela tinha adoração por certo sobrinho, que parecia retribuir, fazendo tudo por ela. Ao ficar velhinha, passou tudo para o nome dele. Ma bastou começar a dar trabalho, não sendo mais dona de si, para que o tal sobrinho mandasse embora as duas pessoas que dela cuidavam, levando-a para um casa de idosos. Contaram-me que ela saiu chorando muito, ainda que não estivesse totalmente lúcida. Senti uma pena danada. Sei que um tipo desse (sobrinho) jamais poderá ser feliz.
Lugar nenhum do mundo, por mais elegante e agradável que pareça, substitui a presença do lar, ainda que a vida esteja por um fio. O amor e o aconchego da família, como você diz Celina, faz toda a diferença. Ao falar dos idosos, também acrescento avós, tios e tias, etc.
Tenho o prazer de comunicar que minha tia faz 105 anos agora, dia 14. E ainda está lúcida, fazendo crochê. É muito fofinha!
Celina, parabéns pelo texto tão sensível, cujas palavras tocaram-me profundamente.
Abraços,
Lu
Doce Lu!
Amei descobrir que tem uma tia que completará 105 anos! Meu Deus! Quanta história deve haver nesse coraçãozinho! E a prova de que a velhice pode diminuir o ritmo da correria louca do dia a dia, mas não, necessariamente, trazer com ela a perda da capacidade de raciocínio! Uma bênção, realmente!
Fico feliz quando encontro eco para esses desabafos que são motivados pela incredulidade de que alguns, justificando motivos que nem sempre têm uma razão efetiva, afastam os seus, como se isso fosse um favor.Não é favor, é desamor! Senão desamor, um certo quê de displicência, ou dê-se o nome que se der, ainda assim, é injusto!
Você viveu as dores de mãe doente por tanto tempo e como a gente sofre! Como queremos que o milagre aconteça e a saúde volte, que não acabe ali aquela presença que tanto bem faz. Mas não cabe a nós decidir qual será o tempo de cada um, infelizmente, ou o perpetuaríamos e a vida tem seu ciclo. Morrer faz parte…
Conheço, como você, casos em que parentes,muito próximos ou não tão próximos, na primeira oportunidade apropriam-se do bem do idoso e, livrando-se também dele, vivem como se felizes fossem. Um engodo! Um dia, haverá a devolução em forma de presente pelo mal que causaram. Por vezes nem se dão conta, mas a vida é sábia, dinâmica, e tem seus mistérios e a hora de expor o resultado da plantação…
Com toda certeza, há muitos que pensam que as tais Instituições são o melhor. Não vivem dentro de uma delas. Livram-se da penosa obrigação de cuidar, e com esmero, daqueles que precisam de cuidados. Há instituições, mas há também hospitais quando nossos velhinhos não estão bem. E se nas instituições há lazer, quem disse que não podemos nos divertir com os que viram, novamente, crianças fragilizadas? Pode ser difícil, mas quando temos dentro de nós um pouco de consciência, senão o amor incondicional, nossos idosos partirão, mas embalados pelo saber que não foram abandonados.Os trapinhos que um dia protegeram do frio, os que supriram, os que ensinaram, os que nos toleraram em nossas birras de infância, adolescência e nos deram força em nossa vida adulta. Não são parte de nós. Nós somos parte deles! Se cortamos a raiz, como caule, também ressecaremos. Se isso não ocorrer, não somos seres vivos. Somos pedras, e essas, mesmo que o tempo e as intempéries as modifiquem, não mudam sua condição. Pedras, unicamente!
Um beijo delicado em seu coração!
Fico muito feliz por saber que você tem uma tia com 105 anos, que ainda faz crochê. Eu, na verdade, tenho estado um pouco doente.
Abraços querida Lu.
Rui Pedro
Amiguinho
A minha tia faz 105 anos agora dia 14. E se encontra totalmente lúcida. É uma gracinha. Adora doces.
Estarei torcendo para que você faça a sua cirurgia e melhore logo, pois é muito querido aqui no blog. Sinto saudades suas, quando não aparece. Você mora no meu coração.
Abraços,
Lu
Rui
Da mesma forma que a Lu, torço, do fundo do coração, para que sua cirurgia lhe dê tranquilidade física e a recuperação seja rápida. Conte conosco, pois a intenção e os pensamentos são dirigidos, especialmente, aos que passam por momentos um pouco complicados. Sinta-se querido, pois já o tomei como um amigo cujo rosto não vejo, mas a alma sintonizou e aí, ninguém segura. Vira amizade, torcida, desejos que tudo dê certo.
Abraços, daqueles bem gostosos, que só os amigos sabem dar!