Autoria de Lu Dias Carvalho
A I Bienal do Samba da TV Record foi realizada em 1968, uma vez que vários compositores de samba encontravam-se chateados com os lugares reservados ao samba nos festivais de então, que sempre ocupavam as piores posições.
A I Bienal do Samba seguiria um processo diferente do que acontecia nos festivais. Uma comissão composta por 15 membros , sendo nove cariocas e seis paulistas, convidaria 36 compositores, escolhidos pelo trabalho já apresentado, e cada um deles deveria apresentar um samba inédito. A preferência seria dada aos compositores da velha guarda, havendo espaço também para os novos, como Chico Buarque, Zé Keti, Paulinho da Viola, Edu Lobo, Tom Jobim, etc. O prêmio atingiria até a 6ª colocação.
Na primeira apresentação para a seleção das músicas que concorreriam aos prêmios, Elis Regina defendeu Lapinha, de Baden Powell e César Camargo Mariano, acompanhada pelos Originais do Samba. Foi amor à primeira vista com a plateia. Vieram a seguir os cantores Isaurinha Garcia, Germano Mathias, Milton Nascimento, Zé Keti, Demônios da Garoa, Chico Buarque e Toquinho, Noite Ilustrada e Jair Rodrigues, cada um defendendo um respectivo samba. O público aplaudia alguns e vaiava outros, como sempre acontecia nos festivais.
Na primeira fase, os quatro sambas classificados foram:
Lapinha – (Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro) – interpretado por Elis Regina
Bom Tempo – (Chico Buarque) – interpretado pelo próprio Chico Buarque
Marina – (Synval Silva) – interpretado por Noite Ilustrada
Foi ela – (Zé Keti) – interpretada por Zé Keti e o Coral Bach que seria substituído por:
Coisas do Mundo, Minha Nega (Paulinho da Viola) – interpretado por Jair Rodrigues
A plateia chiou com a ausência do samba Mulher, Patrão e Cachaça – (Adoniran Barbosa) defendido pelos Demônios da Garoa. A cantora Aracy de Almeida homenageou Noel Rosa, ao cantar X do Problema, Feitiço da Vila e Com que Roupa.
Na segunda fase, foram classificados os sambas:
Tive Sim (Cartola) – defendido por Cyro Monteiro
Quando a Polícia Chegar (João da Baiana) – defendido por Clementina de Jesus
Quem Dera (Sidney Miller) – defendido por MPB4
Luandaluar (Sérgio Ricardo) – defendido por Marília Medalha
O pianista e compositor Sinhô foi o homenageado da segunda fase da I Bienal do Samba. Chico Buarque, seu grande fã, cantou alguns de seus sambas, como Gosto que me Enrosco e Jura.
Como parte de Foi Ela, samba de Zé Keti, classificado na primeira eliminatória, fizesse parte da trilha do filme Rio, Zona Norte (1957), ele foi desclassificado, entrando em seu lugar Coisas do Mundo, Minha Nega (Paulinho da Viola) defendido por Jair Rodrigues.
A terceira eliminatória classificou os sambas:
Rainha Porta Bandeira (Edu Lobo) – cantado por Márcia e Edu
Canto Chorado (Billy Blanco) – cantado por Jair Rodrigues
Protesto Meu Amor (Pixinguinha) – cantado por Clementina de Jesus
Pressentimento (Elton Medeiro e Hermínio Bello de Carvalho) – cantado por Marília Medalha
Ary Barroso foi o homenageado da terceira fase da I Bienal do Samba, com alguns de seus sambas interpretados por Cyro Monteiro.
Uma vez pronto o resultado das três eliminatórias, deu-se a finalíssima. A plateia já se via dividida entre as interpretações de Elis Regina e Jair Rodrigues, além de outros grupos que ostentavam faixas com o nome de suas canções escolhidas.
Ao somarem os votos, os jurados perceberam que os sambas Lapinha, de Baden Powell, defendido por Elis Regina e Os Originais do Samba e Bom Tempo, de Chico Buarque, defendido por ele mesmo, estavam empatados. Houve nova votação e, no desempate, o 1º lugar ficou com Lapinha.
Classificação dos sambas vencedores, em ordem decrescente:
6º Coisas do Mundo, Minha Nega
5º Tive Sim
4º Canto Chorado
3º Pressentimento
2º Bom Tempo
1º Lapinha
Agora conheçam a letra e ouçam o samba Lapinha, na voz maravilhosa de Elis Regina:
Lapinha
Autoria: Baden Powell e Paulo César Pinheiro
Intérprete: Elis Regina
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, paletó almofadinha
Calça, culote, paletó almofadinha
Vai meu lamento vai contar
Toda tristeza de viver
Ai a verdade sempre trai
E às vezes traz um mal a mais
Ai só me fez dilacerar
Ver tanta gente se entregar
Mas não me conformei
Indo contra lei
Sei que não me arrependi
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, paletó almofadinha
Calça, culote, paletó almofadinha
Sai minha mágoa
Sai de mim
Há tanto coração ruim
Ai é tão desesperador
O amor perder do desamor
Ah tanto erro eu vi, lutei
E como perdedor gritei
Que eu sou um homem só
Sem saber mudar
Nunca mais vou lastimar
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, paletó almofadinha
Calça, culote, paletó almofadinha
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Cordão de ouro
Eu vou partir porque mataram meu besouro
https://www.youtube.com/watch?v=UXPNfPhVIGg/
Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem
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