Autoria de Lu Dias Carvalho
Visitantes e críticos acharam o assunto desconcertante, a composição incoerente e a execução esboçado. Os caricaturistas ridicularizaram a pintura, e apenas uns poucos reconheceram o símbolo da modernidade que se tornou hoje. (Isabelle Dervaux, historiadora)
A composição intitulada Estação Saint-Lazare ou A Ferrovia é uma obra-prima do pintor francês Édouard Manet, tendo sido pintado quase que integralmente ao ar livre. Ao ser exposta pela primeira vez, no Salão de 1874, quando aconteceu a primeira exibição impressionista, foi recebida sem nenhum entusiasmo pela crítica e pelo público, como acontecera ao artista em relação a outras obras. Alguns, entretanto, defendiam o trabalho do pintor, aludindo à sua obra como uma pintura “cheia de luz”. Contudo, nenhum contemporâneo do artista foi capaz de reconhecer a excepcionalidade desta pintura que é vista hoje como uma das grandes inovações do século XIX.
A cena acontece um pouco acima dos trilhos da estação de Saint-Lazare, perto da oficina de Manet e bairro de Batignolles. A vista pintada é observada de cima para baixo, do jardim de Alphonse Hirsch, amigo do pintor. As duas personagens dominam totalmente a composição que conta com uma grade, trilhos, uma nuvem de fumaça e vapor, algumas fachadas de edificações grosseiramente esboçadas, etc. A garotinha representada é filha do amigo em questão e a mulher, com um cãozinho a dormir profundamente em seu colo, é Victorine Meurent, modelo preferida do artista, sendo este o seu último trabalho com Manet.
A mulher e a criança estão encerradas num pequeno espaço, limitado por uma pesada e escura grade de ferro que vai de canto a canto da composição, achatando o primeiro plano e separando-o do segundo. Na edificação, à esquerda, estava localizado o estúdio onde o pintor ensinava seus alunos. No parapeito, onde a grade de ferro está fixada, estão, à direita, dois cachos de uvas, possivelmente para lembrar que a pintura foi feita no outono. O cãozinho presente pode ser uma alusão à “Vênus de Urbino”, do pintor Ticiano.
A mulher, sentada à esquerda, de costas para a vista e de frente para o observador, usa um vestido azul-escuro com grandes botões redondos e detalhes brancos. Seus longos cabelos ruivos, cobertos por um chapéu preto, adornado com flores, caem-lhe pelas costas e ombro esquerdo. Tudo em conformidade com a moda da época. Ela retira os olhos de seu livro, marcando as páginas com os dedos, para fitar o observador, como se o interrogasse. A criança que se posta de frente para a vista e de costas para o observador, olha para longe. Ela usa um vestido branco com detalhes em azul, contrapondo-se ao da mulher. Traz os cabelos claros presos numa fita preta, semelhante à que a mulher usa no pescoço.
Ainda se vê uma densa nuvem de fumaça e vapor, deixada pelo trem que acabara de passar, responsável por tornar o céu acinzentado. O artista não viu a necessidade de representar a locomotiva, sendo tal nuvem suficiente para a compreensão do observador. É possível ver a assinatura do pintor e a data em que a obra foi concluída, embaixo, à direita.
Ficha técnica
Ano: c. 1873
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 93 x 114 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA
Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.nga.gov/feature/manet/manetbro.pdf
https://impressionados.wordpress.com/2014/07/11/obras-12/
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