Autoria de Lu Dias Carvalho
O artista é uma pessoa que deve ter humildade ao lidar com a arte e com as pessoas. Tem que procurar observar tudo a sua volta em busca de inspiração. Precisa agradecer à mãe natureza pelo material que ela oferece para que ele desenvolva seu dom. Deve sempre agradecer ao Criador pelo dom recebido. O dom do artista nunca pode ser motivo de orgulho, mas apenas de agradecimento. (Márcio B. Silva)
Ele nasceu Márcio Barbosa Silva, mas ficou conhecido por Marcinho São Francisco pela paixão que tem em reproduzir o santo em sua arte. Veio de uma família pobre, de pais que já trabalhavam com a cerâmica, fazendo potes, panelas e tijolos que eram vendidos no meio rural. Em meio à labuta diária da família, brincava fazendo presépios. Lembra-se de que o primeiro que fez ficou com o dono da fazenda onde morava, tamanha era a belezura. Mas sua paixão mesmo residia na criação de S. Francisco de Assis.
Quando estava com os seus 13 anos, Marcinho deixou a zona rural e passou a morar em Araçuaí, numa casinha de parede e meia com Zefa, que viria a ser tornar uma das mais importantes artistas do Vale do Jequitinhonha. Ficava olhando a exímia mestra trabalhar, encantando-se com tudo que ela fazia. Depois, começou a fazer pequenas peças, escondido. Só quando Zefa dava o seu aval, dizendo que estavam boas é que mostrava para outras pessoas. Quando ela era chamada para dar oficinas, ele ia junto para ajudá-la. Amassava o barro, e ficava ensinando os meninos.
Marcinho lembra-se de que vendeu seus primeiros trabalhos quando tinha 15 anos de idade. O primeiro, intitulado A Face de Cristo, foi vendido para uma alemã; o segundo, chamado Senhor dos Passos, foi comprado por um austríaco. Os dois estrangeiros encantaram-se com o trabalho do menino pobre do Vale do Jequitinhonha. A partir daí, com o reconhecimento de seu talento, não parou mais. Quando Zefa foi convidada para uma exposição em S. Paulo, levou junto consigo um trabalho dele que foi muito bem vendido. Isso lhe deu grande ânimo para continuar naquela profissão. Em sua mente vinha sempre o pensamento: “Eu tenho um dom dado por Deus e preciso usá-lo!”.
A vida do artista não foi fácil, apesar de carregar tão belo dom. Houve época em que passou muita necessidade, pois seu trabalho não era valorizado no Vale do Jequitinhonha e ele não tinha meios para viajar para fora dali. Sentia-se também muito humilhado, quando via a o tratamento que era dado aos artistas de fora, e não havia valorização para os da cidade de Araçuaí. Chegou até a pensar em abandonar sua arte.
A valorização da arte chegou ao Vale do Jequitinhonha com o apoio do bispo Dom Serafim e do Dr. Mesquita, diretor do Projeto Rondon Pacheco. O Sr. Luís Sapateiro, artesão hoje aposentado, primeiro presidente da Associação dos Artesãos de Araçuaí, também trabalhou muito em prol dos artistas da cidade. Segundo Marcinho, o número de artistas do Vale do Jequitinhonha tem diminuído. Muitos vão embora para outros centros, em busca de recursos, outros vão para o exterior e alguns abandonam sua arte.
Marcinho S. Francisco conta que entrou para a Associação dos Artesãos de sua cidade aos 18 anos de idade. Passou a ser convidado para dar oficinas em vários locais, inclusive em S. Paulo e Goiânia. Nem sempre contou com o apoio da prefeitura local ou do Estado. Continua contribuindo com a arte, além de ter ensinado muitos alunos. Através de suas mãos têm passado grandes talentos.
A dificuldade na venda dos trabalhos continua, por viver longe dos grandes centros, onde a valorização da arte é outra. É comum ficar até três meses sem vender uma peça. Normalmente são os turistas que compram, quando ali vão. Vale-se das reformas que faz em peças e igrejas. Seu trabalho é comparado ao do Aleijadinho. Nas suas esculturas estão presentes traços do estilo Rococó e do Barroco.
O artista lembra com lágrimas nos olhos de uma passagem de sua vida: ao visitar o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, viu um quadro em alto relevo e ficou apaixonado. Não conseguia despregar os olhos da obra. Frei Chico, antigo vigário de sua cidade, perguntou-lhe se era capaz de fazer quatro quadros, em alto relevo, para a capela de Citrolândia, em Betim, Minas Gerais. Ele não apenas fez os quadros pedidos, como acabou fazendo oito esculturas.
Marcinho tanto trabalha com argila como madeira. O trabalho de escultura é mais vendido para igrejas, colecionadores e antiquários. Quando lhe perguntei sobre seu processo criativo ele me explicou:
– Deito e fico pensando… Muitas vezes, eu sonho com uma ideia nova. Também observo muito a natureza, pois, ela me oferece muita inspiração. Olho também o movimento das nuvens. Algumas vezes, quando estou sem inspiração, começo a trabalhar numa peça, e a mão de Deus parece ir dando forma a ela. Quando menos espero ela está pronta… e muito bonita.
Marcinho é escultor, ceramista e entalhador. Possui peças expostas em museus dos Estados Unidos, França, Alemanha, Áustria, no Memorial da América Latina, no Rio de Janeiro e, em outras partes do mundo, levadas por turistas estrangeiros. O talento nunca lhe subiu à cabeça. É uma pessoa simples, acolhedora, cativante no falar e que demonstra um grande amor pela poesia. Eu diria que o seu apelido de Marcinho São Francisco caiu-lhe como uma luva, pois se vê que é mesmo um discípulo do santo em sua humildade.
Tive o prazer de acompanhar Marcinho na criação de uma das suas mais recentes obras: um grupo de “tambozeiros”, feito em cerâmica. Haja talento e criatividade! Bendito seja!
Contatos com o artista:
- Rua Goiás, 408 – Alto do Santuário – Araçuaí/ MG
- Av. Luiz Gonzaga Pereira, 948 – Itatiaia – Araçuaí/ MG
- Facebook – Orkut e e-mail: marcinhoartesao@hotmail.com
- Fones: (33) 9916-4365 / 9904-1789 / Associação: (33) 3731-1643
Fotos de Moacyr Praxedes
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Lu
Trabalho no “mercado de artes” e gostaria de fazer contatos com esses artistas populares no sentido de se criar uma parceria de negócios. Trabalho com artes desde os anos 90.
Luiz Carlos Paschoal
Parabéns pelo seu trabalho!Com quais artistas você gostaria de entrar em contato?
Abraços,
Lu
Lu
Sintetizou com maestria a realidade dos escultores do Vale do Jequitinhonha.
Abraços,
Leila Gomes
Leila
É triste ver trabalhos tão maravilhosos sem incentivo algum. E pior, as obras de arte compradas lá são vendidas por 5x mais nas capitais. Vá ao Palácio das Artes e confirme.
Abraços,
Lu
Infelizmente, Lu, mentes capitalistas exploram artistas que só vivenciam arte.
Leila
Isso acontece principalmente com os artistas pobres, sem instrução, que não têm a exata percepção do valor de seu trabalho. É muito triste!
Beijos,
Lu
Lu
Sou artista do Vale do Jequitinhonha e ainda não tenho reconhecimento, mas tenho esperança que um dia terei. Estou fazendo arte há dois anos e meio, estou aprendendo e quero ser reconhecida. Parabéns a todos os artistas que passaram por este processo, que é esperar com paciência e dedicação a sua vez de ser reconhecido. Um dia chegarei lá.
Marislene
É muito bom receber mais artistas do Vale do Jequitinhonha neste cantinho. Não resta dúvida de que será reconhecida, pois quando fazemos nosso trabalho (qualquer que seja ele) dando o melhor de nós, não resta dúvida de que estamos trabalhando energias positivas que voltarão a nós da melhor forma possível. Tudo tem o seu tempo. Veja a história dos grandes mestres das artes. O primeiro passo eu darei, oferecendo-lhe um espaço neste cantinho, para falar sobre sua arte, como fiz com o Marcinho de Araçuaí.
Obrigada por sua visita e seu comentário. Será sempre agradável tê-la conosco.
Um grande abraço,
Lu
ELE É ÓTIMO!
Geraldo
Obrigada pela sua participação no blog Vírus da Arte & Cia.
Volte sempre.
Abraços,
Lu
Lu
O Marcinho tem toda a razão quando diz que é necessário o apoio de órgãos do governo, nas mais diferentes instâncias, para apoiarem os artista do Vale, quase sempre esquecidos pelo pode público. É verdade que muitos acabam abandonando a profissão. Conheço de perto todo o problema.
Beijos
Nel
Nel
É verdade!
As políticas públicas precisam beneficiarem a arte, principalmente no interior.
Abraços,
Lu
Uma bela descoberta. Que seu texto ajude a levar a arte do
Marcinho ao mundo.
Que história! É triste o que acontece com artistas locais, pois muitas vezes não tem seu trabalho e talento reconhecidos.
André
Você nem imagina o talento desse moço.
O que tem em simplicidade, quadruplica em talento.
Os artistas de interior são muito esquecidos pelos governantes de seus Estados.
O que é uma pena!
Enquanto isso, vemos muita gente medíocre sendo afagada pela mídia e passando por talento.
Abraços,
Lu
Pelas fotos deu pra ter uma noção do talento desse rapaz!
Um grande abraço