Autoria de Lu Dias Carvalho
Na sua composição Cinzas, o pintor norueguês Edvard Munch apresenta dois personagens: um homem e uma mulher.
O homem encontra-se vestido de preto, em primeiro plano, à esquerda. Ele está curvado sobre si, com a mão sobre a cabeça, como se estivesse imbuído de um profundo desespero ou sofrimento. Às suas costas, próxima ao centro do quadro, uma mulher encontra-se de pé, com as mãos sobre a cabeça, olhando diretamente para o observador. Ela é a figura dominante da composição. Seus cabelos compridos e castanhos caem-lhe pelas costas e ombros, como se também esvoaçassem até a cabeça e costas do homem. Embora a posição de seus braços demonstre uma certa inquietação, a expressão de seu rosto é fria, com os olhos estranhamente abertos.
Atrás das duas figuras encontram-se troncos de pinheiros, dando início a uma floresta escura. Um longo tronco, à esquerda, diante do homem, contornando parte da tela, parece-se com uma coluna vertical de fumo.
A cena teatral pode ser interpretada como um final de relacionamento amoroso, quando a paixão, outrora como um fogo em brasas, agora se vê transformada em cinzas e, ao que parece, com a relutância do homem.
Ficha técnica
Ano:1894
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 120,5 x 141 cm
Localização: Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega
Fonte de pesquisa
Munch/ Editora Paisagem
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LuDias
Excelente a interpretação, em seu texto, desta obra.
Vinícius de Morais – lembrei-me – escreveu algo que se aproxima, talvez, da cena, comparando, no entanto, o fim de relacionamento com a quarta-feira de cinzas, o fim do carnaval, fim da festa e da alegria:
Soneto de quarta-feira de cinzas
(Rio de Janeiro, 1941)
Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada
Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada
Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura
Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.
Ed
Nada mais doído do que o final de uma relação amorosa, onde o amor era forte.
E este poema de Vinícius reflete bem isso.
É muito lindo.
Abraços,
Lu