Autoria de Lu Dias Carvalho
Os nobres […] levavam a honra tão a sério que praticamente qualquer ofensa tornava-se uma afronta à honra. Dois ingleses duelaram porque seus cães haviam brigado. (Arthur Krystal)
Um homem pode atirar no homem que invade seu caráter, tanto quanto no homem que invade a sua casa. ( Samuel Johnson)
Ande dez passos, vire-se e atire!
Ao dar continuidade aos artigos sobre a violência através dos tempos, é impossível não listar o duelo, sendo aqui retratado aquele que acontecia entre dois oponentes, na alegada “defesa da honra”. Tratava-se de uma luta com armas iguais, cujo objetivo era “defender” a honra do supostamente ofendido, que muitas vezes tornava-se a própria vítima fatal. Morria, mas com a “honra limpa”, lavada a sangue, deixando a família e amigos felizes com sua grande coragem. Duelos de ideias estavam fora de cogitação, ainda mais porque se duelava por qualquer bobagem, o que mostra que a vida naquela época tinha pouco ou nenhum valor.
Segundo Steven Pinker, autor de “Os Anjos Bons da Nossa Natureza”, ao contrário do que aparenta, principalmente em função do Cinema, o duelo formal não teve sua origem nos Estados Unidos, mas sim durante o período da Renascença, vindo a espalhar-se por várias partes do mundo. Inicialmente, a existência de tamanha sandice tinha como objetivo diminuir os assassinatos, vinganças e brigas de rua entre os nobres e suas comitivas que tomavam as dores de seu senhor. Estranho, não é? Como um duelo poderia diminuir a brutalidade entre a aristocracia e seus cortejos, se redundava em morte? O fato é que a luta restringia-se unicamente aos dois brigalhões, sem envolver terceiros. E o caso era dado por encerrado.
Bastava um homem achar que sua honra fora posta em questão, para que desafiasse o causador de tamanha desdita para um duelo. O desafiado não poderia recusar? Sim, mas ficaria com a pecha de covarde por toda a vida, sendo melhor o óbito do que carregar tão pesado fardo. A morte do infortunado, que tanto podia ser a do desafiante quanto a do difamador, não trazia qualquer tipo de ressentimento por parte de sua família e seguidores, em relação ao assassino, pois se tratara de um jogo limpo. Restava-lhes apenas prestar as honras fúnebres àquele que tombara. Mas isso quando acontecia num país em que o duelo não fora banido. Caso contrário o descumpridor da lei que ficasse vivo, teria que responder pela morte do fulano de tal.
O duelo, que acontecia normalmente ao amanhecer, trazia todo um ritual. Após o desafio daquele que teve a “honra manchada”, as armas eram escolhidas. Cada duelista tinha a seu lado um padrinho, ou até mesmo dois. Era função desses levar as armas e procurar conciliar os dois rixosos. Não obtendo êxito, teriam que garantir assessoria ao afilhado radical e servir como testemunha. Havia também um juiz, que deveria ser totalmente neutro, encarregado de fazer cumprir as regras acordadas previamente. Em muitos casos, dependendo da arma usada, o perdedor era apenas ferido, mas ainda assim acabava morrendo por falta de ajuda médica, muitas vezes propositalmente, para que o ganhador tivesse a sua honra “lavada” e passada.
Quem pensa que o duelo foi apenas um modismo está muito enganado. Essa insensatez chegou até meados do século XIX, em alguns países, e um pouco mais longe em outros, embora a Igreja e vários governos proibissem-no. A história conta que muita gente famosa participou de duelos, podendo ser citados Napoleão, Voltaire, Tolstói e Púchkin, como exemplos. Os duelos eram também um prato cheio para os escritores de ficção. Houve até duelos entre mulheres. Segundo historiadores, foi o ridículo que deu fim à parvoíce de duelar. A geração mais nova passou a debochar dos duelistas. E isso era pior do que “perder” a honra.
É difícil compreender, em razão de nossa cultura atual, que o ato de duelar não se ligava à disputa por pecúlio ou mulheres, mas unicamente pela “honra”, essa mesma honra que ainda leva homens a matarem mulheres indefesas em muitos países.
Nota: O Duelo, 1820, obra de Francisco de Goya/ Duelo de Cavaleiros, 1824, obra de Delacroix
Fonte de pesquisa
Os Anjos Bons de Nossa Natureza/ Steven Pinker/ Editora Companhia das Letras
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Oi Lu,
O tempo passou, a honra tem sido vista sob outra ótica, mas infelizmente o sangue ainda corre em nome da honra e muitas vezes sem sentido. A mulher ainda é a que mais sofre e perde vida em nome da honra.
Uma pena!
Abraço,
Luiz Cruz
Lu Dias
Em tempos atuais, seria uma carnificina!
Mário Mendonça
Mário
E tenho certeza de que você sabe muito bem onde seria a maior arena de luta: Câmara e Senado, onde a bandigagem come solta.
Abraços,
Lu