Autoria de Luiz Cruz
A exposição de esculturas do artista australiano, radicalizado na Inglaterra, passou pela Fundação Proa, em Buenos Aires, pelo MAM — Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e esteve na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Essa mostra foi concebida pela Fondation Cartier pour l’art Contemporain, de Paris, com a curadoria de Hervé Chandés.
Mueck realizou pouco mais de cinquenta obras, e a exposição individual do artista tem sido um grande atrativo, fazendo muito sucesso por onde passa, como já ocorreu no Japão, Austrália, Nova Zelândia, México, Argentina e agora no Brasil. Especialmente para essa exposição itinerante, o artista criou a escultura Casal na Praia (foto acima).
Visitei a mostra no MAM e cheguei com duas horas de antecedência, e a fila já dobrava pelo jardim do museu. No Rio de Janeiro, foi vista por mais de 200 mil pessoas. Agora, na Pinacoteca do Estado de São Paulo o sucesso é o mesmo, atraindo acerca de 4 mil visitantes diariamente.
Por que Mueck faz tanto sucesso? Suas esculturas são hiper-realistas, mas o estilo já foi tão trabalhado e explorado por artistas de todos os cantos, especialmente os norte-americanos. Os materiais utilizados são a resina, fibra de vidro, silicone e acrílico — ambos já tecnicamente dominados por inúmeros escultores, mas Mueck conseguiu domínio absoluto sobre a técnica e os materiais.
Ron Mueck é antes de tudo um escultor de figuras humanas. E o que nos encanta, ou mesmo nos deixa perplexos, é sua sensibilidade em lapidar a figura, buscando revelar o que o nosso olhar não capta rotineiramente. Mueck faz uma verdadeira introspecção na estrutura corpórea e revela texturas, pelos, poros, sombras, luzes à primeira vista inimagináveis. É um hiper-realismo tão trabalhado que vai além da perfeição, por isso, causa-nos certo incômodo. Suas obras nos levam a um deslocamento e esta é a função da arte. As esculturas vão muito além da beleza, propiciando reflexão e um encontro do espectador consigo mesmo. Por isso são obras de arte. Se fossem apenas cópias rigorosas de figuras humanas, não seriam esculturas artísticas.
Ron Mueck ainda nos impacta com as dimensões de suas obras, algumas de grandes proporções, dialogando com obras de pequeno porte. Casal na Praia é uma obra de enormes dimensões, o oposto de Mulher com feixe de lenha, que é de pequeno porte. Porém, ambas são impregnadas de expressividade e, inseridas no mesmo espaço, contrastam-se sobremaneira.
Ao encontrar com as obras, é importante atentar-se para a organização dos pelos ao longo dos corpos e dos cabelos organizados fio por fio. O olhar de cada figura revela uma luz e uma vivacidade incomuns. A colocação das roupas em tecidos, os calçados e até os adereços, que contrapõem-se com a nudez absoluta de algumas figuras, que chegam a nos revelar profunda solidão, que pode ser tanto dos modelos artísticos quanto do próprio artista. Cada obra apresenta uma situação inusitada do ser humano e isso é um dos aspectos mais significativos das obras desse artista.
Nota: fotos do autor: Autorretrato do artista e Casal na Praia
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