Autoria de Lu Dias Carvalho
É fato que passei por muitos contratempos ao ganhar o status de mascote da Copa do Mundo Fifa de 2014, realizada no Brasil. Se pertenço à família dos bolas, sendo conhecido como tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) ou tatu-bolinha, encontro-me em casa, pois Copa não é sinônimo de bola? E eu tenho a capacidade de dobrar minha carapaça como uma bola, literalmente. E rolando se vai ao longe, de uma trave a outra, em busca do momento perfeito para o gol. Embora humilde, oriundo dos cerrados e caatingas do nordeste e centro-oeste brasileiros, eu represento todo o meu país. Sou um filho genuíno destas terras onde cantam os sabiás, embora, infelizmente, eu me encontre no rol das espécies aqui ameaçadas de extinção.
Algumas pessoas da mídia questionaram o porquê de a dona FIFA ter me escolhido, em vez de eleger o mico-leão-dourado, ou o tamanduá-bandeira, ou a onça-pintada ou a ararinha-azul, como mascote. Não tenho nada contra esses meus irmãozinhos, mas questiono: o que há de errado comigo? Como os demais, também sou filho desta terra amada, bonita por natureza. E com os filhos não se pode ter preconceitos, sejam eles brancos, amarelos, azuis ou verdes. Todos devem ser amados e protegidos na mesma proporção. E todos devem defender seu torrão pátrio com orgulho, respeito e responsabilidade.
Depois de tentarem colocar a minha autoestima de tatuzinho no buraco, embora eu não me importe com tais rabugices, pois sou chegadinho numa toca, certos “narcisos” passaram a implicar com meu nome. Disseram que Fuleco lembra as palavras “fuleiro” e “furreca”, que significam “coisa sem valor”. Mas não dei a mínima. Saibam os pernósticos de plantão, que não se mede um animal pelo nome, assim como não se julga um homem. Conheço pessoas com nomes esdrúxulos, mas que deixaram seu nome na história da humanidade, enquanto outros pretensiosos, como nomes rebuscados, não valem ou um tostão furado. “Garrincha”, por exemplo, não tem um nome capaz de agradar aos pedantes, mas que era bom de bola, isso era. E quem tem que se preocupar com o nome são os jogadores, pois a Copa serve de vitrine para eles. Se terminada a Copa, passarem a me proteger, assim como os outros animais em vias de extinção, já me dou por muito agraciado.
Para quem ainda não sabe, o nome desse tatuzinho aqui, que não é outro senão eu, tem uma razão de ser. Trata-se da junção de Fu (de futebol) + eco (de ecologia). O “l” é apenas uma letra de ligação, mas eu a considero como “l” de legal, pois é assim que me considero. O resto é blábláblá, falta de assunto, coisa de gente que vê o mundo com lentes de fundo de garrafa, sempre de mal com a vida. E como se não bastasse tanta implicância, disseram ainda que sou muito feio e que me pareço com um ET, o que me deixou muito prazenteiro, pois o homem procura por ETs há centenas de anos. Existir um extraterrestre aqui na Copa, em solo brasileiro, é sinal de que simbolizo a vida inteligente deste país.
Os pernósticos disseram também que eu lembro “cemitério”, “buraco”, “esconderijo”. Essa foi ótima! Significa que sou vida e também sua finitude. O que é o “cemitério” senão a morada final de todos os homens? Aquele “buraco” será o “esconderijo” de seus ossos, por anos a fio, até que o tempo transforme-os em pó. Por que tanto medo da morte? Basta apenas que vivam bem a vida! Em muitos lugares, os cemitérios constam hoje da lista de locais a serem visitados, sendo vistos com respeito e admiração pelos visitadores. Mas não há muito o que que dizer para as pessoas que não aceitam a finitude da vida e que se sentem como os donos do planeta, os detentores da verdade suprema. Eis a questão!
Certo senhor, de cujo nome nem me lembro, qualificou-me como “um dos mascotes esportivos mais repulsivos de todos os tempos”. Pessoas preconceituosas existem aqui e em todas as partes do planeta, e continuarão a existir, quer queiramos ou não. Quem sou eu para mudar o mundo. Se esse senhor me trata assim, um animalzinho inocente e vulnerável, com um habitat cada vez mais reduzido pela ganância humana, incapaz de fazer mal a quem quer que seja, imaginem o quão preconceituoso ele é, e como deve tratar mal as pessoas com as quais convive. Portanto, dei o dito por não dito. O importante é o conceito que faço de mim mesmo, o amor que tenho pelo meu país e por meu povo. Sou cônscio, sobretudo, da minha real importância na manutenção do ecossistema e do próprio planeta. E é por meus irmãos e por mim, em vias de extinção, que quero fazer um gol de placa na proteção do planeta como um todo.
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Essa minha amiga, como sempre dando forma, cor e esclarecimentos preciosos e bem muito humorados.
Adoro ler os teus posts.
Iluminada!
Beijo, Lu!
Clara
E eu adoro ler seus comentários… empatamos… risos.
Beijo no coração,
Lu
Lu,
tatu-bola é meu velho conhecido. Quando criança, brincava muito com eles no jardim da casa do meu pai.
Todo animal tem sua utilidade no ciclo da vida. Por que do preconceito?
Foi pertinente a escolha, o próprio nome diz, e o seu texto é enriquecedor.
Beijos
Pat
Eu ainda não conheci o tatu-bola de perto.
Deve ser muito interessante.
O preconceito deve-se à turma do “eu critico tudo”.
Haja babacas.
Abraços,
Lu
Lu,
Esse Fuleco é de arrebentar qualquer comentário. O nome escolhido, por votação, não podia ser melhor. Essa bola pode ser chutada, entretanto, tem grande capacidade de se proteger. Pena que na abertura da copa ele não foi usado. Por falar na abertura da copa achei bonita e o tema escolhido adequado, só um pouco fria para o futebol.
Grande abraço,
Devas
Devas
Você sabia que é a Fifa quem escolhe o que vai ser apresentado, não dando ao país a liberdade de criação?
Inclusive nem os coreógrafos são brasileiros.
Daí a falta de originalidade.
Abraços,
Lu
Que lindo!
Me lembra as fábulas que aprendemos ou aprendíamos na escola, só que agora genuinamente brasileira .
Uma obra literária, o que aliás vinda de você, não surpreende .
Ju
Obrigada pela sua generosidade.
Tentei defender o bichinho, pois vi na posição contra ele apenas preconceito, como se não se tratasse de um animal nobre.
Abraços,
Lu
Realmente o tatuzinho é um bom representante do mundial, pena é estar em extinção, pois o bichinho não faz mal a ninguém, espero que pensem na sua proteção.
Abraços Lu
Rui Sofia
Rui
Este é o propósito de tê-lo colocado como símbolo da Copa.
Ele é muito fofinho.
Abraços,
Lu
É uma gracinha!
Matê
MaTê
Ele é mesmo uma fofura.
E que bolinha mais linda, ele faz.
Beijos,
Lu
Lu Dias
Apesar da primeira impressão “dúbio/pejorativo” do nome Fuleco (futebol+ecologia) do qual no começo não gostei, hoje já o aceitei por causa desse bichinho maravilho que vira uma bola.
Que animal surpreendente, espetaculoso e que “causo” bem contado por ti, hein?
Mário Mendonça
Mário
Esse bichinho é mesmo maravilhoso.
E é um mascote fantástico.
Tem tudo a ver com a Copa.
Espero que nos traga bastante sorte.
Abraços,
Lu
O Fuleco é muito fofinho. Eu quero um dele para mim. Será que alguém fez um souvenir com ele se fechando como uma bolinha? Tomara que tenha tido essa ideia.
Beijocas,
Si
Si
Realmente é uma ideia genial.
Se alguém fez o Fuleco virando uma bolinha, irá vender bastante.
Beijos,
Lu
Lu, o Fuleco está certíssimo na sua defesa e falou tudo que precisava ser dito em relação ao preconceito. Francamente, não dá para entender a posição de certos indivíduos da mídia. Como o Manoel disse, trata-se de um mascote perfeito para uma Copa. Ele é sui generis. Formidável o seu artigo.
Beijos
Moacyr
Moá
O nosso tatuzinho falou tudo o que sentia… risos.
Abriu o seu pequenino coração e mandou ver.
Beijos,
Lu
Lu
Eu achei o Fuleco muito bonitinho. Não sabia que tínhamos um tatuzinho com a capacidade de se transformar numa bola. É interessante acompanhar a sua transformação, através da gravura postada por você. Ele está com a razão, não tinha outro representante melhor. Gostei muitíssimo do artigo.
Abraços
Nel
Nel
Eu também o acho sensacional.
Nossa fauna é tão diversificada que eu também não o conhecia.
Beijos,
Lu