A INDÍGENA PRESUNÇOSA

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Recontada por Lu Dias Carvalho

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Numa tribo amazônica, situada próxima ao rio Madeira, havia uma indígena que era tão linda, mas tão linda, que muitos diziam que, antigamente, ela era uma estrela de grande fulgor que havia caído do céu. Mas não era bem isso, pois havia nascido na aldeia, dado o seu primeiro choro nos braços de uma indígena idosa, que servira de ajuda no seu nascimento, e tendo como primeiro alimento o leite de sua mãe.

À medida que aquela menina ganhava corpo, mais formosura seu corpo recebia, encantando os olhares dos jovens guerreiros da tribo. E ela, sem juízo, movida apenas pela futilidade da presunção, seduzia-os e, ao mesmo tempo, repelia-os, como se fossem brinquedos de palha. Alguns a temiam, mas outros, dominados pela paixão, tentavam ganhar o seu amor. Dentre os últimos estava certo jovem guerreiro, por quem ela se interessou. Mas a revelação de que a amava não lhe era suficiente. Queria provas. Exigiu que o guerreiro pegasse certo veado-galheiro, já conhecido por sua rapidez, e trouxesse-lhe a pele do animal, que seria usada na rede do casal, na noite de núpcias.

O guerreiro não se intimidou diante do pedido, tamanho era o seu ardor pela jovem. Assim, depois de tentar pegar o animal das mais diferentes maneiras, viu que só lhe restava um jeito: montar nele e tentar subjugá-lo. Quando o veado-galheiro passou em disparada, o índio pôs-se a correr, enlouquecido, atrás dele, ambos parecendo flechas cortando o ar. A alguns quilômetros de onde começara a caçada havia um acentuado declive, que se fundia com um sorvedouro. E foi esse lugar que serviu de sepultura para caçador e caça.

Durante dias e dias houve uma procura infrutífera pelo corpo do guerreiro. Todos se apiedavam de sua sorte, e sentiam grande indignação pela formosa indígena, responsável por aquela tragédia. Ela também se sentiu culpada. Chorando dia e noite, olhava em direção à mata, na tentativa de vislumbrar a imagem do jovem. Junto com suas lágrimas, sua beleza foi fugindo do corpo, assim como suas forças, e ela não demorou muito a partir para a morada dos mortos.

Dizem os mais velhos da tribo que o lamento que se ouve à beira do abismo, vem do coração da moça, pois seu espírito ainda espera a volta daquele que seria seu amado companheiro.

Nota: Iracema, obra de José Maria de Medeiros, 1884

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