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Textos sobre variados tipos de arte

Georg Grimm – VISTA DO CAVALÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Vista do Cavalão é uma obra do pintor alemão Georg Grimm, que em nosso país permaneceu cerca de dez anos, no século XIV. Apesar de apenas uma década vivida aqui, ele muito contribuiu com nossa arte, inclusive influenciando uma leva de jovens pintores. Grimm, neste trabalho, lança seu olhar para a paisagem brasileira, mostrando-a como algo habitual. O local retratado é o Morro do Cavalão, situado ao sul do bairro de Icaraí, em Niterói/RJ.

O artista apresenta um local bastante aprazível, onde reina uma grande calma. À direita encontra-se um pequeno e baixo muro, que já perdeu parte do reboco branco e, que traz uma passagem com degraus no meio. Num terreno inclinado, acima do muro, estão inúmeras árvores. Possivelmente, em razão da entrada, uma casa encontra-se mais acima, não tendo sido representada pelos pinceis de Georg Grimm.

Abaixo do muro há muitas rochas e areia que dão acesso ao mar. Uma mulher está sentada no lajeado com uma criança, tirando ou calçando seus sapatos, enquanto outras três brincam, nuas, no raso, sob sua vigilância. Uma delas é negra, o que fortalece a sensação de integração racial. As rochas, que se estendem até a água, protegem-nas, assim como a sombra das árvores que se inclinam em direção ao mar.

Um pouco mais distante, à esquerda, no pé de um morro, um casarão branco surge próximo à praia, em meio a  frondosas árvores. Em frente vê-se um pedaço do mar azul. O céu azulado contém inúmeras nuvens brancas, mas sua luminosidade é branda. O pintor usou da verticalidade das árvores e da horizontalidade das rochas para dar harmonia à pintura.

Quase toda a paisagem está iluminada, excetuando alguns pontos sombreados debaixo das árvores e uma pequena parte do lajedo e da água. O ponto de maior luminosidade é o branco do reboco da entrada, que atrai de imediato o olhar do observador. Há também sobre ele um pouco do sombreado das árvores acima. A passagem tem a função de separar a área arborizada da outra em que se encontram as figuras humanas. É possível notar que se encontra em ruínas, inclusive não mais ostentando o capitel esquerdo. Contudo, não se trata de um lugar abandonado, mas de excessivo uso.

Embora o comum na pintura de paisagem seja o enquadramento horizontal, o pintor usou o vertical, harmonizado com a verticalidade das árvores, o que torna as figuras humanas ainda menores em meio à paisagem.

Ficha técnica
Ano: 1884
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 110 x 85 cm
Localização: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

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VISTA DA LAGOA DO BOQUEIRÃO E…

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É uma pena que muitos pintores não tenham deixado o nome gravado em todas as suas obras, tendo os historiadores e críticos de arte que trabalhar com suposições. E é exatamente isso que aconteceu com esta composição, embora alguns estudiosos de arte atribuam-na a Leandro Joaquim, artista brasileiro do século XVIII, que fazia parte da chamada Escola Fluminense de pintura. Mas nada existe que comprove ser ele é de fato o autor da obra. Nem mesmo se sabe a data correta do quadro em questão, seu título ou a lagoa retratada. Tudo entra no rol das suposições, com acontece com muitas obras da arte brasileira. O fato é que aqui está retratada uma paisagem da cidade do Rio de Janeiro, que recebe o título de Vista da Lagoa do Boqueirão e do Aqueduto de Santa Teresa.

A composição mostra o Aqueduto Carioca, que era responsável por levar as águas captadas do rio Carioca, e, que hoje recebe o nome de Arcos da Lapa. Embora os Arcos sejam atualmente brancos, aqui eles se encontram meio amarronzados, com destaque para os reflexos da luz. Não se sabe ao certo se essa era a sua cor original, uma vez que, antigamente, os pintores não se atinham à exatidão daquilo que compunham, ou seja, não havia um compromisso histórico, como confirma o enquadramento oval da obra.

O artista escolhe o Aqueduto Carioca (Arcos da Lapa), como o elemento principal de sua composição, postado na parte superior, praticamente dividindo a composição oval ao meio, horizontalmente. Na parte superior, à esquerda, encontra-se o convento e uma igreja, mais abaixo. Uma lagoa ocupa grande parte do quadro. Dentro dela há grande movimentação de homens, mulheres, crianças e animais. A criançada diverte-se na água. Um homem negro, com camisa, vermelha tange o gado. Duas mulheres negras, com trouxas na cabeça, levantam as saias para não molhá-las

Na margem direita da lagoa, em relação ao observador, em primeiro plano, estão quatro figuras humanas: uma mulher negra, curvada sob o peso de um enorme cesto de roupa, que carrega na cabeça; um homem negro de chapéu e capa marrom, tocando uma viola, acompanhado de uma mulher negra, também de chapéu; mais à frente, um homem negro, vestindo camisa vermelha, leva um pesado cesto de roupas. Na ponta oval esquerda da composição encontram-se dois homens e uma carroça com uma parelha de bois.

Na margem esquerda da lagoa há muita movimentação: dois homens com canoas na cabeça; mulheres com trouxas, também na cabeça; um homem tangendo um burro; um sujeito montado a cavalo e pessoas conversando. Os adultos representados levam a crer que sejam todos escravos, tanto pela cor da pele como pelos pés descalços.

Houve uma grande modificação entre a paisagem do século XVIII e o local que existe nos dias de hoje:

  • os arcos foram alterados e pintados de branco;
  • a Lagoa do Boqueirão da Ajuda foi aterrada;
  • o morro de Santo Antônio não mais existe;
  • edifícios ruas tomaram o lugar do descampado.

Ficha técnica
Ano: c. 1790
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 86 x 105 cm
Localização: Museu Histórico Nacional, Brasil

 Fonte de pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

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ILUSTRAÇÕES – O LIVRO DA CASA MEDIEVAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os cavaleiros lutavam nessas guerras privadas […] arruinar o inimigo, matando e mutilando o maior número de seus camponeses e destruindo o máximo possível das colheitas, vinhas, ferramentas, celeiros […]. Em consequência, as principais vítimas dos beligerantes eram seus respectivos camponeses. (Barbara Tuchman)

 O Livro da Casa Medieval (Das MIttelalterliche Hausbuch – 1475-1480) trata-se de um manuscrito alemão do século XV, que traz uma série de ilustrações, como as que vemos acima, mostrando o dia a dia sob a perspectiva de um cavaleiro da Idade Média. É, portanto, um inusitado documento para conhecermos a vida naquela época.

Segundo o escritor Steven Pinker, os cavaleiros da Europa feudal agiam como os chefes militares. O rei era visto apenas como o mais importante dos nobres, não possuía exército permanente, exercendo pouco controle sobre seus domínios. Em contrapartida, os feudos eram controlados por barões, cavaleiros e nobres, tendo os camponeses, que moravam em suas terras, além de serem responsáveis pela colheita, também responder pelo serviço militar, ou seja, defender o feudo e atacar outros, a mando do senhor feudal.

As duas gravuras que ilustram este texto, presentes no manuscrito denominado Livro da Casa Medieval, mostram a violência que exista na época dos chamados cavaleiros medievais. Na primeira, à esquerda, muitas cenas de selvageria acontecem ao mesmo tempo:

  • Um homem debruçado sobre  um cavalo morto, que traz a barriga voltada para cima, faz a retirada de suas vísceras. Ele tem uma faca na mão, enquanto uma espécie de machadinha jaz no chão, à sua direita. Atrás de si, um porco fareja seu traseiro nu, em razão de ter suas calças levemente arreadas.
  • À esquerda, um homem e uma mulher estão sentados na entrada de uma caverna, presos a um tronco, antigo instrumento de tortura, feito de madeira e com buracos, onde a vítima era presa pelos pés, mãos ou pescoço. O homem  está encarcerado pelos pés e mãos, enquanto a mulher tem apenas a mão esquerda presa, mas encontra-se acorrentada pelos pés e mão direita.
  • Em cima da caverna encontra-se uma forca já com um cadáver. Num plano inferior, à direita, um sujeito está sendo encaminhado para a forca, ladeado por um padre, com um crucifixo na mão, e um soldado. Atrás vem uma comitiva.
  • Próximo ao cadafalso, um corpo, cujos ossos foram quebrados na roda em que se encontra, está sendo bicado por um corvo.
  • O homem, montado num cavalo ornamentado, trazendo a bandeira de seu feudo, representa o cavaleiro medieval. Toma a parte superior central da composição.
  • Uma cabra, à esquerda da composição, logo acima do patíbulo, representa o signo de Capricórnio, que é regido por Saturno, nome dado à ilustração.

Na segunda ilustração, à direita, há também inúmeras cenas de violência acontecendo:

  • Um grupo de soldados ataca um vilarejo, quatro deles a cavalo. Os camponeses do feudo tentam resistir.
  • Na parte inferior esquerda, um velho camponês é seguro pelos cabelos e esfaqueado por um dos soldados.
  • Mais acima, um camponês, de costas, é agarrado pela camisa, enquanto uma mulher tenta contra-atacar com um pote de barro, e uma segunda grita levantando os braços.
  • Na parte inferior direita, um camponês é esfaqueado dentro de uma igreja, por um indivíduo que o segura pelo pescoço, enquanto outro saqueia seus bens.
  • Próximo à igreja, um soldado, montado em seu cavalo, açoita um camponês que traz os punhos amarrados por uma corda.
  • Acima, em segundo plano, dois soldados incendeiam casas, enquanto um terceiro toca o gado e bate na mulher do fazendeiro que tenta se defender.
  • O homem, montado num cavalo ornamentado, trazendo a bandeira de seu feudo, representa o cavaleiro medieval. Toma a parte superior central da composição.
  • Um carneiro, à esquerda da composição, logo acima do cavaleiro, representa o signo de Áries, que é regido por Marte, nome dado à ilustração.

Fonte de pesquisa
Os anjos bons da nossa natureza/ Steven Pinker/ Edit. Companhia das Letras

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CAMPANÁRIOS DE MINAS GERAIS

Autoria de Luiz Cruz

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Os campanários, os sinos e seus toques representam um dos traços mais expressivos da nossa cultura. Tanto que o “Toque dos Sinos”, em Minas Gerais, foi reconhecido como Patrimônio Nacional, através do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e inscrito no Livro das Formas e Expressões, em 2009, tendo como referência as cidades de Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei e Tiradentes. O “Ofício de Sineiro” também foi reconhecido como Patrimônio Nacional pelo IPHAN, e inscrito no Livro de Registros dos Saberes, no mesmo ano.

O Brasil herdou de Portugal a tradição dos sinos, que aqui logo foi assimilado como exímio instrumento de comunicação. Por isso, teve que ser instalado em locais mais elevados, para que o som alcançasse os mais longínquos lugares. E, para cumprir bem sua função, foram levados para o alto das torres. Porém, nem todos, ao circular pelos mais bucólicos cantos de Minas, podem apreciar curiosas soluções de campanários, entre elas destacam-se as aplicadas ao da Capela de Sant’Ana, em Mariana, instalado no adro, mas afastado da edificação e utilizando-se apenas de madeira e um pequeno telhado. Ou ainda o da Capela de São João, em Ouro Preto, uma das mais antigas da localidade. O sino foi afixado ao lado do templo, elevado apenas por uma coluna de alvenaria e protegido por um telhadinho. Sua colocação próxima aos fiéis e visitantes de forma tão simples, mas com graça, encanta-nos.

Há diversas soluções arquitetônicas singelas para os campanários, mas há também projetos altamente sofisticados e de autoria dos melhores arquitetos, ou mestres pedreiros, como os da Capela de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, criação do Mestre Aleijadinho. A cidade possuiu outros interessantes como os das capelas de Nossa Senhora do Carmo e do Rosário ou ainda o da Casa de Câmara e Cadeia – o atual Museu da Inconfidência. É importante salientar que ao longo dos séculos XVIII e XIX os sinos foram os instrumentos de comunicação tanto da Igreja quanto do “Poder Público”. Ainda merecem destaque os campanários das capelas de Nossa Senhora do Carmo, São Francisco de Assis e o da Casa de Câmara e Cadeia da cidade primaz de Minas – Mariana – tanto pela sofisticação arquitetônica quanto pela harmonia com que compõem uma das mais significativas paisagens mineiras.

São João del-Rei destaca-se no universo de campanários com soluções arquitetônicas bem peculiares e belas. Os campanários das capelas de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora do Carmo são em cantaria de pedra, têm os elementos decorativos em xistos verdes. São sólidos como fortalezas. Os campanários da Matriz de Nossa Senhora do Pilar foram edificados em cantaria de pedra, com espacialidade moderna para o período de sua construção, cujo acesso é através de uma complexa estrutura de madeira, que contrasta com a cantaria, cativando nossa atenção. Provavelmente, os campanários, os sinos e seus toques constituem um dos maiores atrativos da Semana Santa de São João del-Rei, que atualmente é considerada a mais completa do Brasil. Vale a pena visitá-la neste período e conferir este marco da cultura são-joanense.

Como os sinos são instrumentos que compõem o universo dos objetos litúrgicos, devem ser considerados também patrimônio e obras de arte, com certeza, precisam de cuidados para sua conservação e proteção:
• Todo sineiro deve aprender a usá-los com segurança pessoal, para sua proteção e conservação, buscando conhecer a história do sino para melhor desempenhar sua função.
• Conhecer os toques tradicionais dos sinos para assegurar a preservação dessa linguagem.
• Evitar dar manutenção sem o auxílio de profissional especializado, principalmente no badalo, pois bater o sino fora do batente traz um risco muito alto de rachá-lo ou trincar a bacia.
• Usar, preferencialmente, tiras de couro cru retiradas da barriga do boi para amarrar o badalo.
• Evitar intervenções na estrutura do corpo do sino para não comprometer o ajuste entre o corpo e a bacia, nem colocar pregos, pois aceleram a infiltração de águas na madeira.
• Buscar ajuda especializada para orientar a troca de peças para a manutenção do sino.
• Lubrificar, periodicamente, com graxa o eixo e o mancal do sino.
• Manter as torres limpas e fechá-las com tela evitando a presença de aves e outros animais.
• Amarrar a corda de couro no garfo, passando pela argola do badalo para os repiques, evitando-se o uso de arames ou cordas de nylon.
• O corpo do sino deve ser pintado para a proteção da madeira. A tinta feita com óleo de linhaça é mais indicada para melhor impermeabilização.
• Cobrir e proteger o sino quando ocorrerem obras na torre ou na sineira.
• Evitar dobres muito acelerados, pois, além de atípicos, trazem o risco de rachaduras e consequentemente o fim de sua utilização.

Nota: Campanário da Capela de Sant’Ana, em Mariana e Capela de São João, em Ouro Preto. Fotografia: LC

Referência
CRUZ, Luiz Antonio da. e BOAVENTURA, Maria José. Manual de Técnicas de Preservação e Manutenção de Patrimônio. Tiradentes: IHGT, 2016.
CRUZ, Luiz Antonio da. e BOAVENTURA, Maria José. Glossário do Patrimônio de Tiradentes. Tiradentes: IHGT, 2016.
DANGELO, André Guilherme Dornelles. BRASILEIRO, Vanessa Borges. Sentinelas sonoras. Belo Horizonte: e.43, 2013.
MARTINS, Judith. Dicionário de Artistas e Artífices dos séculos XVIII e XIX de Minas Gerais. Rio de Janeiro: MEC, Revista do IPHAN, 1974.

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HIPÁTIA – 1.ª MULHER INTELECTUAL DA HISTÓRIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos. Com um grande autocontrole e descontração, que obteve como consequência do cultivo da sua mente, não raras vezes aparecia em público, na presença dos magistrados. Nem se coibia de comparecer numa assembleia de homens. Pois todos os homens a admiravam ainda mais devido à sua extraordinária dignidade e virtude. (Sócrates)

Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo, a todos os que a quisessem ouvi-la… Os magistrados costumavam consultá-la em primeiro lugar, para administração dos assuntos da cidade. (Hesíquio)

Hipátia distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica – uma extraordinária diversificação de atividades para qualquer pessoa daquela época. Nasceu em Alexandria em 370. Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens. Segundo todos os testemunhos, ela era de grande beleza. Tinha muitos pretendentes, mas rejeitou todas as propostas de casamento. A Alexandria do tempo de Hipátia – então desde há muito sob o domínio romano – era uma cidade onde se vivia sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava dominar a influência e a cultura pagãs.”(Carlos Sagan, em Cosmos)

Ao analisar a magistral composição de Rafael Sanzio, A Escola de Atenas, o Prof. Pierre Santos assinala que Hipátia foi a primeira mulher intelectual registrada pela História. Pela análise do quadro, onde se encontram as cabeças mais celebradas da época, causa espanto a presença de uma mulher. E, para que ela ali se encontrasse, deve ter sido de fato um grande expoente do saber, a ponto de passar pelo filtro do machismo em vigor, cujos resquícios ainda predominam nos nossos dias. Portanto, nada como fazer uma homenagem a essa grande mulher, que viveu num passado tão longínquo.

Hipátia (ou Hipácia), matemática e filósofa neoplatônica, e também versada em religião, astronomia e artes, viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. Mais tarde tornou-se professora e, posteriormente, diretora da Academia de Alexandria. Vinha de uma família culta, tendo por pai Theon, um famoso filósofo, matemático e astrônomo que foi professor e diretor do Museu de Alexandria. O pai tinha uma grande paixão por ela, repassando-lhe as mais diferentes formas de conhecimento, além de despertar na filha a busca pelo saber, sem jamais aceitar respostas prontas. Era também submetida a uma rígida disciplina, com o intuito de alcançar o ideal helênico que se traduzia numa mente sã em um corpo são. Juntamente com o pai, ela escreveu um tratado sobre o professor e matemático Euclides.

Hipátia fez opção por não se casar. E, se lhe perguntavam por que não contraíra matrimônio, ela respondia que seu compromisso era com a verdade. Sua fama era tamanha que vários matemáticos buscavam-na para ajudá-los na solução de problemas complexos, pois ela era obcecada pela demonstração lógica. E, embora vivesse num ambiente em que predominava o cristianismo, Hipátia não se deixou sensibilizar por esse, continuando pagã. A sua não aceitação da religião cristã foi tida por muito tempo, como a causa que levou a seu assassinato. Porém, estudos mais recentes atestam que a causa foi política, ou seja, ela fazia parte da luta pelo domínio de Alexandria. Assim, Sócrates, o Escolástico, relata a sua morte:

Numa tarde de março de 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada, em plena rua, por uma turba de cristãos enfurecidos. Ela foi arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja, onde foi cruelmente torturada até a morte. Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira. A sua morte foi um crime político provocado por conflitos persistentes que se faziam sentir em Alexandria. (Maria Dzielska, em Hipátia de Alexandria)

“Meu coração deseja a presença de vosso divino espírito que mais do que tudo poderia adoçar minha amarga sorte. Oh minha mãe, minha irmã, mestre e benfeitora minha! Minha alma está triste. Mata-me a lembrança de meus filhos perdidos… Quando receber notícias tuas e souber, como espero que estás mais feliz do que eu, aliviar-se-ão pelo menos a metade de minhas dores”. (Trecho de uma carta de Sinésio de Cirene, aluno de Hipátia)

Curiosidade:
Ágora trata-se de um filme espanhol, dirigido pelo cineasta Alejandro Amenábar, lançado na Espanha em 2009, relatando a vida da filósofa Hipátia. O diretor apresenta no filme uma licença romântica, criando um romance entre a personagem principal e um de seus escravos, Davus. Trata também das lutas acirradas entre cristãos, judeus e a cultura greco-romana. É interessante notar no filme o tratamento dado à mulher naquela época.

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PINTURA E ESTILOS ATRAVÉS DOS TEMPOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Retroagindo no tempo, chegamos ao século XVIII, período em que a pintura via-se dentro de um contexto artístico sufocante, submetida a uma rígida hierarquia que prevalecia sobre a crítica, e assim era julgada. A importância dos gêneros, segundo a visão da época, obedecia à seguinte ordem:

1º. pintura histórica
2º. paisagem
3º. retrato
4º. natureza-morta
5º. pintura de gênero

Pintura Histórica – nela estavam incluídos: temas religiosos, alegorias, temas relativos à história antiga (história propriamente dita e mitologia), história contemporânea (no final do século XVIII). Ocupava o principal lugar dentre os gêneros, uma vez que dizia respeito, quase sempre, à nação, engrandecendo-a diante de seu povo e do mundo. Abrangia o todo (o Estado). Tal gênero era tido como moral e intelectualmente mais importante do que os demais. Os quadros eram gigantescos, suntuosos e caros, ocupando o lugar central das exposições. Os demais gêneros eram considerados menores, uma vez que diziam respeito aos indivíduos, em particular.

Paisagem – ocupava o segundo lugar na importância dos gêneros da pintura. Sua única função era ornamentar o interior das casas. Representava o mundo natural. O ambiente retratado pela paisagem era sempre prazeroso e idealizado.

Retrato – apesar de ocupar a terceira posição, tinha muito destaque, em razão da procura e do interesse econômico dos pintores, enriquecendo-os. A burguesia endinheirada encontrava-se ávida por ascensão social. E o retrato denotava status. As encomendas eram cada vez maiores. Retratava-se o rei, a corte e os endinheirados. Mesmo os remediados queriam ter um retrato. E tudo que aparecia no retrato daquela época possuía uma simbologia específica. Por exemplo, a presença de um livro (ou livros) era indicativa de cultura; o uso de joias indicava prosperidade; roupas elegantes diziam respeito à riqueza e à prosperidade, etc.

Natureza-morta – ocupa o quarto lugar na hierarquia dos gêneros da pintura, portanto, era tida como uma arte menor, que, assim como a paisagem, tinha função apenas decorativa. Normalmente representava animais, frutas, pratos e outros ornamentos em cima de mesas. Os objetos tinham um significado específico, sendo que os animais, mortos ou vivos, traziam uma função alegórica.

Pintura de Gênero – também tinha função meramente decorativa. Era muito comum na Holanda, sendo pouco encontrada na França. Relacionava-se com os temas simples do dia a dia.

Nota: as pinturas que ilustram o texto encontram-se estudadas no blog: A Liberdade Guiando o Povo, de Delacroix / A Última Viagem do Temeraire, de Turner/ Retrato da Sra. Matisse, de Matisse/ Os Girassóis, de Van Gogh/ A Leiteira, de Vermeer

Fonte de pesquisa
O Sol do Brasil/ Lília Moritz Schwarcz

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