Arquivo da categoria: Arte Cristã

Pinturas relativas ao cristianismo, abrangendo os mais diferentes pintores, estilos e épocas.

Henry Ossaya Tanner – A ANUNCIAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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E no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. E entrando o anjo onde ela estava, disse:

– Salve, agraciada, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.

E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. Disse-lhe, então, o anjo:

– Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. (Lucas 1:26-33)

Na sua Anunciação, extremamente humana, o pintor afro-americano Henry Ossawa Tanner mostra o momento em que o anjo Gabriel anuncia à Virgem Maria que ela dará a luz o Filho de Deus.

Maria é apresentada como uma  camponesa adolescente do Oriente Médio, na intimidade de seu quarto de dormir. Ela se encontrava dormindo, quando recebeu a visita do anjo. Não possui auréola ou qualquer outro atributo sagrado que a identifique. Trata-se de uma jovem bonita, mas não deslumbrante, vestida com roupas de dormir.  Seu rosto é uma mistura de surpresa, perplexidade e temor. Não traz um livro na mão, para demonstrar a sua sabedoria ou piedade, está apenas sentada na cama, com as mãos entrelaçadas sobre as coxas. É possível ver os dedos de seus pés descalços sobre o tapete. Seu rosto expressa aceitação e submissão à vontade de Deus.

O quarto da Virgem é tosco, com revestimento de pedra e gesso, sendo possível notar suas rachaduras. A moringa ao fundo, na parte elevada, próxima à cabeceira da cama, é feita de cerâmica comum e não traz nenhum adorno. Um tapete colorido está fixado na parede, à direita da Virgem. Ao chão, um tapete tosco está posicionado em toda a lateral da cama, enquanto o vestido verde de Maria, sobre uma cadeira, desce sobre ele.

O anjo Gabriel, presente à esquerda da composição, é modelado apenas por um raio vertical de luz amarela brilhante. A Virgem, mesmo assim, identifica o anjo dentro daquele amarelo ardente, como se atravessasse um portal entre o mundo espiritual e o físico.

À esquerda do anjo de luz é possível notar um vaso de cerâmica. Na altura da cabeça do anjo, há uma prateleira com um objeto também de cerâmica. A prateleira parece formar os braços de uma cruz, ao se destacar sob a luz do anjo.

Ficha técnica:
Data: 1898
Técnica: óleo em madeira
Dimensões: 144,8 x 181 cm
Local: Museu de Arte da Filadelfia, EUA

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Lorenzo Lotto – A ANUNCIAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Anunciação aqui apresentada é uma das mais belas criações do veneziano Lorenzo Lotto, que mostra uma cena bem diferente das que comumente são vistas sobre a visita do anjo mensageiro à Virgem Maria.

Na composição, Maria não se encontra de frente para o anjo, mas de costas, ajoelhada sobre seu genuflexório, com as mãos num gestual de espanto. A sensação que o observador tem é de que, ao receber a notícia do anjo anunciador, ela se virou surpresa.

Um livro sobre o genuflexório leva a crer que a Virgem estava ali a rezar, quando o anjo apareceu. Suas vestes,  um comprido e rodado vestido vermelho sobre o qual desce um manto azul, são singelas, sendo possível observar um de seus pés descalços.

O anjo também se apresenta modestamente, usando uma túnica azul, presa na cintura. Tem asas escuras e seus braços estão nus. Está ajoelhado sobre a perna direita, enquanto a esquerda, dobrada, serve de apoio para a mão que segura o ramo de lírios brancos, símbolo da virgindade de Maria. Seus cabelos esvoaçantes são dourados e a pele é muito alva.

Em cima, no lado superior direito da pintura, fora do ambiente onde se encontram Maria e o mensageiro, circundado por uma imponente nuvem, Deus Pai aponta as mãos para a Virgem Maria, como se ratificasse o aviso do anjo e a abençoasse.

O ambiente, onde se passa a cena, é sóbrio e, possivelmente, representa o quarto da Virgem. Uma porta conduz a uma sacada, de onde é possível ver uma paisagem com muitas árvores. O mais espetacular na pintura é a presença de um gatinho fujão, que se mostra assustado com a chegada do anjo. O animalzinho marca o centro figurativo da composição.

Ficha técnica:
Data: c. 1534
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 166 x 114
Localização: Pinacoteca Comunale, Recanati, Itália

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ALEIJADINHO – TRIBUTO À ARTE E À VIDA

Autoria de Luiz Cruz

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No dia 30 de novembro de 2014, na Capela do Divino Espírito Santo, em São João del Rei/MG, foi encerrada a 37ª Semana do Aleijadinho – Celebração dos 200 anos da sua morte. A programação especial teve início no dia 1º, em Ouro Preto, a antiga Vila Rica, onde nasceu Antônio Francisco Lisboa, em 1737 e onde faleceu, em 1814. O Mestre trabalhou nessa localidade vários anos e lá executou sua obra prima arquitetônica: a Capela de São Francisco de Assis.

A Semana do Aleijadinho foi criada em 1968, quando foi implantado o Museu do Aleijadinho, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, em Ouro Preto. Durante toda sua vida, o Mestre esteve ligado a essa paróquia, onde foi batizado e sepultado, em cova de Nossa Senhora da Boa Morte. Aleijadinho morou na antiga Rua de Trás, em casa de esquina, ao lado da matriz. Seu pai, o mestre carpinteiro português Manuel Francisco Lisboa, também foi ligado a essa igreja, lá se casou com Antônia Maria de São Pedro. Quando faleceu, foi enterrado no interior do templo, conforme o costume daquela época.

Ao longo do mês de novembro, aconteceram diversos eventos que celebraram a morte do Mestre Aleijadinho, os dois mais significativos foram o IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte, realizado em Belo Horizonte, na Escola de Arquitetura da UFMG, no período de 3 a 5, quando especialistas brasileiros e portugueses tiveram oportunidade de apresentar seus trabalhos envolvendo o meio ambiente sócio-cultural-econômico em que Aleijadinho viveu e produziu; o segundo foi realizado em Tiradentes, no período de 26 a 28, a UFMG, através do Campus Cultural Tiradentes e da DAC – Diretoria de Ação Cultural, realizou o Colóquio Aleijadinho o artista e sua época, com a participação de especialistas que propiciaram rica reflexão envolvendo o Mestre e sua contemporaneidade.

Muito foi pesquisado e debatido acerca da vida e da obra de Aleijadinho, mas, como se trata de um dos maiores escultores de todos os tempos, e por estarmos diante de significativo mito, ainda há aspectos a se desvelar, se é que algum dia se esgotará, pois a cada pesquisa, a cada novo olhar, haverá novidades. Por isso, nos dois principais eventos, ambos realizados pela UFMG, envolveram desde os maiores pesquisadores, como Ivo Porto de Menezes (que há sessenta anos pesquisa o tema Aleijadinho) e Myriam Ribeiro de Oliveira, e novos pesquisadores, como Alexandre Ferreira Mascarenhas e Marcos Tognon, dentre outros. Arquitetos, historiadores, etnógrafos, antropólogos, filósofos, especialistas das letras e outros ainda podem debruçar sobre o tema, cada pesquisa pode contribuir para melhor compreensão da vida, da obra e da época em que viveu Aleijadinho.

A 37ª Semana Aleijadinho promoveu diversos eventos culturais, não só em Ouro Preto, mas também em Belo Horizonte, Mariana, Congonhas, São João del Rei e Tiradentes, levando às cidades momentos culturais com concertos, lançamentos de livros, palestras e exibição de documentário. Não haveria melhor local para encerrar a programação cultural dessa semana do que a Capela do Divino Espírito Santo, da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de São João Del Rei. Um belíssimo templo rococó, decorado pelo artista Joaquim José da Natividade (c.1775-1840), que foi resgatado das ruínas e restaurado primorosamente por Carlos Magno Araujo. E aqui é interessante lembrar a fala do pesquisador João Antônio de Paula, lembrando que, para a existência de Aleijadinho foi necessário acontecer um ambiente cultural vasto, rico, complexo e com a atuação de centenas de artistas talentosos e um deles, sem dúvida, foi Joaquim José da Natividade. No Colóquio Aleijadinho o artista e sua época, o historiador Magno Mello, em sua conferência, citou Natividade diversas vezes, por sua importância e criatividade.

No encerramento do colóquio, numa parceria entre os organizadores e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, foi lançado um selo especial, registrando os 200 anos da morte do Mestre Aleijadinho. O selo traz a imagem da Matriz de Santo Antônio de Tiradentes, o último projeto arquitetônico do Mestre Aleijadinho, de 1810 (imagem acima).

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ALEIJADINHO – 200 ANOS DE SUA MORTE

Autoria de Luiz Cruz

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Lá fora os lundus dos escravos/Acordam a lua do sono./A escultura bem que pede/Uma força bem maior./- Homem se me acabas/Eu acabo te abraçando. – (Murilo Mendes)

Aos dezoito dias de novembro de mil oitocentos e quatorze, faleceu Antônio Francisco Lisboa, pardo, solteiro, de setenta e seis anos, com todos os sacramentos, encomendado e sepultado em cova da Boa Morte e para clareza fiz este assento em que assino. (O coadjutor José Carneiro de Morais)

Antônio Francisco Lisboa nasceu em Vila Rica, era filho natural da forra Isabel e do mestre carpinteiro português Manuel Francisco Lisboa. O sobrenome é designativo de origem, ou seja, de Lisboa, Portugal. Segundo o pesquisador Marcos Paulo de Souza Miranda, o pai de Aleijadinho chegou ao Brasil por volta de 1720, acompanhado de seus pais  irmãos.

Aleijadinho cresceu no seio de uma família de talentosos mestres carpinteiros e desde muito cedo esteve em contato com a arte e a arquitetura. O meio ambiente em que foi criado era bastante propício para que pudesse desenvolver suas habilidades. É provável que tenha estudado com o português abridor de cunhos João Gomes Batista, e a arte heráldica será, posteriormente, reestruturada e executada em sua obra. Seu ambiente familiar foi muito significativo para a formação do mestre mulato, mas também as condições culturais, econômicas e sociais foram propícias para o desenvolvimento das artes de maneira geral. Minas Gerais setecentista tornou-se grande celeiro das artes e expressiva formadora de artistas, que circulavam por diversas vilas e arraiais, criando suas obras e embelezando as localidades.

Aleijadinho foi escultor, entalhador, desenhista e arquiteto da melhor qualidade. Constituiu sua oficina. Deixou várias obras primas escultóricas e arquitetônicas. Seu apelido está associado a sua condição física, que até hoje não se sabe exatamente o que lhe acontecera. Com vasta obra, sendo mulato – numa sociedade estratificada, foi um dos artistas mais valorizados de sua época, inovador nas áreas em que atuou e associando tudo isso ao seu problema físico, o personagem, desde cedo, tinha todos os elementos para transformar-se em um “mito”. E como todo mito, já foi muito estudado, mas sua obra, sua vida e seu meio ambiente sócio-econômico-cultural ainda nos propiciam vasto e complexo campo a ser investigado.

Alguns viajantes estrangeiros, ao longo do século XIX, deixaram registros sobre o artista; seu primeiro biógrafo Rodrigo José Ferreira Bretas teve oportunidade de coletar relatos de pessoas que ainda tinham convivido com o mestre. Mas o primeiro a estudar a obra de Aleijadinho foi o modernista Mário de Andrade, que visitou Minas em 1924, na caravana modernista. Seu ensaio sobre o artista foi publicado em 1928. O poeta franco-suiço Blaise Cendrars, que participou da caravana, ficou encantado com a obra de Aleijadinho e iniciou um estudo, que infelizmente não teve prosseguimento. Ainda da caravana, Oswald de Andrade e Mário de Andrade criariam seus belos poemas e Tarsila do Amaral registraria em desenhos as diversas localidades que visitaram. O arquiteto e pesquisador Lucio Costa foi o primeiro a conectar a obra do artista de Minas Gerais com o rococó da Baviera. Viajou com o historiador Ivo Porto de Menezes pelo interior da Alemanha, identificando e analisando obras, que foram edificadas lá com estética próxima e inspirada na tratadística arquitetônica, exatamente como ocorrera com as obras mineiras realizadas por nosso mestre. Seria impossível relacionar os pesquisadores envolvidos com as obras desse ouro-pretano e artista magistral.

Se a origem familiar e o clima propícios à criação artística foram significativos para a formação e produção do mulato, não foram apenas esses fatos, mas especialmente sua própria erudição. Aleijadinho foi, com certeza, um homem culto e sensível, que sabia ler e interpretar a Bíblia, conhecia o latim e teve acesso aos tratados arquitetônicos que circularam pelo Brasil colônia. Com seu talento, soube como ninguém se apropriar das informações e conhecimentos, e transformá-los em obras-primas. Em Ouro Preto, encontra-se seu principal projeto arquitetônico: a capela de São Francisco de Assis; em Congonhas está seu maior conjunto de esculturas: os Passos da Paixão e em Tiradentes o seu último risco: o frontispício da Matriz de Santo Antônio. Podemos apreciar obras de Aleijadinho em diversas igrejas mineiras e, em cada uma, o artista imprimiu seu estilo inconfundível. Com a associação de um estilema a outro, torna-se mais fácil identificar a escultura de nosso artista maior. Podemos considerar o conjunto de caracteres a sua marca, ou sua própria assinatura nas obras de arte:

• o domínio da estrutura anatômica; • os olhos expressivos, com o globo ocular protuberante, com as pupilas planas, achinesados, tendo as lacrimais bem definidas, o olhar é penetrante; • hipertelorismo – a distância acentuada entre as órbitas oculares; • os cabelos organizados em mechas, estriados e formando volutas, em alguns exemplares o cabelo está em vírgulas invertidas sobre a testa; • as sobrancelhas arqueadas em V conectando-se com o desenho do nariz; • o nariz afilado, com terminação em esfera diluída, tendo as aletas bem definidas e profundas; • a arquitetura labial é muito pessoal e está intimamente conectada ao nariz pela formação do septo nasal, que cria campo para destaque das colunas do filtrum; o sulco do filtrum é profundo e convexo; o arco de cupido é em forma de V; o tubérculo da porção mucosa do lábio superior destaca-se em montículo; tanto o lábio superior quanto o inferior possuem desenhos bem definidos e marcantes em cada escultura; • a boca é entreaberta, salientando ainda mais os lábios carnudos; ligeiramente aparecem os dentes, em alguns casos; • o queixo é delineado em montículos; • os bigodes nascem das narinas, afastados dos lábios e formam a barba bipartida que desenvolve-se em duas aspirais bem definidas, deixando o queixo exposto; • a barba não é conectada às costeletas, desce de junto aos lóbulos das orelhas; • o semblante facial é sempre expressivo e pode-se perceber a estrutura óssea; • o pescoço é bem colocado e robusto; • o movimento de pernas e braços é sempre original a cada escultura, a posição dos pés forma ângulo próximo do reto; os braços são ligeiramente curtos; • a mão tem proporção quadrangular, com a formação do polegar mais afastado e alongado; o desenho das unhas é bem destacado e retangular; os dedos mínimo e indicador são mais afastados, contrastando com os dois dedos médios unidos e de comprimento muito próximo; é possível observar a estrutura óssea e as veias; • os artelhos ou pododáctilos são longos e sempre expostos; • o joelho é ligeiramente elevado, para acentuar o movimento do planejamento, que é anguloso, em dobras marcantes, esvoaçante; • a veste em gola cônica ou gola em V, sinuosa e ressaltada, em cabuchão; • as esculturas são de tamanhos diversos, a maioria policromada, mas há belos exemplares sem policromia.

Fotos de Luiz Cruz: Cristo com a cruz às costas – Passos da Paixão do Santuário de Congonhas/MG; Santo Antônio, capela de São Francisco de Assis de São João del Rei/MG.

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IGREJA DE N. SRA. DO PILAR / TIRADENTES

Autoria de Luiz Cruz

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A igreja de N. Sra. do Pilar é um monumento tombado pelo município de Tiradentes, através da Lei Orgânica, de 1990. Trata-se de uma edificação da primeira metade do século XVIII, construída pelo padre Gaspar da Silva Pimenta. Segundo a lenda, três padres irmãos percorreram a região para edificar igrejas. O primeiro construiu a Igreja de N. Sra. do Livramento; o segundo a de N. Sra. do Pilar e o terceiro a da Santíssima Trindade. Sendo que de uma se avista a outra, formando um triângulo.

A edificação é característica de área rural, com fachada simples em oitão e telhado em duas águas. No interior, o altar-mor é em estilo barroco, com detalhes dourados e com acréscimos do final dos setecentos. O forro da capela-mor é pintado, destacando-se ao centro uma cena com a Assunção de N. Sra. que, pelas características e materiais pictóricos, deve ser do século XIX e de autoria desconhecida. Há um altar lateral de madeira recortada e pintada, que era dedicado a N. Sra. do Rosário, instalado onde agora se encontra uma curiosa imagem de São Sebastião. Ainda uma balaustrada torneada em jacarandá, com dois confessionários, um púlpito com pinturas marmoreadas e uma pia batismal em pedra arenítica são peças que se destacam no conjunto. Os materiais construtivos são: taipa, madeira, pedra seca, xistos e arenitos.

Na lateral da igreja de N. Sra. do Pilar existe um túmulo, com uma bela escultura de anjo alado em mármore branco. Nos fundos, encontra-se o cemitério, com destaque para um túmulo com uma escultura de anjo-menino e cruzes em ferro batido. E do alto dela podemos contemplar uma das mais belas paisagens da região, com a várzea do rio Elvas, a Serra de São José e a Serra do Lenheiro, em São João del Rei. Do lado oposto da igreja, no meio de uma colina, foi instalado um cruzeiro, com os símbolos da crucificação de Cristo.

O templo passou por reformas, algumas bastante comprometedoras. Na reforma de 1936/39, padre José Bernardino abriu arcos plenos nas paredes de taipa da capela-mor e encomendou uma repintura, de gosto bem popular e padronizada, realizada por Francisco Cesário Coelho (intervenção muito próxima à executada na Igreja de São Francisco de Paula). Trocou as telhas de calha por telhas francesas, retirou o piso de madeira e colou um de ladrilho hidráulico. Depois, construiu a torre lateral com volumetria acentuada, desproporcional ao tamanho da igreja. Na década de 1970, o padre Lourival de Salvo Rios substituiu o piso de ladrilho hidráulico por piso de marmorite rosa. No final da década de 1990, quando a igreja estava em processo de tombamento municipal, a prefeitura de Tiradentes fez a reforma do telhado. O adro foi pavimentado com pedras da Serra de São José. Embora as intervenções tenham comprometido a estrutura do monumento, foram elementares para sua existência. Provavelmente, sem elas, a igreja teria se transformado em ruínas.

Em 1964, a igreja foi saqueada. Levaram várias peças, inclusive a imagem da padroeira, que foi recuperada em um antiquário no Rio de Janeiro, pelo padre Jair Rodrigues Vale e o zelador José Elpídio do Nascimento. Infelizmente, as outras peças não tiveram a mesma sorte. O artista popular Antônio Gomes esculpiu duas peças para os nichos do altar-mor: N. Sra. dos Remédios e São João Batista.

A obra de restauro da igreja só foi possível através de apoio do BNDES. O monumento estava bastante comprometido por ataques de cupins, goteiras, umidade e rachaduras. A restauração foi coordenado pela Oficina de Teatro Entre & Vistas, com o processo iniciado em 2009 e custo em torno de R$700 mil. O restauro estrutural ficou a cargo da Tempus Empreendimentos e o artístico realizado por Ânima Conservação e Restauração, com acompanhamento da Paróquia de Santo Antônio, da Prefeitura e do IPHAN. Durante o processo de restauração foram realizadas “visitas guiadas” ao monumento, sob a coordenação do projeto Educação Patrimonial, também apoiado pelo BNDES, fundamentais para despertar o senso de pertencimento e responsabilidade pela preservação e conservação da edificação, que além de monumento de devoção e fé, tem inestimável valor para a identidade, história e cultura locais.

A igreja de N. Sra. do Pilar, de Tiradentes, foi entregue devidamente restaurada à comunidade do Elvas, no dia 2 de agosto de 2014, com uma singela solenidade e bênção. Foi apresentado um documentário sobre o restauro e a necessidade de fazer sua manutenção.

Sua localização
Região de Padre Gaspar
Área do distrito do Elvas e Caixa D’Água da Esperança,
Tiradentes/ Minas Gerais

Sobre a devoção a N. Sra. do Pilar
A devoção a N. Sra. do Pilar é muito antiga, surgiu quando o apóstolo São Tiago recebeu a incumbência de levar o nome de Cristo às províncias romanas da Espanha. Segundo a tradição, N. Sra. teria lhe pedido para ir, converter o maior número de almas e edificar um templo naquela região. Foi na cidade de Saragoza, às margens do rio Ebro, que seu trabalho teve mais êxito. Certa noite, ele ouviu vozes angelicais e se ajoelhou sobre um fragmento de uma coluna de mármore. Então, N. Sra. aproximou-se e lhe indicou o lugar para construir uma igreja, pedindo-lhe que colocasse o fragmento da coluna no altar. Tiago agradeceu a Maria pela ubiquidade, pois ela ainda estava viva. Essa foi considerada a primeira aparição de N. Sra. Ajudado por oito rapazes, Tiago iniciou a obra da igreja, colocando o fragmento da coluna no altar. Tempos depois, surgiu a devoção a N. Sra. do Pilar, que é venerada como padroeira da Espanha. No Brasil, seu culto é tradicional, especialmente nas vilas setecentistas. Ela é padroeira de muitas cidades como São João del Rei, Ouro Preto, Olinda, Recife, Curitiba e outras localidades.

Nota: imagens da fachada e altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, feitas pelo autor do texto.

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Mário Mendonça – RESSURREIÇÃO

Autoria de Renan Suchmacher

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A histórica cidade mineira de Tiradentes ostenta acervo invejável de obras de arte seculares. Não bastassem tamanhas preciosidades, artistas como Picasso, Modigliani, Portinari, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti também podem ser encontrados por lá. A façanha é do Instituto Cultural Mário Mendonça, que expõe, gratuitamente, desde 2010, trabalhos desses e de mais de dezenas de outros mestres, incluindo o próprio fundador do museu, um dos maiores pintores brasileiros de arte sacra da atualidade: Mário Mendonça.

O Instituto Cultural Mário Mendonça conta com mais de duas mil obras, ampla infraestrutura, galerias de arte contemporânea brasileira, salas de desenhos e salão de arte abstrata. Uma biblioteca formada, principalmente, por livros de arte, também está à disposição de seus visitantes para consulta e estudo. Por sua vez, a capela de Nossa Senhora das Graças, aberta a visitação, abriga coleção de ícones ortodoxos de diversas partes do mundo, sendo o de maior destaque uma Madonna russa, do século XVI.

O pintor Mário Mendonça, que doou sua casa para a criação do museu, completa este ano 50 anos de carreira e 80 de vida, recebendo um presente especial: sua obra “Ressurreição”, que representa Cristo numa tela de dois metros, ficará em exposição no Domingo de Páscoa (20/4/ 2014) no Corcovado, após mostra itinerante em seis igrejas da cidade do Rio de Janeiro, iniciada em 29/01/2014. Terminado o circuito, o quadro ganhará lugar permanente no Santuário do Cristo Redentor, situado na cidade do Rio de Janeiro.

No quadro “Ressurreição”, o artista apresenta a Santíssima Trindade. No alto, à direita de Cristo, está a mão de Deus abençoando-O, e em sua mão esquerda pousa a pomba, símbolo do Espírito Santo, todos com os ferimentos da Paixão. Segundo o artista Mário Mendonça, como são uma só pessoa, toda a trindade foi ferida e sofre. Pela primeira vez, a Ressurreição de Cristo foi pintada e exibida desta maneira tão criativa.

A exposição permanente da pintura “Ressurreição”, no Santuário do Cristo Redentor, dá oportunidade aos cariocas e turistas de experimentarem um pouco daquilo que o Instituto Cultural Mário Mendonça tem a oferecer. A tela, que fica como presente para a cidade, servirá como forte laço cultural entre o estado do Rio de Janeiro e o de Minas Gerais.

Além do Brasil, as obras do pintor Mário Mendonça fazem parte de acervos importantes, como os do Museu do Vaticano (Itália), do Ibero Amerikanisches Institut (Alemanha) e do Museu Ludmila Jiukava (Bulgária), entre outros.

Ficha técnica
Ano: 2013
Artista: Mário Mendonça
Técnica usada: Óleo sobre tela
Dimensões: 2,03m X 1,45m
Localização: Santuário do Cristo Redentor do Corcovado, Rio de Janeiro/RJ, Brasil.

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