Autoria do dr. Telmo Diniz
Falar sobre perda ou morte é sempre um ponto delicado e, geralmente, evitado por boa parte das pessoas. O medo da morte é, sem dúvida, um tema que desperta muita curiosidade e talvez seja um dos mais estudados. O estudo da morte é tecnicamente conhecido por tanatologia e a medicina tem também evoluído neste tema com a medicina paliativa.
Creio que o mistério da morte é parte do enigma da vida em si. Entender a morte significa, em última instância, entender a vida. A física, por exemplo, mostra-nos que nenhuma substância realmente desaparece, apenas muda de forma. Uma árvore, por exemplo, pode ser cortada para se fazer uma casa, uma mesa ou uma cadeira, mas independentemente da forma que tomar, a madeira permanece sendo madeira. E, quando aquela mesma madeira é queimada numa fornalha, mais uma vez muda de forma, tornando-se energia (fogo). A árvore, a cadeira e o fogo são apenas formas diferentes da mesma substância. De modo semelhante, o corpo somente muda de forma após a morte.
O maior estudo já feito sobre experiências de quase morte mostrou que cerca de 40% dos pacientes têm algum tipo de lembrança sobre o período em que estiveram clinicamente mortos e sugeriu que uma pessoa pode continuar com atividade cerebral por até três minutos após seu coração parar completamente. O estudo foi conduzido na Universidade de Southampton, na Inglaterra, e foram analisados mais de 2.000 casos de pessoas que sofreram paradas cardíacas em 15 hospitais da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Áustria, durante quatro anos. Entre os 330 que sobreviveram após uma reversão de parada cardiorrespiratória, 140 puderam ser entrevistados e, desses, 55 (40%) disseram ter alguma percepção ou lembrança do período em que estavam tecnicamente mortos. Duas percepções foram faladas durante as experiências de quase morte: a sensação de serenidade que o indivíduo diz sentir, também chamada de “paz interior”, e a chamada “experiência do túnel”. Esta última, talvez a característica mais falada pela grande maioria, é citada em diferentes estudos e países.
Sabemos que o que mais nos atormenta quanto à própria morte é não saber em qual circunstância ela ocorrerá e que tipo de sofrimento físico e/ou moral nos trará. E essa incerteza pode aliar-se à sensação de perda de tudo aquilo que foi conquistado ao longo da vida, como bens afetivos e materiais, e à falta de uma definição mais exata de como será o nosso futuro espiritual, para onde iremos e o que realmente acontecerá. Enfim, são muitas as expectativas e as dúvidas em torno desse fato.
A vida não fica apenas restrita em um corpo. A morte ganha outro significado quando a tratamos como uma mudança de realidade, que não nos impedirá de prosseguir com o desenvolvimento de nossas potencialidades, porque, mesmo que tenhamos deixado o corpo, continuaremos com a nossa jornada evolutiva. O organismo é finito, a vida não.
Nota: obra de Fernando Botero
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