Arquivo da categoria: Corpo e Mente

Filosofias e conjunto de práticas físicas, psíquicas e ritualísticas que buscam um estado de harmonia e equilíbrio físico e mental.

DEPRESSÃO E CELEBRIDADES

Autoria de Lu Dias Carvalho

Qualquer pessoa pode ter depressão, mas muita gente jura de pé junto que não tem. O preconceito é o maior dos problemas. (Paula Fernandes)

 Depressão é uma doença que atinge qualquer pessoa e nada tem a ver com a fé. (Pe. Marcelo Rossi)

 Enxerguei que o mais importante é ter pessoas que você ama por perto e procurar ajuda profissional. (Rebeca Gusmão)

 Eu não me sentia confortável com o trabalho. Isso se juntou ao sentimento de inadequação. Eu estava confuso, em crise com a profissão, sentindo-me mau ator, feio e triste. (Selton Mello)

 Depressão é o segredo que toda família tem. (Andrew Solomon)

Nós, seremos humanos comuns, temos a tendência de glamorizar a vida dos famosos. Achamos que por terem dinheiro e fama são também contemplados com a felicidade absoluta, como se deuses do Olimpo fossem ou afilhados desses. Engano absoluto! Muitas vezes, a luta para manter o sucesso a qualquer preço – num mundo extremamente competitivo e de flagrantes altos e baixos – é um desencadeador dos mais diferentes transtornos mentais, sendo a depressão uma constante.  Alguns famosos menos informados tentam manter a doença escondida, achando que torná-la pública poderá afetar sua imagem, mas a maioria relata-a até mesmo como uma forma de ajudar as pessoas comuns.

Não são poucos os famosos que já sofreram depressão ou que ainda se encontram em tratamento. Dentre esses podemos citar: a cantora sertaneja Paula Fernandes que se viu acometida por tal transtorno ainda na sua infância; a ex-nadadora Rebeca Gusmão; o ator e diretor Selton Mello; a atriz Adriane Esteves; a cantora Selena Gomez; o jornalista Jorge Pontual; o padre e cantor Marcelo Rossi; a cantora e atriz Demi Lovato; o ator e comediante Jim Carrey; a cantora Deborah Blando; J.K.Rowling, autora de Harry Potter; o cantor Justin Bieber; a atriz Cassia Kiss; a cantora Lady Gaga; o escritor Andrew Solomon  e a falecida princesa inglesa Diana, dentre muitos outros.

Todos os famosos que vieram a público falar de seu transtorno depressivo deixaram bem claro que a melhor forma de combater (ou até mesmo conviver) uma doença que acomete uma fatia cada vez maior de pessoas em todo o mundo é desmistificá-la.  Em razão disso alertam que a depressão não é uma tristeza “muito grande”, mas, sim, uma doença que precisa ser tratada. Segundo a psicóloga Andréa Ferreira “A depressão é mais complexa que a tristeza. Ela se caracteriza como um fenômeno interno do indivíduo, e possui sintomas e uma duração maior que uma tristeza”.

A sociedade precisa compreender que a pessoa acometida pela depressão não pode ser vista como alguém que tem preguiça de melhorar. Segundo o escritor Andrew Solomon, um estudioso da depressão e que faz palestras sobre o assunto em todo o mundo, o depressivo sabe que algo está errado consigo, mas ele não tem forças para agir diante dos sintomas. Assim explica Solomon (autor de O Demônio do Meio Dia): “Sabemos que isso é ridículo. Sabemos disso, quando a vivenciamos. Sabemos que a maioria consegue ouvir as mensagens, almoçar, tomar banho, sair de casa, e que não é nada demais. Ainda assim, você fica inerte e incapaz de pensar em uma saída”.

Depois de lerem este artigo, caro leitores, vocês não mais pensarão que o transtorno depressivo é uma doença que acomete apenas os seres mortais comuns, jamais iluminados pelos holofotes da fama, pois O a depressão é uma doença democrática que aflige anônimos e famosos. Quando os últimos expõem suas histórias de sofrimento com o transtorno depressivo, dão um grande exemplo àqueles que acham que são os únicos a lutarem contra esta doença que afeta, cada vez mais, um grande número de pessoas em todo o mundo.

Nota: Abandono, obra de Oswaldo Goeldi

Fonte de pesquisa
Guia 301: Dicas para não ter depressão / Editora Online

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QUEM DÁ, É QUEM RECEBE…

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a necessidade de ter e de dar alegria.

Um dos caminhos de realizar a paz e curar-se da angústia é seva, ou seja, agir no mundo visando à realização da felicidade e benefício dos outros. É a arte de ter a alegria e de dar alegria.

Todo aspirante ao Yoga e à conquista da mente precisa pensar o quanto é fonte de sofrimento e decepção o trabalhar egoisticamente, visando, com o fruto do trabalho, adquirir coisas e conquistar posições. Este agir em proveito próprio é o “normal” na sofredora espécie humana. Pelo Yoga é denunciado como um empecilho à realização espiritual, consequentemente, à conquista da paz da mente.  O agir do usurário (bhoga), do egoísta, do mercenário não o conduz a outro resultado senão à frustração. Já velho ou no leito da morte, o usurário sente, dramaticamente visível, a inutilidade do que juntou.

A moderna psiquiatria já reconheceu que o trabalho em proveito dos outros – que não se confunde com a mera caridade (tão caricaturada) – é uma solução para muitos casos de neurose. Um ansioso é geralmente uma pessoa doentiamente interessada em si mesma. Todo seu medo, todas as suas preocupações decorrem deste anômalo amor a si mesmo. O que se puder fazer para canalizar sua hiperatenção para um trabalho generoso constitui, portanto, tratamento.

“Quem dá aos pobres empresta a Deus” é uma fórmula de caridade vulgar, que, como se pode ver, não passa de uma barganha. Dar para depois receber é espúrio. É egoísmo. No final de contas, é ainda o ego do “caridoso” que vai receber a “recompensa”. Seva é diferente. Nada tem de negociata. A prática de seva é consequência natural de um elevado bhâvana ou atitude filosófica que diz que quem ajuda é o mesmo que recebe ajuda, em termos do Absoluto Uno. Quem ajuda os outros o faz por ter a certeza de que o outro não existe fora de si mesmo e que a separação é maya (ilusão); o que faz é na convicção de que Deus Uno é quem dá e é quem recebe. Quem assim age está livre de aspirar reconhecimento, retribuição ou recompensa.

Não se utiliza dos necessitados como instrumento de egoísticos planos de “salvação” ou “indulgências”. Seva é a característica do Yoga da ação ou Karma Yoga. É trabalho desinteressado. O passo seguinte é a oferenda de todos os frutos da ação ao Senhor. O último passo e também o mais libertador consiste em considerar o Senhor como o único autor das ações. Este é o agir que liberta. Chamado Karma Yoga.

O agir no mundo só não semeia sofrimentos se for conducente à Divindade; só não gera remorsos e frutos amargos, quando a vontade individual do agente se conforma com a Sábia Vontade Divina; quando o indivíduo cumpre seu papel no mundo, mantendo-se em harmonia com o Senhor do Mundo. Esta é a ação reta de que fala o Budismo.

A atividade que visa à autogratificação ou prazer pessoal chama-se Sakma karma. É, portanto, aseva, o oposto de seva. E, como bem enunciou Cristo, cada um atinge o objeto de seus desejos, o homem que trabalha por motivos egoísticos chegará a colher os frutos decepcionantes de seus vulgares anseios. E, no fim, só frustrações ele colherá. Nishama karma, ao contrário, nunca dará frutos amargos, pois é o agir inegoístico e em harmonia com o Divino.

“Dedicando todas as ações a Deus, considerando-se a si mesmo tão somente um servo ou instrumento, isento de desejos pela colheita dos frutos da ação, a salvo do egoísmo e sem qualquer sentimento de cobiça, engaja-te na batalha.” (Gita.)

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Roda de Samba, autoria de Carybé

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CONHECENDO A DEPRESSÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O oposto da depressão não é felicidade e, sim, vitalidade. (Andrew Solomon)

 Nós, viventes do século XXI, podemos nos orgulhar de pertencer a uma época de grandes avanços científicos, médicos, tecnológicos e utilitários – embora uma grande parte da população mundial não tenha acesso a eles, pois vive à margem de tais conquistas, numa sociedade desigual e extremamente injusta – que vêm propiciando grandes mudanças.  Contudo, neste mundo cada vez mais rápido em que é impossível absorver toda uma gama de ideias, sensações e teorias, a depressão – um dos transtornos mentais mais conhecidos – vem se alastrando pelo globo, quer o homem encontre-se na casta dos privilegiados quer se encontre em meio aos marginalizados.

O escritor e palestrante Andrew Solomon – especialista em depressão – diz ter ficado impressionado com o número de pessoas depressivas entre os mais pobres – onde a doença costuma ser ainda mais severa – e o fato de não receberem dos governos o tratamento necessário. Ele diz que essas pessoas, por levarem uma vida de miserabilidade, privadas das necessidades mais básicas de um ser humano, “sentem-se péssimas o tempo todo”, por isso, acham que a vida é assim mesmo. Não lhes passa pela cabeça que se trata de uma doença e que existe tratamento para ela. Por outro lado, são totalmente ignoradas por aqueles que deles deveriam cuidar, vivendo na eterna ignorância.

A depressão, também conhecida como o “mal do século”, tira o ânimo de viver de sua vítima, não importando em que fase de vida ela se encontre. A realidade apresenta-lhe por demais sombria e árdua, tirando-lhe qualquer expectativa de vida, deixando-a, consequentemente, pessimista e impotente diante da complexidade de sua existência. Ela muitas vezes se pergunta sobre o que está fazendo no mundo, pois não vê graça alguma no seu existir.

Pesquisas na área médica vêm tentando desvendar as causas que levam à depressão. O que se sabe é que ela é multifatorial (causada pela junção de inúmeros fatores), podendo ser originada de um rompimento amoroso, por exemplo, como por nenhum motivo aparente. As causas podem ser hereditárias, familiares, sociais, econômicas (como vemos atualmente acontecer no Brasil), etc. Até mesmo o inverno pode causar depressão, como acontece em países de inverno rigoroso.  Também não podemos nos esquecer de que alguns medicamentos podem predispor a pessoa à depressão, assim como a depressão-pós parto. Contudo, é preciso estar atento ao diagnóstico para não confundir depressão com tristeza. Já na infância, os pais precisam ter cuidado para não confundir timidez com depressão, devendo, portanto, na dúvida, buscar ajuda médica.

Alguns sintomas podem estar ligados a um quadro de depressão, como:

  • Perda de prazer ou interesse até mesmo pelas atividades das quais gostava antes.
  • Pensamentos constantes ligados à morte ou ao suicídio.
  • Dores ou outros sintomas físicos persistentes, mas sem causas encontradas.
  • Perda ou diminuição da libido.
  • Excesso de sono ou insônia.
  • Perda do apetite ou aumento.
  • Inquietação ou irritabilidade sem causa aparente.
  • Indisposição para fazer qualquer coisa.
  • Dificuldade de concentração ou para se lembrar das coisas.
  • Dificuldade para tomar decisões.
  • Sentimento de vazio e falta de esperança.
  • Excessivo pessimismo e aparência chorosa.

Na presença de um desses sintomas, busque ajuda médica, pois a depressão, além de afetar o apetite e o sono, também pode levar ao uso do álcool e de drogas. Pode também levar a outras doenças psíquicas como ansiedade, síndrome do pânico e, em casos mais raros, sintomas psicóticos.

Nota: Edouard Manet e Mme. Manet, obra de Degas

Fonte de pesquisa
Guia 301: Dicas para não ter depressão / Editora Online

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ANSIEDADE E FALTA DE AR

Autoria de Isamara Fernandes

Tenho 22 anos. Fiquei conhecendo este espaço ontem e passei quase a madrugada toda lendo os depoimentos. Vi o tratamento que a Lu dá às pessoas e isso me motivou a pedir sua ajuda também! Desde já lhe agradeço por ter este site e por ajudar tantas pessoas!

Minha história é a seguinte… Nos últimos dois anos eu passei por mudanças bruscas em minha vida, o que me afetou muito. Devido à doença de demência da minha avó, minha família decidiu ir para outro Estado, e eu passei um ano morando com a minha irmã que me tratava muito mal. Como fui muito ansiosa desde pequena, sofrendo antecipadamente e ficando preocupada com tudo, isso se intensificou naquele momento de minha vida. Antes de tudo isso acontecer, eu tomava fluoxetina que me ajudava com a ansiedade, mas depois de um tempo, esse antidepressivo não fazia mais efeito. Com isso, simplesmente parei o tratamento (erro grotesco), porque estava bem melhor, mas até ter essa mudança inesperada em minha vida.

A minha família voltou faz dois meses, principalmente por minha causa, porque eu sofria muito com os abusos da minha irmã. Comecei a ter crises de ansiedade, chorava compulsivamente, pois não aceitava a minha nova realidade e tudo o que estava sofrendo. Com a volta de meus familiares, fiquei muito feliz e pensei que tudo iria melhorar. Contudo, há um mês eu acordei com muita dor de garganta e falta de ar. Comecei a ter pensamentos negativos, sentindo medo de ficar sufocada e coisas do tipo. Comecei a ter taquicardia e dor no peito. Houve momentos de eu acordar de madrugada pensando estar tendo um ataque cardíaco. Suava frio e me sentia fora da realidade.

A minha vida só foi complicando. Comecei a ter medo de passar mal na rua, e consequentemente, de sair sozinha. Chorava, pensando que tinha uma doença grave. Chegou ao ponto de meu pai ter que me acompanhar na ida e na volta da faculdade, embora eu me sentisse ainda no maternal e culpada por ser mais um problema na vida dos meus pais, pois atualmente minha avó encontra-se totalmente debilitada, alimentando-se por sonda (o que me afeta muito), causando-lhes grandes preocupações.

O psiquiatra que busquei, receitou-me escitalopram. Comecei a tomar o antidepressivo e sofri muito com os efeitos colaterais nos 15 dias iniciais. Vômitos, enjoo todo dia, suor e tremor nas mãos, não conseguindo prestar atenção em nada. Minha garganta continuava ruim e comecei a sentir falta de ar. Não sabia diferenciar o que era da minha cabeça, do remédio, ou se tinha algo físico. Era um nó na garganta tremendo.

Consegui voltar a andar sozinha. Acredito que o remédio me ajudou nesse quesito.
Porém, certo dia, indo dormir, senti um sufocamento muito grande, não conseguindo respirar. Entrei em pânico! Vomitei em seguida. Ficou mais um trauma com a falta de ar se intensificando, fechando a garganta. Decidi ir ao médico que disse que eu estava com faringite. Foi um alívio, porque “achei” o que estava me causando a falta de ar e as dores na garganta. Tomei antibiótico, senti melhora na dor, mas a falta de ar continua. Hoje faz 27 dias que estou tomando escitalopram, muitos dos efeitos colaterais já passaram, mas a falta de ar permanece. Passei no cardiologista, fiz eletrocardiograma duas vezes e deu normal. Pensei que fosse o refluxo que tenho (tomo lansoprazol).

Estou em pânico com esta falta de ar. Já perdi a conta de quantas vezes fui ao PS, pensando ter alguma coisa séria. Na faculdade tive várias crises de pânico, ao me sentir sufocada. Com isso, o psiquiatra passou alprazolam 0,5 (tomar metade do comprimido), apenas quando eu tiver em crise. Comprei o genérico e não sinto o mesmo efeito imediato do Frontal. Seria por ser genérico? A falta de ar que sinto seria um efeito colateral do remédio? Seria melhor trocá-lo? Estou pensando que tenho asma já, vou até passar no pneumologista. Por favor, Lu, ajude-me.

Nota: Desnudo Azul, obra de Pablo Picasso

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ACEITANDO OS OPOSTOS DA EXISTÊNCIA

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos ensina como lidar com as diferenças.

Alguém que diga que não pode passar sem isto e que tem horror àquilo é um joguete das circunstâncias. Quando possui ou desfruta as coisas que “adora”, está feliz. Quando lhe faltam, fica triste e ansioso. Quando consegue estar distante e protegido contra aquelas coisas que “detesta”, sente-se bem. Quando não, adoece.

Uma pessoa, assim, só conquistará sua mente e se sentirá realizada, quando desenvolver sama bhava (bhava, atitude psíquica; sama, igual). Só assim conhecerá satisfação, contentamento, equilíbrio e equidistância dos opostos da existência. É condição de maturidade. E, reciprocamente, gera maturidade. À medida que, por outros meios, a mente vai sendo conquistada, o homem vai deixando de ser um vinculado e um frágil, vai atingindo sama bhava ou equanimidade; vai triunfando sobre a dança das circunstâncias externas e ficando invulnerável, imperturbável, independente, incondicionado aos acontecimentos que lhe escapam ao controle.

O homem vulgar, em sua imaturidade, adoece dos nervos porque é extremado tanto no sofrimento como no gozo. Quando as coisas lhe são favoráveis, o sol brilha, o mundo sorri, os amigos estimam-no, há aplausos, lucros, saúde, tudo vai de “vento à feição”, ele exulta, goza, festeja, dança, ri e chega até ficar generoso e confiante. Quando, no entanto, sobrevém o desfavor da sorte, quando há chuva miúda ou cerração escondendo o sol, se os amigos afastam-se ou falham, quando recebe críticas e censuras e sabe de calúnias, se o filho vai mal na escola ou o movimento da bolsa é ruim, entrega-se ou ao abatimento ou à revolta; o desalento então cava-lhe rugas na testa e “brechas na alma”.

A personalidade imatura não conhece meio-termo entre gargalhadas e lágrimas, desvarios de prazer e gemidos de dor, satisfações de orgasmo e pranto de desespero. Pessoas, assim, levadas ao sabor das tempestades emocionais, precisam aprender a equanimidade dos sábios que não se perturbam quando o destino lhes tira dos lábios a taça de mel e, em troca, dá uma de fel. O sábio sabe que na vida há noites frias e quentes, dias trágicos e venturosos, sins e nãos, saciedades e fomes, berços e esquifes, vitórias e derrotas, lucros e perdas, portas que se fecham e portas que se abrem. O sábio não se deixa perturbar nem pelo dulçor nem pelo amargor dos frutos que lhe são dados. Não chora demais nem ri sem medidas. É sereno. É equânime. É igual. É invulnerável aos opostos.

O caçador de prazeres, de compensações, de fortuna, de posições, de aplausos, de lucros, de tudo que julga desejável é, em geral, um débil, pois na mesma medida com que se alegra com a conquista daquilo que busca, desespera-se, sente-se desamparado e perdido diante dos menores vetos e negativas que o destino lhe impõe. Quase sempre sente medo de perder o que tem ou o que pensa que é, e adoece de medo diante das ameaças a ele ou a seu patrimônio. Ao primeiro prenuncio de dor de cabeça, ele se acovarda e, assim, agrava-a.

Quem faz da equanimidade sua fortaleza interna é inexpugnável. Não teme perder nem se perturba na ansiedade de conquistar. Equânime não é a pessoa fria, indiferente e inconsequente. Embora se apercebendo da significação de ser favorecido ou desfavorecido, embora participe ativamente dos fatos, consegue um sadio isolamento emocional, colocando-se acima deles. Na estratosfera do Espírito reside sua tranquilidade.

Tufões e muita chuva só perturbam as camadas inferiores da atmosfera da mente e da matéria. Aprenda a ser equânime, amigo e torne-se invencível. Para isto, procure fazer uma noção exata do mundo que o cerca. Aprenda a tomar as coisas como vêm. Liberte-se dos óculos escuros do pessimismo e igualmente dos óculos azuis do otimismo. Contemple com isenção os dois polos perenes da realidade. Vício e virtude, bom e mau, bem e mal, fácil e difícil, verso e reverso, junções e separações, queda e ascensão estiveram e sempre estarão em toda a parte, quer você goste, quer não, quer lucre ou perca, sofra ou goze.

Na obra do Absoluto “tudo é necessário” e em nossa vida “nada é imprescindível” a não ser o amor de Deus. Aprenda a aceitar com equanimidade o que a vida lhe der. Só assim poderá seguir o que o sábio Epíteto ensinou: “Não faça sua felicidade depender daquilo que não depende de você”. Quando a ansiedade lhe impedir o sono ou estiver querendo impacientar-se na fila de atendimento; quando o patrão disser que não lhe vai conceder o aumento ou a chuva estragar seu domingo na praia; quando sua úlcera começar a dar sinais; quando sentir ímpetos de desespero, de desânimo ou outra emoção perniciosa, diga a si mesmo: “Devo aproveitar esta oportunidade que a vida me apresenta e aprender a ser equânime”.

O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de Mulher Portuguesa

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O CICLO TRABALHO / REPOUSO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a necessidade do repouso após o trabalho.  

Não só os preguiçosos adoecem. Os que, no extremo oposto sem noção de medida, não sabem o que é descansar, também pagam por tal imprudência. Deus, no “sétimo dia” descansou. Deu o exemplo. O repouso é exigência do organismo e da mente que se fatigaram no trabalho. Fadiga é um sinal ao homem, a dizer-lhe que chegou o momento de suspender o esforço. É um sinal amigo a que nunca deveríamos desatender. É um fenômeno universal a regular o ciclo trabalho/repouso, atividade/inatividade que preside o Universo inteiro e que somente o homem (em todo o Universo) tem a capacidade de violar e subverter. Por isto mesmo é o único ser sujeito à surmenage, esgotamento ou estafa, esta doença que anda martirizando milhões de organismos e mentes que foram imprudentemente usadas. A fadiga muscular, quando ainda não excessiva, é benéfica. Induz um sono gostoso e é de recuperação fácil. O esgotamento nervoso, no entanto, é um inferno. Desgraça a unidade orgânica e todos os sintomas e sofrimentos assaltam o esgotado.

Nos dias atuais, os homens de maiores responsabilidades, os que detêm maiores poderes econômicos, sociais ou políticos, quase infalivelmente são vítimas da fadiga. Tenho tido, entre alunos, vários empresários ou políticos esgotados. Contra eles conspiram: a falta de exercício saudável dos músculos e o desgaste tremendo dos nervos. Automóvel, elevador e mais outras coisas frustram o exercício sadio dos músculos. Ao mesmo tempo, agora como nunca, é tremenda a incidência de “estresse”.

Músculos que não trabalham, hipo ou hipertensos, corrompem-se e atrofiam. Sistema nervoso hipersolicitado, perde o controle por fim. O pobre homem superocupado está muito tenso e se sente deslizando para um abismo de onde é difícil sair. Ao mesmo tempo em que se sente devastado pela fadiga e tensão, seus compromissos – feito tentáculos de polvo – agarram-no de maneira irresistível e simultaneamente se reforçam e se multiplicam. Na tentativa de fazer mais, e cada vez mais assumir poder e juntar maior fortuna, ou travando luta para equilibrar o angustiado orçamento familiar, o homem vai se perdendo, escravo de novas funções, negócios novos, compromissos e encargos novos que se vão acumulando. É no rolar para o abismo que, até certo ponto, ainda pode ser detido o desastre, que é possível a recuperação. Passado este ponto, o processo de autodestruir-se, agrava-se aceleradamente.

É aconselhável tomar encargos, prestar serviços, principalmente pessoas que, competentes e cheias de valor, têm o que dar. A comunidade pede sempre mais àqueles cujas qualidades profissionais e traços de caráter e personalidade fazem-nos necessários ao bem comum. Mas os médicos, engenheiros, carpinteiros, pintores, cantores, empresários, professores, políticos, enfermeiros que, por suas virtudes humanas e profissionais, são solicitados em demasia, acautelem-se e saibam entender que todos que deles precisam, melhor serão servidos se eles souberem se manter com saúde, equilíbrio e energia. Se não for por interesse próprio, pelo menos, em favor dos outros, as pessoas abnegadas devem se poupar, evitando trabalhar além de certos limites. É preciso descansar. É imprudente não reservar tempo para que o organismo e a mente se refaçam de seus desgastes. Até mesmo as máquinas precisam de repouso.

Aprenda a descansar. Não se iluda com sua resistência aparentemente ilimitada. Se você mantém esta imprudente ilusão, cuide-se. Se já não está pagando doloroso tributo, fatalmente virá a fazê-lo. Defenda-se da fadiga crônica. É estúpido, por antinatural e perigoso, andar disfarçando os sintomas/aviso de seus excessos com o uso de divertimentos psicodélicos excitantes, com essas doses de álcool e outras drogas, com essas farras onde os excessos são praticados a título de “higiene mental”. Defenda-se da fadiga crônica declinando convites, nomeações e eleições que venham exigir mais de seus nervos e agravar o “estresse”. Se possível, liberte-se de um ou mais de seus atuais encargos. De que vale ganhar os tesouros da terra em troca de ser condenado a um infernal sofrimento nervoso, que não lhe permite desfrutar os tais “tesouros”?

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Pastor, obra de Vicente do Rego Monteiro

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