Arquivo da categoria: Corpo e Mente

Filosofias e conjunto de práticas físicas, psíquicas e ritualísticas que buscam um estado de harmonia e equilíbrio físico e mental.

A CORAGEM DE SER DIFERENTE

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a necessidade de sermos autênticos.

O viciado já não se lembra em que reuniãozinha social – para mostrar-se igual aos outros – cretinamente bebeu seu primeiro gole, sentindo abominável o gosto, mas tendo de aparentar que estava gostando (segundo a moda). O tabagista de hoje, baixado ao hospital para operar o pulmão, não se recorda daquele dia na infância em que, para parecer adulto e igual aos outros, deu as primeiras baforadas num cigarro que um colega lhe dera. Pode ser dito o mesmo em relação àquele que se degradou com as ‘”bolinhas” ou cigarros de maconha.

Em todos estes casos, o início é sempre sob a persuasão dos outros; e sob a imitação, isto é, filiação à moda. Na origem, todos os “iniciados” já eram pessoas comumente chamadas “fracas de espírito”, ou seja, os de personalidade e mente amorfas, vidas inconscientes que buscam segurança, aceitação e prestígio no meio em que vivem, renunciando consequentemente ao dever de serem autênticas. O medo de ser diferente, leva o fraco a imitar os do grupo.

Quando o grupo é de gente viciada, o resultado é viciar-se. Mas, se você conhecer e sentir a inexpugnável fortaleza e o tesouro de paz e ventura que há em si, nunca buscará sua segurança nos integrantes de seu grupo e terá a sábia coragem de ser diferente. Só os que são diferentes têm condições de não apenas se sobrepor, mas de liderar. Se você quiser continuar senhor de si e ganhar condições de ajudar os outros, negue-se à vulgarização, tendo a coragem de ser diferente.

É provável que a vulgaridade não entenda nem perdoe alguém que se nega a vulgarizar-se, mas você deve lembrar-se de que os raros autênticos são indispensáveis para servirem de esteio, de pontos de apoio, de orientação ao homem comum, escorregadiço e amorfo. Não queira ser igual em troca de ser aceito. Não ceda ao alcoolismo, ao tabagismo, aos narcóticos, às noitadas de dissipação. Revele sua maturidade, recusando-se, sem ofender aos vulgares, a segui-los em suas “normais” reuniões de vício. Isto é o que eu quis dizer ao sugerir que não deixe cair a semente daninha em seu quintal.

Não capitule. Não se esqueça do preceito hindu: “Semeie um ato e colherás um hábito. Semeia um hábito e colherás um caráter. Semeie um caráter e colherás um destino”.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF.

Nota: obra do pintor brasileiro Aldemir Martins

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TEMPO, TRABALHO E TÉDIO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto, retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre o sentimento de inutilidade e o valor do trabalho.

É doença muito triste o sentir-se inútil e incapaz para o trabalho. Desde a infância me ensinaram que a “preguiça é a mãe de todos os vícios”. Quem se sente sem o que fazer de bom e criador, usa muito facilmente o tempo disponível para pensar, sentir e agir para o mal, isto é, viver contrário à saúde e à paz. Tempo vago à disposição de mente impura é um perigo para o indivíduo e para a coletividade. Ao contrário, quem não desperdiça tempo, usando-o para pensar, sentir e fazer algo construtivo, não tem tempo para as doenças e para o tédio.

Tenho conhecimento de pessoas que, aproveitando-se de direitos à aposentadoria quando ainda moças e válidas, tornaram-se neuróticas, graças ao vazio que tomou conta de suas vidas. Verdadeiramente caíram vítimas da corrupção da mente. Neste caso, o tratamento mais adequado é a ergoterapia, isto é, tratamento pelo trabalho. Foi o que aconselhei a um amigo que, em várias oportunidades, lastimava-se dizendo que estava se aproximando o dia de aposentar-se e que se via amedrontado com a inutilidade e estagnação em que já vivia e que iriam aumentar. O tédio já era insuportável. Falou-me em suicídio.

Em resposta, disse a esse amigo que perderia o direito de fazer tantas queixas, de falar de sua angústia, se, no dia seguinte, não começasse a fazer algo. Não por si mesmo, mas pelos outros. Não com a atitude mental de quem toma uma poção amarga, mas fazer algo por alguém necessitado e fazer tudo com renúncia de qualquer remuneração e com alegria íntima, sem esperar compensação, mesmo que fosse sua melhora, sem esperar pagamento ou título de benemérito, nem da ação ou Karma Yoga, que significa união com Deus, através do trabalho no mundo. A ação só é redentora quando praticada num estado de não eu. Sem visar os resultados. Com seva, já o vimos. O Karma Yogui não se julga o autor das obras. Vive como instrumento nas mãos do verdadeiro obreiro: Deus. Para uma pessoa aposentada, com uma boa pensão e família criada, não necessitada de remuneração, o Karma Yoga não é difícil. Tal não é o caso de quem precisa ganhar subsistência.

A remuneração por serviços profissionais é direito de todos e não se pode rejeitar. Mas, mesmo os profissionais têm como, a certas horas e em certas circunstâncias, prestar serviços a Deus na pessoa do próximo. E como isto é terapêutico! Como faz bem! Os que não veem na vida outro objetivo senão o trabalhar para satisfazer sua aquisitite (doença que, obsessivamente, leva-nos a juntar sempre mais), aqueles que se matam para crescer, merecer, ganhar e mais ganhar, acabam adoecendo, não só por excesso de fadiga, mas adoecem também de traumatizante decepção, pois as riquezas, tão esforçadamente acumuladas, não o livram da decrepitude e da morte.  Essas pessoas se esquecem de que mortalha não tem bolsos.

Começamos esta conversa dizendo que a vadiagem é causa de doença. Chegou a hora de dizer também que a exacerbação no trabalho profissional não o é menos. O trabalho pode preservara saúde, pode curar, mas também enfermar. Tudo depende de como e quanto se trabalha. Trabalhe muito, produza muito, mas sem se esgotar, nem comprometer o tempo destinado à família, à recreação e ao serviço de Deus. Trabalhe com persistência, gostando do que faz, sentindo a importância do que faz. (Todo trabalho é valioso e necessário.) Seja justo no preço e honesto na performance. Faça o melhor que puder, não importa que seu trabalho seja humilde. Trabalho nunca é humilhante, a não ser aos olhos do ignorante. Quem é mais credor de respeito e de gratidão: o lixeiro perfeito ou o ministro corrupto?

Nunca se desespere, se uma infeliz situação o reduzir à invalidez. Se não puder trabalhar, aproveite todas as horas de solidão e medite, ou faça seus exercícios espirituais, procurando a comunhão com o Divino, seja pela oração, seja pelo estudo. O ócio só chega a ser deletério para a alma imatura. Quem sabe da Onipresença, nunca se sente só, mesmo que se encontre paralítico num hospital e esquecido dos amigos e abandonado pelos filhos e irmãos. Na solidão, o sábio cresce em poder espiritual. No ócio, o tolo se estiola e esvazia. Mas o sábio sabe tirar do ócio a quietude e o silêncio necessários a escutar a voz de Deus. Trabalhe. Viva. Transforme-se. Enriqueça-se espiritualmente, cumprindo sua missão nesta vida. Nunca se contente com o parasitar.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google (ver na página 259 do livro a descrição de várias técnicas de relaxamento).

Nota: O Lavrador de Café, obra de Cândido Portinari

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CONHECE-TE A TI MESMO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele fala da importância da autoanálise.

“Conhece-te a ti mesmo” era o dístico que tendo achado no pórtico do templo de Delfos, Sócrates ensinava a seus discípulos. Autoanalisa-te, diríamos hoje. Pratica vichara (a autoanálise), ensina o Yoga. Em outras palavras, eu sugeriria: desilude-te em relação a ti mesmo. Tal sugestão soa como um conselho pessimista. Não é? Desiludir-se não é negativismo. É libertar-se. É melhorar.

Ninguém é tão bom como orgulhosamente se acredita, nem tão inferior quanto pessimistamente pensa ser. Tanto a primeira ilusão quanto a segunda devem ceder à judiciosa e redentora autognose, isto é, o conhecimento (gnose) real de si mesmo. Cada um de nós é – quando livre da ilusão – a própria realidade. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é o que se sabe?! – Pois bem, vamos procurar Deus através de conhecer aquilo que somos, descartando-nos, para isto, dos falsos juízos que de nós fazemos. Simples, não é? Pois lhe digo que é a obra ciclópica que quase ninguém consegue realizar. No entanto, o pouco que conseguirmos na procura de nosso verdadeiro eu já pode nos melhorar.

O verdadeiro EU está escondido daqueles (pessimistas ou negativistas) que se consideram inferiores, imperfeitos, fracos, degradados e filhos do erro. Está também fora do alcance do orgulhoso que se considera o melhor do mundo. Está iludido quem se julga arrasado e perdido. Também o está o que se analisa, mas imbuído de vaidade. Tanto o sentimento de inferioridade como seu oposto são produtos do egoísmo.

Os obstáculos que mais dificultam o julgamento de nós mesmos são: autocomplacência, autopiedade, autoseveridade. Pela autocomplacência, o indivíduo, desejando uma agradável visão de si mesmo, obscurece os defeitos e enfatiza tudo o que considera perfeição. Pela autopiedade, ele, desejando sentir-se um coitado, uma vítima, um perseguido, exagera tudo o que o faça sofrer mais um pouco. A autoseveridade é a atitude oposta à primeira. Por ela, o perfeccionista de si mesmo se fixa sobre o que precisa ser corrigido em seu caráter, temperamento ou personalidade e não se interessa por saber o que ele tem de positivo e de bom.

Qualquer uma das três atitudes é fonte de egoísmo, e do egoísmo nasce. Qualquer uma delas impede o autoconhecimento, além de servir como amplificador das emoções e, consequentemente, do “estresse”. Discernimento requer uma atitude de isenção. Quem quer chegar à conclusão de que é uma peste de ruim, ou, ao contrário, uma santa criatura, ou um infeliz esquecido de Deus, está cometendo o absurdo de iniciar a pesquisa já procurando confirmar um diagnóstico prévio e, assim, não chega a conhecer quem realmente é. Quem teme descobrir suas próprias inferioridades e mesmo anormalidades, bem como quem deseja cada vez mais orgulhar-se do perfeito que é, não realiza vichara (discernimento).

É preciso serena coragem e perfeita isenção para conseguir a salvadora desilusão que permite o conhecer-se. Somente quando serena e corajosamente, sem temor ou vergonha, sem severidade ou piedade, descobrirmos que somos mentirosos, mentirosos deixamos de ser. Mentirosos, continuamos a ser enquanto só nos outros vemos a mentira. A condição de curar-se da burrice é chegar, com isenção, ao diagnóstico da própria burrice. Na opinião de algumas escolas de pensamento, nós nos libertamos da vaidade assim que nos reconhecemos vaidosos. Até mesmo comportamentos obsessivos, tiques nervosos, hábitos errados e vícios não são vencidos sem a conscientização dos mesmos.

Faz vichara a pessoa que toma sábia iniciativa de (com isenção, sem medo, sem pena de si mesmo, sem alvoroço e mesmo sem ânsia de curar-se) assistir o desenvolver de um defeito ou o desenrolar de uma crise, procurando, acima de tudo, perceber-lhe os ocultos motivos, sem pretender sustar, sem se condenar, sem procurar explicar as coisas com racionalizações confortadoras. A psicanálise chama racionalização o ato de a mente engendrar convenientes, razoáveis e enganadoras explicações para os comportamentos impulsionados do inconsciente sobre os quais não tem domínio.

A racionalização é o oposto de vichara. Enquanto vichara desilude, libertando, a racionalização escraviza, por esconder a verdade. Quem quiser conhecer-se a si mesmo, fique alerta contra esta cilada da mente que é a racionalização. Da próxima vez que começar a sentir as primeiras emoções de uma crise, em vez de amedrontar-se e correr para os tranquilizantes, faça o oposto. Sente-se relaxado, sereno, corajoso, calmo, sem luta, e comece a conscientizar tudo que fora está acontecendo. Procure conhecer as causas. Perceba, sem medo, o aparecimento dos sintomas. Nada de pânico. Nada de apiedar-se de si mesmo. Nada de esforços para resistir e vencer. Comporte-se como um tranquilo observador, sem qualquer participação. Faça o mesmo com todo comportamento, impulso, compulsão, atitude, e verá que irá se tornando cada vez menos vulnerável e cada vez mais senhor de si.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Mulher em Frente ao Espelho, obra de Alfred Stevens

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A PERIGOSA IDENTIFICAÇÃO…

Autoria do Prof. Hermógens

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, alerta-nos para o perigo que traz a identificação com as coisas.

Onde está vosso tesouro aí está o vosso coração (Cristo em: Lucas 12-34).

Conheci um homem rico que sempre adquiria carro do último tipo, o mais caro. Adorava o carro como um apaixonado qualquer à sua amada. Dava-lhe tratamento extremamente cuidadoso. O brilho do carro era-lhe uma obsessão. Uma noite, o carro estacionado, estando ele no cinema, algum malvado fez um risco no lindo capô. O pobre homem “adoeceu de raiva”. Não é apenas uma expressão popular. Adoeceu mesmo. De raiva de quem fizera aquilo, e de dor, por ver estragado seu carro. O risco não fora apenas no automóvel, mas em seus próprios nervos, pois, a rigor, o carro não era dele – o carro era ele mesmo.

Aquele pobre homem abastado é o símbolo da identificação. Sua tranquilidade, sua saúde, sua felicidade dependiam “dele” – do carro. Era, portanto, uma pessoa muito vulnerável. Semelhante a milhões de outros seres humanos. Era vulnerável como seu carro. Enguiço, sujeira, arranhão, batida, a que todo automóvel está sujeito, atingia-o em seu psicossomatismo, isto é, faziam-no sofrer mental e organicamente.

A identificação mais normal, isto é, mais generalizada é aquela às coisas externas e mais ou menos vulneráveis quanto um automóvel. Os homens “normais” continuam a fechar os ouvidos doidos à sapiência de Jesus: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra” Continuam sem ver que põem seus queridos tesouros “onde a traça e a ferrugem corroem e onde os ladrões escavam e roubam” (Mateus 7.19).

Podemos nos identificar a um objeto, a outro ente humano, como a namorada, ao filho, a um emprego ou à ribalta. Somos identificados às coisas quando nos sentimos infelizes com a perda, o desgaste ou a corrupção de tais coisas. A felicidade de muitos está ligada, às vezes, a acontecimentos em si insignificantes, como a vitória do time de futebol ou do partido político, mas também à manutenção de um emprego ou posição de destaque social ou artístico, ao triunfo das ideias ou ideais que professam.

O “normal” é o indivíduo sentir-se miserável e perdido só por que caiu doente. Muitas senhoras esnobes danam-se quando a cronista deixou de citar seu nome na coluna social. Aquilo que quando nos fala nos dá infelicidade é objeto de nossa identificação. Somos identificados ao que ansiosa e desastrosamente queremos conservar, melhorar, desenvolver. Somos uns perdidos de nós mesmos porque nos identificamos a uma variedade sem conta de coisas, posições e pessoas. Nossa segurança e paz dependem de tudo isto com que nos identificamos.

Segundo o Yoga, uma das maiores fontes de sofrimento é o identificar-nos com os níveis mais densos e materiais de nosso ser. Os que se identificam com o corpo – e somos quase todos – costumam dizer: “eu estou doente”. O yoguin, já desidentificado com o corpo, usa outra linguagem e diz: “meu corpo está doente”. O yoguin, em sua sabedoria, diz que seu corpo morre, pois sendo realmente um agregado de substâncias, algum dia se desfará, mas afirma que ele, em Realidade, é o Eterno, o Imutável, o Imóvel, o Perfeito e, portanto, jamais morrerá. Pode haver medo da morte para quem assim pensa?

Enquanto o homem comum adoece com os arranhões em seu carro ou em sua saúde, o sábio, desidentificado do grosseiro e do falível, mantém-se imperturbável, identificado que é com o incorruptível e imortal. Enquanto o pobre homem identificado é joguete ao sabor das circunstâncias incontroláveis na tempestuosa atmosfera da matéria, o yoguin vivendo no Espírito, não se deixa apanhar nas malhas da ansiedade e não cai presa da “coisa” (pânico).

Uma das principais vias do Yoga ou união é o desidentificar-se com o mundo de Deus e identificar-se com Deus do mundo. Este caminhar é libertação pelos resultados. É iluminação quanto ao processo psicológico. À medida que avança nesta desidentificação, o homem vai se tornando cada vez mais invulnerável aos acontecimentos, às coisas, aos fatos e às pessoas.

Um imaturo vai ao cinema e goza e sofre respectivamente com as vitórias e derrotas do herói ao qual se identifica. Seus nervos, glândulas e vísceras são fundamente sacudidos pelos acontecimentos do mundo mítico criado pela fita. Uma pessoa de espírito crítico e amadurecido, conhecedora da técnica e arte cinematográficas, sabe “dar o desconto”, e assiste ao filme, dizendo para si mesmo: “não é comigo”; “eu não sou aquele personagem”; “tudo isto é ilusão”.

O mundo que nos rodeia só é realidade na medida em que nos identificamos com ele, pois nos impõe dor ou prazer, pesar ou alegria, confiança ou medo… Desde que conheçamos o que é realmente o mundo, começaremos a sentir a equanimidade do espectador de mentalidade evoluída, sem sofrer nem gozar, sem tentar fugir ou buscar, sem medo, sem ódio e sem tédio.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Imagem copiada de clipartguide.com

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YOGATERAPIA X PSICANÁLISE

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre o tratamento yogaterápico.  

A psicanálise tem por objeto de estudo a mente enferma. O Yoga estuda e considera o homem integral, isto é, o homem potencialidade do Divino, germe e promessa da Alma Universal, expressão do Absoluto em via de aperfeiçoamento e atualização. Para o psicanalista ortodoxo, o inconsciente é um depósito de experiências dolorosas, um porão de escória reprimida pela convivência com a sociedade que a não aceita.

O Yoga considera o inconsciente apenas uma zona da mente aonde o consciente não chega, não sendo fatalmente de má qualidade, formado exclusivamente de negatividades recalcadas. O inconsciente tem em si também luzes, tendências, impressões, energias boas, potencialidade infinita e qualidades divinas. Sendo uma psicologia do inconsciente, o Yoga explica a vida consciente, em parte, como consequência do inconsciente. Todas nossas experiências, fatal e fielmente, são gravadas numa espécie de “fita de gravação”, através de ininterrupta introjeção (meter lá para dentro). O que introjetamos ou gravamos nos plásticos abismos do inconsciente são: vâsanas (tendências, inclinações, impulsos, motivações) e samskaras (impressões, representações, imagens, juízos…).

Lá do fundo, este conteúdo comanda nosso comportamento dito voluntário e consciente; comanda o que somos, queremos, sentimos, dizemos, fazemos e pensamos. Conforme as introjeções que fizemos no curso da vida, tal será nosso destino. Quem introjeta espinho, consequentemente será espetado. Estas noções de vâsanas e samskaras dão uma explicação psicanalítica à conhecida lei do karma. Assim esclarecidos, deveríamos, por interesse profilático, selecionar as impressões e tendências que introjetamos, com o mesmo critério com que um dietista escolheria sua refeição num cardápio, visando a que, nos dias de porvir, possam elas (as escolhidas) operar em proveito da saúde e não contra ela; em direção à liberdade e não à servidão; em prol da felicidade e não em seu prejuízo.

A indiscriminada, inconsciente e indisciplinada introjeção de vâsanas e samskaras polui, adoece, corrompe, perturba, vicia, infelicita a mente. O yoguin, sabendo disto, procura acautelar-se. Evita fisicamente as que pode e mentalmente aquelas que fisicamente são lhe impostas pelo ambiente. Seu cuidado não é apenas na área da higiene mental, mas também na fase da cura. Neste particular,  consiste a cura? Em depurar, liberar, aclarar, aprimorar o mental. A psicoterapia comum visa a restituir à mente enferma e sofredora as condições caracterizadas como normais. O Yoga ajuda a atingir tais resultados, mas vai mais além. Seu objetivo final é dar à mente: pureza (suddha), transcendência (budhi) e redenção total (mukti).

No texto anterior estávamos vendo Yoga como uma forma de psicanálise, no entanto chegou o ponto em que vamos concluir que é exatamente a antítese da psicanálise, isto é, uma psicossíntese. Psicanálise, ao pé da letra, quer dizer análise divisão, separação do todo em partes, da alma (psique). Yoga, em sua conceituação essencial e ao mesmo tempo etimológica, é exatamente a antítese disto. Yoga vem da raiz sânscrita yuj, que quer dizer juntar, unir, reunir, unificar… Yoga une. Análise separa. Como doutrina e técnica psicológica, seria literalmente uma psicossíntese. Unificar a alma despedaçada é Yoga. Dar unidade e coerência à mente onde reina conflito é Yoga. É Yoga harmonizar os antagonismos psíquicos. É Yoga dar coerência à vida mental. Se a mente está doente é porque vive como “uma casa dividida contra si mesma”.

A Yogaterapia consiste em restaurar a paz interna. Se em seu estado comum a mente é fraca é porque a dispersão a domina, dispersão que a esparrama estagnada como pântano ou a exaure em fluir multidirecional. Yoga atua no sentido de dar-lhe a concentração necessária, consequentemente gerando poder, segurança, penetração, equanimidade, coerência, harmonia e bem-estar. Como psicossíntese, Yoga reduz a fluidez e a dispersão. Em resumo, o Yoga é uma psicoterapia porque socorre o neurótico e o livra dos sofrimentos desde que:

  • harmoniza conflitos;
  • limpa o inconsciente de vâsanas e samskaras nocivos, substituindo-os, através de introjeções positivas, condizentes com a libertação e a realização espiritual;
  •  unifica a vida mental, mediante harmonizar os vários níveis e as expressões da personalidade;
  • acrescenta satva à mente rajásica, e rajas, à tamásica, isto é, dá sabedoria e tranquilidade ao excitado e ânimo ao astênico;
  • orienta a mente para os rumos do Divino;
  • reduz o egoísmo, o apego, o medo e a concupiscência;
  • liberta de velhos e dominantes condicionamentos.

Para o Prof. Oskar R. Schlag, Yoga é muito mais do que a psicanálise como caminho redentor. Em conferência, em 1952, opinava: “Yoga é algo essencialmente prático para chegar-se a um fim (objetivo)”. Que fim é este? A libertação. Libertação de quê? A libertação de uma situação que Freud denominou “o encargo incômodo da nossa civilização”.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de nanak gobind

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AS CORES E SEUS EFEITOS

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre as maravilhas das cores.

Vermelho

Efeitos orgânicos:
É estimulante por excelência. É dilatante, expansivo, acentuando o impulso ortossimpático. Atua principalmente sobre a circulação sanguínea e sobre o sistema nervoso, sempre no sentido de amplificar as funções. Sua presença gera vigor físico e resistência. É indicado aos debilitados, neurastênicos e anêmicos. É preciso ter cuidado para que seu excesso ou a carência não perturbe o organismo. Seu excesso pode ser equilibrado pela cor de efeito antagônico: o verde. É neuroanaléptico. Vale por um anfetamínico, portanto rajasifica o corpo.

Efeitos psicoespirituais:
Estimula o desejo. Em excesso, desperta a ira. Inspira imagens veementes e excitantes; inspira ideias de otimismo, entusiasmo, virilidade, autoconfiança. Gera pensamentos animosos e sentimentos fogosos. Administrado com parcimônia desperta paciência. Atua através do plexo coronário. Está relacionado com desejo, dinamismo, conquista e domínio. É um psicoanaléptico, antidepressivo, um rajasificante psíquico.

Laranja

Efeitos orgânicos:
Age sobre as funções cerebrais e endócrinas. Estimula os processos de nutrição. Dá vitalidade. Indicado nos estados de desnutrição. Menos rajasificante do que o vermelho.

 Efeitos psicoespirituais:
Dá exuberância às atividades mentais. Tende a equilibrar as faculdades de percepção. Atua através do plexo cardíaco. Desperta pensamentos positivos em relação à saúde, portanto, é indicado a hipocondríacos e histéricos. Tem sido tomado como o símbolo da sabedoria. Em excesso, favorece o orgulho, e sua escassez, naturalmente, a modéstia e a humildade. É psicoanaléptico.

Amarelo

Efeitos orgânicos:
Sua atuação mais enérgica é sobre o processo de evacuação, como laxante. Toda substância amarela do organismo lhe é muito sensível, com especialidade os intestinos, o fígado e o cerebelo.

Efeitos psicoespirituais:
Pode despertar paixões negativas, tais como rancor, ressentimento, inveja, ciúme, ostentação – uma gama considerável de sentimentos egoísticos. Em boas proporções, dá claridade à mente, desenvolve o espírito lógico e a intuição. É símbolo do conhecimento. Favorece a prudência. Em escassez, dá lugar à preguiça e à inconstância. Atua através do plexo solar. É cor alegre e levanta o ânimo deprimido. Antidepressiva.

 Verde

Efeitos orgânicos:
Associado ao cálcio é o elemento mais sedante de todo o espectro, portanto muito indicado aos agitados, insones e ansiosos. É de natureza refrescante e calmante, favorece a ação do corpo pituitário na ativação do crescimento. É dos mais neurolépticos. Tem efeito de um barbitúrico. Indicado, portanto, para os excitados.

 Efeitos psicoespirituais:
Otimismo, confiança, serenidade são estados que suscita. Inspira ideias de progresso, de abundância de meios materiais, de vitória. Simboliza a fecundidade, a prosperidade e o ganho. Favorece o automatismo relacionado com o trabalho. O excesso dá nascimento à caridade. A falta, à inveja. Atua através do plexo esplênico. Deve ser usado para sativizar a personalidade e o comportamento.

Azul

 Efeitos orgânicos:
É tônico, suavizante, sativizante, confortador, refrescante. Tem a maior afinidade com os ácidos do corpo e com os processos bioquímicos. É indicado no tratamento dos aflitos,  dos ansiosos e dos agitados.

 Efeitos psicoespirituais:
Inspira ideias de fé e lealdade. Conforta. Reduz a irritação nervosa, os desvarios passionais e emoções violentas. Inspira emoções profundas e indizíveis de fé nos poderes ocultos. Suscita a devoção. Simboliza a piedade. Em excesso faz surgir a fecundidade, bem como a castidade. Sua carência leva à esterilidade e à luxúria. Tranquiliza e dá fé nas forças do bem. Facilita os automatismos mentais relacionados com o amor. Atua através do plexo sacro. Indicado para todos que desejam mais sabedoria, pureza, amor e santidade.

Anil

 Efeitos orgânicos:
Interfere com a sensibilidade geral, com os corpúsculos do sangue e com o fluxo nervoso. Atua nos processos vitais celulares. Sua influência é mais poderosa nas pessoas idosas. Desenvolve a resistência da pele contra as inclemências ambientais.

 Efeitos psicoespirituais:
É apaziguante e sativizante. Inspira simplicidade, modéstia, grandeza moral, respeito e dignidade. Estimula as funções do intelecto. Agindo através do plexo frontal é “a cor que tem maior influência no mecanismo cerebral, nas coisas do espírito”. Simboliza o respeito e a reverência. Seu excesso dá lugar à gula. Sua falta, à concupiscência.

Violeta

 Efeitos orgânicos:
Sua influência é maior sobre os líquidos da coluna vertebral. Está diretamente ligado ao simpático, regulando suas funções. É conveniente às vítimas de distonias neurovegetativas. Estimula a combustão e o desdobramento químico das substâncias. É marcadamente benéfico na digestão e assimilação. Uma de suas franjas – a ultravioleta – ativa o metabolismo do cálcio e produção de hormônios.

 Efeitos psicoespirituais:
Age mediante o plexo laríngeo. Sativizante. É inspirador de pensamentos místicos, sentimentos de ternura, de liberdade, de amabilidade e de tolerância. Favorece a expressão da vida interior e a produção artística. É sumamente magnético. Desenvolve emoção estética e sensibilidade para o belo. Inspira êxito e consagração. Desenvolve o entendimento e conduz à adoração e à ânsia pela comunhão com o transcendente. Desperta o apelo ao que está além do mundo fenomênico. Simboliza o entendimento. Seu excesso leva à generosidade e à esperança. Sua carência, à avareza e ao ciúme.

Preto e branco não são cores do espectro. Preto é ausência de cor. Branco é a síntese das sete cores. O branco atua como condutor de calor. É esta a principal razão pela qual, nos climas quentes, é indicado para a vestimenta. Inspira pensamentos de pureza e inocência. O preto é mau condutor de energia térmica. Exantema e outras enfermidades da pele podem ser curadas com a simples obscuridade. Mental e espiritualmente age no sentido de entristecer e reduzir a vitalidade. Simboliza o Universo.

Não podemos nós, já que estamos pretendendo por todos os meios evitar ou corrigir distúrbios nervosos, desprezar as experiências feitas pela ciência ocidental no que diz respeito à influência das cores. O que proponho a você, para melhorar seu estado psíquico – espiritual ou mesmo orgânico – é que saiba tirar proveitos sedativos do verde quando se sentir irritado, inquieto, agressivo ou do efeito estimulante do vermelho nos dias em que se sentir deprimido, astênico, desanimado…

Quero que saiba escolher cores suaves e calmantes, cores como o roxo, que induzem aos voos espirituais para seu ambiente de meditação. Quero que saiba escolher inteligentemente a decoração de seus ambientes, de forma que não venha agravar seus males ou criá-los. Tenho visto barbaridades em matéria de ambiente onde vivem nervosos! Cores há que fatigam e irritam até mesmo quem é normal. O ambiente, seja de trabalho, de recreio ou o lar, precisa ser planejado de acordo com a saúde dos nervos, de forma que nos sintamos bem, alegres, felizes, repousados e convidados a ficar.

É possível ficar nervoso quando estamos sentados diante do mar, escutando sua monótona e repousante música? É possível continuar instáveis, irritados, cheios de medo ou fatigados, quando, sentados na grama, deixamo-nos abertos à carícia da brisa, à contemplação da planície, da mata, do serro, do rio, enquanto bebemos a sonoridade do ambiente? O azul do mar, o verde da floresta, o vermelhão do dia que se levanta, o anil de um céu de primavera, o matiz do canteiro de flores roxas tudo isto deve ser incluído em nossa cromoterapia natural. O principal desta cromoterapia despretensiosa é que você aprenda a ter sensibilidade diante da beleza. Há beleza em tudo.

Leia também: CONHECENDO A CROMOTERAPIA

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de Tio Bill

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