Arquivo da categoria: Crônicas

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ASTROLOGIA, PEDRAS E SIGNOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em minha opinião, a astrologia é uma senhora notável, muito bela, que vem de um tempo tão distante que não poderia deixar de me atingir com seu encantamento. Não consigo encontrar qualquer refinamento ou elegância no mundo puramente físico que esteja a sua altura. Além disso, a mim me parece que ela está de posse de um dos mais elevados mistérios do mundo. É uma pena que, pelo menos para os incultos, uma prostituta tenha sido entronizada em seu lugar. (André Breton)

Um médico sem o conhecimento da astrologia não tem o direito de chamar a si mesmo de médico. (Hipócrates)

A astrologia, considerada mais antiga do que a civilização, representa o estudo das estrelas e dos planetas e dos efeitos que esses exercem sobre o comportamento humano. Ela já gozou de uma importante posição no mundo, até ser desconsiderada pelas religiões monoteístas e pela ciência. Contudo, nunca deixou de existir, estando presente na vida de vários povos, como na dos chineses, indianos, egípcios e na de muitos ocidentais. Ainda é consultada nos mais diferentes lugares do mundo, até mesmo por figuras proeminentes, buscando saber o que lhes aguarda o futuro.

Os astrólogos baseiam-se no fato de que “assim como é em cima, é também embaixo”, ou seja, que a posição dos corpos celestes influencia os acontecimentos na vida das pessoas no planeta Terra, e que o microcosmo de cada ser humano é um reflexo do macrocosmo do universo, havendo, assim, uma correspondência entre as partes constitutivas do cosmo e as partes constitutivas do homem. Ainda, segundo seus estudiosos, a astrologia é responsável por ampliar a ciência e a arte, e por ligar a astronomia, a matemática, a medicina, a filosofia, a religião, a psicologia, a mitologia e o simbolismo.

Segundo o escritor Peter Marshall, doutor em História do Pensamento, em seu livro A Astrologia no Mundo, “As palavras astrologia (estudo das estrelas) e astronomia (lei das estrelas) foram utilizadas indiferentemente até a Revolução Científica, no século XVII, quando a astrologia ocidental separou-se da astronomia.”. E, segundo o mesmo autor, Carl Jung fez uma das mais corretas definições da astrologia, ao defini-la como “a psicologia da Antiguidade”, sendo os signos do zodíaco “imagens arquetípicas” ou manifestações do inconsciente coletivo. E, se a astrologia possui seus charlatães, o mesmo se pode dizer da medicina com seus curandeiros.

As pedras possuem um lugar de destaque dentro da astrologia, pois, segundo os astrólogos, elas atraem boas vibrações, impulsionando o signo solar, de modo a favorecer a pessoa, conectando-a com seu eu interior. Portanto, é sempre bom que a pessoa carregue a pedra específica de seu signo. Mas, como protetora do indivíduo, ela acaba ficando “carregada”, pois capta as energias negativas a ele direcionadas, por isso, é preciso lavá-la com água e sal grosso, enxaguá-la em água corrente e expô-la ao sol para secar, de modo a renovar sua capacidade de proteção – explicam os astrólogos.

Segundo Barbara de Lellis, em seu livro A Magia das Pedras e Cristais, a gemoterapia usa as pedras preciosas como harmonizadores dos centros vitais, conhecidos como “chacras”, responsáveis por dirigir a energia de nossos corpos material e astral, e, além disso, “as pedras atuam como catalisadores da luz e da cor com seus efeitos cromáticos, e suas vibrações energéticas podem ser direcionadas para situações concretas.”.

Um signo pode estar ligado a várias pedras, como por exemplo:

  • Áries: ametista, ágata, granada, rubi
  • Touro: quartzo rosa, água-marinha, esmeralda, safira, ametista
  • Gêmeos: ágata, água-marinha, olho de tigre, ametista, topázio azul
  • Câncer: pedra da lua, ametista, quartzo fumê, citrino
  • Leão: ágata, granada, âmbar, ametista, esmeralda, pirita
  • Virgem: ágata, ametista, citrino, pedra da lua, turquesa, safira
  • Libra: quartzo rosa, turquesa, água-marinha, citrino, esmeralda
  • Escorpião: opala, esmeralda, ágata, água-marinha, granada
  • Sagitário: ametista, citrino, topázio imperial, olho de tigre
  • Capricórnio: olho de gato, esmeralda, ágata, opala, âmbar
  • Aquário: água-marinha, granada, ametista, quartzo azul
  • Peixes: água-marinha, ametista, safira, pedra da lua

Propriedades das pedras de acordo com a cor:

  • Vermelho – ágata vermelha, granada, rubi
    Excitante, estimulante e intensificadora dos sentimentos. Combate qualquer doença que inibe os movimentos. Relacionado com a energia sexual, ajuda a resolver problemas de impotência, frigidez e esterilidade.
  • Laranja – âmbar, quartzo fumê, topázio
    Também é estimulante e ativa, contendo energia reprodutora e intelectual. Alivia desânimo, alergias emocionais, repressão, timidez, digestão e estimula a tireoide.
  • Amarelo – citrino, topázio, jacinto
    Cor do intelecto e da inteligência e age diretamente no equilíbrio mental. Usada no tratamento de doenças mentais, traz autoconfiança, combate a depressão, melhora o sistema linfático, energiza o fígado, vesícula biliar, olhos e ouvidos.
  • Verde – esmeralda, jade, turmalina
    É a cor da intuição e da sabedoria. Simboliza a natureza e a harmonia. Equilibra a mente e o corpo. Ajuda na regeneração celular, cura feridas, cortes, cicatrizes e infecções.
  • Azul – safira, água-marinha, ágata azul
    Cor refrescante e tranquilizadora aliviando a excitação. Ajuda a dormir, alivia a depressão e combate a febre, infecções, irritação e queimaduras.
  • Anil – lápis-lazúli, azurita, safira
    Cor tranquilizante e pacificadora, estimula o lado criativo e intuitivo do cérebro. Ajuda no tratamento de neuroses, nas alterações emocional ou mental. Atua como sedativo e ajuda a reduzir hemorragias internas e externas, assim como no nos poderes da intuição.
  • Violeta ou púrpura – ametista, fluorita
    Protege e regenera. É a cor da criatividade, da inspiração e da espiritualidade. Promove a cura através da música, da cor, do movimento e do som. Eficaz para tratar resfriados e insônia.
  • Preta – turmalina negra, ônix, obsidiana
    Protege contra as energias negativas. Combate as angústias, medos, bloqueios, inveja, ciúmes e ressentimentos. Melhora os transtornos do fígado.

Significado de algumas pedras:
Granada: Constância / Ametista: Sinceridade / Água-marinha: Coragem / Diamante: Pureza / Esmeralda: Êxito / Pérola: Saúde / Rubi: Amor / Peridoto: Felicidade / Safira: Sabedoria / Opala: Esperança / Topázio: Fidelidade / Turquesa: Harmonia

Obs.: muitos cristais (pedras) podem apresentar uma grande variedade de cores.

Fontes de pesquisa:
A Astrologia no Mundo/ Peter Marshall
A Magia das Pedras e Cristais/ Barbara Lellis

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PATRIMÔNIO E VANDALISMO

Autoria de Luiz Cruz

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As grandes cidades brasileiras têm, cada vez mais, seus equipamentos urbanos e edificações poluídos por pichações. Com o passar do tempo, sem manutenção, superposições de pichações e partículas sedimentadas da poluição atmosférica resultam num aspecto sujo e desagradável, e refletem a falta de compromisso dos órgãos públicos com a vigilância e a manutenção dos equipamentos e das edificações, assim como o descaso em aplicar uma punição mais severa aos vândalos.

A ação dos pichadores com suas garatujas desconexas chegaram a inúmeras cidades brasileiras, infelizmente. Muitos monumentos históricos protegidos individualmente ou em conjunto, através do instrumento de tombamento, seja na instância municipal, estadual ou federal, estão vergonhosamente pichados. Pichar é o mesmo que depredar. Pichar é um ato de vandalismo. É considerado crime contra o patrimônio, sendo passível de responsabilização criminal.

Os pichadores atuam em condições de alto risco, inacreditáveis, e nesse sentido há um exemplo significativo: a Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, um dos templos mais altos do país, sua cúpula, elemento arquitetônico em pedra, um dos mais ousados de nossos templos, está suja por pichações.

A prática de pichar monumentos, lastimavelmente chegou às cidades históricas, e até mesmo Ouro Preto teve seus monumentos pichados. Felizmente, no caso ouropretano, as autoridades agiram imediatamente e os autores foram identificados e punidos. Os casos de pichação em Tiradentes não tiveram a mesma sorte e, por isso, os monumentos estão sendo pichados com frequência. Recentemente, a bela estrada entre Tiradentes e Santa Cruz de Minas, margeada pelo Rio das Mortes e pela Serra de São José, vem sofrendo pichações. Até as placas, com informações sobre a APA – Área de Proteção Ambiental da Serra de São José, foram pichadas, numa triste e lamentável ironia.

Para surpresa dos turistas e moradores da região, no período de 5 a 7 de dezembro do presente ano, um grupo de artistas grafiteiros ocupou parte dessa estrada e executou um belíssimo projeto de arte (ver imagem 3). Os artistas grafiteiros trabalharam muitas horas consecutivas, à luz do dia, sob o olhar de todos que por ali passavam. Utilizaram recursos diversos, senso estético, muitas cores, domínio técnico e criatividade. Os muros grafitados artisticamente contrastam com as pichações realizadas na calada da noite, poluindo o patrimônio público e particular. As pichações clandestinas refletem o que seus autores têm na cabeça: falta de educação e respeito, expressas em garatujas pobres, feias e incompreensíveis.

Nota:  fotografias do autor

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Eça de Queiroz – ODE AO POVO

Autoria de Eça de Queiroz

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Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão.

Estes homens são o povo.
Estes homens estão sob o peso do calor e do Sol, transidos pelas chuvas, roídos do frio, descalços, mal nutridos; lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua força, para criar o pão, o alimento de todos.
Estes são o povo, e são os que nos alimentam.
Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.
Estes homens são o povo, e são os que nos vestem.
Estes homens vivem debaixo das minas, sem o Sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respirando mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.
Estes homens são o povo, e são os que nos enriquecem.
Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da pátria, e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.
Estes homens são o povo, e são os que nos defendem.
Estes homens formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.
Estes homens são os que nos servem.

E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem?

Primeiro, despreza-os; não pensa neles, não vela por eles, trata-os come se tratam os bois, deixa-lhes apenas uma pequena porção dos seus trabalhos dolorosos; não lhes melhora a sorte, cerca-os de obstáculos e de dificu1dades; forma-lhes ao redor uma servidão que os prende e uma miséria que os esmaga, não lhes dá proteção, e, terrível coisa, não os instrui: deixa-lhes morrer a alma.

É por isso que os que têm coração e alma, e amam a justiça, devem lutar e combater pelo povo.
E ainda que não sejam escutados, tem na amizade dele uma consolação suprema.

                                                                                                                           (Distrito de Évora)

Fonte de pesquisa
Eça de Queiroz
Citações e Pensamentos/ Editora Leya
Organização de Paulo Neves da Silva

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O CUMPRIMENTO REVELA QUEM SOMOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Escrevi teu belo nome
Na palma da minha mão,
Passou um pássaro e disse:
– Escreve em teu coração.

Certamente todos nós teríamos dificuldade em identificar as partes mais importantes de nosso corpo, pois cada uma delas cumpre uma importante função. Mas sem dúvida alguma, as mãos estão entre as mais bem colocadas no pódio, haja vista o número de expressões com a palavra “mão” (mãos de fada, mão de ferro, meter a mão, deixar de mão…). Como são trabalhadoras as danadinhas, que nem mesmo durante o sono  descansam, ora segurando a cabeça, ora revirando o travesseiro ou puxando o cobertor.

Neste exato momento, olhe para suas mãos e imagine quanto serviço elas já lhe prestaram: no reconhecimento das coisas, no tato com o corpo, no manuseio das ferramentas de trabalho, no ato do amor, no cuidado com a prole, em suma, na manutenção de sua vida. Será que você tem sido grato a elas suficientemente? Estão bem tratadas, ou as coitadinhas andam muito descuidadas, precisando de maior atenção? Que tal passar um creminho bem cheiroso nessas musas, como forma de agradecimento?

As mãos são o principal utensílio nas artes e nos ofícios. E, por isso, não nos surpreende que tenham sido elas as grandes responsáveis pela evolução da humanidade. Até mesmo o cérebro reconhece isso, pois tem com elas mais conexões do que com qualquer outra parte do corpo. É por isso que o nosso estudo sobre a linguagem corporal começa com elas, as magníficas obreiras, interpretando o modo como nos são apresentadas.

A pessoa sincera e honesta, geralmente expõe a totalidade ou parte da palma da mão para o interlocutor, quando está exprimindo seus sentimentos (Eu não sou responsável por isso!/ Eu estou falando a verdade!). Por sua vez, a criança, quando está mentindo ou ocultando alguma coisa, esconde geralmente as palmas das mãos atrás das costas. E os bolsos funcionam como um bom esconderijo para as mãos, quando se trata de um marido ou namorado mentiroso. Já a mulher procura se desviar do assunto, falando de várias coisas ao mesmo tempo ou se mostrando muito ocupada, sem parar de mexer com as mãos.

Dentre as partes de nosso corpo que emitem sinais, a palma da mão está entre as mais poderosas, quer transmitindo ordens ou comandos, ou num aperto de mãos. Principais gestos de comando:

  • mão espalmada para cima – demonstra uma atitude não ameaçadora em que a pessoa encontra-se submissa, desarmada; (Diga-me o que eu posso fazer?)
  • mão espalmada para baixo – demonstra autoridade, ordenança; (Sem conversas, vá saindo!)
  • mão fechada com o dedo indicador apontado – demonstra ameaça, superioridade,     agressividade, e induz sentimentos negativos na outra pessoa. (Nunca mais me fale sobre tal assunto.)

O aperto de mão faz parte do passado remoto da humanidade, quando elementos das tribos primitivas estendiam os braços com as mãos espalmadas, no intuito de demonstrar que não carregavam armas. Por sua vez, os antigos romanos, para se defenderem contra a possibilidade de um punhal escondido na manga da camisa, criaram o aperto de mão no antebraço, como cumprimento.

Existem sete irritantes apertos de mão:

  • O peixe-morto – a mão apertada é fria e pegajosa, com sensação de frouxidão e flacidez – indicador de fraqueza de caráter.
  • O torno – o iniciador estende o braço com a mão espalmada para o chão e dá um forte puxão para baixo, seguido de dois ou três outros solavancos de retorno – indica desejo de dominar e assumir o controle da relação.
  • O quebra ossos – parecido com o torno, tritura os ossos do outro. Se for com uma mulher que está usando anéis pode ferir seus dedos – indica uma personalidade agressiva.
  • O aperto com as pontas dos dedos – pode indicar a vontade de manter distância ou exprimir, também, um sentimento de inferioridade. A pessoa mal toca as mãos do outro.
  • O cumprimento com o braço esticado – tende a ser usados por tipos agressivos, com o objetivo de colocar a outra pessoa fora de seu espaço pessoal, pois não quer nenhum contato físico.
  • O arranca-soquete – a mão é agarrada à força e puxada com um solavanco para perto do iniciante – pode demonstrar insegurança ou necessidade de controlar o outro.
  • A alavanca de bomba – o iniciante pega a mão do outro, e começa a bombeá-la, sacudindo-a em rápidos movimentos verticais – até sete subidas e descidas são aceitáveis.

Não sei se alguns dos leitores já passaram pelo constrangimento de levar a mão, numa roda de pessoas, para cumprimentar alguém, e a coitadinha ficar solitária no ar, porque o desatento está cumprimentando outrem, totalmente fora da rota, ou seja, mais distante, sem se ater a uma determinada ordem.

Duro mesmo é quando duas pessoas ficam indecisas quanto a pegar ou não na mão uma da outra. Uma leva a mão que volta humilhada por não ter encontrado a outra. Então o outro resolve levar a sua, e a situação se inverte. Haja constrangimento. Mas, contudo e apesar de tudo, benditas” sejam nossas mãos!

Um meu amigo está me cobrando o aperto de mão entre um casal, quando um dos dois roça a palma da mão do outro com o dedo médio. Segundo a explicação popular, trata-se de um convite ao sexo.

Fonte de pesquisa:
Desvendando o Segredo da Linguagem Corporal/ Allan e Barbara Pease

Nota: A Vidente – de Caravaggio

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RELIGIÕES MONOTEÍSTAS FAZEM MAL À TERRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É de se pressupor que, quanto mais a humanidade avança em tecnologia, maiores sejam os seus conhecimentos a respeito do planeta onde vive. Mas não é bem assim. Há relatos, por exemplo, de que antes de o tsunâmi arrastar consigo inúmeras vidas no leste da Ásia, os animais fugiram das partes baixas, procurando abrigo nos lugares mais altos, enquanto as pessoas, envolvidas em seus afazeres, de nada se aperceberam, pois desaprenderam de observar os sinais enviados pela natureza, como se fossem corpos estranhos inseridos nela.

Em tempos idos, ainda que o homem vivesse da caça e também destruísse florestas, havia uma interação entre ele e a natureza. Embora desconhecesse seus “mistérios”, sentia-se parte dela, tanto é que, ao arrancar uma árvore, pedia licença ao espírito que nela morava, ou ao matar um animal, rezava por sua alma. Fato que ainda acontece em algumas comunidades asiáticas, como já vimos em um dos artigos deste blog.

Bem antigamente, o sagrado estava por toda parte, presente em todas as coisas da natureza: montanhas, rios, animais, árvores, vento, relâmpago, chuva, mar, sol, etc. O homem sentia-se como parte desse encantamento que era a natureza, sabedor de que era ela a responsável por sua vida.

De acordo com muitos historiadores, o surgimento das religiões politeístas deu-se em razão da culpa humana, ou seja, pela necessidade de se expiar por comer animais, sujar as águas e violentar as matas. As pessoas tinham medo de que seus atos, considerados impuros, resultassem em castigos impingidos pelos espíritos da natureza. Somente a reverência poderia livrá-los do mal. Por sua vez, as religiões monoteístas mudaram toda a visão que o homem tinha sobre a natureza, basta ver em Gêneses o recado transmitido ao poderoso humano:

Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.

Assim, as religiões monoteístas desmistificaram os espíritos dos rios, dos ventos, dos animais, das árvores, do ar, etc. O homem passou a ser senhor absoluto da Terra, não mais devendo nenhum respeito a qualquer forma de vida, nem mesmo aos de sua espécie. De humilde receptáculo dos elementos da natureza, que recebia como dádiva de mãe tão generosa, o homem inverteu a hierarquia de valores: a natureza passou a ser subserviente e submissa a ele, num processo de imolação sem tréguas. A ideia passou a ser a de que tudo no planeta foi criado por Deus com o objetivo único de servir o grande soberano, da forma que ele bem entendesse. Quanto mais progresso, mais violência contra a natureza.

E, por isso, os espíritos da Terra estão ganhando vida, retribuindo o desrespeito com inúmeras desgraças. E assim caminha a humanidade!

Nota: Pintura de Jan van Gool (1685-1763), pintor e escritor holandês.

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PALAVRAS MAL DITAS E BEM DITAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Muitos estudiosos são unânimes em afirmar que o homem se tornou Homem, na essência de seu significado, depois de manejar os sons emitidos, transformando-os em palavras. Penso eu que as palavras devam ter começado pelo convite amoroso entre dois animais apaixonados, já cansados de tanto fazerem gestos. Palavras e gestos continuam se complementando, socorrendo-se mutuamente. Ambos são carne com unha.

A palavra tornou-se sagrada nas fórmulas mágicas, nos mistérios das crenças de todos os tempos e consagrou-se, quando o Verbo se fez Carne. Ela encanta e seduz desde que nasceu. Mas tal dama também possui os seus ardis. Domina todos os passos da humanidade, levando o mundo à paz ou à guerra, unindo ou separando as pessoas. Alguns há que a manejam com uma maestria hipócrita, com fins definidos dentro do que há de mais ignóbil. Na política, por exemplo, mais que em qualquer outro campo, a malandragem oratória faz carreira. Goethe dizia que a palavra foi concedida ao homem para que ele pudesse ocultar melhor os seus pensamentos. Usando o popular: mascarasse algumas de suas verdades.

Verdade seja dita: dominamos muito mais o nosso silêncio e muito menos nossas palavras. Não é à toa que em boca fechada não entra mosca. Pois, segundo o provérbio, quanto mais contidos formos no falar, menos corremos o risco do mal-entendido na incapacidade de compreender nosso ouvinte ou na manipulação da representação de nossos pensamentos. Existem pessoas que são mestras na arte de manipular as palavras, tirando-as do contexto em que foram ditas.

Montaigne lembrava que as palavras pertencem metade a quem fala e metade a quem ouve. Logo, não temos poder sobre o entendimento das mesmas, em relação a quem nos ouve, quer por imperícia nossa ou do receptor. Resta-nos pedir aos céus a sua benevolência de modo a não sermos mal compreendidos. Pois uma palavrinha mal dita já nos leva ao purgatório, tornando-nos malditos. E, como sempre me aconselhava minha mãe, é preferível pensar e não falar, do que falar sem pensar.

Para que as palavras sejam usadas com sabedoria e não sejam uma arma apontada contra nós, nada como refletir sobre um antigo provérbio persa, que diz:

A palavra que tens dentro de ti é tua escrava, mas aquela que escapa de ti, de ti se assenhora.

Nota: Imagem copiada de g1.globo.com

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