Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Lucas Cranach, o Velho – A FONTE DA JUVENTUDE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Fonte da Juventude é uma das composições de Lucas Cranach, o Velho, baseada numa lenda que rezava que havia uma fonte cujas águas eram capazes de rejuvenescer as pessoas que as bebessem. E não foram poucos os exploradores que procuraram por tais fontes, seguindo histórias ouvidas.

A obra de Lucas Cranack, o Velho, não apenas põe em evidência a mística de que a água possui efeitos rejuvenescedores e purificadores, como harmoniza o tema da imortalidade com o da eterna juventude. Enquanto as mulheres buscam a juventude de seus corpos, os homens aguardam os prazeres que esses lhe darão. Ao contrário delas, não há nenhum homem dentro da água, ou sendo trazido para nela se banhar. Ainda que idosos, eles apenas conduzem suas mulheres (à esquerda). À direita, todos os homens são jovens, sem terem passado pela água, aguardando as rejuvenescidas damas, para os folguedos. O machismo concedia ao homem a eterna juventude, como fica assegurado na pintura.

No quadro, somente as mulheres idosas têm permissão para tomarem banho na fonte, gerenciada por Vênus e seu filho Cupido, e, consequentemente, passarão pela tão desejada transformação. Após o banho do rejuvenescimento, elas são convidadas a se divertirem, participando de um banquete, dançando, galanteando e sendo galanteadas. Como que por osmose, os homens que interagissem com elas, segundo a lenda, também ficavam jovens.

À esquerda, uma anciã, impossibilitada de caminhar, é carregada por duas mulheres jovens, numa espécie de padiola. Ela faz suas preces, confiante na sua transformação, ao passar pela fonte. À sua direita, um homem idoso carrega uma mulher às costas, enquanto outro, jovem, leva outra numa carroça de madeira.

Um homem vestindo uma túnica vermelha, à esquerda, abaixa-se para focar os olhos no corpo flácido e rugoso de uma anciã, totalmente nua. Ele traz na mão esquerda um grosso livro de capa preta, enquanto ajeita os óculos com a direita, o que se supõe tratar-se de um médico ou de um anotador dos milagres. Atrás dele, encontram-se uma jovem desnuda e outra idosa. À sua direita, duas carroças puxadas por cavalos, e cheias de mulheres idosas, aproximam-se da fonte. Uma mulher velha está curvada sobre um cavalo, que é puxado. Outra é carregada às costas de um homem de veste vermelha, sendo segura pelos pés por outro. Mais à frente, uma jovem desveste uma anciã.

O chafariz divide a fonte ao meio. À sua direita estão as mulheres idosas, dentro da água, e à esquerda estão aquelas que já passaram pela transformação. As jovens, com suas barrigas curvas, seios pequenos, rígidos e altos, corpo curvilíneos, sem a presença visível de ossos, e cabelos longos, representam o ideal da beleza feminina à época.

A composição é uma ode à juventude. Do lado esquerdo estão a impossibilidade de locomoção própria, a deterioração do corpo e toda sorte de sofrimento. Do lado direito estão as benesses da vida: juventude, música, danças, mesa farta, etc. Um homem aponta às que saem da água, o lugar onde devem se vestir. Uma tenda vermelha recebe as recém-transformadas, que ali se vestem para participarem dos folguedos.

Lucas Cranack baseou sua obra, A Fonte da Juventude, nas piscinas da cidade alemã de Baden, onde existiam fontes termais, que podiam ser usufruídas gratuitamente por todos os moradores locais e visitantes, sendo homens e mulheres muitas vezes separados por uma divisória. Embora o artista apresente alguns personagens usando espadas, à esquerda, proibia-se o uso de armas no local. O artista também foge à tradição da época, ao apresentar as mulheres nuas, possivelmente para mostrar as transformações pelas quais passava o corpo, após o banho. Naqueles tempos, as mulheres usavam camisolas amarradas ao peito, cobrindo-lhes a parte posterior do corpo. A presença de músicos, dançarinos e festividades, na parte direita do quadro retrata fielmente a época.

Uma observação deve ser feita: nem todos os críticos de arte atribuem, com certeza, a autoria desta obra a Lucas Cranach, o Velho, com 74 anos à época. Alguns acham que pode ter sido obra de seu filho, Lucas Cranach, o Jovem.

Ficha técnica
Ano: 1546
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 122,5 x 186,5 cm
Localização: Gemäldegalerie, SMPK, Berlim, Alemanha

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Lucas Cranach, O VELHO – O MARTÍRIO DE S. CATARINA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Martírio de Santa Catarina é obra do pintor Lucas Cranach, o Velho, tema que tem sido, através dos tempos, pintada por vários outros artistas. Na composição de Cranach, contudo, não aparece a tradicional roda guarnecida com facas pontiagudas, símbolo do martírio da santa, mas a roda aos pedaços. O quadro apresenta inúmeros personagens, alguns ricamente vestidos, outros com armaduras, pessoas comuns e três cavalos.

O pintor apresenta dois momentos em sua obra, embora esses se encontrem separados pelo tempo:

• Num deles, ele mostra a destruição da roda usada no martírio de Santa Catarina, assim como o castigo recebido pelos responsáveis pela construção e uso dos instrumentos torturantes. Dos céus escuros, cheios de densas e revoltas nuvens, descem rajadas de raios de fogo, matando cavaleiros e até mesmo seus inocentes cavalos. São inúmeras as figuras.
• No outro momento, em primeiro plano, o pintor apresenta a princesa, ajoelhada, erguendo seus olhos para os céus, confiante em sua fé, à espera da execução, e seu carrasco a postos.

A figura de Santa Catarina não demonstra nenhum medo diante da morte. Ela se encontra ricamente vestida, de acordo com sua posição de princesa. Usa um vestido com saia de cor vermelho-escuro, sendo o corpete e magas de cor branca, bordados com fios de ouro e pérolas. Suas vestes estão espalhadas elegantemente pelo chão. Na personagem retratada, chama a atenção seu enorme decote, que a deixa com os ombros nus, sendo possível ver parte dos seios, cobertos por um tecido transparente. Embora ela tenha sido retratada como santa, o pintor não se preocupou com seu recato, em relação aos seios. Cranach, provavelmente, tinha como objetivo mostrar que, mesmo dotada de grande beleza corporal, a jovem foi capaz de vencer os desejos da carne, triunfando sobre o mundo material, cheio de tentações.

O pintor também retrata com grande visibilidade os órgãos genitais do carrasco, de pé atrás de Santa Catarina, e os do cavaleiro com uma armadura dourada, deitado de costas, à direita, abatido pelos raios de fogo. À época, a moda dos jovens exigia que se embelezasse a genitália, tornando-a grande. Provavelmente na sua obra, o pintor tinha a finalidade de demonstrar o ambiente pagão em que vivia a jovem. Ou talvez o artista atendesse o comprador da tela.

Embora o carrasco tenha na lenda o papel comum a tantos outros da época, Lucas Cranach reservou-lhe um lugar especial na composição, em pé de igualdade com Santa Catarina, colocando-o em primeiro plano, em tamanho grande, e vestindo-o com roupas de gala, em cores chamativas. Ele usa enormes botas de couro, em cor branca. As fendas no joelho direito, assim como o fato de se enfeitar só de um alado, dizem respeito à moda da época. Ele usa a mão esquerda para endireitar o rosto da vítima, de modo a executá-la, acertando-a entre o pescoço e os ombros, de modo a decapitá-la com um único golpe de espada. O artista pintou o rosto do carrasco com muita ênfase, pondo às claras sua violência. Na face direita, traz uma imensa cicatriz vermelha.

À esquerda, são vistos castelos no cume da montanha que parece tocar as nuvens. Eles ornamentam o fundo do quadro. Também simbolizam o poder que vem de cima. Mais abaixo estão algumas casas.

Segundo a lenda, Catarina era uma princesa intelectual, nascida em Chipre, que foi decapitada em Alexandria, por ter abraçado a religião cristã. Ela havia tomado Jesus Cristo como seu marido espiritual. À época, a cidade de Alexandria, com sua vasta biblioteca, era tida como o centro cultural mais importante do Império Romano.

Ficha técnica
Ano: 1508
Dimensões: 112 x 95 cm
Técnica:
Localização: Igreja de Ráday, Budapeste, Hungria

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Mestres da Pintura – LUCAS CRANACH, O VELHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor renascentista alemão Lucas Cranach, o Velho, (1472- 1553), que também trabalhou com xilografias e gravuras, nasceu em Kronach, tendo adotado o nome de sua cidade natal como sobrenome. Possivelmente teve o pai como professor. Entre 1500 e 1504, trabalhou em Viena, onde participou dos círculos humanistas. E a partir de 1505, trabalhou como pintor na corte de Wittenberg, com Frederico, o Sábio. Ali comandou uma grande oficina. Sua posição tinha tanto destaque na cidade, que alguns anos depois, ele se tornou conselheiro e, posteriormente, seu presidente, tornando-se um dos homens mais ricos do lugar.

Lucas Cranach recebeu grande influência da pintura da região alpina e das obras de Albrecht Dürer, criando um estilo especial para sua obra, em que unia paisagens e cenas narrativas, resultando num todo romântico. Contribuiu enormemente para o desenvolvimento da pintura no sul da Alemanha, sendo considerado fundador da Escola do Danúbio. Durante uma das viagens do pintor à Holanda, em 1508, recebeu inspiração das pinturas italianas e holandesas.

O artista foi tido como o pintor da Reforma Protestante, sendo o responsável por muitas ilustrações nos escritos de Lutero, seu amigo, que por sua vez patrocinou um de seus filhos. Embora fosse amigo do reformista, também executou trabalhos para seus adversários. Executou inúmeras obras para decoração da igreja e residência de Alberto, em Halle, feitas de acordo com a tradição católica, pois, indiferentemente do que pensava, tinha que manter a sua oficina. Portanto, além de propagandista da Reforma, ele fez inúmeras obras com temas católicos, como O Martírio de Santa Catarina.

As obras de Lucas Cranach, o Velho, na sua maioria, em razão da grande procura, eram executadas em sua oficina, onde contava com a ajuda de seus filhos assistentes. Inicialmente, ele punha suas iniciais em seus trabalhos, passando mais tarde a exibir apenas o emblema de sua oficina. Seus nus eram, ao mesmo tempo, apoiados na mitologia e na religião. Seu filho, Lucas Cranach, o Jovem, seguiu os mesmos passos do pai.

Nota: autorretrato do pintor

Fontes de pesquisa:
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Mantegna – SÃO TIAGO A CAMINHO DA EXECUÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada São Tiago a Caminho de sua Execução, obra do artista italiano Andrea Mantegna, faz parte de uma série sobre São Tiago pintada para uma igreja de Pádua, mas tendo a sua maior parte destruída durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive esta, deixando o mundo de contemplar grandes obras de arte desse importante artista. A composição acima mostra São Tiago sendo levado para o local em que seria executado.

O pintor preocupava-se com a realidade da cena pintada. Para isso,  ele estudava a vida do representado. Tinha conhecimento, nesse caso, de que São Tiago vivera na época dos imperadores romanos, sendo, portanto, necessário criar a cena como ela deveria ter acontecido naquela época. Começou estudando os monumentos clássicos daqueles tempos, como podemos notar através da porta da cidade, executada como um arco triunfal romano. Os soldados que o escoltam vestem roupas e usam armaduras de legionários romanos.

São Tiago é conduzido por uma forte escolta que para por um momento, porque um dos perseguidores do santo arrepende-se e joga-se a seus pés, pedindo a sua bênção. O santo vira-se para ele e abençoa-o, enquanto um dos soldados, atrás do arrependido, mostra-se surpreso, fazendo um gesto com a mão. A curvatura do arco enquadra esta cena, colocando-a em destaque e separando-a da multidão que a assiste e que é empurrada por um dos soldados.

 O pintor busca retratar com detalhes a escultura antiga, apresentando a arte romana em sua grandeza e simplicidade. As figuras são esculturais. A nova arte da perspectiva é aqui utilizada na criação do palco, onde as figuras de sua composição mostram-se como indivíduos sólidos, como se pudéssemos tocá-los. Repassam-nos a ilusão de que estão a movimentar-se.

Mantegna é um narrador tão talentoso que permite ao observador entender o que ali está se passando: a) um dos perseguidores do santo, arrependido, joga-se a seus pés, fazendo com que a escolta pare; b) São Tiago volta-se para ele e o abençoa; c) os soldados romanos acompanham a cena e um deles se mostra surpreso; d) a curvatura do arco separa a escolta armada do povo que a tudo acompanha, sendo inclusive empurrado por um soldado.

Ficha técnica
Ano: c. 1455
Técnica: afresco (destruído)
Localização: antiga igreja dos Ermitãos, Pádua, Itália

Fontes de pesquisa
A história da arte/ E.H. Gombrich

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Mantegna – TRIUNFO DA VIRTUDE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Triunfo da Verdade, obra de Andrea Mantegna, faz parte de uma série de pinturas mitológicas, criadas para ornar um dos aposentos da intelectual Isabel d`Este, condessa de Mântua, corte à qual serviu o artista. Trata-se de uma obra de inspiração humanística. O artista reproduz em sua obra a história de Minerva, deusa romana da guerra e da inteligência.

Segundo o mito, Minerva era a deusa romana da guerra e da inteligência, filha de Júpiter (Zeus), mas não tivera mãe. Ela nasceu da cabeça do deus dos deuses, já completamente equipada para a guerra. Tinha na coruja a sua ave preferida, sendo a oliveira a planta a ela dedicada.

Minerva, à esquerda, usa um elmo e traz na mão direita uma lança e na esquerda um escudo. Ela está a expulsar os vícios que tomaram conta do Jardim das Virtudes. Duas musas e um grupo de seres alados ajudam-na. Mulheres e sátiros estão se acasalando, como mostram as crianças carregadas por esses. Uma mulher puxa um ser disforme, sem braços. Um sátiro leva uma mulher às costas. Dois homens nus carregam uma mulher também nua. Um ser com armadura olha em direção a Minerva, amedrontado.

O Jardim das Virtudes está fechado por uma enorme muralha, ornamentada com plantas e flores. Quatro das seis aberturas da arcada permitem ver a paisagem, que se apresenta fora dela. No alto, numa nuvem, três divindades do Monte Olimpo acompanham a expulsão.

Ficha técnica
Ano: 1502
Técnica: têmpera sobre tela
Dimensões: 160 x 192 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fonte de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Renascença/ Folio
Mitologia/ Thomas Bulfinch

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Mantegna – PARNASO

Autoria de LuDiasBH

Parnaso
A composição Parnaso, obra de Andrea Mantegna, representa o Monte das Musas, e faz parte de uma série de pinturas mitológicas e humanistas criadas para ornar um dos aposentos da intelectual Isabel d`Este, condessa de Mântua, na corte à qual serviu o artista. Ela era uma das mais famosas colecionadoras de obras referentes ao Renascimento, tendo sido educada na corte de Carrara, onde recebeu uma educação clássica. Foi responsável pela escolha do tema, juntamente com seus amigos humanistas.

A composição possui três divisões: 1)Vulcano apontando para Vênus e Marte, abraçados; 2) as mulheres dançando, acompanhadas por Orfeu, que toca sua lira; 3) o deus Mercúrio, ao lado do cavalo Pégaso.

As nove musas das artes, filhas de Zeus, dançam, enquanto Apolo, considerado o deus da beleza, juventude e da luz na mitologia grega, assentado à esquerda, toca sua harpa. São elas:

• Calíope – musa da poesia e a eloquência
• Clio –  musa da história
• Erato – musa da poesia lírica
• Euterpe – musa da música
• Melpômene – musa do canto e do teatro
• Polímnia – musa da música cerimonial
• Terpsícore -musa da dança
• Talia – musa da comédia e da sátira
• Urânia – musa da astrologia e da astronomia

À esquerda está Vulcano, o deus romano do fogo, usando unicamente sua capa vermelha, brincando com Eros, o deus grego do Amor, que está a pregar-lhe uma peça. Perto dele está o fogo. À direita, Mercúrio, deus do comércio e da eloquência, está próximo a Pégaso, cavalo alado e figura da mitologia grega. Ambos estão de pé, virados um para o outro. À direita, atrás deles, vê-se uma fortificação.

Acima, no ponto central superior da tela, estão Marte, o deus romano bélico, vestido com sua armadura de guerra, e Vênus, a deusa do amor e da beleza na mitologia romana, que é conhecida como Afrodite na mitologia grega, presidindo a cena. Eles se encontram sob um monte que foi escavado como um túnel, que leva à cidade dos deuses, ao fundo. Atrás dos dois está um colorido divã.

Andrea Mantegna pintou a paisagem realisticamente, agregando a ela as figuras fantasiosas dos deuses. O céu está azul e o dia claro e iluminado.

Ficha técnica
Ano: 1497
Técnica: têmpera sobre tela
Dimensões: 60 x 192 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fonte de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Renascença/ Folio

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