Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Mestres da Pintura – JACQUES-LOUIS DAVID

Autoria de Lu Dias Carvalhodavid

Foi testemunha, cronista e participante ativo da revolta e derramamento de sangue da Revolução Francesa e de seus resultados. (David Gariff)

O artista francês Jacques-Louis David (1748-1825) tem seu nome inserido no rol dos grandes gênios da pintura, sendo o nome mais conhecido dentre os pintores franceses do período neoclássico. Também é conhecido por sua complexa personalidade e por ter participado da Revolução Francesa.

David nasceu em Paris. Aos 16 anos de idade ficou conhecendo o pintor François Boucher, que o orientou a estudar com o mestre Joseph-Marie Vien. Seguiu o conselho, vindo a estudar com Vien tanto em Paris como em Roma, sendo incentivado por ele a buscar as fontes clássicas da arte italiana, deixando de lado o gosto francês. Aos 26 anos de idade, ele recebeu o Prix de Rome. Participou de várias exposições no Salão de Paris. Em 1792, aos 44 anos de idade, foi eleito deputado por Paris, vindo a votar, no ano seguinte, pela morte do rei. Acabou preso e depois libertado em 1795.

Jacques-Louis David foi nomeado Primeiro Pintor da corte de Napoleão Bonaparte, mas com a queda do imperador francês acabou exilado em Bruxelas, na Bélgica, onde permaneceu até sua morte, aos 77 anos de idade.

Quando esteve em Roma, David copiou inúmeras esculturas clássicas. Ali aprendeu a apreciar Rafael, Michelangelo e Caravaggio. Também nutriu grande interesse pelo trabalho do pintor francês Nicolas Poussin. Sua vida pessoal, sua arte e a política sempre coexistiram, como mostra o conjunto de sua obra: O Juramento dos Horácios, A Morte de Sócrates, A Morte de Marat, Napoleão Cruzando os Alpes, A Coroação de Josefina, etc. Usou conscientemente a sua arte, ao transformá-la num instrumento de suas convicções políticas.

David viveu num dos períodos mais conturbados da história francesa. Sua maioridade deu-se no reinado de Luís XV, entre os pintores do rococó. Encontra-se entre as figuras centrais do estilo neoclássico na França. Fez pinturas revolucionárias, perdeu espaço, foi reabilitado por Napoleão e, posteriormente, partiu para seu exílio em Bruxelas, na Bélgica. O artista foi uma testemunha participativa de seu tempo, registrando-o em suas telas. Jacobino convicto, ele foi o principal pintor da Revolução Francesa.

O estúdio de Jacques-Louis David chegou a ser um dos mais importantes da Europa. Por ele passaram grandes pintores, como Ingres, testemunhando o talento do mestre. Artistas que se inspiraram em Jacques-Louis David: Anne-Louis Girodet, Marie-Guilhermin Beneoist, Barão François Gerard, Jean-Auguste-Dominiques Ingres, Edvard Munch, Carlo Maria Mariani, etc.

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Editora Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas da arte europeia/ Editora Könemann

Nota: autorretrato do pintor

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Ingres – O BANHO TURCO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O erotismo deste quadro é de um tipo particularmente complexo. Em primeiro lugar é uma variante do tema do mercado de escravas e do harém. Estas mulheres são animais arrebanhados e preparados para o prazer do macho, a quem de modo algum podem recusar satisfação. Em segundo lugar, o quadro é fortemente voyeurístico. Nós estamos olhando uma cena normalmente proibida ao olhar masculino. Em terceiro lugar, há um aspecto de afetação homossexual em algumas das poses, principalmente no grupo do primeiro plano, em que a mulher da direita toca os seios de sua companheira ao lado. (Lucie-Smith)

O Banho Turco é uma das pinturas mais conhecidas de Ingres que, embora se considerasse um neoclássico, era também chegado aos temas exóticos. À época, o orientalismo estava na moda na França em razão das guerras napoleônicas no Oriente. Esta composição mostra a vida das mulheres, que vivem apenas para a beleza e o prazer masculino, num harém oriental. Pode ser considerada a mais bela das obras-primas do artista.

Ingres jamais presenciou uma cena semelhante, pois nunca visitou o Oriente. Também não usou modelos vivos para pintar O Banho Turco, tela extremamente sensual, mas aproveitou uma série de croquis e desenhos realizados, quando pintava outros nus, ao longo de sua carreira. Estão na cena cerca de duas dúzias de figuras femininas, nas mais diferentes poses, sobre suntuosos tapetes e almofadas coloridas. Como já vimos em outras composições, o pintor adorava retratar mulheres nuas, sendo dito que ele gostava do erotismo de voyeur, embora se mostrasse moralista. Observe o leitor que a figura central é a mesma usada em A Banhista de Valpinçon, assim como A Grande Odalisca.

Segundo alguns estudiosos de Ingres, para pintar este quadro, em que aplicou o estilo de pintura redonda, também conhecido como “tondo”, ele se baseou em descrições sobre os banhos no harém do sultão Maomé II e nas Cartas do Oriente, de Lady Montagu, aristocrata e escritora inglesa. Ela assim se expressou em uma de suas cartas: “Havia 200 mulheres… Os sofás estavam cobertos de almofadas e ricos tapetes, nos quais estavam sentadas as senhoras, completamente nuas… E, no entanto, não havia o menor sorriso libertino ou gestos licenciosos entre elas.” Ingres não via nas mulheres a lascívia, mas beleza e inocência. O formato redondo evoca o ideal renascentista.

Embora mostre mulheres nuas, a tela de Ingres, em que cada figura foi detalhadamente estudada, não causou nenhuma comoção, como foi o caso de Olímpia, de Edouard Manet, também presente neste blog, que seria exposta no ano seguinte. Contudo, muitos críticos fazem uma análise mais forte desta composição, alegando que há nela dois aspectos marcantes: voyeurismo e lesbianismo.

Quando fez este quadro, Ingres estava com 82 anos de idade, embora mantivesse aceso o fogo de um homem de 30 anos, como gostava de dizer. Aqui, ele retoma um tema do início de sua carreira, banhistas e odaliscas.

Obs: Segundo alguns historiadores, é provável que esta obra tenha pertencido ao Príncipe Napoleão, mas sua esposa achou-a imoral, e colocaram outra em seu lugar. Ingres acabou recuperando a obra  e mudou seu formato para a forma circular, como se encontra hoje. Além disso, também fez transformações nas figuras que se encontram nas extremidades.

Ficha técnica
Ano: 1863
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 108 cm de diâmetro
Localização: Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa:
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Könemann
Romantismo/ Editora Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Dalí – CRUCIFICAÇÃO ou CORPO HIPERCÚBICO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Pintei uma cruz hipercúbica na qual o corpo de Cristo torna-se metafisicamente o nono cubo. (Dalí)

Crucificação, também conhecida como Corpo Hipercúbico, é mais uma das belas obras do artista Salvador Dalí, onde ele une a sua visão nuclear e o misticismo religioso, após sua volta à religião católica, como se quisesse mostrar que ciência e fé religiosa podem conviver muito bem. Antes de pintá-la, Dalí anunciou aos jornalistas que seria uma “explosão de Cristo, nucleares e hipercúbicos”.

O pintor espanhol compôs uma enorme cruz de cubos (octaedro). O cubo central traz agregados em suas seis faces inúmeros cubos. São ao todo oito cubos grandes e quatro pequeninos. Nenhum deles está ligado ao outro, assim como o átomo. À frente do hipercubo está suspenso o corpo de Cristo, usando apenas uma delicada tanga. Seus braço esquerdo, parte do tronco e cabeça estão mais distantes dos cubos. Sua sombra é vista na cruz, uma prova de que seu corpo está levitando. Três pequenos cubos levitam sobre seu corpo, enquanto o quarto localiza-se à direita de sua figura.

Cristo tem um porte belo e atlético, mas seu corpo mostra tensão. Sua cabeça, virada para a sua direita, está dobrada para trás, impedindo a visão de seu rosto. Não há sangue e nem marcas em seu corpo jovem. Sua anatomia é perfeita, sendo possível observar seus músculos, ossos e veias. As unhas dos pés estão crescidas. Maria Madalena, tendo Gala como modelo, e sendo retratada em frente à baía de Port Lligat, está próxima à cruz. Ela está envolvida por mantos brancos e dourados, com os olhos fixos no Salvador.

 O fundo escuro da tela ressalta Cristo na Cruz, trazendo um clima de tragicidade. O manto dourado de Maria Madalena tem a mesma cor de parte da cruz. Ao fundo, em segundo plano, uma paisagem descortina-se. Para muitos críticos esta composição faz parte das mais importantes obras-primas da história da arte. E, segundo o pintor, Corpo Hipercúbico  foi uma das telas mais difíceis que fez, quando uniu a pintura acadêmica à moderna, usando o gênero religioso. Cristo e a cruz parecem flutuar na imensidão do espaço.

Ficha técnica:
Ano: 1954
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 194,3 x 123,8 cm
Localização: The Metropolitan Museum of Art, Nova York, EUA

Fonte de pesquisa:
Dalí/ Abril Coleções
Dalí/ Coleção Folha

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Ingres – A GRANDE ODALISCA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor neoclássico Jean-Auguste-Dominique Ingres, embora tenha colecionado desafetos por se posicionar contra o romantismo, esteve muito próximo do movimento romântico na escolha de temas exóticos, como é o caso da composição A Grande Odalisca, encomendada pela rainha Carolina de Nápoles, irmã de Napoleão Bonaparte. Mesmo assim é possível notar que o artista dava mais importância aos contornos do que à cor, conforme preconizava o estilo neoclássico.

Através da composição, Ingres repassa uma atmosfera de muita calma e serenidade, sendo a modelo retratada como uma personagem de um harém, mais uma vez mostrando o  seu gosto pelo orientalismo, muito comum à época, após as invasões de Napoleão no Oriente, quando os temas orientais tornaram-se uma coqueluche na arte francesa.

A odalisca nua encontra-se deitada num divã, de costas, mas tendo o rosto virado para o observador. Seu olhar é de indiferença, parecendo alheia a tudo em seu redor. O predomínio de cores frias na composição aumenta ainda a distância entre ela e o observador, sem que haja qualquer empatia entre ambos.

Embora à primeira vista a odalisca pareça indolente e sensual, ao ser observada com mais rigor nota-se que sua pose é rígida e não natural. A posição da perna esquerda, que parece descansar sobre a direita, é difícil de ser mantida por muito tempo. O que tira do observador a ilusão de que se trata de um ser real, remetendo-o à figura da modelo.

Aos pés da odalisca encontra-se um incensário, sendo possível ver a fumaça que dele sai, trazendo a sensação de que o ambiente está perfumado. A suntuosidade dos tecidos em volta da mulher demonstra que se trata de uma concubina de alguém muito rico.

Ao ser exibida no Salão de Paris, em 1819, esta obra recebeu críticas por mostrar costas muito alongadas, membros compridos e cabeça pequena, totalmente fora da realidade anatômica. Alguns críticos chegaram a dizer que “a mulher tinha três vértebras a mais”. Mas não pense o leitor que Ingres não tinha consciência de tal estranheza. Ele preferiu modificar a anatomia da modelo, para lhe dar um ar de sensualidade e um contorno mais suave. Pablo Picasso viria, mais tarde, a ser influenciado por esse estilo do pintor.

Ficha técnica
Ano: 1814
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 91 cm x 162 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Sextante

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Ingres – A BANHISTA DE VALPINÇON

Autoria de Lu Dias Carvalhoingres12

O próprio Rembrandt teria invejado a cor âmbar deste torso pálido. ( Jules Goncourt)

A superfície da tinta deve ser tão suave como uma cebola. (Ingres)

A Banhista de Valpinçon, composição do artista francês Jean-Auguste-Dominique Ingres, é tida como uma das maiores e mais belas imagens sobre costas da história da arte, em todo o mundo. “Valpinçon” é o nome do primeiro proprietário da obra, de quem o Louvre comprou em 1879. O seu nome original era apenas Mulher Santada.

A banhista nua, sentada de costas para o observador, mostra a suavidade e a beleza de sua pele dourada. Embora o neoclássico Ingres privilegiasse o desenho em relação à cor, muitas de suas obras possuem efeitos de cor deslumbrantes, como é o caso de A Banhista de Valpinçon.

Muito pouco do rosto da banhista é perceptível, o que torna seu turbante branco de listras vermelhas ainda mais visível. O uso de tal peça remete ao orientalismo, muito comum à época, tendo sido usada em vários países europeus, principalmente na França.

Os que se opunham ao trabalho de Ingres diziam que os modelos representados em suas obras não possuíam ossos. O que não deixa de ser verdade, pois o pintor neoclássico idealizava suas figuras, criando o corpo feminino de acordo com seus conceitos filosóficos. A exemplo da pintura acima, esta não possui protuberância de ossos e tendões ou qualquer tipo de irregularidades no corpo, com suas formas sutilmente arredondas. Ela parece não ter ancas.

A banhista traz em volta do cotovelo esquerdo um pano branco, que apresenta dobras muito bem elaboradas. A sua presença na composição, possivelmente, obedece a razões pictóricas, ou seja, o pintor usou-o como uma maneira de suavizar o contorno do cotovelo, que assim se mostra mais delicado, além de contrastar com a pele delicada da mulher.

Tudo na composição remete à calma e à falta de movimento, excetuando uma pequena cabeça de leão, parte do ornamento da banheira, próxima à perna esquerda da mulher, à esquerda da tela, e de cuja boca jorra um pequeno jato de água, com a finalidade enchê-la para o esperado banho. Como a banheira encontra-se abaixo do nível do piso, presume-se que se trata de uma casa de banho.

Um dos pés descalço mostra a detalhada renda do chinelo vermelho. As roupas que cobrem a cama são maravilhosamente trabalhadas. Outro ponto que chama a atenção é a forma como o artista pintou a cortina escura com suas dobras profundas, arrematada por uma delicada fita floral. Sua cor escura e as dobras contrastam com a pele clara e lisa da banhista. Abaixo da cortina, na extrema esquerda da composição, Ingres assinou e datou sua tela, uma obra da juventude do pintor.

Ficha técnica
Ano: 1808
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 146 x 97 cm
Localização: Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa:
Grandes pinturas/ Publifolha
A história da arte/ E.H. Gombrich

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Ingres – MADAME INES MOITESSIER

Autoria de Lu Dias Carvalhoingres1

O pintor francês Jean-Auguste-Dominique Ingres era admirável na pintura de retratos, como podemos ver através da obra Madame Ines Moitessier, obra que levou quatro anos para ser concluída, pois Ingres estava sempre a introduzir modificações. E foi justamente neste gênero, o qual muitas vezes usou, como necessário para satisfazer suas necessidades financeiras mais prementes, que ele se imortalizou.

A composição Madame Ines Moitessier demonstra a habilidade quase fotográfica de Ingres como retratista. Como vimos em outro texto, o artista incluía-se no estilo  neoclássico, como podemos observar através dos contornos acentuados e o modelado delicado do rosto e dos braços da modelo. Contudo, seu vestido floreado e colorido, não está de acordo com a tradição neoclássica, pois caminha em direção ao romantismo.

Observe o leitor que, para compensar o espaço pequeno, onde se encontra a modelo, o pintor usou mão do espelho, atrás dela, mais à sua esquerda, para trazer a ideia de amplitude. Ele pinta nele o reflexo da mulher, mostrando suas costas rechonchudas, o rosto de perfil e o enorme complemento dos cabelos.

A mulher encontra-se elegantemente vestida, com toda a suntuosidade do Segundo Império francês, usando um amplo e decorado vestido, todo ornado com estampas florais, com um grande laço, que desce do busto até a saia. Nos ombros, o vestido é amarrado por grossas tiras, enquanto franjas contornam sua parte superior. Também é possível notar que o ambiente, ornado de quadros e porcelana oriental, é luxuoso.

Braços e pescoço da retratada estão adornados com ricas joias em pedrarias. Um anel enfeita o dedo anular da mão esquerda, que traz um belo leque, também de estampas. Enquanto a mão direita eleva-se até à cabeça, a esquerda descansa no colo. A modelo olha diretamente para o observador, mas não é possível captar seu estado de espírito.

Ficha técnica
Ano: 1856 (ano de conclusão)
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 120 x 92 cm
Localização: National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fonte de pesquisa:
Os pintores mais influentes do mundo/ Editora Girassol

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