Autoria de Lu Dias Carvalho

Quero que meu Cristo seja o quadro que contenha mais beleza e alegria do que tudo quanto se tenha pintado até agora. (…) Agora, a nova época da pintura mística começa comigo! (Dalí)
Salvador Dalí iniciou seu período místico lendo São João da Cruz, Santa Tereza de Ávila e Santo Inácio de Loyola, após o terror da Segunda Guerra Mundial. Esta é uma das composições mais conhecidas e famosas do pintor, com imagens quase fotográficas, embora não tenha sido aclamada pela crítica, quando foi exposta pela primeira vez. Nela, Jesus Cristo olha o mundo lá do alto do céu, ao contrário da ótica frontal. Uma luz dourada banha seu corpo.
Quando pintou Cristo de São João da Cruz, Dalí vivenciava seu período criativo que denominou de “místico nuclear”, em que aludia à ciência, religião e arte. Ele não queria um Cristo ensanguentado, agonizante ou desfalecido, como mostravam as pinturas tradicionais, mas um Cristo belo, “a imagem mais bela e alegre”, dentre todas as pintadas por ele. Tanto é que Jesus Cristo não está acompanhado da coroa de espinhos, da ferida causada pela lança e dos pregos nos pés e nas mãos.
Segundo o pintor, ele viu a obra num sonho, sem a presença de tais elementos, que mostram o Cristo Homem, optando assim, pela beleza metafísica de Cristo Deus. Para dar a Cristo a aparência desejada, Dalí contratou um dublê acrobático de Hollywood como modelo, daí a perfeição anatômica do corpo.
O pintor sempre nutriu grande atração por Cristo Crucificado, mas foi após a sua visita ao Vaticano, em 1949, quando foi recebido pelo papa Pio XII, e pediu a sua aprovação para a primeira versão de A Madona de Port Lligat, que começou a retomar sua fé católica. O artista teve um segundo encontro no Vaticano, dessa vez com o papa João XXIII, acompanhado de Gala.
Para pintar o Cristo de São João da Cruz, Dalí tomou como inspiração um esboço imputado ao próprio São João da Cruz, onde Jesus parece estar flutuando no espaço. Segundo o próprio pintor, uma voz lhe pedia, em sonho, para pintar o quadro, tamanha era a impressão que o esboço deixara nele.
Salvador Dalí pintou o seu Cristo como o do esboço de São João da Cruz, visto de cima, com a cabeça inclinada para frente, bem distanciada do corpo. A figura de Jesus crucificado corresponde geometricamente a um triângulo, enquanto a paisagem abaixo corresponde a um círculo, onde está presente a baia de Cadaqués. A linha do horizonte separa o mundo divino do terreno. E Cristo é tido como o núcleo do átomo que dá unidade ao Universo.
A figura de Cristo é belíssima. Seus cabelos caem em leves cachos para baixo, enquanto os músculos, bem modelados, lembram a perfeição da pintura clássica. No lugar da inscrição INRI, está um pedaço de papel dobrado. Na paisagem rochosa abaixo, nota-se a presença de dois barcos e três homens, um deles com uma rede, que alude à presença de S. Pedro sendo observado por Cristo.
A composição não apresenta a assinatura do pintor, pois, segundo ele, não existe nenhum criador acima de Deus. Para muitos estudiosos da pintura, Cristo de São João da Cruz é um prodígio de perspectiva.
Ficha técnica
Ano:1951
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 205 x 116 cm
Localização: The Glasgow Art Gallery, Glasgow, Grã-Bretanha
Fontes de pesquisa
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Abril Coleções
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