Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Manet – O ALMOÇO NA RELVA

Autoria de Lu Dias Carvalho manet34

Trata-se da maior obra de Manet, aquela na qual ele realizou um sonho compartilhado por todos os artistas: pintar figuras em tamanho natural em uma paisagem. (Èmile Zola)

A arte nem sempre foi tão liberal como em nossos dias. Não apenas na época da Renascença, mas até o século XIX ela esteve atrelada a códigos rígidos, como podemos ver através do célebre Salão de Paris, em que quem não rezasse, conforme sua cartilha academicista ficava de fora. Manet, com a sua composição Almoço na Relva, viu-se no torvelinho das críticas, ao fugir às regras, fato que o tornou uma celebridade, tendo sua obra recusada  pelo Salão de 1863. A crítica dizia respeito tanto ao tema quanto à técnica de pintura usada pelo artista. Os críticos acharam inclusive que o fundo estava mal pintado, apenas delineado. Outro ponto criticado foi o tamanho da banhista ao fundo. Acontece que nesta tela, o artista já demonstra a sua ligação com os impressionistas.

Esta tela de Manet é uma forma moderna de interpretar a arte antiga em que o nu era comumente encontrado. No entanto, o quadro causou um grande furor quando foi apresentado, tanto por parte dos críticos quanto pela opinião pública. Pareciam querer trucidar o artista. Se a nudez já era comum na obra dos grandes mestres da pintura, não era de se esperar tamanho alarido. Para alguns críticos, o contrassenso de Manet residia na forma como a figura nua foi apresentada, sem nenhuma referência mitológica ou qualquer outra que indicasse a necessidade do nu, ou seja, sem pretexto para que a nudez ali se encontrasse. Ela estava ali porque o pintor assim desejou e ponto final. Mas não era bem isso o que pensavam os críticos daqueles tempos.

Na composição Almoço na Relva estão presentes quatro personagens: uma mulher inteiramente nua, assentada perto de dois homens vestidos, conforme os costumes da época, e outra que se banha nas águas de um pequeno rio, ao fundo, usando somente roupas de baixo. Não existe nenhum contato visual entre eles. O local, onde o grupo encontra-se, parece um parque ou parte de uma pequena floresta. Alguns viram a composição como o encontro de prostitutas com seus clientes, tamanha foi a maldade.

Em primeiro plano, à direita da mulher despida, nota-se uma grande quantidade de objetos esparramados pela relva: uma cesta de vime contendo frutas, possivelmente restos do almoço, virada para o observador, sobre aquilo que parece ser as vestes da mulher nua, assim como seu chapéu de palha com laços preto e lilás, dentre outros objetos como pão e uma garrafa de vidro . A natureza-morta chama a atenção pela sua beleza.

A modelo Victorine que aparece em muitas obras de Manet posa aqui ao lado dos dois irmãos do pintor. Enquanto ela se encontra totalmente nua, seus companheiros vestem jaquetas escuras acompanhadas por calças num tom mais claro. Sua postura parece estranha, pois ela não apoia seu cotovelo no joelho, como seria normal. Ela não aparenta nenhuma inibição ao fixar o observador. Um dos homens dirige-se ao outro, mas este não lhe volta o olhar, que está fixo no observador.

A banhista ao fundo, pintada numa escala desproporcional à distância em que se encontra, parece muito grande em relação ao barco ancorado à sua esquerda e aos demais personagens. Nos muitos esboços feitos pelo pintor,  ela se encontra na escala e perspectivas corretas, portanto, as mudanças feitas por Manet foram intencionais.

Manet acrescenta um pequeno toque de humor à composição, ao colocar no canto inferior esquerdo da tela, próximo a uma faixa lilás, um pequenino sapo. Um pintassilgo, com seu corpinho avermelhado, adeja acima da mulher que toma banho. Para que o leitor veja como o artista foi perseguido, a presença da pequena ave chegou a ser comparada com a pomba, símbolo tradicional do Espírito Santo, numa pintura “obscena”.

Apesar das críticas recebidas em razão de o Almoço na Relva, Manet teve os seus passos seguidos por muitos pintores nos anos seguintes, fazendo obras parecidas. Embora a composição passe para o observador a impressão de que foi feita no local, ela foi, na verdade, pintada num estúdio. Segundo Antonin Proust, Manet retirou a inspiração para o quadro ao ver as banhistas nas margens do rio Sena em Argentuil.

Ficha técnica:
Ano: 1863
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 208 x 264 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de pesquisa:
Manet/ Abril Coleções
Arte/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante

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Manet – O BEBEDOR DE ABSINTO

Autoria de Lu Dias Carvalho manet2

Eu fiz um tipo de Paris, estudei em Paris, pondo na execução um pouco do que encontrei na pintura de Velázquez. Eu não entendo vocês. Talvez eu fosse mais compreendido se fizesse um tipo espanhol. (Manet)

Segundo Proust, a afirmação acima foi o modo como Manet desabafou, depois que seu quadro, O Bebedor de Absinto, que apresenta na composição um belo jogo de sombras, não foi aceito pelo júri do Salão de Paris, em 1859. Com esta obra, o pintor tentava fazer sua estreia no fechado Salão. Somente o pintor Delacroix, que fazia parte do júri, foi voz discordante, ao compreender os valores da pintura.

Colardet, colhedor de retalhos, foi o modelo usado na composição. Ele foi envolvido por um manto escuro, trazendo na cabeça uma cartola, cuja sombra advinda da aba tapa-lhe os olhos.  Ao lado direito do homem, relativamente jovem, um copo de vidro mostra um líquido esverdeado – o absinto. No chão, uma garrafa jaz esvaziada.

O absinto, bebida muito comum à época, parecia ser tema constante na obra dos pintores franceses. Já vimos a tela de Degas,  pintura com o mesmo tema.

Ficha técnica:
Ano: 1858/1859
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 180, 5 x 105,6 cm
Localização: Ny Calrsberg Glyptotck, Copenhague, Dinamarca

Fontes de pesquisa
Manet/ Abril Coleções
História da arte/ E.H. Gombrich

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Mestres da Pintura – ÉDOUARD MANET

Autoria de Lu Dias Carvalho manet

Ele é um intérprete da vida contemporânea que exerceu enorme influência sobre os jovens impressionistas e a posterior história da arte. (David Gariff)

A terceira onda de revolução na França (após a primeira onda de Delacroix e a segunda de Coubert) foi iniciada por Édouard Manet. (E.H. Gombrich)

O pintor francês Édouard Manet (1832 – 1883) nasceu em Paris, numa família de classe alta, sendo seu pai juiz e sua mãe filha de um diplomata francês. Era o mais velho dos três irmãos: Eugène, que viria a se casar com a pintora Berthe Marisot, e Gustave. Embora tivesse tido uma criação muito rigorosa, encontrando a oposição de seu pai em relação à carreira de artista, seu tio Édouard Fournier, irmão de sua mãe,  levava-o ao Louvre, para conhecer os grandes mestres da pintura e da escultura.

Édouard Manet não foi um aluno aplicado no colégio, obtendo resultados decepcionantes e frustrando os sonhos da família de vê-lo se transformar num advogado, como o pai e o avô paterno. Mas diante do fracasso escolar, só restaram aos pais do menino permitir que ele se tornasse marinheiro. Como fracassasse na tentativa de entrar para a Escola Naval, num cargo alto,  ali entrou como simples marinheiro, inclusive vindo ao Brasil e encantando-se com o exotismo do país e abominando a escravidão. Novamente tentou entrar para a Escola Naval, não logrando êxito. Outro futuro estava reservado ao jovem adolescente.

Aos 18 anos, Manet acabou conseguindo permissão dos pais para estudar com o mestre Thomas Couture, consagrado pintor, permanecendo seis anos em seu ateliê e dali saindo após divergir artisticamente do mestre. Nesse período, fez cópias de obras dos grandes mestres e, para completar seu aprendizado, o pintor viajou para a Itália com seu irmão Eugène. Anteriormente a essa viagem, ele já havia conhecido o norte europeu, em busca de conhecimentos artísticos.

Aos 20 anos de idade, Manet tornou-se pai de um garoto ilegítimo, Léon Leenhoff, na relação que manteve com a professora de piano Suzanne Leenhoff, que serviu de modelo em A ninfa Surpresa, dentre outras composições. Seus pais opuseram-se duramente ao casamento, que só foi realizado após a morte do pai do rapaz. Porém, o artista jamais reconheceu a paternidade do filho, que também serviu de modelo para ele em vários quadros, como em O almoço no Ateliê.

Em 1859, aos 27 anos de idade, Manet tentou fazer parte do famoso Salão de Paris com sua tela O Bebedor de Absinto, mas foi recusado. A seu lado ficou apenas Delacroix, que fazia parte do júri, e, que via grandes qualidades na obra do jovem pintor. Manet admirava muito a arte espanhola, recebendo influência das obras de Diego Velázquez, de modo que seu primeiro quadro aceito no Salão foi O Cantor Espanhol.

O Salão dos Recusados era o espaço usado por aqueles que não eram aceitos pelo júri do Salão de Paris. Além desse local, Manet usou espaços privados para mostrar sua obra, pois, como apregoava, era necessário se mostrar, tornar-se conhecido. E ele necessitava do público numa relação mútua de troca.

Apesar das inúmeras rejeições, Manet ansiava por fazer parta do Salão, grande acontecimento público anual, que mexia com toda a França, atraindo um público incalculável, que trazia visibilidade para o artista e propiciava a venda de sua arte. Mas o sistema era quase que impenetrável e as formas de julgamento totalmente discutíveis. Era o Salão quem determinava o gosto do público. Para ser aceita, uma pintura não podia apresentar qualquer originalidade, inovação ou algo que contestasse o academicismo. Mesmo assim, o pintor lutava para furar a resistência de um júri não afeito ao novo, em que todos pareciam partilhar do mesmo gosto, sem abertura para o diferente.

A composição Olímpia, assim como O Cristo Desprezado, não foi bem aceita pelo Salão e também pelo público. O que deixou o artista visivelmente arrasado. Em razão desse desfecho, novos quadros de Manet foram recusados pelo Salão, no ano seguinte. Contudo, a obra do pintor já havia ganho muita visibilidade, e sua fama já se tornara tão grande, a ponto de o escritor Émile Zola sair em sua defesa e atacar o júri do Salão, quando escreveu em um de seus artigos: “Antes de julgar os artistas selecionados, parece-me interessante julgar os juízes…”.

Manet fez uma exposição privada, depois de ver 35 trabalhos seus serem recusados pela Exposição Universal, sendo esse um momento muito importante em sua carreira artística. Daí para a frente, sempre teve obras expostas no Salão. No ano de 1881, ele ganhou o direito de participar permanentemente do Salão Oficial, sem julgamento prévio, sendo a tela Um Ângulo do Café-Concerto o último de seus trabalhos a ser exposto. Manet tornou-se requisitado por importantes colecionadores. De uma só vez, vendeu 23 telas para um jovem marchand, Paul Durand-Ruel, que viria a se transformar no marchand dos impressionistas.

Assim como o pintor Gustave Coubet, anterior a ele, Manet queria criar um novo estilo de pintura que fugisse ao rigor acadêmico da época. E assim o fez, ao pintar cenas do dia a dia, retratando pessoas comuns e também artistas e nobres, gerando uma grande polêmica entre aqueles que não aceitavam mudanças. Ele abriu mão do método tradicional do uso de sombras suaves em prol de contrastes fortes, o que o colocou na mira intolerante dos conservadores. Para muitos suas obras situam-se entre o realismo e o impressionismo. Manet foi o grande responsável pelo rompimento terminante com a pintura histórica, ao optar pelas cenas do dia a dia, pela cores luminosas e pureza de seus contrastes, sendo bem considerado pelos artistas que pintavam ao ar livre.

Manet, um importante pintor francês do século XIX, era tido como um burguês elegante, sociável e carismático, que ainda muito novo contraiu sífilis que lhe causou ataxia, uma doença que dificultava a coordenação de seus movimentos.  Além das dores, também teve paralisia parcial. Sua perna foi amputada em razão de uma gangrena, 12 dias antes de sua morte. Manet morreu aos 51 anos de idade. Seu caixão foi levado por Monet, Zola, Proust, Stevens e Duret.

Nota: Autorretrato de Édouard Manet

Fontes de pesquisa
Manet/ Abril Coleções
Tudo sobre arte/ Sextante
Os pintores mais importantes…/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich

 

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Bosch – A CRIAÇÃO DO MUNDO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Segundo o Aurélio, um tríptico é  uma obra de pintura ou de escultura, constituída de um painel central e duas meias-portas laterais capazes de se fecharem sobre ele, recobrindo-o completamente.

Bosch criou vários trípticos, sendo O Jardim das Delícias o mais famoso deles. O Tríptico descreve a história do mundo a partir de sua criação, passando pelo paraíso terrestre e finalizando com o inferno. Os temas abordados são: Eva dando origem ao mal; o homem seduzido pelo pecado da luxúria e a sua destinação ao inferno.

As duas portas externas do Tríptico, quando fechadas, representam A Criação do Mundo, como vemos acima. Quando abertas (ver ao lado), na porta esquerda vê-se O Jardim do Éden, ao centro O Jardim das Delícias e à direita O Inferno Musical. Obras que iremos ver individualmente. A disposição do paraíso terrestre no meio significa que o pecado situa-se entre o bem e o mal, segundo a visão cristã. O Tríptico mostra inúmeros símbolos e atividades sexuais com extremada ardência.

A Criação do Mundo refere-se ao terceiro dia da criação. Logo acima,  na parte superior das janelas, aparecem duas frases em latim que significam: “Ele disse e (as coisas) foram feitas” e “Ele comandou e as coisas foram criadas”.

Na parte superior da janela esquerda, no canto, um homem idoso, usando uma tiara, encontra-se assentado sobre um trono feito de nuvens, carregando a Bíblia sobre os joelhos. Ele representa o Criador.

Uma esfera transparente traz dentro de si o planeta Terra. A presença de nosso mundo dentro de uma redoma de vidro pode simbolizar a sua fragilidade. A Terra encontra-se despovoada de animais e da espécie humana. Existem apenas formas vegetais e minerais. A Criação do Mundo está pintada em tons grises, branco e preto, significando que está inacabada e, que ainda não foi criado o homem.

 Nota: Vejam o tríptico em alta resolução no endereço abaixo:
http://www.sobrenatural.org/mensagem_subliminar/detalhar/6977/quadro_o_jardim_das_delicias_terrenas_de_bosch/

Ficha técnica da composição fechada:
Data: 1480 – 1490
Tipo: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 95 cm
Localização: Museu do Prado, Madri

Ficha técnica da composição aberta:
Pintura Medieval / Óleo sobre painel de madeira / Arte Flamenga
Local de realização: Flandres – Bélgica / França / Holanda
Data: Início do século XVI (1504, provavelmente)
Artista: Hieronymus Bosch ou “El Bosco” (1450-1516)
Dimensão total: 2,20 × 3,89 m).
Procedência: Acervo de Felipe II.
Local de exposição atual: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol

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Gauguin – DE ONDE VIEMOS? …

Autoria de Lu Dias Carvalho prop123

Gauguin deseja fazer desta obra seu último testamento filosófico, a sua suma antes da tentativa de suicídio. ((Perry T. Rathbone)

O ídolo não aparece em minha pintura como explanação literária, mas como estátua; talvez seja menos uma estátua do que o símbolo da vida animal; e também menos animal, desde que fundido com a natureza, segundo meu sonho, diante de minha cabana. Ele governa nossas almas primitivas, é a imaginária consolação do nosso sofrimento, vagos e ignorantes que somos sobre o mistério de nossa origem e destino. (Gauguin)

A composição de Gauguin De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos? trata-se de sua maior pintura, possuindo quase 4 metros de base. É muitas vezes tida como sua obra-prima. Ele a realizou quando vivia um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em se matar em razão das dificuldades pelas quais passava, sem dinheiro até para comprar seu material de pintura, sem saúde e pela falta de reconhecimento de seu trabalho. Mas, antes de dar fim a sua vida, queria pintar um “grande quadro”, como relatou ao seu amigo Daniel Monfreid. A obra foi concluída em um mês, tendo o pintor trabalhado sem praticamente parar, durante esse período. Gauguin inspirou-se no Taiti para compor a sua obra. Ele disse sobre ela: “Antes de morrer, coloco aqui toda a minha energia, numa paixão cheia de sofrimento, e numa visão tão clara e sem correções, que a maturidade precoce desaparece e a vida floresce”.

No fundo da composição existe a predominância dos tons verdes. Sobre eles o artista espalhou vários personagens nativos. Alguns deles apresentam-se nus, outros seminus e alguns vestidos de corpo inteiro. A vegetação é pintada com fortes tons azuis e verdes, enquanto as figuras humanas são coloridas com cores claras. As árvores, com suas formas sinuosas e as figuras sólidas, compõem o paraíso tropical tão desejado pelo pintor, num misto de realidade e imaginação.

Um bebê dorme no chão, tendo ao seu lado três jovens que descansam. Seria a representação da vida simples e sem preocupações do paraíso. No centro da composição um jovem de corpo bem proporcionado e ereto retira uma fruta de uma árvore. O amarelo brilhante de seu corpo contrasta-se com os verdes e azuis do fundo da tela. Talvez o pintor tenha feito aqui uma alusão ao Jardim do Éden. As duas mulheres ao fundo, com o corpo todo coberto, representam a sabedoria.

A senhora idosa, com sua pele escura, destoa da vivacidade da mulher jovem ao seu lado. Na sombra ela parece estar olhando para o passado, enquanto  aguarda o fim de seus dias na Terra. A ave ao seu lado pode representar o desconhecido que a aguarda após a morte. No primeiro plano, na parte esquerda da composição, uma garota come uma fruta, enquanto dois gatinhos brincam ao seu lado. Assim como o rapaz colhendo a fruta, esta cena retrata a vida cotidiana.

A divindade presente na parte esquerda do quadro, toda em azul, simboliza o mundo do além. Ela traz os braços para cima e relembra as crenças primitivas, sendo tida por muitos como a deusa polinésia Hina que, além de representar a Mãe Terra, simboliza também a morte e a ressurreição.

O ciclo da vida é visto na pintura da direita para a esquerda, fugindo à habitualidade, pois está de acordo com a convenção oriental de leitura, iniciada da direita para a esquerda. O bebê e a anciã encontram-se nos dois extremos da tela, assim como acontece na linha da vida. Como se pode deduzir através do título da obra que se encontra na margem superior esquerda da tela, escrito em francês, as figuras estão dispostas de forma a representar o ciclo da vida:

  • o bebê dormindo (o início);
  • o jovem colhendo uma fruta (o meio);
  • a senhora idosa perto de uma ave (o fim).

No diagrama de Gauguin o quadro está assim explicado:

  • à direita (De onde Viemos) – as mulheres, as crianças, o cachorro e os símbolos da primavera representam o início da vida (De onde viemos);
  • no centro (Que Somos) – o homem se pergunta sobre o sentido da existência e procura alcançar o fruto da árvore do conhecimento;
  • à esquerda (Para aonde Vamos) – uma velha próxima da morte simboliza o final da vida. O pássaro é um aviso sobre a futilidade das palavras;
  • as duas figuras perto da árvore da sabedoria , envoltas em vestes escuras, simbolizam a tristeza trazida pelo próprio conhecimento;
  • os seres simples entregam-se à alegria de viver , numa natureza virgem que poderia ser um paraíso na acepção humana.

Curiosidade
Passando por um período precário, sem dinheiro, o pintor usou um tecido barato de saco como tela para sua composição. Nela também estão presentes elementos de outros quadros do pintor que a considera como sendo a sua obra-prima, ou seja, uma síntese de suas pinturas e sua visão do mundo. Após a conclusão da tela, Gauguin fez uma tentativa frustrada de suicídio ao tomar arsênico. Vomitou e foi levado para o hospital, onde conseguiu se recuperar, voltando à calma interior. Ele sempre pretendeu mostrar que “a natureza não é um instrumento do homem, mas sua parceira”.

Ficha técnica
Ano: 1897
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 139 x 374,5 cm
Localização: Museum of Fine Arts, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Gauguin/ Coleção Folha
Gaugin/ Abril Coleções
Gauguin/ ArtBook
Gauguin/ Taschen
Grandes Pinturas/ Publifolha

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Gauguin – AUTORRETRATO COM AURÉOLA

Autoria de Lu Dias Carvalho guin123

Esta obra de Gauguin, Autorretrato com Auréola, é tida como uma composição enigmática, onde ele expressa suas ideias sintetistas.

A composição está dividida em duas partes: uma enorme área amarela e outra vermelha. Sobre elas, Gauguin pintou seu autorretrato ao lado de duas maçãs. Ele traz, entre os dedos da mão direita, uma serpente e sobre a cabeça uma auréola.

As serpentes e as maçãs lembram a simbologia cristã. Alguns estudiosos da obra do pintor francês interpretam a composição como se Gauguin fizesse troça de si mesmo, ao se mostrar como uma grande “tentação”. A presença do halo e da serpente também podem explicitar a dualidade do pintor: pecador e santo.

É possível sentir certa tristeza presente no rosto de Gauguin. Esta obra foi feita quando ele estava prestes a deixar Paris, e partir para o longínquo Taiti.

Ficha técnica
Ano: 1819
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 79,6 x 51,7 cm
Localização: National Gallery of Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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