Gauguin – DE ONDE VIEMOS? …

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Autoria de Lu Dias Carvalho prop123

Gauguin deseja fazer desta obra seu último testamento filosófico, a sua suma antes da tentativa de suicídio. ((Perry T. Rathbone)

O ídolo não aparece em minha pintura como explanação literária, mas como estátua; talvez seja menos uma estátua do que o símbolo da vida animal; e também menos animal, desde que fundido com a natureza, segundo meu sonho, diante de minha cabana. Ele governa nossas almas primitivas, é a imaginária consolação do nosso sofrimento, vagos e ignorantes que somos sobre o mistério de nossa origem e destino. (Gauguin)

A composição de Gauguin De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos? trata-se de sua maior pintura, possuindo quase 4 metros de base. É muitas vezes tida como sua obra-prima. Ele a realizou quando vivia um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em se matar em razão das dificuldades pelas quais passava, sem dinheiro até para comprar seu material de pintura, sem saúde e pela falta de reconhecimento de seu trabalho. Mas, antes de dar fim a sua vida, queria pintar um “grande quadro”, como relatou ao seu amigo Daniel Monfreid. A obra foi concluída em um mês, tendo o pintor trabalhado sem praticamente parar, durante esse período. Gauguin inspirou-se no Taiti para compor a sua obra. Ele disse sobre ela: “Antes de morrer, coloco aqui toda a minha energia, numa paixão cheia de sofrimento, e numa visão tão clara e sem correções, que a maturidade precoce desaparece e a vida floresce”.

No fundo da composição existe a predominância dos tons verdes. Sobre eles o artista espalhou vários personagens nativos. Alguns deles apresentam-se nus, outros seminus e alguns vestidos de corpo inteiro. A vegetação é pintada com fortes tons azuis e verdes, enquanto as figuras humanas são coloridas com cores claras. As árvores, com suas formas sinuosas e as figuras sólidas, compõem o paraíso tropical tão desejado pelo pintor, num misto de realidade e imaginação.

Um bebê dorme no chão, tendo ao seu lado três jovens que descansam. Seria a representação da vida simples e sem preocupações do paraíso. No centro da composição um jovem de corpo bem proporcionado e ereto retira uma fruta de uma árvore. O amarelo brilhante de seu corpo contrasta-se com os verdes e azuis do fundo da tela. Talvez o pintor tenha feito aqui uma alusão ao Jardim do Éden. As duas mulheres ao fundo, com o corpo todo coberto, representam a sabedoria.

A senhora idosa, com sua pele escura, destoa da vivacidade da mulher jovem ao seu lado. Na sombra ela parece estar olhando para o passado, enquanto  aguarda o fim de seus dias na Terra. A ave ao seu lado pode representar o desconhecido que a aguarda após a morte. No primeiro plano, na parte esquerda da composição, uma garota come uma fruta, enquanto dois gatinhos brincam ao seu lado. Assim como o rapaz colhendo a fruta, esta cena retrata a vida cotidiana.

A divindade presente na parte esquerda do quadro, toda em azul, simboliza o mundo do além. Ela traz os braços para cima e relembra as crenças primitivas, sendo tida por muitos como a deusa polinésia Hina que, além de representar a Mãe Terra, simboliza também a morte e a ressurreição.

O ciclo da vida é visto na pintura da direita para a esquerda, fugindo à habitualidade, pois está de acordo com a convenção oriental de leitura, iniciada da direita para a esquerda. O bebê e a anciã encontram-se nos dois extremos da tela, assim como acontece na linha da vida. Como se pode deduzir através do título da obra que se encontra na margem superior esquerda da tela, escrito em francês, as figuras estão dispostas de forma a representar o ciclo da vida:

  • o bebê dormindo (o início);
  • o jovem colhendo uma fruta (o meio);
  • a senhora idosa perto de uma ave (o fim).

No diagrama de Gauguin o quadro está assim explicado:

  • à direita (De onde Viemos) – as mulheres, as crianças, o cachorro e os símbolos da primavera representam o início da vida (De onde viemos);
  • no centro (Que Somos) – o homem se pergunta sobre o sentido da existência e procura alcançar o fruto da árvore do conhecimento;
  • à esquerda (Para aonde Vamos) – uma velha próxima da morte simboliza o final da vida. O pássaro é um aviso sobre a futilidade das palavras;
  • as duas figuras perto da árvore da sabedoria , envoltas em vestes escuras, simbolizam a tristeza trazida pelo próprio conhecimento;
  • os seres simples entregam-se à alegria de viver , numa natureza virgem que poderia ser um paraíso na acepção humana.

Curiosidade
Passando por um período precário, sem dinheiro, o pintor usou um tecido barato de saco como tela para sua composição. Nela também estão presentes elementos de outros quadros do pintor que a considera como sendo a sua obra-prima, ou seja, uma síntese de suas pinturas e sua visão do mundo. Após a conclusão da tela, Gauguin fez uma tentativa frustrada de suicídio ao tomar arsênico. Vomitou e foi levado para o hospital, onde conseguiu se recuperar, voltando à calma interior. Ele sempre pretendeu mostrar que “a natureza não é um instrumento do homem, mas sua parceira”.

Ficha técnica
Ano: 1897
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 139 x 374,5 cm
Localização: Museum of Fine Arts, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Gauguin/ Coleção Folha
Gaugin/ Abril Coleções
Gauguin/ ArtBook
Gauguin/ Taschen
Grandes Pinturas/ Publifolha

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2 comentaram em “Gauguin – DE ONDE VIEMOS? …

  1. almacarioca

    Lu

    A vida é um grande mistério. Tentamos explicar mas nunca a entenderemos, a não ser que aceitemos a teoria da evolução. Será que estamos em uma escola, onde alguns de nós frequentam turmas mais adiantadas do que outros? Será a Terra uma espécie de “Curso Fundamental”, onde nos preparamos para habitar planetas mais adiantados em vidas futuras? Somos seres espirituais atualmente encarnados? Isso explicaria muita coisa, mas ninguém que já passou para o outro lado voltou para me contar (ou não terei percebido as mensagens?).

    Vejam isto que me aconteceu. Terá sido uma comunicação com o outro lado?

    Hoje cedo estava caminhando pela orla de Iguabinha. Deixava-me levar pelos pensamentos enquanto olhava os carros que passavam, alheios à beleza da lagoa. Observei que, mesmo estando na calçada, havia o risco de ser atingido por um pneu que se soltasse de um veículo mal conservado. Que pensamento sem propósito, pensei! E continuei a caminhada.

    Mais tarde, voltando do jornaleiro, surpreendi-me com um pneu atravessando as duas pistas da BR 116, passando exatamente pelo local onde eu estava alguns segundos antes. Por pouco não fui atingido. Como se explica isso? Premonição?

    Dizem que sim, que eu antevi uma situação que ocorreria em seguida. Outros, no entanto, dizem que a situação aconteceu porque eu pensei nela e a criei na mente, dando-lhe forma.

    Bom, isso tudo é para dizer que Vinicius estava certo ao afirmar que “a vida tem sempre razão”.

    Bom Carnaval para você e a todos os seus leitores!

    Responder
    1. LuDiasBH

      Paulo

      A vida é mesmo um grande mistério.
      São tantas as explicações, que acabamos não entendendo nenhuma.

      No seu caso, teria você previsto um acontecimento?
      E por que não aconteceu tal e qual imaginou?
      O que interferiu no acontecimento?

      Teria sido a sua mente a criar a situação?
      Por que somos, então, capazes de interferir em alguns fatos e noutros não?

      Tudo não teria passado de uma mera coincidência?

      Ontem, também me aconteceu uma coisa interessante.
      Estava lendo um artigo e, ao final, havia uma lista de livros sobre o tema.
      Dentre eles estava UMA PROVA DO CÉU, de dr. Eben Alexander, que conta a sua experiência de quase morte.
      Interessada, fui até a biblioteca da Folha e depois à Estante Virtual, onde o preço era menos da metade.
      Pensei em comprá-lo, assim que tivesse uma folga.
      Porém, à noite, meu irmão chegou com o mesmíssimo livro e me deu de presente.
      Telepatia?
      Terei eu uma mente tão poderosa assim, capaz de dar ordens?
      Ou a mente dele foi mais poderosa, a ponto de captar meu desejo?
      Sei lá… não sei.
      Fica difícil em pensar em coincidências, não é mesmo?

      Feliz carnaval para você, também.

      Lu

      Responder

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