Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Watteau – FESTAS VENEZIANAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor e desenhista francês Jean-Antoine Watteau (1684 – 1721), filho de um artesão, nasceu em Valenciennes, tendo recebido treinamentos com os artistas de sua cidade. Em Paris ele trabalhou no ateliê do pintor decorativo Claude Gillot. Três anos depois  foi para o estúdio de Claude Audran III que também era um artista decorador e ornamental. Na capital parisiense o artista passou por dificuldades, tendo que fazer cópias nas oficinas de Notre Dame para sobreviver. Recebeu, aos 25 anos de idade, o prêmio de segundo lugar no Prix de Rome. Em Paris, ele foi apresentado ao rico colecionador de arte Pierre Crozat que tinha dentre as suas inúmeras obras, trabalhos de Peter Paul Rubens, Anthony van Dyck e de pintores venezianos.

A composição rococó intitulada Festas Venezianas é uma obra do artista. Trata-se de uma “fête galante” – o artista foi responsável por introduzir o gênero galante na pintura, uma vez que o seu trabalho “Embarque para Ciera” não se enquadrava em nenhum dos gêneros existentes até então.

Em sua tela, o artista não coloca nenhum dos personagens como centro das atenções. Ali se encontram: um casal dançando minuete; o tocador de gaita de foles; um cavaleiro, à direita, debruçado sobre uma mulher que se retrai; um casal, de pé, na frente de um chafariz; casais conversando animadamente, um casal sentado no chão, aos pés do músico, em primeiro plano, etc. Watteau encontra-se presente na pintura como o músico da gaita de foles.

Curiosidade:

  • Fête Galant – tipo específico de pintura rococó, que dá destaque às festas ao ar livre e a jovens elegantes; diversão dos ricos ociosos ao ar livre.
  • Rococó – estilo decorativo surgido na França no reinado de Luís XV.
  • Minuete – dança francesa, grave, elegante, composta de evoluções e reverências, introduzida na corte de Luís XIV em cerca de 1650.
  • Gaita de foles – instrumento campestre de música, formado por tubos adaptados a uma espécie de saco de couro cheio de ar.

Ficha técnica
Ano: 1718/19
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 55,9 x 45,7 cm        
Localização: Galeria Nacional, Edimburgo, Escócia

Fontes de Pesquisa:
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Rococó/ Editora Taschen

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Munch – TREPADEIRA VERMELHA VIRGÍNIA

 Autoria de Lu Dias Carvalho

O norueguês Edvard Munch (1863 – 1944) nasceu na cidade de Löten, mas sua família mudou-se para Christiania (atual Oslo) no ano seguinte ao seu nascimento. Era o segundo filho do casal Christian Munch e Laura Catherine. Seu pai era um médico tradicional, muito devoto,  moralista e castrador. Edvard teve três irmãs: Sophie, Laura e Inger e um irmão, Andreas. Cinco anos após seu nascimento, ele perdeu sua mãe, aos 30 anos de idade, vitimada pela tuberculose, assumindo a tia Karen Bjolstad, irmã dela, o controle da família. E nove anos após a morte da mãe, sua irmã favorita Sophie faleceu, aos 15 anos de idade, também vítima da mesma enfermidade. O artista foi um pioneiro do Expressionismo.

A composição intitulada Trepadeira Vermelha Virgínia retrata um tipo de hera (trepadeira da Virgínia/ EUA) que crescia por toda a sua casa em Berlim. Embora se trate de algo comum para uma cena, sob o pincel do artista norueguês a hera apresenta uma tensão perturbadora, pois, assim como uma planta carnívora, ela parece abocanhar toda a casa, alastrando-se desordenadamente.  Suas raízes assemelham-se a veias e suas folhas a poças de sangue.

A figura de um homem com bigode e grandes olhos saltados aparece em primeiro plano. Apenas uma pequena parte de seu corpo é vista – o que torna sua cabeça ainda mais perceptível. A expressão de seu rosto denota medo. Um caminho formado por sulcos ligam-no à casa, indicando uma relação entre ambos. Já se encontrando de costas para o casarão, ele parece fugir rapidamente do lugar.

A perspectiva da casa de dois pavimentos e suas inúmeras janelas brancas também se mostram amedrontadoras, lembrando um velho casarão abandonado, palco de tragédias. Uma árvore seca com um ramo cortado, postada em frente à cerquinha branca, também sugere horror.

Ficha técnica
Ano: 1911
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 162 x 219 cm
Localização: Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA

Fontes de Pesquisa:
História da arte no ocidente/ Editora Rideel
https://www.edvardmunch.org/red-virginia-creeper.jsp

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Courbet – JOVENS DO CAMPO

Autoria de Lu Dias Carvalho


O francês Gustave Courbet (1819 – 1877) nasceu em meio a uma bem-sucedida família de agricultores. Estudou com Flajoulat que fora aluno do famoso pintor Jacques-Louis David. Aos 20 anos de idade foi para Paris, onde estudou com o pintor Steuben, também fez cópias no Louvre. A primeira pintura de Courbet aceita pelo famoso Salão de Paris foi Autorretrato com Cão Preto (imagem maior), feita em 1844, aos 25 anos de idade. Quatro anos depois, o artista expôs 10 telas no Salão, chamando para si a atenção de um crítico de arte. No ano seguinte, um júri composto por artistas, escolheu onze quadros do pintor. Courbet, um exímio e imparcial observador, criou inúmeras pinturas com cenários rurais e vilarejos. Ele foi uma importante figura no desenvolvimento do Realismo.

A composição intitulada Jovens do Campo – e também Jovens Mulheres de uma Vila – é uma obra do artista, exibida em 1852, quando recebeu um ácido julgamento sob o argumento de que o artista contrariava os ditames da beleza romântica uma vez que sua paisagem era fragmentada, as mulheres muito comuns e a temática não estava bem explicitada. Os críticos e a imprensa opuseram-se ao realismo da pintura, alegando que o pintor  não levou em conta as regras de perspectiva no contraste entre as figuras humanas e as reses, além de acharem o retrato das mulheres muito feios. Criticavam o fato de mulheres provincianas serem representadas vestidas com trajes parisienses. Contudo, para Corbert, a realidade era bela sem precisar ser enfeitada.

Três mulheres e uma garota ocupam o primeiro plano da pintura. Suas roupas são propícias a um passeio no campo. Uma delas usa uma sombrinha e as duas outras usam chapéus para se protegerem dos raios solares. Uma humilde pastora camponesa, com os pés descalços e um grande chapéu nas costas, tem a mão estendida em direção a uma das mulheres, recebendo dela uma esmola. Não há sentimentalismo na cena ou comoção por parte das moças que parecem se mostrar surpresas com a aproximação da garota.

Um filete d’água desce das rochas no meio da composição, formando um pequeno riacho, onde são vistas duas reses. Um cãozinho branco e preto, postado atrás do grupo formado pelas mulheres e de costas para o observador observa as vacas. A paisagem apresenta gramíneas, arbustos, rochedos e água, sob um céu azul ensolarado. O terreno é acidentado. Trata-se de um local real perto de Ornans, onde o pintor nasceu, também utilizado em outros trabalhos seus.

Esta composição deu início a uma série de pinturas do artista sobre a vida das mulheres. Alguns viam esta pintura como o engajamento político do artista na luta contra as diferenças de classe. O cãozinho das mulheres representaria a arrogante classe média e as reses e a jovem camponesa o mundo camponês, prestes a rebelar-se. Já outros viam nela a velha pregação da generosidade feita aos desvalidos.

Obs.: As mulheres que posaram para a pintura são irmãs do pintor – Zélie, Juliette e Zoé.

Ficha técnica
Ano: 1852
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 194,9 x 261 cm
Localização: Museu Metropolitano de Arte, New York, Estados Unidos

Fontes de Pesquisa:
História da arte no ocidente/ Editora Rideel
https://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/40.175/
https://en.wikipedia.org/wiki/Young_Ladies_of_the_Village

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Matisse – O ATELIÊ VERMELHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Não sou capaz de copiar a natureza como um escravo, sinto-me,pelo contrário,obrigado a interpretá-la e adaptá-la ao espírito do quadro. (H. Matisse)

O pintor francês Henri-Émile-Benoit Matisse (1869 – 1954) nasceu numa família de pequenos comerciantes de cereais. Teve uma infância tranquila, estudando numa boa escola em Saint-Quintin, onde foi um aluno mediano. Seu pai queria que ele viesse a ingressar nos negócios da família. O futuro artista nutria um especial pendor pelos tecidos, fazendo ele próprio a escolha de suas roupas, vindo mais tarde a pintar panos e a criar tapeçarias e vestuários para os espetáculos de teatro coreográficos. Apaixonado pelas experimentações de cores e formas, acabou se tornando um dos pintores mais renomados do século XX.

A composição intitulada O Ateliê Vermelho ou ainda Estúdio Vermelho é uma obra do artista. Ele usou como modelo seu próprio ateliê – anteriormente branco – situado em Issy-les-Moulineaux, no subúrbio de Paris. Uma grande área chapada de cor vermelha – cor muito usada nos trabalhos do artista – compõe a arquitetura e a mobília do ambiente, demarcadas com arranhaduras na superfície vermelha. Ele achava que o vermelho dava uma boa unidade aos demais elementos da obra, sendo capaz de suprimir a ilusão de espaço. As arranhaduras feitas na tinta vermelha apresentam um amarelo-claro, isto porque o artista, antes de usar o vermelho, pintou a tela com um amarelo bem clarinho que viria a servir de fundo.

Assim como outros artistas (Manet, Monet, Degas, Cézanne, dentre outros), Matisse procurava excluir a ilusão de espaço – vista como um defeito no todo da obra – norma presente na pintura desde o século XV e sempre buscada pelo observador que por ela se orienta. Matisse usa aqui o vermelho que, por ser uma cor agressiva, causa forte impacto, abrangendo quase tudo no ambiente, mas, ainda assim, traz a ilusão de espaço profundo, exatamente o que o artista procurava excluir. Ainda que ele desmonte a perspectiva do estúdio, como vemos no canto à esquerda, marcado pela borda da tela rosa, mas que desaparece acima dela, o observador consegue ver o espaço como uma sala, ou seja, a ilusão ainda se encontra presente.

Na pintura são apresentados quadros, cerâmicas e pequenas esculturas feitas pelo artista. No meio da parede frontal encontra-se um relógio circular – eixo central da composição – sem os ponteiros, como se o tempo ali não importasse. Na parede também estão quadros dependurados e outros nela recostados, sobressaindo do mar de vermelho-ferrugem. Uma mesa, com diversos objetos, domina o canto inferior esquerdo da composição.

O Ateliê Vermelho em uma pesquisa com 500 pesquisadores em arte ocupou o quinto lugar, como sendo uma das mais influentes obras de arte moderna.

Ficha técnica
Ano: 1911
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 162 x 219 cm
Localização: Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA

Fontes de Pesquisa:
História da arte no ocidente/ Editora Rideel
https://www.henrimatisse.org/the-red-studio.jsp
https://en.wikipedia.org/wiki/L%27Atelier_Rouge

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Pieter Bruegel, o Velho – A PROCISSÃO DO CALVÁRIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                  (Clique na figura para aumentá-la)

O desenhista e pintor maneirista Pieter Bruegel (1525/30 – 1569) teve em sua família inúmeros artistas, sendo ele o primeiro deles, daí o anexo a seu nome de “o Velho”. Fez parte da Guilda dos Pintores de São Lucas, em Antuérpia, tendo se tornando um grande mestre. Viajou pela Itália, França e Suíça, vindo a fixar residência em Bruxelas, onde se tornou um conhecido humanista, fazendo parte do grupo do poeta Dirk Volckertsen.

A composição religiosa intitulada A Procissão do Calvário – tida como a segunda maior pintura do artista conhecida está enquadrada entre uma árvore, à esquerda, e um poste de madeira encimado por uma roda, onde pousa uma ave. A cena acontece num extenso terreno montanhoso, sob a luz do sol. São incontáveis as figuras humanas ali presentes incluindo crianças. Algumas estão a pé e outras montadas, dirigindo-se ao local onde se dará a execução, no alto da montanha, à direita. Pode-se ver um grande círculo formado pelas pessoas que ali já se encontram. Os homens de vermelho, montados a cavalo, conduzindo imensas lanças, são os soldados, presentes em diversos pontos da pintura.

A figura de Cristo carregando a cruz, caído no chão quase invisível no meio da multidão marca o centro da tela. É exatamente neste ponto que as duas diagonais da composição encontram-se. O pintor não destaca Jesus das outras pessoas, mas apresenta-o em sua humanidade, sendo totalmente ignorado pelos que o rodeiam e que veem o acontecimento apenas como um espetáculo. Um homem e uma mulher tentam ampará-lo na caminhada. O homem é Simão de Cirene, a quem os algozes pediram para ajudar Cristo a levar a cruz.

Os dois ladrões vão à frente numa carroça, ao lado de dois religiosos que tomam sua confissão. Um deles volta os olhos para os céus. O cocheiro desce do cavalo e senta-se nos paus da carroça com um ar de zombaria. Um soldado montado segue à frente carregando um estandarte branco. À esquerda da carroça inúmeras pessoas voltam o olhar para os ladrões, todos em trajes contemporâneos, pois Pieter Bruegel transferiu o acontecimento para sua época. As execuções públicas eram comuns no seu tempo, tidas como ocasião de grande entretenimento, onde também se encontravam crianças brincando, vendedores ambulantes e batedores de carteira, como vistos aqui.

Em primeiro plano, à direita, isoladas dos demais num platô rochoso, estão as figuras de Maria, João Evangelista e as três mulheres santas. A Virgem está sentada, desfalecida, amparada por João. As três mulheres estão arqueadas sob o peso do sofrimento. Elas divergem do restante da multidão tanto pelas roupas “antigas” (em relação aos demais) como pelos corpos curvados pela dor e por serem apresentadas num tamanho maior.

No Monte do Gólgota (significa lugar dos crânios), dentro do círculo feito pela turba, são vistas as duas cruzes onde serão crucificados os dois ladrões. Entre elas está sendo cavado um buraco para fincar a cruz conduzida por Cristo. Inúmeras forcas são vistas na paisagem, algumas com cadáveres e outras com rodas onde são vistos fragmentos de pano e resto de corpos quebrados, sendo comidos pelos corvos. O céu, à esquerda, mostra-se calmo, enquanto à direita, sobre o Gólgota, mostra-se escuro e tempestuoso, com corvos esvoaçando.

Bruegel gostava de trabalhar com inúmeras personagens, todas elas fazendo alguma coisa. O moinho de vento, à esquerda, no topo de um rochedo, traz diferentes análises. Além de caracterizar a tradição paisagística da Escola de Antuérpia também pode significar o movimento da longa jornada de Cristo até sua morte. O observador, ao embrenhar-se na pintura mostrando inúmeras cenas, sente-se como se dela fizesse parte.

Ficha técnica
Ano: 1564
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 124 x 170 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2011/03/07/the-procession-to-calvary-by-pieter-bruegel-the-elder/

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Carpaccio – DUAS DAMAS VENEZIANAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Vittore Carpaccio (c. 1465 – 1525/26) era filho de um comerciante de peles. É tido como um dos grandes nomes do Renascimento veneziano. Foi assistente de Gentile Bellini e possivelmente seu aluno, tendo ajudado seu irmão Giovanni Bellini a decorar o palácio Ducal, mas sua obra foi destruída o incêndio de 1577. Além destes dois grandes nomes da pintura italiana, Carpaccio também foi influenciado por Antonello da Messina. Infelizmente se conhece muito pouco da vida do pintor.

A composição intitulada Duas Damas Venezianas – também conhecida como Duas Cortesãs – é uma obra de gênero do artista. A cor é o seu mais forte ponto, ou seja, seu principal elemento. Até as sombras ganham coloração. O artista não se preocupa com a perspectiva, sendo que as figuras humanas projetam-se em direção ao observador. Ele não se atém a contar uma história, ou seja, não existe nenhuma narração na obra. Ali se encontram pessoas, animais e roupas, sem nenhuma elegância, que apenas estão presentes no local.

As duas pomposas mulheres vestindo roupas finas da época, usando colares de pérolas e penteados pomposos, tanto podem ser cortesãs como senhoras da nobreza veneziana. Elas estão sentadas – aparentemente aborrecidas – no que parece ser o terraço de um palácio. As pistas simbólicas (lenço, pérolas, animais, tamancos de plataforma) vistas na pintura ainda não foram decifradas. Uma delas segura um cãozinho branco cujo olhar volta-se para o observador, enquanto usa o chicote para brincar com outro – do qual se vê apenas a cabeça. A outra traz o olhar perdido ao longe, enquanto segura um lenço branco.

Um pajem, postado entre os pilares, está próximo a um pavão. Duas pombas estão sobre a balaustrada. Um pequeno pássaro encontra-se no chão e, na parte inferior esquerda, junto a uma carta, são vistas as patas de outro cão. Descobriu-se que esta pintura era originalmente a parte inferior de um quadro maior. E, por causa da maneira como a metade da cabeça do cão foi cortada – imediatamente atrás das orelhas – presume-se que o lado esquerdo da pintura foi cortado.

Ficha técnica
Ano: 1495
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 94 x 63,8 cm
Localização: Museu Correr, Veneza, Itália

Fontes de pesquisa
Gênios da pintura/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2012/04/29/two-venetian-ladies-by-vittore

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