Eliseu Visconti – GIOVENTÚ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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“Giovantù” é um dos quadros mais intrigantes da história da arte pátria. Guardada as devidas proporções, poderia ser definido como uma espécie de “La Gioconda Brasileira”. (Rafael Cardoso)

 O esplendor da vida ardendo no seu franzino busto de menina a se fazer moça. (Gonzaga Duque)

 A composição simbolista Giovantù, exposta pela primeira vez com o nome de Mélancolie, é obra do pintor brasileiro Eliseu Visconti, que a compôs em Paris, quando ali estudava como bolsista da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Sua pintura participou da Exposição Universal de 1900, sendo premiada com a medalha de prata. É vista como uma das obras-primas da pintura brasileira, ou seja, como sendo a nossa “Mona Lisa”.

Segundo o escritor e historiador da arte Rafael Cardoso, “Gioventù, como imagem, só pode ser devidamente compreendida se reconhecermos que foi pintada para se comunicar com o exigente público parisiense, envolto nesse caldo cultural simbolista, e não para o público brasileiro da época,  relativamente acanhado.”, o que comprova a frieza com que a obra foi recebida no Brasil, em 1901.

O título do quadro “Gioventù” (“juventude” em italiano) é muito genérico e em quase nada contribui para a elucidação da obra, ou seja, sobre aquilo que o artista pretende repassar mais profundamente através dela, além do óbvio que é mostrar a juventude. Citando ainda Rafael Cardoso, ele diz que “As alegorias visuais costumam ser construídas a partir da decodificação complexa de elementos, alguns convencionais, outros não. O interesse delas reside justamente na possibilidade de ir além da obviedade – ou seja – acrescentar algo novo a um velho discurso.”. Por se tratar de um quadro simbolista, Gioventù é uma obra fechada, ou seja, de difícil compreensão, que necessita da acuidade do observador para compreendê-la.

Eliseu Visconti usou, em sua composição, uma paisagem outonal para inserir sua personagem, que ainda se encontra na puberdade, em primeiro plano. Ela está assentada em uma lage, banhada pela luz da manhã, de frente para o observador, fitando-o tranquilamente, como se dele estivesse muito próxima. Traz o braço direito levantado em direção ao rosto, tocando o queixo com o dedo indicador, no qual enrola um cacho dourado dos longos cabelos, que lhe caem pelas costas e ombros, enquanto a mão esquerda descansa calmamente em seu colo. A jovem está coberta da cintura para baixo com um tecido transparente, e traz o dorso nu. Seus pequeninos seios mostram que ainda se encontram em formação. Ela se mostra cismativa e meio tristonha.

O bosque, que se descortina atrás da jovem, serve de pano de fundo para a sua delicada figura. Ao contrário dela, cuja representação possui volume e relevo, sendo minuciosamente trabalhada, o bosque e as pombas parecem figurar apenas como cenário teatral, pintados, digamos assim, grosseiramente. Tal tratamento faz com que a figura da jovem destaque-se ainda mais. Portanto, o tosco acabamento da pintura de fundo não se deve ao desmazelo do artista. Tudo foi intencional, a fim de contemplar seu objetivo.

As pombas brancas, que fazem parte da narrativa cristã, como símbolo da pureza, inocência e da espiritualidade, postam-se à direita e à esquerda da garota. Uma das três aves, à direita, chega a encostar o bico no seu braço. É possível perceber que elas atravessam a composição da esquerda para a direita, passando por trás da jovem. As aves são atributos, no caso, da juventude, que é inocente, sublime e passageira. As flores de murta, vistas atrás da garota, remetem à primavera da vida adulta. À direita da jovem figura um pequeno curso de água, atrás da folhagem, que remete, em sentido figurado, ao caminho da vida.

Normalmente na tradição pictórica, o rosto e as mãos, as partes mais expressivas da figura humana, possuem um acabamento mais refinado. Porém, aqui não é o caso, pois tal detalhamento deve-se à sua importância simbólica. Em sua análise, Rafael Cardoso chama a atenção para o remate da mão que jaz no colo, explicando que ela serve de contato entre a figura e o observador. E, ao pegar essa mão, ele sobe com os olhos pelo antebraço esquerdo da jovem, chega ao queixo apontado por ela, e termina na boca de carmesim, cor mais forte e quente, local onde se dá a transição entre a inocência e a maturidade que se aproxima.

A conclusão a que chega o perspicaz observador, ao analisar este quadro, é a de que ele não representa coisas reais, mas tão somente ideias abstratas. Tudo é, portanto, simbólico, bastando ponderar sobre o modo como o artista fez sua pintura, ou seja, o tratamento pictórico dado a ela.

Ficha técnica
Ano: 1898
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 65 x 49 cm
Localização: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de Pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
Eliseu Visconti/ Coleção Folha

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