Autoria de Lu Dias Carvalho
Eu poderia ter sido um grande homem, se não tivesse enriquecido. (Kane)
Fiquei a noite inteira sem dormir depois que vi Cidadão Kane pela primeira vez. (Martin Scorsese)
O filme, Cidadão Kane, rodado em 1941, é um dos milagres do cinema. O que o torna mais surpreendente é que foi feito por um diretor de primeira viagem de apenas 25 anos de idade – Orson Welles, que cresceu com a fama de garoto prodígio, e assim foi no rádio e no teatro que manejava como ninguém. No rádio foi responsável pela inesquecível apresentação de A Guerra dos Mundos, quando pôs os ouvintes em pânico. Welles não fez apenas um filme, mas uma obra-prima, considerada por vários críticos de cinema, como uma das melhores já realizadas em todos os tempos. Uma criação que se situava além de seu tempo, com imensa riqueza de narrativa, originalidade técnica e beleza visual. A ponto de influenciar vários cineastas até os dias de hoje. Ele trouxe para a tela recursos dramáticos e narrativos até então só aplicados ao teatro e ao rádio. Como alguém com apenas 25 anos poderia criar uma obra com essa magnitude
Para fazer Cidadão Kane, Orson Welles inspirou-se na vida do todo poderoso americano William Randolph Hearst, que criou um império de jornais, estações de rádio, agências de notícias, e chegou ao ponto de construir para sua amante um teatro lírico e para si um castelo mobiliado com relíquias das mais variadas partes do planeta, comparado por Welles a Xanadu de Kubla Khan. Seu poder era tamanho, ao manipular tantos meios de comunicação, aliado ao seu personalismo, que chegou a se intrometer nos destinos do país, sem ser presidente, cargo a que aspirava. Varria para longe todo aquele que ousava se colocar em seu caminho. O filme encontrou forte oposição por parte de William Randolph Hearst, pois ele julgava que a obra denegria sua imagem. Provavelmente o garoto diretor não sabia em que casa de marimbondo estava se metendo. Só o tempo diria.
As óbvias comparações entre o personagem principal do filme e sua pessoa, fez com que Hearst movesse meio mundo para impedir que o filme fosse levado a cabo. Não alcançando o seu intento, tentou comprar todas as cópias para queimá-las. Não conseguindo, passou para o ataque sórdido da difamação. O mais interessante nessa briga acirrada é que Orson Welles também possuía traços em comum com o personagem central do filme, pois assim como Hearst, ele se transformou em cidadão do mundo, e conheceu o sabor do poder e da decadência.
Os atores de Cidadão Kane foram tirados do teatro e do rádio, e não possuíam nenhum conhecimento de cinema. O próprio Welles interpreta Kane, o personagem principal, desde os 25 anos até a sua morte. E, como o elenco não era conhecido e não tinha experiência cinematográfica, ele abriu mão dos closes em favor de tomadas longas, favorecendo o jogo teatral dos atores. Recurso que trouxe beleza e fluidez ao filme.
Cidadão Kane foi o filme mais elogiado pela imprensa americana até os dias de hoje. Embora tenha recebido nove indicações para o Oscar, levou apenas uma estatueta, a de melhor roteiro original. Mas, para a maioria dos críticos de cinema em todo o mundo, esta é a melhor obra cinematográfica de todos os tempos, marcando o início do cinema moderno.
O filme começa com um cinejornal falando sobre a morte do cidadão Charles Foster Kane. Faz uma retrospectiva de sua vida: seus pais, negócios, relacionamentos amorosos, suas pretensões políticas, seu império… até chegar ao momento de sua morte, na solidão de seu quarto. Sendo “Rosebud” a última palavra dita pelo magnata, como se ela fosse a senha de algum mistério. Curioso com a última palavra dita por Kane, o editor do cinejornal põe seu repórter Thompson (de quem não se vê o rosto durante todo o filme) em campo, para descobrir o que ela significa. O repórter passa a buscar as pessoas que conviveram com Kane, para desvendar o significado de “Rosebud”. E, ao mesmo tempo, vai levantando passagens da vida do magnata, através do que as pessoas lhe contam. Cada uma delas conhece o personagem sob um prisma diferente. As cenas vão e vêm, de acordo com os fatos contados, sem obedecer a uma ordem cronológica.
O significado de “Rosebud” é encontrado nas últimas cenas, quando estão sendo queimadas as coisas sem valor do magnata morto. Junto com elas se encontra um trenó, igualzinho ao de sua infância, em que se vê a marca “Rosebud”. É como se o homem todo poderosos quisesse voltar aos dias simples e ingênuos de sua infância. Ao sair de sua casa, ainda criança, seu trenó ficou enterrado na neve, numa simbologia de que a melhor parte de si ficara para trás, como se tudo o que veio a ter não tivesse nenhum significado.
Kane nasce pobre, mas sua mãe, dona de uma pensão, recebeu de um hóspede que estava atrasado com o pagamento de suas contas, uma escritura de uma mina de ouro abandonada, que viria a ser a terceira maior do mundo. E daí origina toda a sua riqueza. Ergue um império jornalístico e radiofônico e se casa com a sobrinha de um presidente americano. Concorre a governador, mas não é eleito. Com as frustrações vai se tornando violento, principalmente com as mulheres de sua vida: primeiro com sua esposa e depois com sua amante e, posteriormente, esposa. Morre praticamente sozinho em seu castelo. Há uma parte no filme em que o magnata reconhece que o excesso de dinheiro e poder o destruíra e diz: “Eu poderia ter sido um grande homem se não tivesse enriquecido.”.
O filme Cidadão Kane traz como reflexão a corrupção do poder, a imprensa sensacionalista, a velhice, a solidão e a plutocracia. O mais intrigante é que, 90 anos depois de sua realização, este filme continua tão atual como na época em que foi feito. A mídia continua manipulando as massas, submetidas à força de uma minoria poderosa, que só traz à tona aquilo que a beneficia, mesmo em detrimento da verdade.
A fotografia do filme é sensacional. Foi desenvolvida uma técnica de profundidade de campo, em que o primeiro plano, o plano central e o último ficam todos em foco ao mesmo tempo, permitindo que o olho do espectador se fixe na imagem que escolher. O efeito é fantástico. Os enquadramentos fotográficos são verdadeiras pérolas.
Cenas que devem ser observadas, com atenção, pela sua beleza:
• No peso de papel que Kane tem nas mãos, ele vê reproduzida uma paisagem dos invernos de sua infância.
• As torres de Xanadu.
• Kane discursando num comício.
• O vão da porta de entrada da casa de sua amante fundindo-se com a foto de primeira página no jornal concorrente.
• Os muitos Kanes refletindo em espelhos paralelos.
• O menino brincando na neve, em segundo plano.
Vemos no filme:
• O Kane que manipulava nos bastidores.
• O Kane que escolheu a amante acima do casamento e da carreira política.
• O Kane que divertiu milhões.
• O Kane que morreu na SOLIDÃO.
Em resumo, desde 1962, a mais famosa lista de filmes de todos os tempos, feitos pelos críticos da revista Sight and Sound, coloca Cidadão Kane em primeiro lugar. E em 1998, o American Film Institute o considerou o melhor filme já produzido.
Fontes de pesquisa:
1001 filmes para se …
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Folha conta 100 anos de Cinema
Wikipédia
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Meu amigo
É uma pena que Orson Welles não tenha sido reconhecido em sua época.
Nunca ganhou um Oscar.
Cidadão Ken é um importante filme na história do cinema.
Abraços,
Lu
“Traduzindo para os leitores:
Você deveria participar do concurso entre os melhores blogs na web. Vou sugerir este site!)
Fuerrulge
Sinto-me honrada com a avaliação que fez deste blog e o incentivo a mim dirigido.
Grande abraço,
Lu
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