Autoria de Lu Dias Carvalho
Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue. (Chico Buarque e G. Gil)
Meu pobre país! Retalham-no, assim como fizeram com o mártir Tiradentes. São tempos de desvarios, cheios de cobiça e ódio não mais latente. Os avaros e velhacos, dividem-no em nacos. E não satisfeitos, exigem mais, em nome do capital. Golpeiam sem piedade os direitos sociais de seu povo. E o faz descaradamente, essa corja astuciosa de malfeitores, ao perpetrar um crime hediondo de lesa-pátria. Pai, “Como beber dessa bebida amarga/ Tragar a dor, engolir a labuta/ Mesmo calada a boca, resta o peito/ Silêncio na cidade não se escuta”.
As notícias de tais horrores espalham-se por toda parte, sangrando o coração das gentes consternadas. Cada manchete é um soco amargo no estômago. Aos carrascos foi dado o poder de manejar a guilhotina e providenciar os saques. Aos estrangeiros é prometida do butim a melhor parte. Prossegue em frêmito a pilhagem da pátria mãe dilapidada. Toma rumo o desmonte da nação, nossa pátria amada. E eu me pergunto: “Do que me vale ser filho da santa/ Melhor seria ser filho da outra”, e ter “Outra realidade menos morta”, pois o povo está inseguro diante de “Tanta mentira, tanta força bruta”. Será que alguém me escuta?
Pai, por favor, valha-nos! Não sabe “Como é difícil acordar calado/ Se na calada da noite eu me dano/ Quero lançar um grito desumano/ Que é uma maneira de ser escutado”. Aflito corro por todos os cantos, tentando ouvir o protesto dos inconformados. Mas, Pai, ainda são poucos os preocupados com o momento pérfido que já se faz presente. E “Esse silêncio todo me atordoa/ Atordoado eu permaneço atento/ Na arquibancada pra a qualquer momento/ Ver emergir o monstro da lagoa”, a aberração desta sangria desatada, que devora os direitos do povo a duras penas conquistados.
Pai, diz a sabedoria popular que “De muito gorda, a porca já não anda/ De muito usada, a faca já não corta”. Em assim sendo, se nossa força for calada, “Como é difícil, pai, abrir a porta”. Não sei mais como soltar “Essa palavra presa na garganta”. Parece até que houve “(Esse) um pileque homérico no mundo”, tamanha é a insanidade. Eu sempre agi como cidadão, mas “Do que adianta ter boa vontade”, se uma súcia apodera-se sem temor de nossos haveres e liberdade. Ainda que eu quisesse me omitir, Pai, seria impossível, pois “Mesmo calado o peito, resta a cuca/ Dos bêbados do centro da cidade”.
Pai, quanta raiva! “Talvez o mundo não seja pequeno/ Não seja a vida um fato consumado”. E eu, que sempre quis ser boa gente, mudei de opinião. Agora “Quero inventar o meu próprio pecado/ Quero morrer do meu próprio veneno”. Durante toda a minha vida, Pai, eu segui seus mandamentos, mas agora “Quero perder de vez tua cabeça/ Minha cabeça perder teu juízo”, pois o meu cálice já se encontra entornado. “Eu quero cheirar fumaça de óleo diesel/ Me embriagar até que alguém me esqueça.”. E até que meu povo livre-se deste pesadelo.
Obs.: Ouçam a música – CÁLICE
Nota: imagem copiada de jhonnascimento91.blogspot.com
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Lu Dias
Bom dia
Tenho inveja dos países sérios, onde as leis funcionam.
Abração
Mário Mendonça
Mário
Eu também. Nossas leis não passam de balelas, ou melhor, são seletivas para um pequeno grupo.
Abraços,
Lu