Historiando Chico Buarque – ELA DESATINOU

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Autoria de Lu Dias Carvalho

janu12

Ela desatinou/ Viu chegar a quarta-feira/ Acabar a brincadeira/ Bandeiras se desmanchando/ E ela ainda está sambando. (Chico Buarque)

Carnaval a semana inteira, muito samba, muito riso, folia, bandeira, confete e serpentina. Mas hoje já é quarta-feira. A vida volta ao normal.

Meus olhos argutos e encantados acompanham Maria Rita na pista, meia-idade, com seu sorriso banguela, mas generoso, fazendo as vezes de uma ágil sambista. Ela saracoteia as ancas magriças, revira-se feliz de um pra outro lado, suspende e derreia as escadeiras, mexendo a ossatura magra e ligeira, debaixo de sua esvoaçante saia de cetim descorado. E ainda remete beijos ardentes para os fãs que a contemplam, alguns extenuados pelo cansaço ou bebedeira.

Tudo em volta está se desfazendo e Maria Rita segue incansável na folia. “Ela desatinou/ Viu morrer alegrias/ Rasgar fantasias/ Os dias sem sol raiando/ E ela inda está sambando”. Alguns turistas aplaudem a arrebatante dama, a sambista mais feliz de toda a cidade, que dorme nas calçadas durante o dia, e à noite desmantela-se numa alegria indomável.

Maria Rita não está nem aí para a tristeza que jaz em volta. “Ela não vê que toda a gente/ Já está sofrendo normalmente/ Toda a cidade anda esquecida/ Da falsa vida da avenida onde/ Ela desatinou”. O que lhe importa a vida,  a vida o que lhe importa, se todo dia é sempre igual? E “Quem não inveja a infeliz/ Feliz no seu mundo de cetim/ Assim debochando/ Da dor, do pecado/ Do tempo perdido/ Do jogo acabado”, menos para ela, na sua inocência de menina, que não tem mais do que cinco anos de idade mental.

Obs.:  ouça a música: ELA DESATINOU

Nota: obra ilustrativa, pintura de Heitor dos Prazeres

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