Historiando T. Jobim e C. Buarque – SABIÁ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

sabia

O jovem detém-se silencioso no convés do navio. Sua terra afasta-se numa elevação esverdeada. Seus olhos abraçam o azulado celeste do céu. O navio singra em direção à nova morada. O vento mistura seus pensamentos confusos, qual bando de mariposas no luzir do lampião. Nuvens ágeis fazem sombreados no oceano, e lágrimas banham-lhe o rosto… Em vão. O jovem, entre lágrimas, para si murmura: “Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Para o meu lugar/ Foi lá e é ainda lá/ Que eu hei de ouvir cantar/ Uma sabiá/ Cantar uma sabiá.”.

O mar empina-se e entope-se de força bruta. Lança nos rochedos sua colcha de espumas que se refaz, altera-se e volta a tomar forma, tal como a vida que não para, apenas singra. As lembranças de seu país rodopiam em sua mente. A voz do jovem continua a ressoar: “Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Vou deitar à sombra de uma palmeira/ Que já não há/ Colher a flor/ Que já não dá/ E algum amor possa espantar/ As noites que eu não queria/ E anunciar o dia.”.

A luz do sol há muito se dissipou no horizonte. O jovem agora é banhado pelos finos raios da lua. O timoneiro segue guiando a nave pra longe. As lembranças do expatriado não mais navegam… Flutuam. Ele repete, agora em voz alta: “Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Não vai ser em vão/ Que fiz tantos planos/ De me enganar/ Como fiz enganos de me encontrar/ Como fiz estradas/ De me perder/ Fiz de tudo e nada/ De te esquecer.”. Eu te amo, meu Brasil!

Estrelas enviam ao moço exilado abraços em código Morse. Dizem-lhe que tudo na vida é impermanente, e aquilo que ora o atormenta e machuca, um dia, com certeza, não se fará mais presente. O alumiado do navio expele reflexos tênues, deixando nas águas do oceano marcas sutis. O pranto doído do jovem esvai-se pelos ares, cheio de saudades de seu povo e de seu país que tristemente ele vai deixando para trás.

Uma brisa marinha traz de volta o murmulho do expatriado, transformando-o em notas musicais. Nas praias de seu país, os que ali se encontram, ouvem, em forma de canção, o juramento do moço infeliz: “Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Para o meu lugar/ Foi lá e é ainda lá/ Que eu hei de ouvir cantar/ Uma sabiá/ Cantar uma sabiá.”.

E todos tiveram a certeza de que ele cumpriria sua palavra.

Obs.: Clique no link para ouvir a música: SABIÁ

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4 comentaram em “Historiando T. Jobim e C. Buarque – SABIÁ

  1. Leila

    Ei, Lu!
    Que lindo! Nunca deixemos nossos sonhos se esvaírem. A luta é a arte da conquista. Muitas vezes não precisamos do jardim, mas somente sentir o cheiro de rosas.

    Grande abraço,

    Leila

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Leila

      O poeta de nossa história, por mais que as circunstâncias tenham-no machucado, ele lutou por seus sonhos. Hoje é um dos mais importantes artistas deste nosso país. Viver é um ato de coragem e, portanto, de luta. Você tem razão.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  2. Amaro Wilian

    “Que fiz tantos planos
    De me enganar
    Como fiz enganos
    De me encontrar
    Como fiz estradas
    De me perder
    Fiz de tudo e nada
    De te esquecer”
    Adoro esse trecho, que na época do exílio me parece ser uma declaração de amor a pátria, mas que hoje me remete a várias estradas percorridas, às várias pessoas conhecidas e a vários amores não esquecidos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Amaro

      É muito lindo, mesmo! Concordo com a sua visão. Maravilha de comentário.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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